A mulher operária e o feminismo no início do século XX

Nome: Isabella Prado Brunetti da Silva N°USP: 10764551

Disciplina: Ensino de História - Teoria e Prática Horário: Quarta-feira - vespertino

Docente: Prof. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes

Sequência didática: A mulher operária e o feminismo no início do século XX

Identificação

Escola: Escola Pública Estadual Modalidade de Ensino: Ensino Médio

Série: 3°ano N° de alunos: 40 Disciplina: História

N° estimado de aulas: 07

Objetivo

O objetivo desta sequência didática é explorar, em um primeiro momento, a presença feminina no operariado brasileiro no início do século XX. Com isso, procuramos contrapor dois ideais que rondam o imaginário popular quando falamos sobre esse período histórico, sendo o primeiro deles o de quem compunha a massa trabalhadora das nascentes indústrias do período. Como pontua Margareth Rago em Relações de Gênero e Classe Operária no Brasil,

1890-1930, quando pensamos sobre a imagem do operário, geralmente nos vem à mente “a figura do italiano maduro, de bigodes densos e aparência sisuda”, esquecendo-se do considerável contingente feminino que ocupava as fileiras do operariado nas primeiras décadas do século XX.

O segundo senso comum que queremos questionar nessa proposta de intervenção é a imagem que frequentemente se tem das mulheres do início do século passado, vistas apenas como donas de casa que se dedicavam exclusivamente aos cuidados do lar e da família. Para isso, além de fornecermos as fontes que atestam a presença de mulheres dentro das fábricas, procuraremos demonstrar como o discurso da mulher como “a rainha do lar” foi fortalecido por veículos de imprensa que representavam os interesses de setores conservadores da sociedade.

Outra discussão importante que queremos promover ao longo dessas aulas é a participação das mulheres nos sindicatos, assim como sua presença nas lutas travadas pela classe operária no início do século XX em prol de melhores condições de trabalho.

O último conteúdo que queremos abordar nessa sequência didática diz respeito aos movimentos feministas do período em questão. Frequentemente, quando se pensa no feminismo do início do século XX, a representação mais destacada é a da vertente liberal e das suas conquistas que garantiram o direito ao voto e a participação política das mulheres.

Além de explorarmos essa faceta do movimento, pretendemos também discorrer sobre algumas das vertentes revolucionárias do feminismo, e como estas atuavam nesse momento histórico.

Assim, nosso objetivo principal aqui é evidenciar e trazer à discussão os elementos elencados acima sobre a história das mulheres, que muitas vezes caem no esquecimento dentro do imaginário histórico popular. Pretendemos, neste espaço, contar histórias que não costumam ser contadas.

Introdução

Nesta parte, pretendemos explicar as principais problemáticas que serão trabalhadas em sala de aula, e como iremos desenvolvê-las com os educandos. A sequência didática será realizada em quatro momentos, intitulados do seguinte modo: A mulher no mundo do trabalho fabril; a presença feminina em movimentos sindicais e nas lutas por melhores condições de trabalho; o comportamento exemplar: a mulher como “rainha do lar” e, por fim, as diferentes vertentes feministas no começo do século XX.

Para desenvolvermos o primeiro tópico, apresentaremos aos alunos dados estatísticos que revelam a grande presença feminina dentro das unidades fabris como parte da mão de obra empregada. Com essa fonte, pretendemos que os estudantes tomem conhecimento do fato de que as indústrias não se constituíam como espaços totalmente masculinos, mas contavam também com uma expressiva parcela feminina em sua composição.

Na seção seguinte, trabalharemos a questão da presença das mulheres em movimentos sindicais e nas lutas empreendidas pelos setores operários a fim de exigirem os seus direitos trabalhistas. Para isso, usaremos um texto sobre o assunto que foi elaborado por uma página no Facebook, conhecida como As Mina na História. O material, feito de modo a ser acessível e de fácil divulgação, foi desenvolvido tendo como base os livros Mulheres Anarquistas: O Resgate de uma História Pouco Contada (Imprensa Marginal) e História Das Mulheres no Brasil (Mary Del Priore e Carla Bassanezi). Consideramos a utilização deste texto por ele apresentar as ações de mulheres que ocupavam a linha de frente na luta contra as explorações sofridas pela classe operária, além de conter trechos de depoimentos onde as trabalhadoras expunham as condições degradantes que enfrentavam dentro das fábricas.

