Nós, os americanos

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

 

 

 

ENZZO SATO INADA - 10258024

 

 

 

          NÓS, OS AMERICANOS

 

Sequência didática para a disciplina “Ensino de História: teoria de prática”, ministrado pela profa. Dra. Antonia Terra Calazans Fernandes

 

 

 

São Paulo - SP

2021

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

 

Objetivos:

          Esta presente sequência didática tem como objetivo levar para a sala de aula algumas problematizações acerca das ideias pré concebidas sobre a América. Imersos em um mar de referências da indústria cultural estadunidense (que se afirmam como “Americans”, como gentílico pátrio e os “latinos” como marca da alteridade), muitas vezes nós naturalizamos esta nossa auto exclusão como pertencentes ao continente americano e frequentemente ignoramos que, a despeito de não falarmos castelhano como língua primária, o norte global mesmo assim homogeiniza o Brasil junto com argentinos, cubanos, peruanos, mexicanos e tantas outras culturas e identidades em um único termo: “latinos”, mas nunca “americanos”.

          Contudo, ainda que esta auto autorização que o Norte global faz sobre nossas identidades americanas possa e deva ser problematizada, é importante que o professor não substitua um mito por outro; se, por um lado, as representações estadunidenses como simplesmente “americanos” à revelia de outras nacionalidades é problemática, não podemos nos esquecer de que os países americanos foram edificados em cima de genocídios, guerras e expropriação em massa do território dos povos nativos. Em outras palavras, uma atividade que joga luz sobre o “roubo” que os estadunidenses fazem sobre a América, não pode ignorar o fato de que nós também somos produto deste processo histórico em outro referencial.

          Portanto, não basta derrubar um busto de James Monroe para colocar um de Juan Manoel Rosas ou até mesmo de Montezuma no lugar; é necessário pensar em uma história que fuja dos processos lineares ou estritamente biográficos de “grandes personalidades”. Desta forma, esta sequência didática foi pensada para que os alunos possam elaborar reflexões a respeito das identidades americanas, como elas são trabalhadas pela indústria cultural internacional, e quais seriam as outras possibilidades de se pensar a América, continente o qual também fazemos parte.

Para alcançar este objetivo, nos valemos de uma gama diversa de documentos oriundos de partes diferentes da América, com música, imagens e textos. Desta forma, é esperado o estímulo à análise crítica por parte dos alunos, enfatizando problemas referentes à identidade, representações e alteridade. Uma vez que esta sequência também visa a autopercepção do aluno como americano, é importante mostrar como os próprios alunos são tributários das heranças americanas construídas até agora, mas também atores da mudança social possível.

 

Público-alvo:

          Preferencialmente alunos do ensino médio, pois é esperado que os estudantes já tenham alguma bagagem referencial de filmes, séries, músicas e outras mídias que aludam à “América” para que em cima delas possamos tratar as devidas problematizações.

 

Metodologia:

A condução dos objetivos será feita através da análise assertiva de fontes variadas: canções, discursos, imagens, frames de filmes compõem os principais materiais, devidamente anexados nas páginas finais do trabalho. A inclusão de fontes diversas foi pensada com o intuito de se conectar o mais fortemente possível com o imaginário e as concepções prévias que os alunos já tenham, bem como tentar se relacionar com os gostos pessoais destes. Existe uma proposital escolha de documentos do Norte global e do Sul, como forma de salientar suas diferenças nas representações americanas e potencializar a percepção dos estudantes quanto ao contraste discursivo.

As presentes atividades também foram pensadas considerando a multiplicidade de acepções e respostas possíveis dos alunos. Assim, apesar de esta sequência requerer uma condução ativa do docente ao longo das análises de fonte, isto tampouco torna os alunos passivos, uma vez que as respostas e conclusões finais podem ser diversas entre si, de acordo com as vivências, local onde se mora ou estuda, ascendência étnica e bagagem cultural prévia, desde que se cumpram as percepções propostas nos objetivos. As respostas serão feitas no registro oral, a partir do debate coletivo promovido pela turma, com mediação do professor, sem caráter avaliativo de nota.  

 

ATIVIDADE 1 - CANTANDO A AMÉRICA: QUEM SÃO OS AMERICANOS?   

          A primeira atividade tem como objetivo estabelecer as balizas referenciais que os alunos já possuem sobre “América”. Nesse estágio é necessária uma intervenção mínima do professor, pois precisamos verificar qual tipo de bagagem os estudantes já carregam, a partir de seus contatos prévios com filmes, livros, seriados.

