Sequência didática apresentada como trabalho da disciplina de
Ensino de História: Teoria e Prática
Raphael Tessitore Schenfeld Costa nUSP 5615151
Conteúdo
Religiões de Matriz Africana
Procedimentais
Compreensão textual e de documentos impressos
Expressão de dúvidas Pesquisa bibliográfica Expressão escrita
Debate entre diferentes respostas
Conexão entre diferentes elementos textuais, visuais e orais
Atitudinais
Atenção
Respeito ao revezamento da palavra
Iniciativa do questionamento
Atividade
A marginalização, o apagamento e a violência contra as religiões de matriz africana na
História do Brasil.
Objetivo da atividade
Debater as origens e os elementos que compõem as religiões de matriz africana e as tentativas de apagamento dessas religiões ao longo da História do Brasil.
Idade
Ensino Médio, preferencialmente 3º ano.
Abordagem histórica
A sequência busca contextualizar as origens e elementos que compõem as religiões de matriz africana, as similaridades e diferenças entre as diferentes manifestações religiosas que compõem essa unidade e a forma como elas têm sido alvo de preconceito, exclusão, criminalização, apagamento e violência ao longo da nossa história.
Introdução
As religiões de matriz africana têm suas raízes na diáspora consequência do processo de escravização de diferentes povos africanos que trazem para o Brasil diferentes formas de expressão religiosa e que se mesclam a elementos locais, seja do cristianismo, seja das culturas indígenas para comporem expressões vivas e originais em diferentes locais do Brasil. As culturas das populações afro-brasileiras têm sido alvo de preconceitos e apagamentos ao longo do tempo e com as expressões religiosas também não tem sido diferente. Essa
sequência irá apresentar diversos elementos e documentos que demonstram essas perseguições e apagamentos a fim de despertar nos alunos um olhar para essa questão que escape das tentativas sistemáticas de exclusão dessas práticas.
Descrição da atividade
AULA 1: LEITURA E DEBATE DO TEXTO “RELIGIOSIDADES”
1. Leitura individual do verbete “Religiosidades”, por Luis Nicolau Parés, da obra “Dicionário da Escravidão e Liberdade” (Anexo 1): distribuir cópias do texto (8 páginas) para os alunos, que terão um tempo (20 minutos) para leitura em sala com orientação para destacar (à caneta) os trechos em que tiverem dúvidas, seja de entendimento do texto, seja de vocabulário.
2. Releitura coletiva do mesmo texto com discussão das dúvidas: realizar uma leitura em voz alta do texto orientando os alunos que levantem as mãos sempre que a leitura passar pelos trechos que eles tenham destacado como dúvidas. Os alunos de mãos levantadas colocam suas dúvidas que podem ser debatidas na turma com supervisão do professor. As dúvidas servirão para encaminhar o debate em torno do texto e do conteúdo proposto. Caso os seguintes assuntos não surjam da discussão, podem ser
estimulados pelo professor: a multiplicidade de manifestações religiosas e de suas origens, o caráter sincrético dessas manifestações, o intercâmbio constante entre elas e a África, em contraste a uma visão monolítica delas.
3. Tarefa: as dúvidas que escapem do conteúdo do próprio texto podem servir para que uma pesquisa seja feita pelos alunos para entrega na aula seguinte.
AULA 2: CRIMINALIZAÇÃO JURÍDICA E APAGAMENTO CULTURAL
1. Leitura coletiva do Artigo 157 do Código Penal de 1890:
CAPITULO III
DOS CRIMES CONTRA A SAUDE PUBLICA (...)
Art. 157. Praticar o espiritismo, a magia e seus sortilegios, usar de talismans e cartomancias para despertar sentimentos de odio ou amor, inculcar cura de molestias curaveis ou incuraveis, emfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica:
Penas - de prisão cellular por um a seis mezes e multa de 100$ a 500$000.
§ 1º Si por influencia, ou em consequencia de qualquer destes meios, resultar ao paciente privação, ou alteração temporaria ou permanente, das faculdades psychicas:
Penas - de prisão cellular por um a seis annos e multa de 200$ a 500$000.
§ 2º Em igual pena, e mais na de privação do exercicio da profissão por tempo igual ao da condemnação, incorrerá o medico que directamente praticar qualquer dos actos acima referidos, ou assumir a responsabilidade delles.
Fonte:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-847-11-outubro-1890-50308
6-publicacaooriginal-1-pe.html
2. Debate sobre o Código Penal de 1890: contexto histórico de recém abolição da escravidão e proclamação da República. Contexto do artigo 157, que criminaliza a “feitiçaria” e a classifica entre artigos que discutem a questão da Saúde Pública, como o envenenamento e o exercício indevido da medicina.
3. Leitura e audição da música “Feitiço da Vila”, de Noel Rosa (1950):
Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos Do arvoredo e faz a lua Nascer mais cedo
Lá, em Vila Isabel
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba
São Paulo dá café
Minas dá leite
E a Vila Isabel dá samba
A vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem
Tendo nome de princesa Transformou o samba Num feitiço decente
Que prende a gente
O sol da Vila é triste
Samba não assiste Porque a gente implora Sol, pelo amor de Deus não vem agora
que as morenas vão logo embora
Eu sei por onde passo Sei tudo o que faço Paixão não me aniquila Mas, tenho que dizer Modéstia à parte
Meus senhores
Eu sou da Vila!
Feitiço da Vila - Noel Rosa - YouTube
4. Debate sobre o conteúdo do refrão de “Feitiço da Vila”: o samba, outra forma de expressão da cultura afro-brasileira, se apresenta como um “feitiço sem farofa, sem vela e sem vintém, que nos faz bem”. Uma forma socialmente mais aceita da cultura afro-brasileira em comparação às expressões religiosas, criminalizadas. Seria a canção
racista? (vídeo de Caetano Veloso:
A letra de Feitiço da Vila é racista? ). É
possível conectar as mudanças do samba no sentido de uma “domesticação” dessa expressão cultural aos interesses do Estado que buscava utilizá-lo como um meio de representar a unidade cultural brasileira, em especial no período do Estado Novo.
Fonte: Sandroni, Carlos (2001). Feitiço Decente: transformações do samba no Rio de Janeiro
(1917-1933). Rio de Janeiro: Zahar.
AULA 3: PERSEGUIÇÃO E VIOLÊNCIA NOS DIAS ATUAIS
1. Leitura coletiva da matéria de jornal “Polícia prende 8 traficantes do ‘Bonde de
Jesus’, que atacava terreiros no Rio” (Anexo 2)
2. Apresentação de imagens de terreiros vandalizados e pichações contra religiões de matriz africana (Anexo 3)
3. Debate de conexão entre as aulas: provocar a conexão entre os temas discutidos nas três aulas, sobre como a proibição legal de manifestações religiosas está conectada ao passado escravista e sobre como essa proibição empurrou essas manifestações para a marginalidade e estimulou o preconceito contra elas até os dias atuais, o que pode ser visto na matéria sobre o vandalismo contra os terreiros.
4. FECHAMENTO: Exibição de vídeo da música “Cordeiro de Nanã”, por Mateus
Aleluia, membro do histórico grupo “Os Tincoãs” e Thalma de Freitas.
Mateus Aleluia e Thalma de Freitas - Cordeiro de Nanã | Compacto Petrobras - YouTube
Mateus Aleluia e Thalma de Freitas - Cordeiro de Nanã | Compacto Petrobras
ANEXOS
Anexo I
Anexo 3
Anexo | Tamanho |
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Sequência Didática - Raphael T S Costa.pdf | 4.99 MB |