No próximo momento da sequência didática, faremos uso de uma reportagem publicada em 1914 pelo Jornal das Moças, que tem por título O que a mulher deve ser. A matéria apresenta uma lista de comportamentos tidos como ideais para todas as mulheres, e

pretendemos utilizá-la para expor a forma como veículos de imprensa conservadores contribuíram para a construção da imagem da mulher submissa, que deve estar focada em realizar as tarefas concernentes ao lar e à família.

Por fim, para encerrarmos a presente proposta de intervenção, faremos uma apresentação sobre as principais vertentes do movimento feminista no período histórico aqui colocado em foco. Para desenvolvermos essa problemática, pretendemos utilizar discursos promovidos por Bertha Lutz, representante do feminismo liberal e sufragista, e por Ernestina Lesina, imigrante italiana adepta ao anarquismo.

Materiais

Os materiais utilizados para as aulas serão: projetor de imagens e computador, lousa e giz, folhas sulfite para impressão de atividades e textos, e o aplicativo Jam Board.

Descrição das atividades

1° Momento: A mulher no mundo do trabalho fabril

Quantidade de aulas: 01

Aula 01

No começo da aula, os alunos deverão fazer um círculo, a fim de facilitar a ocorrência de um debate. Nesse momento inicial, o objetivo é realizar um levantamento sobre os conhecimentos prévios que os estudantes possuem sobre as indústrias do começo do século XX.
De modo a estimular os alunos a expressarem suas opiniões, o educador realizará perguntas como: “como vocês imaginam que era a rotina de trabalho de uma fábrica?”, “quais produtos eram produzidos?”, “o que esses trabalhadores faziam?”, e, para encerrar a discussão, “quem eram os operários que trabalhavam nas fábricas?”, apresentando essa como a pergunta principal a partir da qual o conteúdo será desenvolvido.
Após esse debate, com o auxílio de um projetor de imagem, o professor apresentará para a turma o quadro com as porcentagens que mostram a expressiva quantidade de mulheres que trabalhavam nas indústrias no início do século passado (material disponível no Anexo I). O objetivo é contrastar a visão geralmente assumida, que enxerga que o trabalho nas fábricas era realizado praticamente de forma exclusiva por homens. Para encerrar a aula, o docente solicitará que os alunos comentem como os dados e imagens apresentados contrastaram com a representação que eles possuíam anteriormente.

2° Momento: a presença feminina em movimentos sindicais e nas lutas por melhores condições de trabalho

Quantidade de aulas: 02

Aula 02

A primeira aula desta segunda parte da sequência didática será expositiva, onde se mostrará para os alunos alguns aspectos sobre os movimentos sindicais brasileiros do período histórico trabalhado. Serão explicadas questões como as ideologias revolucionárias nos meios sindicais do operariado, características gerais sobre as suas organizações e os principais direitos trabalhistas conquistados pelos grupos. Como tarefa de casa, será pedido que os educandos realizem a leitura de um texto que ressalta o papel desempenhado pelas mulheres nas lutas por melhores condições de trabalho (disponível no Anexo II). O material será disponibilizado em uma folha sulfite, que deverá ser trazida no próximo encontro.

Aula 03

Na terceira aula, será solicitado aos alunos que se organizem em 8 grupos, com 5 integrantes cada. O professor disponibilizará folhas sulfite contendo perguntas norteadoras para uma leitura crítica do texto (presentes no anexo II), que deverão ser respondidas pelos grupos e entregues após 30 minutos. Enquanto os alunos desenvolvem as atividades, o educador deve circular pela sala, a fim de auxiliar os alunos na resolução das questões e observar como estes desenvolvem a tarefa solicitada. Depois disso, será feita uma discussão com a turma sobre os conteúdos trabalhados ao longo do texto.

Ao final, o docente comunicará para a classe que na próxima aula será trabalhada uma matéria publicada no ano de 1914 pelo Jornal das moças. Como atividade de casa, será pedido que os alunos coloquem no Jam Board1 dados externos que auxiliem na compreensão da fonte, como o contexto histórico da data de publicação do material, informações sobre o Jornal das moças, e valores sociais, políticos e econômicos do período.