Para tal, tocaremos a música Latinoamérica, da banda Calle 13 (uma versão bilíngue, com a letra original e sua tradução se encontra no final do documento e cópias deverão ser entregues para os alunos acompanharem). Pouca explicação prévia deve ser fornecida, apenas orientar a escuta atenta e em acompanhamento com a letra que os alunos terão em mãos. Palavras desconhecidas podem ser sublinhadas para a parte seguinte da atividade.

Escutada a música, o professor abrirá uma rodada de perguntas preliminares estritamente sobre vocabulário. É esperado que haja algumas dúvidas quanto a “pulque”, “coca”, talvez até “Maradona” (caso isso ocorra, podemos supor um sintoma bem indicativo da falta de conexão referencial dos alunos com outras partes da América Latina). “Operação Condor” pode também ser perguntado, mas a resposta do professor precisa neste primeiro momento omitir a participação dos EUA nesta aliança (pois a pergunta “o que foi?” naturalmente levará a “por quem?”, que trataremos logo em seguida).

Com todas as dúvidas de vocabulário esclarecidas, o professor deverá estimular os alunos a verbalizar suas impressões em uma roda de debate coletivo. Essa parte da atividade é subjetiva, mas pode ser conduzida com algumas perguntas norteadoras; “qual vocês acham que é a mensagem da música?”, “por que ela é cantada em espanhol e em português?”, “a música traz alguma denúncia?” são algumas possibilidades que o professor pode utilizar para instigar as respostas, não se limitando a estas.

Registradas as impressões, o professor deverá problematizar alguns pontos levantados. É esperado que algumas das respostas orbitem em torno do tom crítico, de que “não se pode comprar a América”, ou que “perdoa, mas nunca se esquece”. É aqui que devem ser levantadas questões sobre os agentes em questão: se existe a necessidade de se dizer que a América não está à venda, quem quer comprá-la? Quem a feriu para que se perdoasse mas nunca se esquecesse? Nesse momento, o professor poderá chamar atenção para a menção à Operação Condor, dessa vez explicando mais detalhadamente o envolvimento dos EUA na maquinação. É importante salientar como o Brasil também participou do processo, e essa explicação deve ser emendada com a justificativa do porquê parte da música “Latinoamérica” ser cantada em português brasileiro; podemos nos auto isolar do restante do continente, não saber o que é pulque ou coca, mas isso não muda o fato de que tentam comprar “nossas nuvens, nossas cores, nossas alegrias, nossas dores”, a nossa América, enfim.

Após estas reflexões, o professor pode mostrar algumas imagens que exemplifiquem esta apropriação da América Latina pelo norte global (em especial os EUA); ao final deste documento se encontram algumas charges retiradas de jornais estadunidenses do século XIX, retratando a Doutrina Monroe e fotografias mais recentes com a mesma temática (documentos 2 a 5). Estas poderão ser mostradas e explicadas em seu contexto, criando um contraste com a música analisada; por um lado, os que querem comprar a América e se dizem “americanos”, do outro, os demais americanos (incluindo brasileiros) que resistem.

 

ATIVIDADE 2 - AMÉRICAS OCULTAS: UM OUTRO DISCURSO

Esta atividade busca trabalhar o conceito de alteridade nas identidades americanas e as suas implicações no imaginário coletivo. Em conjunto com o que foi abordado na atividade anterior, almeja-se ver a pluralidade de discursos e identidades americanas (que incluem também o Brasil) para muito além do gentílico “american” para “estadunidense”. Para isso, separamos 6 frames de produções cinematográficas famosas dos EUA. Os documentos 6, 7 e 8 são ambientados em solo estadunidense, enquanto os vistos em 9, 10 e 11 são situados no México. Para realizar esta atividade, pede-se para que os alunos se organizem em uma roda ou qualquer outra disposição que facilite o debate entre a turma. As seis imagens deverão ser dispostas conforme o anexo demonstra, de forma que o contraste entre os dois tipos de ambientação fique visível.

Expostas as imagens, o professor responsável deverá situar os alunos brevemente sobre as ambientações diferentes (Estados Unidos e México), bem como informá-los de que todas as produções são estadunidenses. A partir disso, o professor deverá pedir para que os alunos debatam em sala sobre as diferenças e os contrastes que eles enxergam nos dois tipos de representação cinematográfica. Algumas perguntas que podem ajudar:

      Qual o tipo de representação que os EUA fazem sobre os EUA?

