Sequência Didática Fanzine

Sequência Didática

Tema: Faça você mesm@ Fanzine e visibilidade indígena

Autora: Bárbara L. S. Borba

PIBID História 2013

 

Sobre a Sequência Didática

 

A sequência didática Faça você mesm@ Fanzine e visibilidade indígena foi elaborada para compor as atividades realizadas pelo Programa PIBID- Projeto História – USP: História indígena na escola entre o período de agosto de 2012 a dezembro de 2013 nas Escolas Estaduais MMDC e Joiti Hirata na cidade de São Paulo. 

 

Apresentação

             

 A presente sequência didática visa ser um veículo para introduzir saberes relacionados à temática indígena, abordados nas diversas disciplinas do currículo escolar nos ensinos Fundamental e Médio, de acordo com a prescrição da lei nº 11.645/08, a qual estabelece o ensino de história e cultura dos povos indígenas brasileiros [1]

  As questões relacionadas aos povos indígenas na escola geralmente são levantadas em datas “comemorativas”, como o “Dia do Índio”, e no caso específico da disciplina de História há o risco da abordagem sobre os povos nativos se restringir aos períodos iniciais da “História do Brasil”. Como confronto a tais perspectivas, que visam “congelar” os povos indígenas em um passado remoto e sem agência histórica, a proposta de abordar os povos indígenas enquanto protagonistas históricos pretende quebrar estereótipos e preconceitos que ainda circulam socialmente. Como nos aponta Maria Regina Celestino de Almeida, os estudos históricos das últimas décadas sobre os povos indígenas é essencial pois

“De personagens secundários, apresentados como vítimas passivas de um processo violento no qual não havia possibilidades de ação, os povos indígenas em diferentes tempos e espaços começaram a aparecer como agentes sociais cujas ações também são consideradas importantes para explicar os processos históricos por eles vividos. Essas novas interpretações  permitem outra compreensão sobre suas histórias e, de forma mais ampla, sobre a própria história do Brasil.”[2]

 

            O suporte escolhido para tal atividade se dá por meio de linguagens as quais as/os estudantes sintam-se protagonistas do processo de ensino-aprendizagem, mobilizando seus conhecimentos através da confecção de publicações independentes – Fanzines, também conhecidos como Zines. O Fanzine é uma publicação independente e autônoma, cuja característica principal é seu livre formato e distribuição. A periodicidade, formato e concepção estética varia conforme a intenção da/do autora/or, proporcionando um espaço para livre expressão de temas que geralmente não são contemplados pela grande mídia institucional ou comercial. As publicações podem ser confeccionadas com desenhos e escritos feitos à mão, colagens, fotocópias ou em formato digital, com o auxílio de programas de edição de texto. A reprodução se dá por fotocópias ou então por publicação na internet. 

 Cabe ressaltar que a abordagem histórica dos povos nativos, seja por sua diversidade, complexidade ou então pela escassez de materiais acessíveis para fundamentação e operacionalização didática é um  desafio, o pode constituir algumas dificuldades em construir uma perspectiva histórica indígena que vá além da generalização dos povos ou então que não se restrinja apenas a abordagens contemporâneas. Todavia, o trabalho do tema fora dos momentos convencionais de destaque, com abordagens específicas e que suscitem debates já constituem um passo importante para  que sejam feitas novas interpretações e questionamentos sobre os povos nativos e seu lugar na História.

 

Objetivos

 

•      Desenvolver a reflexão e debate sobre a historicidade dos diversos povos indígenas do Brasil e da América Latina a partir das perspectivas de protagonismo e agência dos povos nativos;

•      Despertar um senso crítico acerca das fontes históricas tradicionais de abordagem da temática indígena;

•      Confrontar e romper estereótipos e preconceitos sobre os povos indígenas em geral;

•      Colocar em debate questões contemporâneas relacionadas aos povos indígenas;

•      Desenvolver a autonomia das/os estudantes para fazer por si próprias/os suas formas de comunicação e expressão, questionando o caráter as mídias corporativas a partir da produção de materiais e meios de comunicação independentes;

•      Estimular a pesquisa temática orientada pela/o docente;

•      Promover o trabalho e cooperação em grupo.

 

Duração total das atividades: A atividade possui duração programada de aproximadamente quatro aulas, o que pode variar de acordo com a periodicidade da disciplina. 

 

Público-alvo: Estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. 

 

Materiais utilizados:

 

•      Folhas de papel A4 (sulfite) brancas, recicladas e/ou coloridas*;

•      Canetas pretas (esferográfica, ponta fina ou hidrocor)*;

•      Canetas coloridas hidrocores (canetinha)*;

•      Tesoura escolar (sem ponta);

•      Cola;

•      Réguas e letreiros;

•      Revistas para recorte e montagem;

•      Imagens impressas para compor os elementos estéticos, como grafismos de diversos povos. (O livro Grafismo Indígena de Lux Vidal pode ser uma fonte interessante para retirar os grafismos com uma pesquisa conceitual.)