_______________________________________________________________________

1 O Jam Board é um aplicativo onde você pode procurar, ver e compartilhar Jams criados por você e seus colegas de equipe. O quadro branco digital Jam Board permite que equipes até mesmo em locais muito distantes discutam ideias e as salvem na nuvem para acesso em qualquer dispositivo.

3° Momento: o comportamento exemplar: a mulher como “rainha do lar” Quantidade de aulas: 02

Aula 04

Nesta aula, o educador se dedicará a analisar referências externas à fonte e que sejam importantes para a sua compreensão. Os estudantes deverão novamente organizar as cadeiras em formato de roda. Com o auxílio de um projetor, serão exibidos os dados coletados pelos alunos que foram postados no Jamboard, a fim de que se tenha uma discussão em classe sobre as informações levantadas pelos adolescentes. Neste momento, após conversar sobre todas as considerações feitas pela turma, o professor fará a apresentação de possíveis elementos que sejam essenciais para se ter um entendimento mais claro da fonte, e que não constavam entre as pesquisas feitas pelos estudantes.

Aula 05

Na quinta aula de sequência didática, os momentos iniciais serão dedicados à uma breve introdução da fonte selecionada (ver anexo III) pelo professor, relacionando-a com as informações discutidas no último encontro. Após isso, o docente realizará a leitura da reportagem, promovendo uma discussão em turma sobre o conteúdo apresentado. A seguir, estão algumas questões que podem ser úteis para incentivar os alunos a participarem: “qual é a natureza da fonte, considerando aspectos como a sua forma e finalidade?”, “quais são as informações contidas na reportagem?”, “quais são os valores defendidos?”, e, para encerrar, “qual a visão de mulher passada pela matéria de jornal?”. O objetivo com essa última pergunta é abrir a oportunidade para o educador realizar uma fala que pontue o papel da mídia na divulgação de ideais que defendiam que a mulher deveria assumir uma posição de submissão em relação ao sexo masculino, se dedicando às tarefas do lar e do cuidado com a família.

4° Momento: as diferentes vertentes feministas no começo do século XX Quantidade de aulas: 02

Aula 06

O professor iniciará a primeira aula do último momento da sequência didática pedindo que a sala se divida em grupos com 5 alunos cada, o que totalizará um total de 8. Serão entregues para cada grupo duas folhas sulfite, uma contendo as perguntas norteadoras para análise de fonte e outra com o discurso a ser estudado. 4 destes serão referenntes a um discurso proferido pela feminista liberal Bertha Lutz, e os outros receberão a fala da revolucionária Ernestina Lesina (tanto as questões como o material a ser analisado estão
disponíveis no anexo IV). Os alunos terão 20 minutos para a realização dessa parte da tarefa, e enquanto isso, o docente andará pela sala com o propósito de analisar o desempenho dos estudantes e ajudá-los em suas dificuldades.
Após o encerramento dessa tarefa, os alunos deverão agrupar-se em dois grandes grupos: um composto por aqueles que analisaram a fala de Lutz, e outro, dos que receberam o discurso de Lesina. Aqui, os estudantes deverão comparar as análises que foram realizadas anteriormente, e selecionar 2 colegas que se encarregará de expor as principais conclusões tiradas pelo grupo; essa atividade também durará 20 minutos.
Por fim, encerrando essa aula, os alunos selecionados anteriormente farão uma breve fala sobre os principais pontos considerados durante a última tarefa concluída. Cada um terá cinco minutos para fazer a sua apresentação.

Aula 07

Neste encontro realizado com a turma, que será a última aula da sequência aqui idealizada, os momentos iniciais serão dedicados para expor a contextualização das fontes vistas na aula anterior. Serão apresentados para a sala aspectos sobre as vertentes feministas com as quais Bertha e Ernestina se identificavam (respectivamente, liberal e revolucionária). Também serão apresentadas as biografias das duas mulheres mencionadas.
Após esse momento expositivo, será pedido que a turma realize um círculo. O objetivo é discutir de qual forma as informações vistas na primeira parte da aula auxiliam na compreensão das fontes disponibilizadas aos estudantes, encerrando assim os conteúdos organizados para a sequência didática.