      Qual tipo de representação que os EUA fazem sobre o México?

      Vocês acham que se o filme fosse mexicano, a representação seria igual ou diferente? Por quê?

      Quais diferenças vocês enxergam entre os dois tipos de representação? Vocês já haviam pensado sobre isso?

      Existe uma cor predominante? Qual?

      Se o filme estadunidense se passasse no Brasil, vocês acham que ele seria mais parecido com os documentos 6, 7 e 8 (EUA) ou 9, 10 e 11 (México)?

      Quais coisas essa diferença pode implicar? Vocês conseguem estabelecer algum paralelo com a atividade anterior?

          A partir das respostas dos alunos, é esperado que as questões de alteridade que os estadunidenses fazem com os outros países do continente fiquem mais claras. A diferença de representação dos Estados Unidos (em tons mais azuis, mais frios) com o México (mais amarelados, mais quentes) deve ser salientada pelo professor (se já não tiver sido trazida por algum aluno), e, a partir disso, orienta-se a leitura em conjunto do documento 12; é uma passagem do livro “O Espírito das Leis”, de Montesquieu, famoso filósofo francês cujas obras influenciaram a escrita das constituições liberais, como a estadunidense e a brasileira.

          Feita a leitura, é possível perceber como uma simples paleta de cores nos filmes dispostos não é inocente; é esperado que os alunos percebam como o discurso do determinismo climático de Montesquieu se naturaliza não apenas nas leis, mas também no próprio imaginário dominante, retratando os EUA com cores frias (dando a sensação de civilização) e o México (e potencialmente demais países da América ao sul dos EUA) como quentes e bárbaros.

          Contudo, a problemática das alteridades na América não se limita a um binômio “Estados Unidos - América Latina”; é nesse momento que o professor deverá apresentar um segundo relato para leitura coletiva (Documento 13), desta vez um pensamento hegemônico na “Revista Trimensal do Instituto Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil” de 1867 (esta informação deverá ser dita antes da leitura). A intenção por detrás da escolha deste documento é causar surpresa: o mesmo tratamento de inferioridade e indolência que os estadunidenses dispensam a nós (outros americanos), existe em abundância na própria América Latina, que marginaliza povos originários com a mesmíssima retórica e argumentos. Essa ponte entre os escritos de Voltaire e o de Gonçalves Dias deve ser enfatizada pelo professor.

A partir desta comparação documental, prossegue-se para a parte final da atividade; nela, tal qual na atividade 1, os alunos serão expostos a mais imagens que convidam ao debate (documentos 14 a 17), contudo, se na primeira atividade a América Latina estava em condição de atacada pelo discurso estadunidense, agora vemos estes mesmos países latinoamericanos perpetuando um “roubo da América” em países menores ou em comunidades indígenas (os documentos possuem breves contextualizações que devem ser expostas para a sala na hora do debate). Nesta parte, é importante que os alunos possam identificar paralelos durante o debate, tanto com os discursos apresentados, quanto com as imagens da atividade 1.

          A sequência deve se encerrar com um balanço geral sobre as reflexões levantadas em ambas as atividades. O que se aprendeu sobre identidades americanas? Como essas identidades são tratadas por agentes diferentes? O que essa noção de identidade tem a ver com americanos brasileiros? Se esse tipo de narrativa tem a ver com nossas identidades, qual o nosso papel no meio disso? As falas finais dos estudantes serão conduzidas em conjunto, com mediação do professor, que pode estar sempre ajudando a correlacionar o que foi dito com os documentos previamente apresentados.

         

CONSIDERAÇÕES FINAIS

          Esta atividade tenta jogar luz ao fato de que pouco se conhece sobre a América e os americanos que nela vivem. Para além de uma naturalização do “americano” como estadunidense, ao mesmo tempo estamos alheios ao quanto nós próprios também criamos processos de exclusão de outros americanos. Assim, embora não sejamos diretamente responsáveis pelas intervenções militares e massacres indígenas vistos, somos tributários diretos desses processos, e deles derivam nossas visões de mundo que, quando acriticamente tratadas, perpetuam essa lógica da alteridade excludente.