* Os materiais coloridos podem ser usados para a capa e interior do Zine, lembrando que cores muito claras podem desaparecer se a publicação for fotocopiada.

 

Materiais didáticos sugeridos

 

 Podem ser feitas pranchas de trabalho com textos e imagens sobre a temática, posto que o apelo visual é muito importante para a estética do fanzine. Os exemplos podem ser vistos nos anexos 1:  'Povos Indígenas e Ditadura Militar” e 2: “A verdadeira história de Sepé Tiaraju”. 

 Notícias de jornais desde o século XIX podem ser obtidas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional pelo site www.hemerotecadigital.bn.br, e informações sobre os povos indígenas no Brasil podem ser obtidas no site do Instituto Socioambiental no endereço www.socioambiental.org e no portal Índios Online, no www.indiosonline.net, entre outros.  Como fundamentação teórica, podem ser utilizados trechos adaptados do livro Os índios na história do Brasil de Maria Regina Celestino de Almeida, o qual possui discussões acerca do lugar dos povos indígenas enquanto protagonistas da constituição da história brasileira.

 Como exemplo de conteúdo e estética é possível oferecer para as/os estudantes exemplos de fanzines já existentes que se relacionam com a temática indígena. Isto é importante para que o exemplo desta publicação se torne mais concreto, possibilitando uma inspiração para a produção própria. No anexo 3 está disponível o “Xingu Zine”, no anexo 4 o “Flexas e Lanças” e no anexo 5 o fanzine “Origens”.

 É possível também solicitar às/os estudantes que façam uma pesquisa e tragam materiais relacionados à temática para a confecção do fanzine, caso a oficina se dê em mais de um dia. Neste caso, podem ser oferecidas as seguintes orientações:

•      De qual fonte você retirou o material? 

•      Quem produziu o texto ou imagem/foto?

•      Qual a data de produção desse material?

•      Do que se trata?

•      Quem são as pessoas envolvidas?

•      De qual/ quais povos são essas pessoas?

•      Quais acontecimentos envolvem elas?

•      Por que você escolheu esse material?

 

*O oferecimento dos fanzines independentes como exemplo é importante pois influencia na concepção estética e de conteúdo deste tipo de publicação, já que esta é pouco conhecida. 

 

Desenvolvimento da atividade – Primeiro dia ou duas aulas iniciais: 

 

1.    No primeiro momento, organizar a sala para que seja feita uma grande mesa com as carteiras, utilizada a sala de Artes ou então alguma bancada disponível que acomode as/os estudantes no seu entorno, de modo que os materiais fiquem acessíveis;

2.    Solicitar que as/os estudantes se dividam em grupos de até 4 pessoas;

3.    Levantar referenciais sobre o que as/os estudantes pensam sobre a temática dos povos indígenas, de modo a identificar as representações que elas/eles possuem sobre os povos. Nesse momento podem ser confrontados os referenciais expostos

Algumas ideias errôneas sobre “os índios”

“são todos iguais”: desconhece-se e recusa-se a grande diversidade sociocultural e linguística entre os povos indígenas;

“são do passado”: primeiro, recusa-se a presença dos povos indígenas como parte da população brasileira e como integrantes do futuro do país; segundo, considera-se o índio como representante da “infância” da humanidade, como remanescente de um estágio civilizatório há muito ultrapassado pelos “civilizados”;

“os índios não tem história”: decorrente da noção anterior, esta baseia-se na falsa certeza de que os povos indígenas “pararam no tempo”, “não evoluíram”, vivem como na “nossa” pré-história. Como consequência, imagina-se erroneamente que as sociedades e culturas indígenas não se transformam, não se desenvolvem, e que sua tradições são absolutamente imutáveis.

“são seres primitivos”, “atrasados”, que precisam ser “civilizados”: recusa-se aos povos indígenas o direito à autodeterminação e à autonomia de suas escolhas e desqualifica-se seu patrimônio histórico e cultural. Isto impede que se admita e reconheça a existência de ciências e de teorias sociais indígenas, de uma arte e religião próprias, etc;

“são aculturados”, não são mais “índios”: imagina-se que quando os povos indígenas alteram alguns aspectos no seu modo de viver tornam-se “aculturados”, deixam de ser  autênticos” e não podem mais reivindicar terras ou outros direitos relativos à condição de índios.

pelas/os estudantes com o quadro “Algumas ideias errôneas sobre os índios” [3]:

 

4.    Apresentar o conceito de fanzine, podendo ser um debate inicial sobre autonomia e independência de mídias. Alguns questionamentos podem ser feitos:

•      Você se lembra de ver alguma informação ou notícia sobre povos indígenas na televisão, jornal ou internet?