Avaliações

A proposta de avaliação final da sequência didática será apresentada aos estudantes no final da terceira aula, e consiste na produção de um material de divulgação. Cada grupo (8 grupos de 5 membros) receberá por sorteio um dos temas explorados ao longo da sequência. O formato ficará por escolha dos alunos, que optarão por elaborar um vídeo ou um podcast, que deverá ter de 10 a 15 minutos de duração total. Os trabalhos, após finalizados, serão divulgados em perfis da escola nas redes sociais.
Os temas pensados são os seguintes: 1) a mulher no mundo do trabalho fabril, 2) as mulheres e os movimentos sindicais, 3) a participação das operárias em greves e manifestações, 4) a mídia conservadora e a imagem da mulher dona de casa, 5) diferenças entre as vertentes liberal e revolucionárias do feminismo, 6) Bertha Lutz e 7) Ernestina
Lesina. Outra temática que foi concebida é o levantamento de histórias pessoais, onde alunos que tiverem alguma parente ou conhecida que trabalhou em alguma indústria durante a primeira metade do século XX apresentarão os relatos fornecidos por essas mulheres sobre o seu ambiente de trabalho. Primeiramente, seria conferida a existência de alunos que conhecem pessoas que correspondem a esse perfil. Caso a resposta seja negativa, uma outra proposta seria elaborada.
Os estudantes terão o prazo de dois meses para a produção do material solicitado, e durante todo esse período, o professor ficará responsável por auxiliar os grupos em eventuais dúvidas que possam existir, e orientar os alunos quanto aos materiais utilizados para a pesquisa de dados que constarão no trabalho.
Além do material de divulgação, os alunos seriam avaliados por meio das respostas respondidas em grupo e entregues nas aulas 03 e 06.

Resultados esperados

Objetivamos que, após a aplicação da sequência didática aqui apresentada, os alunos reconheçam a presença das mulheres em espaços antes imaginados como inteiramente masculinos, como o trabalho nas fábricas do início do século XX , as manifestações e a organização de sindicatos para lutarem por seus direitos trabalhistas. Assim, esperamos também que os alunos contraponham a visão que coloca as mulheres desse período como sendo restritas quase que totalmente ao ambiente doméstico, mostrando outras realidades existentes.
Também pretendemos que os alunos desenvolvam suas capacidades de argumentação, análise e interpretação por meio das atividades realizadas em sala de aula. Com o trabalho final, a meta estabelecida é que os educandos se familiarizem com práticas de pesquisa e levantamento de informações e dados, assim como em elaborar materiais de divulgação de conhecimento científico.

Anexo I

Os dados presentes na tabela abaixo foram retirados do texto Relações de Gênero e Classe

Operária no Brasil, 1890-1930, de Margareth Rago.

Ano

Tipo de indústria

Número de estabeleciment os visitados

Porcentagem de trabalhadoras

Números brutos

Órgão de inspeção

1901

Têxtil e fiação

Desconhecido

72,74% (engloba mulheres e crianças)

Desconhecido

Desconhecido

1917

Desconhecido

07 (sete)

75%

1.340

Departamento Estadual

do Trabalho

1920

Têxtil

247

50,96%

17.747

Recenseamento

1920

Vestuário e toucador

736

33,87%

3.554

Recenseamento

Anexo II

Texto: Mulheres operárias em sindicatos e manifestações

Em 1901, um dos primeiros levantamentos sobre a indústria de São Paulo, constata que

72,74% dos trabalhadores têxteis eram mulheres e crianças.

Em 1906, por iniciativa da ativista anarquista Ernestina Lesina se criou a Associação de Costureiras de Sacos. Lesina lançou uma convocatória convidando as trabalhadoras a se unirem à luta para conseguir a redução da jornada de trabalho. Ernestina fundou em São Paulo, o periódico Anima e Vita.

Na mesma época, em São Paulo, as operárias anarquistas, Maria Lopes, Teresa Fabri y Teresa María Carini, lançam um Manifesto dirigido às trabalhadoras. Publicado no periódico anarquista Terra Livre, as convoca a participar no movimento grevista desencadeado em São Paulo, e as incentiva a denunciar as péssimas condições de trabalho que têm de suportar, as jornadas excessivas de trabalho, e os salários miseráveis que recebiam.

