Trabalho Final
DOCUMENTOS HISTÓRICOS NO ENSINO
Tema: O uso político do futebol durante o Regime Militar no Brasil

O capitão da seleção Carlos Alberto Torres levanta a Jules Rimet
Trabalho final de Ensino de História: Teoria e Prática
Prof.ª Drª. Antonia Terra de Calazans Fernandes
Grupo: Ricardo Menezes e Alexandre Mac Intyer
N° USP: 14606099
Contexto histórico
Esta proposta didática pretende orientar os alunos na leitura de fontes escritas e visuais produzidas durante o Regime Militar Brasileiro, enfatizando o uso do futebol e, em especial, da seleção brasileira, na propaganda oficial do governo.
O século XX pós Segunda Guerra Mundial apresentava um cenário geopolítico inusitado, onde duas superpotências de ideologias distintas ditavam as regras, criando áreas de influência através do globo. Dentro deste cenário, os EUA entendiam que precisavam manter os países da América Latina sob sua influência, reprimindo qualquer alusão à URSS, seja do governo ou de movimentos sociais de caráter civil presente nos países. Além disso, o uso de esportes para fins político não foi uma novidade do Regime Militar brasileiro, haja vista outros grandes exemplos desse tipo de ação, como nas olimpíadas de 1936 na Alemanha Nazista, a Copa do Mundo de 1978 na Argentina e os jogos olímpicos dos boicotes em plena guerra fria (Moscou, 1980 e Los Angeles, 1984).
Portanto, o kit tem como grande objetivo, elaborar discussões em torno das características dos regimes ditatoriais, seu processo de formação e especificamente, compreender o esporte fora do seu ambiente de prática, mas o esporte enquanto forma de expressão, e que, sendo uma forma de expressão, pode ser cooptada para fins de propaganda política como foi o caso da conquista da Copa de 1970.
O golpe militar de 1964 foi um evento importante dentro do contexto da Guerra Fria e a disputa entre EUA e URSS, visando aumentar suas esferas de influência ao redor do mundo. Desde 1947, com o famoso discurso do então presidente americano Harry Truman declarando que os EUA apoiaram qualquer país que estivesse sofrendo pressões internas de minorias armadas ou pressões externas, reafirmando o compromisso dos EUA na luta contra o “totalitarismo”. O aviso tinha um objetivo claro: mostrar que os EUA estavam dispostos a quase tudo para evitar que o bloco de influência soviético crescesse e que de alguma forma, começasse a representar um ponto de oposição ao sistema de produção capitalista, começando com as interferências do governo americano na Grécia e na Turquia no mesmo ano.
A América Latina ocupava um papel de destaque dentro da esfera de influência americana. Durante boa parte do século XIX o continente ficará a mercê da então Doutrina Monroe, que apesar de declarar proteger o continente da interferência europeia, servia antes de tudo a entender ao interesse dos Estados Unidos de se projetarem, nesse primeiro momento, como a principal potência regional do continente. A postura mudou com o governo de Franklin D. Roosevelt, com sua política de Boa Vizinhança, saindo de uma postura intervencionista, para uma postura focada na diplomacia e na cooperação econômica (principalmente num contexto quando a Segunda Guerra Mundial está entrando em sua fase mais aguda). Agora com a Doutrina Truman (nome dado a essa postura dos EUA após o discurso do presidente Truman em 1947) a atitude intervencionista voltava a aparecer e pairava seus olhos sobre a América Latina.
Os países latinos se apresentavam um terreno fértil para o surgimento e fortalecimento das doutrinas socialistas. Boa parte da América Latina tinha problemas crônicos relacionados à desigualdade social, à concentração de riqueza, à falta de acesso à terra e de outros direitos básicos como educação e saúde. Percebia-se o crescimento de movimentos sociais e de movimentos de esquerda, mas é em 1959 que vem o primeiro grande processo revolucionário que faria os EUA intensificaram suas intervenções na América Latina de forma ainda mais incisiva: a ditadura de Fulgêncio Batista em Cuba (apoiado pelos EUA, principalmente nos primeiros anos do regime) é derrubada principalmente pelas ações de dois líderes socialistas, Fidel Castro e Che Guevara. Cuba, uma pequena ilha do Caribe, passa a ser uma ameaça direta aos EUA, haja vista que agora, existe um território declaradamente socialista, recebendo apoio financeiro e logístico da União Soviética, há menos de 150 km da costa estadunidense. A situação se agravaria ainda mais em 1962, quando a União Soviética, em resposta à instalação de mísseis na Turquia e respondendo a um pedido do presidente Fidel Castro, começou o processo de construção de instalações que abrigariam mísseis inter balísticos nucleares na ilha. A situação quase se agrava ao ponto de uma guerra nuclear ser deflagrada, mas após 13 dias os ânimos se acalmaram e a situação era contornada pelas vias diplomáticas. No entanto, esses dois episódios reforçariam ainda mais a ideia de que era preciso prestar atenção aos rumos que o continente americano estaria tomando e efetivamente agindo para evitar que uma nova “Cuba” acabasse surgindo.
