O povo Ashaninka do Acre e a luta pelo direito das terras.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

SEQUÊNCIA DIDÁTICA: O POVO ASHANINKA DO ACRE E A LUTA PELO DIREITO DAS TERRAS

Gabriel Santos de Oliveira – NUSP 11285771

Disciplina: Ensino de História: Teoria e Prática

Docente: Profa. Dra. Antônia Terra Calazans Fernandes

São Paulo
2021

Temática: O povo Ashaninka do Acre e a luta pelo direito das terras.

Público-Alvo: Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

Número de aulas planejado: 8 aulas.

Objetivos da sequência didática:

º Conhecer os povos Ashaninka e suas particularidades sociais, culturais e políticas.

º Instigar os alunos a pensarem sobre a importância dos povos indígenas em geral e sua demarcação de terras.
º Estimular a capacidade de leitura e interpretação de fontes.

Resumo e apontamentos preliminares:

A sequência didática a seguir tem por objetivo discutir analiticamente a cultura dos povos Ashaninka do Acre, fazendo com que os alunos pensem no quão relevante é a temática dos povos indígenas no Brasil.
Espera-se que os estudantes possam, a partir do conteúdo apresentado, desenvolvam a capacidade de interpretar e ler diferentes tipos de fontes – desde iconografia até páginas de jornal.

1ª aula Ao professor, é necessário conversar inicialmente com os alunos sobre o projeto a ser dado a partir deste momento. Nessa primeira aula, apresente uma imagem dos povos Ashaninka como forma de dar base para o que será discutido nos encontros posteriores. A partir disso, podemos sugerir uma iconografia e perguntas que possam colocar os estudantes em questionamento interno:

– O que conseguem enxergar na imagem?
– Esses povos estão vinculados ao nosso modelo de sociedade?
– O que é indígena para vocês?
– De que maneira essas pessoas estão vestidas? Possuem um estilo igual a das pessoas com quem vocês convivem?
– Qual seria o lugar onde estão representados? É uma cidade, um campo?
– Vocês acham que esse tipo de local é importante para a morada desses povos?
Com esse primeiro debate e sequência de perguntas, esperamos que a base da discussão possa ser oferecida aos alunos para que, nas próximas aulas, possam acompanhar as diferentes dinâmicas propostas na sequência didática.

Família Ashaninka fotografada em terra do Acre. Foto: Terri Vale de Aquino.
Família Ashaninka fotografada em terra do Acre. Foto: Terri Vale de Aquino. Disponível em: <https://cpiacre.org.br/ashaninka/&gt;. Acesso em 11/06/2021.

2ª Aula Reforce as ideias da aula anterior e oriente os alunos para que assistam um vídeo de uma reportagem e ouçam um áudio de uma música típica Ashaninka, visando apresentar suas principais características e fazer com que os estudantes busquem entender suas particularidades. Algumas questões que podem ser usadas em sala:

– Onde vivem os Ashaninka?
– O transporte desses povos é feito de maneira rápida e fácil como os tipos de transporte que vocês estão acostumados? Eles usam carros, motos ou jet-skis?
– Qual a visão das pessoas da aldeia para com o nosso estilo de vida? É válido enxergar que existem outros tipos de convivência social além da nossa?
– Como vocês enxergam o tipo de roupa, alimentação e expressão artística musical dos
Ashaninka?
– De que maneira a alimentação deles difere do que vocês costumam comer? É o mesmo tipo de alimento? Acham mais saudável ou menos saudável?
– A educação dessas pessoas é igual a nossa? Em suas aldeias, eles aprendem algo além do currículo unificado das escolas brasileiras?
– Sua língua é comparativamente igual ao nosso português? (Caso os alunos não enxerguem o tronco linguístico, comentar o fato da língua desses povos ser proveniente do Arawak)
– O fato deles aderirem a elementos da cultura globalizada exclui suas raízes indígenas? VÍDEO: A última fronteira: direto do Acre, conheça os Índios Ashaninka. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=8kqGwrcY0Q0&gt;. Acesso em: 11/06/2021.
ÁUDIO:<http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-brasil/sons-indigenas/1154- homapani-ashaninka> Acesso em: 11/06/2021

3ª Aula Esta aula possui um caráter de transição muito importante para a continuidade do projeto da sequência didática, pois será aqui que os alunos terão seu primeiro contato com a questão das terras indígenas. Para introduzir o assunto, sugere-se algumas questões a serem trabalhadas e um mapa:

– Em qual região estão localizados os grupos Ashaninka?
– Estão eles introduzidos dentro de um território puro e exclusivamente brasileiro?

Para vocês, qual a importância dos rios para a manutenção do bem-estar social dessas populações?

– O tamanho das terras disponíveis para os Ashaninka é compatível com suas necessidades básicas? É comparativamente igual ao tamanho das terras em que nós, sociedade de cidades, vivemos?

Mapa das delimitações geográficas propostas aos povos Ashaninka do Acre
Mapa das delimitações geográficas propostas aos povos Ashaninka do Acre. Disponível em:

<https://mirim.org/pt-br/node/65&gt;. Acesso em 11/06/2021.

4ª Aula Utilizando a discussão da terceira aula, apresente aos alunos um breve contexto histórico que comente o que é a demarcação de terras indígenas e porquê esses povos precisam ter seu direito respeitado. Em seguida, estimule-os a pensar se esse direito à terra, apesar de essencial, é respeitado na prática. Segue, como sugestão, 2 diferentes fontes – a primeira sendo um trecho do artigo 231 da constituição federal do Brasil e a segunda um desenho retirado do trabalho de Paulo Machado Guimarães – e algumas perguntas a serem feitas para complementar o debate:

– Na visão de vocês, é importante os indígenas conseguirem manter íntegras as suas terras?
– Fazendo um paralelo entre o que a constituição nos diz e o que está ilustrado no desenho de Paulo Machado Guimarães, os povos indígenas no Brasil estão com o seu direito a moradia assegurado?
– De que forma podemos ajudar nessa luta pela demarcação de terras?