O trecho de um artigo publicado no jornal anarquista A Terra Livre, de 1906, diz:

"Estas operárias trabalham num número médio de 12 horas por dia, isto é, um dia e meio, comparando-o com o almejado dia de 8 horas, sem levar em conta os três ou quatro dias de

semana em que, em muitas oficinas, o trabalho é prolongado até a meia-noite, correspondendo assim o dia a 16 horas de trabalho. Isto é horrível? É ou não é um regime bárbaro?"

A operária Luiza Ferreira De Medeiros forneceu um depoimento sobre as condições de trabalho na fábrica têxtil Bangu, no Rio de Janeiro, durante a Primeira Guerra Mundial, condições que conhecia desde os setes anos de idade:

"Iniciava o trabalho às 6 e terminava por volta das 17 horas sem horário para almoço definido. Era a critério dos mestres o direito de comer, e tendo ou não tempo para almoçar, o salário era o mesmo. As refeições eram feitas entre as máquinas. Apenas uma pia imunda servia-nos de bebedouro. Nunca recebíamos horas extras, mesmo trabalhando além do horário estabelecido."

-

Elvira Boni começou a trabalhar aos 12 anos, como aprendiz de costureira na Rua Uruguaiana, sem que recebesse de início nenhum salário, e depois passou a receber 10 mil réis por mês. Conhecia a Liga Anticlerical, e, por essa época, (1911-12), a jornada de trabalho começava às 8 horas e terminava às 19 horas; quando o serviço apertava, prolongava-se até às

20 e 22 horas.

Impulsionada pelo anarco-sindicalismo, em maio de 1919, com 50 companheiras de profissão, formou a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes anexas, que funcionava na sede da União dos Alfaiates do Rio de Janeiro. Dentre as companheiras estavam Elisa Gonçalves de Oliveira, Aida Morais, Isabel Peleteiro, Noemia Lopes e Carmen Ribeiro.

Coube a Elvira a tarefa de ler o discurso de inauguração da União, publicado depois pelo

Jornal do Brasil.

A primeira iniciativa da associação das operárias e costureiras, ainda em 1919, foi deflagrar greve pelas 8 horas de trabalho. Muitas grevistas foram punidas com demissão

sumária.

Nos documentos policiais, listas de mulheres indesejadas e que deveriam ser afastadas não apenas das fábricas, mas de todo o ramo industrial:

"Queriam VV.SS. incluir na sua lista de indesejáveis os seguintes nomes de operários que foram despedidos, como agitadores, pela fábrica Luzitania:

Benedicta Cerqueira

Italgina Cerqueira

Augusta Maria Conceição

Ersilia Montorso - Tecelã

Anna Vial

Maria Montorso.

A operária Benedicta Cerqueira tem em nosso arquivo secreto a seguinte indicação: "Despedida pela fábrica Luzitania por ter, em companhia de outros companheiros, feito paralisar os trabalhos da secção de fiação."

Fontes:

Mulheres Anarquistas: O Resgate de uma História Pouco Contada - Imprensa Marginal

História Das Mulheres no Brasil - Mary Del Priore e Carla Bassanezi

Créditos: página As Mina na História (Facebook)

Perguntas norteadoras

1. Sobre o que trata o texto?
2. Quais são as ações realizadas pelas mulheres aqui descritas?
3. O que o texto relata sobre as condições de trabalho vivenciadas por essas mulheres?
4. Qual o papel desempenhado pelos jornais de viés revolucionário de acordo com o texto?
5. Como as mulheres são representadas ao longo do texto?