Neste cenário, as reformas de bases propostas pelo então presidente João Goulart, que incluíam uma reforma agrária e repartição de dividendos de empresas multinacionais sediadas no Brasil, foi o estopim para a movimentação da oposição, com ajuda dos militares. O discurso oficial na imprensa era de que Goulart instalaria um regime comunista no Brasil, mudando o lado do Brasil no jogo geopolítico então vigente, e por isso deveria ser freado. O golpe militar se deu em 1° de abril de 1964, quando tropas militares saídas de Juiz de Fora chegaram na capital, onde o então presidente já não se encontrava. Após a tomada de poder, os militares se estabeleceram no poder, caçando a oposição e governando por meio de atos institucionais. Para delimitar seu governo, os militares investiram na propaganda oficial, vendendo um projeto desenvolvimentista com forte cunho nacionalista, sendo a seleção brasileira de futebol a pricipal instituição cooptada para isso.
Objetivos
Leitura e análise de fontes escritas e visuais
Comparação de diversas fontes sobre o mesmo assunto
Situar o Brasil no cenário geopolítico da Guerra Fria
Refletir sobre o papel da propaganda na sociedade de massa
Introduzir os conceitos de populismo e desenvolvimentismo
Debater sobre o poder da imprensa na sociedade
Métodos
A sequência é pensada para ser trabalhada nos anos finais do ensino médio, tendo em média duração de 4 aulas de 50 minutos. Para tanto, o professor deverá fazer uma explicação expositiva do cenário nacional e internacional da década de 1960, tanto do panorama político como econômico e social. Após esta introdução, o professor separará a turma em quatro grupos, distribuindo a atividade entre eles. A atividade deverá ser feita em conjunto, com a leitura compartilhada e debate das fontes entre os integrantes dos grupos. Na última aula, após a resolução das questões, o professor deverá responder as questões junto com os alunos, comparando as respostas, fazendo as ponderações necessárias e estimulando o debate entre os alunos.
PROPOSTA DIDÁTICA COM USO DE DOCUMENTOS
- Para você, quais as características de um governo ditatorial?
- Qual você considera que é o papel do povo neste tipo de governo?
- Analisando o documento 1, identifique a data e a autoria. Depois responda:
- – Quais são as ideias defendidas pelo jornal?
- – Você concorda ou discorda do texto do jornal?
- – Na sua opinião, você concorda com a ideia de que a intervenção militar, no Brasil, em 1964, defendeu a democracia?
- – Quem eram os “vermelhos”, segundo o jornal? E qual perigo representavam? 4- Durante a presença dos militares no poder no Brasil, nas décadas de 1960, 70 e 80, eram frequentes os usos de símbolos nacionais. Analisando o documento 2, identifique quais eram eles.
5- Analise o documento 3. A música e a camisa da seleção podem ser consideradas símbolos nacionais? Explique
- - Por que a escolha da seleção brasileira de futebol, e não de outro esporte, como base da propaganda para defender o golpe do governo militar?
- - Analise os documentos 1 e 6 e responda:
A- O documento 6 possui uma conotação política? Explique B- Qual é a esquerda que o Brasil não confia?
C- No documento 1 há o termo “Salvo da Comunização”. Como ele se relaciona com o documento 6?
8- Analise os documentos 4, 5 e 7 e responda:
- Quais as datas dos documentos?
- O que os documentos têm em comum?
- Por que Médici é citado nos títulos?
- Todas as reportagens foram realizadas por veículos privados. Qual a relação da mídia com o governo?
- Qual o intuito de Médici ao se colocar como torcedor número 1?
7- O documento 3 apresenta uma música composta para apoiar a seleção na Copa de 1970, sabendo disso, responda:
- Ela pode ser considerada ufanista?
- O verso “Todos juntos vamos pra frente Brasil” pode ser associado ao governo? Explique
Documento 1

Documento 2

Pra Frente Brasil. 1970 - Miguel Gustavo



| Anexo | Size |
|---|---|
| Futebol e ditadura - Sequência Didática - Ensino de História.pdf | 1.5 MB |