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e

fazer respeitar todos os seus bens.

Página 69. GUlMARÃES, Paulo Machado. Demarcação das terras indígenas; a agressão do governo. Brasília, CIMI. 1989, 93 p.

Página 69. GUlMARÃES, Paulo Machado. Demarcação das terras indígenas; a agressão do governo. Brasília, CIMI. 1989, 93 p.

 

5ª Aula Mostre aos alunos a ideia desta próxima atividade – analisar criticamente uma página do jornal “Folha de São Paulo” –, explicitando que o objetivo é ter um contato primário com outros tipos de fontes e, a partir disso, discutir como a luta Ashaninka pela demarcação de terras é divulgada para a sociedade. A apresentação das seguintes questões sugeridas poderá complementar a aula:

– Como os indígenas são ilustrados no jornal?
– Até que ponto vocês acham que chega esse ideal guerreiro dos Ashaninka na manchete? Sua cultura é puramente guerreira?
– Qual ideia a manchete transmite? Os indígenas estão numa luta equilibrada e justa em defesa de suas próprias terras?

SERVA, Leão. Vencedores de várias lutas, índios guerreiros do Acre encaram novos invasores. Folha de S. Paulo, São Paulo, 20 maio 2018. Cultura, p. 2 - 2. Disponível em: https://www.indios.org.br/pt/Not%C3%ADcias?id=189775. Acesso em: 5 jun. 2021.
SERVA, Leão. Vencedores de várias lutas, índios guerreiros do Acre encaram novos invasores. Folha de S. Paulo, São Paulo, 20 maio 2018. Cultura, p. 2 - 2. Disponível em: https://www.indios.org.br/pt/Not%C3%ADcias?id=189775. Acesso em: 5 jun. 2021.

 

6ª Aula Oriente os alunos para que formem grupos de 3 a 5 integrantes para uma atividade em conjunto. Apresente a proposta para eles explicando que:

– Os grupos devem, em primeiro plano, se colocar no lugar dos indígenas Ashaninka. Para isso, é necessário que escrevam um comunicado solicitando que o direito de suas terras seja respeitado pelo governo.
– Em seguida, peça para que escolham o destinatário do comunicado. O presidente da república, a FUNAI, o CPI-AC ou o governador do estado do Acre podem ser algumas das opções.
– Ao final da atividade, peça para que troquem os documentos com outros grupos e, caso haja voluntários, que leiam para a sala em voz alta.

7ª Aula Assim como na aula anterior, solicite a formação de grupos de 3 a 5 integrantes para mais uma atividade conjunta. Dessa vez, cabe aos alunos:

– Inverter os papéis e, agora, se colocar na posição de um órgão governamental que responderá a reivindicação de direitos enviada pelos povos Ashaninka na aula anterior.
– É importante deixar livre a escolha de qual órgão os estudantes irão interpretar.
– Novamente, faça com que troquem a resposta entre si e leiam em voz alta.

8ª Aula Como forma de fechamento do projeto de sequência didática, abra um debate livre com os alunos, perguntando o que aprenderam e o que gostariam de compartilhar com a classe no que tange aos assuntos trabalhados nas aulas anteriores. As seguintes perguntas podem auxiliar esse processo:

– Para vocês, o quão foi importante estudar sobre os povos indígenas no Brasil?
– Enxergaram que existem outras pessoas com outras culturas totalmente diferentes em nosso país e que também devem ser respeitadas?

Referências Bibliográficas

ESPINOSA, Oscar.1993a, "Los Asháninka: guerreros em uma historia de violencia", America Indigena, LIII (4): 45-60.

1993b. "Las rondas Ashaninka y la violencia política en la selva central", America Indigena, LIII (4): 79-101.

GUlMARÃES, Paulo Machado. Demarcação das terras indígenas; a agressão do governo. Brasília, CIMI. 1989, 93 p.
MENDES, Margarete Kitaka. 1991. Etnografia preliminar dos Ashaninka da Amazônia brasileira. Dissertação de m estrado em antropologia. Universidade Estadual de Campinas
- UNICAMP, Campinas.
SANTOS, Carlos José Ferreira dos Santos. Histórias e Culturas Indígenas – Alguns Desafios no ensino e na aplicação da Lei 11, 645/2008: De qual História e Cultura Indígena Estamos Falando? História e Perspectivas, Uberlân
PIMENTA, J. “Viver em comunidade”: O processo de territorialização dos Ashaninka do rio Amônia. Anuário Antropológico, [S. l.], v. 32, n. 1, p. 117–150, 2018. Disponível em:https://www.gestaoesaude.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/….
Acesso em: 12 jun. 2021.

. 2006a. “Reciprocidade, mercado e desigualdade social entre os Ashaninka do rio Amónia”. Série Antropologia, n.392.

VALLE DE AQUINO, Terri. & IGLESIAS, Marcelo Piedrafita. 1996. "Regularização das terras e organização política dos índios do Acre (1975/94)", In Povos Indígenas no Brasil 1991-1995. São Paulo: Carlos Alberto Ricardo (ed.), Instituto Socioambiental (ISA).
ZABALA, Antoni. As sequências didáticas e as sequências de conteúdos. In: A Prática Educativa: como ensinar/ Antoni Zabala; tradução Ernani F. da F. Rosa. – Porto Alegre: Artmed, 1998dia (53): 179-209, jan/jun.2015.

Referencia
Graduandos