          Desta forma, é necessário conscientizar os alunos enquanto agentes históricos deste processo, situando-os efetivamente como americanos, com todas as consequências e responsabilidades que isto carrega. Somente a partir da nossa agência assertiva como americanos, múltiplos, plurais e solidários é possível mudar esta dupla realidade; tanto de oprimidos por um discurso imperialista estadunidense que nos rouba a América, quanto da posição de confortável ignorância que rouba a América de tantos outros povos.

 

DOCUMENTOS UTILIZADOS:

Documento 1: Latinoamérica (part. Totó La Momposina, Susana Baca y Maria Rita)

Espanhol / Português

Português

Soy, soy lo que dejaron

Soy toda la sobra de lo que se robaron

Un pueblo escondido en la cima

Mi piel es de cuero, por eso aguanta cualquier clima

Soy una fábrica de humo

Mano de obra campesina para tu consumo

Frente de frío en el medio del verano

El amor en los tiempos del cólera, ¡mi hermano!

 

Soy el Sol que nace y el día que muere

Con los mejores atardeceres

Soy el desarrollo en carne viva

Un discurso político sin saliva

 

 

Las caras más bonitas que he conocido

Soy la fotografía de un desaparecido

La sangre dentro de tus venas

Soy un pedazo de tierra que vale la pena

 

Una canasta con frijoles

Soy Maradona contra Inglaterra, anotándote dos goles

Soy lo que sostiene mi bandera

La espina dorsal del planeta es mi cordillera

 

Soy lo que me enseñó mi padre

El que no quiere a su patría, no quiere a su madre

Soy América Latina

Un pueblo sin piernas, pero que camina, ¡oye!

 

Tú no puedes comprar el viento

Tú no puedes comprar el Sol

Tú no puedes comprar la lluvia

Tú no puedes comprar el calor

 

Tú no puedes comprar las nubes

Tú no puedes comprar los colores

Tú no puedes comprar mi alegría

Tú no puedes comprar mis dolores

 

Tú no puedes comprar el viento

Tú no puedes comprar el Sol

Tú no puedes comprar la lluvia

Tú no puedes comprar el calor

 

Tú no puedes comprar las nubes

Tú no puedes comprar los colores

Tú no puedes comprar mi alegría

Tú no puedes comprar mis dolores

 

Tengo los lagos, tengo los ríos

Tengo mis dientes pa' cuando me sonrío

La nieve que maquilla mis montañas

Tengo el Sol que me seca y la lluvia que me baña

 

Un desierto embriagado con peyote

Un trago de pulque para cantar con los coyotes

Todo lo que necesito

Tengo a mis pulmones respirando azul clarito

 

La altura que sofoca

Soy las muelas de mi boca, mascando coca

El otoño con sus hojas desmayadas

Los versos escritos bajo la noche estrellada

 

Una viña repleta de uvas

Un cañaveral bajo el Sol en Cuba

Soy el mar Caribe que vigila las casitas

Haciendo rituales de agua bendita

 

 

El viento que peina mi cabellos

Soy todos los santos que cuelgan de mi cuello

El jugo de mi lucha no es artificial

Porque el abono de mi tierra es natural

 

 

Tú no puedes comprar el viento

Tú no puedes comprar el Sol

Tú no puedes comprar la lluvia

Tú no puedes comprar el calor

 

Tú no puedes comprar las nubes

Tú no puedes comprar los colores

Tú no puedes comprar mi alegría

Tú no puedes comprar mis dolores

 

Não se pode comprar o vento

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

Não se pode comprar o calor

 

Não se pode comprar as nuvens

Não se pode comprar as cores

Não se pode comprar minha alegria

Não se pode comprar minhas dores

 

No puedes comprar el Sol

No puedes comprar la lluvia

(Vamos caminando) no riso e no amor

(Vamos caminando) no pranto e na dor

 

 

(Vamos dibujando el camino) el Sol

No puedes comprar mi vida

(Vamos caminando) la tierra

No se vende

 

Trabajo bruto, pero con orgullo

Aquí se comparte, lo mío es tuyo

Este pueblo no se ahoga con marullo

Y si se derrumba, yo lo reconstruyo

 

Tampoco pestañeo cuando te miro

Para que te recuerde de mi apellido

La operación Condor invadiendo mi nido

Perdono, pero nunca olvido, ¡oye!

 

 

(Vamos caminando)

Aquí se respira lucha

(Vamos caminando)

Yo canto porque se escucha

 

 

(Vamos dibujando el camino)

Vozes de um só coração

(Vamos caminando)

Aquí estamos de pie

¡Que viva la América!