Anexo III

O que a mulher deve ser

O que a mulher de ser

 

1. Honrada por dever e não por cálculo, é uma triste verdade que nem todas as honradas se casam, mas não é também menos verdade que as maculadas só por exceção se [casam].
2. Sedutora com o homem a quem amou, mas não com dois ao mesmo tempo, como às vezes acontece, pois acabará por não apanhar nenhum.
3. Usar de maior limpeza e asseio possíveis. Aos homens agrada tanto a mulher asseiada como desagrada a que se descuida com a sua higiene. [...]
4. É de bem que procure agradar ao homem, pois para isso nasceu, mas sem que tentem deslumbrá-lo, afetando dotes e qualidades que não possui. Com cadeiras postiças e seios de algodão, raramente ateará incêndio ao combustível do amor, ou, quando isso acontecer, bem depressa se extinguirá.
5. Vestir com simplicidade, embora com bom gosto. Não exclui a modéstia e a elegância, e nem aquela exclui a arte. Se é bela de rosto e possui outros atrativos físicos, facilmente seduzirá a quem a encare com qualquer espécie de tecido. A verdadeira formosura vem por si só [...].
6. Se está apaixonada e é correspondida, procure se o seu coração consente, não ceda ao namorado mais do que a boa educação permite. Embriague-o com palavras, com seus suspiros, com promessas, com lágrimas, mas não consista nunca que o amor sinta o sabor dos beijos. Pode alguma vez, quando já se sinta quase garantida pelo compromisso amoroso, fingir um instante de distração para que o namorado a beije, reclamando, porém, em seguida, em termos brandos, contra a ousadia. Isso aguçará o desejo do casamento para mais breve.
7. Quando for esposa é que deve, mais do que nunca, galantear o marido, para que este nunca se enfarte do amor conjugal. Deve procurar levantar-se mais cedo do que ele e sempre às escuras ou sob a penumbra do aposento, para que o marido não a veja desarrumada. [...]
8. Não convém despachar muitos pretendentes, pois cada vez mais escasseiam os candidatos ao matrimônio. Não sonhe com príncipes nem com titulares ou doutores. Contente-se com quem possua elementos físicos para ganhar a vida e bastante força para tomá-la em seus braços algumas vezes por semana, em atitude carinhosa.
9. Não olhe de má vontade os homens sérios. São estes os únicos que pouco falam e muito fazem pela vida.
10. Não casa com filósofos. Estes são muito distraídos ou têm a mania de analisar tudo.
Tanto em um como em outro caso são maus maridos, seja por falta ou por excesso.
Fonte: Jornal das Moças, 21 de maio de 1914

Anexo IV

Fonte 01:

Quem ousaria falar da missão da mulher no seio da família em frente de uma oficina que engole milhares e milhares de moças e de mulheres que os monstro capitalistas começam a dar as primeiras forças de crianças continuando, até cair extenuadas pela velhice prematura, aprisionadas durante dez e doze horas por dia, quase sem ter tempo de conhecer a família? A missão, destas infelizes é unicamente com seu trabalho embrutecedor, criar riquezas para os patrões. E’ nestas condições que se tem a ousadia de falar da missão da mulher a desenvolver-se no seio da família? Quando constatamos

que o matrimonio é objeto de divisão pelos mesmos que o defendem como instituição fundamental da nossa sociedade e considerado como um peso, ao qual, não se podendo evitar procuram adiá-lo o mais possível? (LESINA, 1904, p. 5)

Fonte 02:

Eis-nos chegados ao porvir. Dele o que direi? Apenas que depende de vós. Vinte anos atrás não existia o movimento feminista no Brasil. Hoje acha-se em marcha vitoriosa. Quinze anos atrás as mulheres não possuíam os mais rudimentares direitos civis, hoje se iniciam no usufruto dos direitos políticos. Dez anos atrás eu trabalhava isolada, hoje a Federação B.P.F. possui um grupo de líderes de valor, nos anos vindouros o movimento se democratizará. A principio não havia senão um generalíssimo. Hoje já temos generais. Espero que amanhã teremos em cada mulher brasileira um soldado - um soldado no sentido figurado porque a falange feminina deve se dedicar acima de tudo ao advento da paz. (LUTZ, Bertha. Convenção, Rio de Janeiro,1930, p. 10).

Perguntas norteadoras

1. Quais são as informações contidas no documento?
2. Qual é a finalidade desse discurso? Para quem vocês acham que ele foi dirigido?
3. O que ele nos revela sobre os ideais da mulher que realizou essa fala?
4. Quais sentimentos vocês acham que a autora gostaria de provocar no seu público?
Justifique sua resposta.

Referencia
Graduandos
Anexo Size
Sequência Didática (2).pdf 314.1 KB