•      Qual era o tema do conteúdo ou manchete da notícia?

•      O povo indígena em questão era identificado com o nome de sua etnia?

•      Qual era a opinião do meio de comunicação sobre a informação que estava sendo veiculada?

•      É possível supor algum motivo para este meio de comunicação veicular esta opinião?

5.    Após os questionamentos e debates, alguns exemplos de fanzines podem ser apresentados (disponíveis nos anexos 3, 4 e 5).

 

Segundo dia ou duas aulas finais:

 

6.    Abordar a historicidade dos povos indígenas a partir das pranchas didáticas disponibilizadas e materiais trazidos pelas/os estudantes, problematizando os referenciais prévios discutidos anteriormente. Como ressalta Maria Regina Celestino de Almeida: “No caso da história indígena, trata-se de deslocar o foco da análise dos colonizadores para os índios, procurando identificar suas formas de compreensão e seus próprios objetivos nas várias situações de contato por eles vividas”;[4]

7.    Iniciar a confecção do fanzine deixando nítido que o formato a ser realizado é a critério das/dos estudantes, atendendo a algumas características como a presença de imagens, fotos ou desenhos como ilustração. A diagramação pode ser também em formato de brochuras ou panfletos, de modo que a estética não siga uma forma estrita de “trabalho escolar”;

8.    Acompanhar a confecção do fanzine, com estímulo à montagem de imagens e

textos impressos, lembrando sempre da importância de se dar um título à publicação;

9.    Após a confecção dos fanzines, sugerir que as/os estudantes troquem entre si os trabalhos para apreciação;

10. Trazer para o debate coletivo sobre os temas que foram abordados nos fanzines, quais as perspectivas e sentimentos que surgiram durante a confecção, bem como as dificuldades que apresentaram-se no decorrer dos trabalhos;

11. Fechar a atividade analisando e relacionando os conteúdos dos fanzines com as questões discutidas em aulas prévias relacionadas à temática indígena. No final da atividade pode ser feita uma exposição dos trabalhos na escola. Exemplos de fanzines confeccionados por estudantes durante a aplicação de uma oficina em uma Escola Estadual de São Paulo podem ser conferidos nos anexos 6: “Mujeres

            Creando”, 7: “Hey Índios”; 8: “Jornal do Estudante”; 9: “Indios Modernos”; 10:     “Somos todos iguais”; 11: “Tribos Indígenas”; 12: “Conexão Indígena I”; 13:           “Conexão Indígena II” 14: “Imigração Indígena”; 15: “Índios não vivem apenas em        aldeias” e 16: “Os indígenas no Brasil”.

 

Considerações finais

 

 A oficina de fanzine visa estabelecer uma série de interações e confrontamentos. Desde a abordagem da temática indígena por uma perspectiva histórica, com elementos para questionar o papel tradicionalmente atribuído aos povos nativos enquanto vítimas ou subordinados aos europeus no período da invasão europeia, até o questionamento sobre a representação e imagens dos povos indígenas nas mídias e meios de comunicação tradicionais. Além de tais aspectos, a troca de ideias entre as/os estudantes durante e após a confecção dos fanzines visa sensibilizá-las/os para alguns pontos essenciais, como o respeito à diversidade entre as pessoas e os povos, quebra de estereótipos e preconceitos consolidados enquanto “normais”, curiosidade iniciativa própria para a busca de informações e pesquisas no geral. Assim, sendo o resultado da oficina publicações independentes, que vão além do convencional trabalho ou prova escolar, é possível despertar questionamentos sobre a história oficial e a alteridade com relação aos diversos povos nativos. 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: Ed.

FGV, 2010.

 

MAGALHÃES, Henrique. O que é fanzine. Coleção primeiros passos. São Paulo: Editora Brasiliense, 1993.

 

PINTO, Renato Donisete. Fanzine como recurso pedagógico nas aulas de educação

física              em              uma              escola              municipal.             Disponível              em:

http://www.gpef.fe.usp.br/semef2012/relato_Renato_Donisete.pdf

 

VIDAL, Lux (organizadora). Grafismo Indígena: estudos de antropologia estética. São Paulo: Studio Nobel : Editora da Universidade de São Paulo: FAPESP, 1992. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[1]          A Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008 altera as Leis nº 9.394/96, modificada pela Lei nº 10.639/03, a qual estabelece para a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional o ensino obrigatório de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.

[2]   ALMEIDA, Maria Regina Celestino de.  Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2010. P. 9-10.

[3]   Referencial curricular nacional para as escolas indígenas/ Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/ SEF, 1998, p. 41 (adaptado). Disponível em: http://www.ufpe.br/remdipe/images/documentos/edu_escolar/ml_07.pdf  (Acesso em 28/11/2013).

[4]          ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Op. Cit. p. 23. 

 

Referencia
Graduandos