No puedes comprar mi vida

Eu sou, eu sou o que sobrou

Sou todo o resto do que roubaram

Um povo escondido no topo

Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer clima

Eu sou uma fábrica de fumaça

Mão de obra camponesa, para o seu consumo

Frente fria no meio de verão

O amor nos tempos de cólera, meu irmão!

 

Eu sou o Sol que nasce e o dia que morre

Com os melhores pores do Sol

Sou o desenvolvimento em carne viva

Um discurso político sem saliva

 

Os mais belos rostos que já vi

Sou a fotografia de um desaparecido

O sangue correndo em suas veias

Sou um pedaço de terra que vale a pena

 

Uma cesta com feijões

Eu sou Maradona contra a Inglaterra, marcando dois gols

Sou o que sustenta minha bandeira

A espinha dorsal do planeta é a minha cordilheira

 

Sou o que meu pai me ensinou

Aquele que não ama sua pátria, não ama sua mãe

Sou América Latina

Um povo sem pernas, mas que caminha, ei!

 

Não se pode comprar o vento

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

Não se pode comprar o calor

 

Não se pode comprar as nuvens

Não se pode comprar as cores

Não se pode comprar minha alegria

Não se pode comprar minhas dores

 

Não se pode comprar o vento

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

Não se pode comprar o calor

 

Não se pode comprar as nuvens

Não se pode comprar as cores

Não se pode comprar minha alegria

Não se pode comprar minhas dores

 

Tenho os lagos, tenho os rios

Tenho os meus dentes pra quando eu sorrio

A neve que maquia minhas montanhas

Eu tenho o Sol que me seca e a chuva que me banha

 

Um deserto embriagado com cactos

Um gole de pulque para cantar com os coiotes

Tudo que eu preciso

Eu tenho meus pulmões respirando um céu azul clarinho

 

A altura que sufoca

Sou os dentes na minha boca, mascando coca

O outono com suas folhas caídas

Os versos escritos sob as noites estreladas

 

Um vinhedo repleto de uvas

Um canavial sob o Sol em Cuba

Eu sou o mar do Caribe que vigia as casinhas

Fazendo rituais de água benta

 

O vento que penteia meus cabelos

Sou todos os santos pendurados em meu pescoço

O suco da minha luta não é artificial

Porque o adubo de minha terra é natural

 

Não se pode comprar o vento

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

Não se pode comprar o calor

 

Não se pode comprar as nuvens

Não se pode comprar as cores

Não se pode comprar minha alegria

Não se pode comprar minhas dores

 

Não se pode comprar o vento

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

Não se pode comprar o calor

 

Não se pode comprar as nuvens

Não se pode comprar as cores

Não se pode comprar minha alegria

Não se pode comprar minhas dores

 

Não se pode comprar o Sol

Não se pode comprar a chuva

(Vamos caminhando) no riso e no amor

(Vamos caminhando) no pranto e na dor

 

(Vamos desenhando o caminho) o Sol

Não se pode comprar minha vida

(Vamos caminhando) a terra

Não está à venda

 

Trabalho árduo, porém com orgulho

Aqui se divide, o que é meu é seu

Este povo não se afoga com as marés

E se algo desaba, eu reconstruo

 

Também não pisco quando eu te vejo

Para que você se lembre do meu sobrenome

A operação Condor invadindo meu ninho

Eu perdoo, porém nunca esqueço, ei!

 

(Vamos caminhando)

Aqui se respira luta

(Vamos caminhando)

Eu canto porque se ouve

(Vamos desenhando o caminhando)

 

Vozes de um só coração

(Vamos caminhando)

Aqui estamos de pé

Viva a América!

Não se pode comprar minha vida

 

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jW9_mFAGO0E>. Acesso em 08/07/2021.

 

 

 

 

Documento 2: BERRYMAN, Clifford K. A good plan for the new year, Uncle Sam! The Washington Post, 30 de dezembro de 1898.

Esta charge mostra o “Tio Sam” medindo a distância de Cuba para outras localizações no Pacífico

Contexto: Esta charge mostra o “Tio Sam” medindo a distância de Cuba para outras localizações no Pacífico. Depois de anexar o Hawaí e as Filipinas, o país precisou encurtar a distância das possessões do Pacífico com os centros comerciais da costa leste dos EUA. As dificuldades que empresas francesas tiveram em cavar um canal no meio do Panamá alguns anos antes estimulou os estadunidenses a cavar um canal que atravessasse a Nicarágua ao invés, cortando o país americano literalmente ao meio.

 

Documento 3: BERRYMAN, Clifford K. Next!. The Washington Post, 31 de Janeiro de 1905.

Tio Sam é um barbeiro arrumando outros países americanos para se tornarem apresentáveis e civilizados.

Contexto: Tio Sam é um barbeiro arrumando outros países americanos para se tornarem apresentáveis e civilizados. Santo Domingo admira seu novo visual enquanto Venezuela aguarda sua vez. A imagem foi publicada em um contexto de conflitos financeiros e diplomáticos entre EUA e Venezuela, pois este último estava exigindo que as empresas estadunidenses e europeias que operavam no país pagassem seus tributos, o que levou a opinião pública estadunidense a concordar que a Venezuela precisava ser colocada “em seu lugar”.

 

 

 

 

 

Documento 4: Palacio La Moneda, em Santiago, é atacado por por soldados em 11 de setembro de 1973.

imagem do dia do golpe militar que derrubou o governo do presidente do Chile democraticamente eleito, Salvador Allende.

Contexto: imagem do dia do golpe militar que derrubou o governo do presidente do Chile democraticamente eleito, Salvador Allende. Abertamente socialista, as políticas econômicas do presidente passaram a desagradar os Estados Unidos, que por meio da CIA, orquestrou um golpe que assassinou o mandatário e instalou uma sangrenta ditadura militar que, ao longo de seus quase 20 anos, assassinou mais de 3 mil chilenos e forçou mais de 200 mil ao exílio. Imagem disponível em <https://www.dw.com/pt-br/1973-golpe-militar-derruba-allende-no-chile/a-319346>, acesso em 09/07/2021.

 

 

Documento 5: President Reagan riding horses with President João Baptista de Oliveira Figueiredo of Brazil, Brasilia, Brasil. 1 de dezembro de 1982.

o presidente dos EUA, Ronald Reagan desenvolveu uma relação de proximidade com o presidente do Brasil, general João Batista Figueiredo, o último presidente da ditadura militar.

Contexto: o presidente dos EUA, Ronald Reagan desenvolveu uma relação de proximidade com o presidente do Brasil, general João Batista Figueiredo, o último presidente da ditadura militar. Este regime só foi possível com ajuda ativa dos Estados Unidos em desestabilizar o governo João Goulart. Ao longo de seus 21 anos de duração, a ditadura foi marcada por um alinhamento ideológico anticomunista, de supressão das liberdades individuais e da institucionalização da tortura de opositores. Imagem disponível em <http://www.reagan.utexas.edu/archives/photographs/large/c11551-25a.jpg>. Acesso em 09/07/2021.

 

 

Documentos 6 a 11 (cima para baixo, esquerda para direita): frames de filmes e séries diversas dos EUA

frames de filmes e séries diversas dos EUA.

 

 

Documento 6: Pulp Fiction. Disponível em <https://www.rollingstone.com/movies/movie-lists/pulp-fiction-soundtrack-songs-tarantino-14045/>. Acesso em 09/07/2021.

Documento 7: Matrix. Disponível em <https://www.zimbio.com/Wild+Things+Keanu+Reeves+Has+Done+To+Prepare+For+Movies>. Acesso em 09/07/2021.

Documento 8: Vingadores: Ultimato. Disponível em <https://indianexpress.com/article/entertainment/hollywood/avengers-endgame-captain-america-fight-scene-making-5912261/>. Acesso em 09/07/2021.

Documento 9: Breaking Bad. Disponível em <https://studyingbreakingbadcourse.wordpress.com/episoderesources/ep-301-02m27s-teaser-image-the-cousins-crawling-on-hands-and-knees-ove-dave-porters-the-cousins/>; Acesso em 09/07/2021.

Documento 10: 007 - Contra Spectre. Disponível em <https://www.pinterest.com/pin/564146290813709991/>. Acesso em 09/07/2021.

Documento 11: Viva! A vida é uma festa. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=N9Zljgx_SSw>. Acesso em 09/07/2021.

 

Documento 12: MONTESQUIEU, O Espírito das Leis, p. 109:

Encontrar-se-ão nos climas do norte povos que têm poucos vícios, bastantes virtudes, muita sinceridade e franqueza. Aproximemo-nos dos países do sul e acreditaremos afastar-nos da própria moral: paixões mais vivas multiplicarão os crimes; todos tentarão ter sobre os outros todas as vantagens que podem favorecer essas mesmas paixões. Nos países temperados, encontraremos povos inconstantes nas maneiras, em seus próprios vícios e em suas virtudes; ali o clima não tem uma qualidade suficientemente determinada para fixá-los. O calor do clima pode ser tão excessivo que o corpo estará completamente sem forças. Então o abatimento passará para o próprio espírito; nenhuma curiosidade, nenhuma iniciativa nobre, nenhum sentimento generoso; as inclinações serão todas passivas; a preguiça será a felicidade; a maioria dos castigos serão mente difíceis de suportar do que a ação da alma, e a servidão menos insuportável do que a força de espírito necessária para conduzir a si mesmo.”  Disponível em <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_montesquieu_o_espirito_das_leis.pdf>. Acesso em 09/07/2021.

 

 

 

 

 

Documento 13: DIAS, A. Gonçalves. “Brasil e Oceania”. In: Revista Trimensal do Instituto Historico, Geographico e Ethnographico do Brasil. Tomo XXX. Rio de Janeiro: B.L.Garnier-Livreiro-editor, 1867, p. 140:

“O índio era indolente e preguiçoso, porque a natureza, como mãi pouco providente que á força de extremos e caricias mal educa os seus filhos, tinha sido excessivamente prodiga para com elles. Carecia de pouco para viver, e esse pouco, a benignidade do clima, a fertilidade do terreno, lhes asseguravam em todos os tempos e em todos os lugares: tinham abundancia de caça, de pesca, de differentes fructos segundo as quadras do anno, de modo que, fazendo plantações, não carecia reservar colheita para alguma occurrencia imprevista. Que lhes importava o futuro? Viveriam seus filhos como elles.”

 

Documento 14: Procissão em honra aos mortos e pela justiça do Massacre de Acteal

procissão em homenagem aos mortos do massacre de Acteal, acontecido em novembro de 1997 no México.

Contexto: procissão em homenagem aos mortos do massacre de Acteal, acontecido em novembro de 1997 no México. 45 indígenas da comunidade de Acteal, incluindo dezesseis crianças e adolescentes, foram executados por forças paramilitares de extrema direita anti-zapatista que atuavam na área. Apenas em 2020 o governo mexicano admitiu participação no massacre, mas sem compensações até o dado momento. Disponível em <https://www.360meridianos.com/especial/massacre-acteal-20-anos>. Acesso em 10/07/2021.

 

Documento 15: A group of victims of sterilizations with women from feminist and human rights organizations participated on Monday, July 3, 2017, in a stand in front of the headquarters of the Diplomatic Academy of Peru, where the 163 Sessions of the Inter-American Commission on Human Rights (IACHR) was taking place, in Lima, Peru

grupos feministas, organizações dos direitos humanos e vítimas protestam contra a possibilidade de perdão do ex-presidente peruano, Alberto Fujimori.

Contexto: grupos feministas, organizações dos direitos humanos e vítimas protestam contra a possibilidade de perdão do ex-presidente peruano, Alberto Fujimori. Dentre os crimes do ex mandatário, inclui-se a esterilização forçada de 300.000 mulheres e 200.000 homens, a maioria composta por camadas pobres e indígenas, como parte de uma política higienista, resultando na morte de muitas mulheres em decorrência de complicações do procedimento não solicitado. Em 2021, a filha de Fujimori, Keiko, quase foi eleita presidente do país, conseguindo 49.87% dos votos. Disponível em <https://aldianews.com/articles/politics/forced-sterilization-victims-peru-protest-possible-fujimori-pardon/48999>. Acesso em 10/07/2021.

 

Documento 13: O uruguaio Javier López fotografou cenas da guerra para a Casa Bate & Cía; nesta imagem, corpos de paraguaios mortos em batalha

paraguaios mortos em decorrência da “Guerra do Paraguai”.

Contexto: paraguaios mortos em decorrência da “Guerra do Paraguai”. O Brasil, sob o comando do Duque de Caxias, não apenas derrotou o país e seus soldados, como também aniquilou a população civil, incluindo crianças e mulheres. A indústria nacional foi arrasada de forma irreversível e o massacre civil (que chega a 75% do total, tanto pela guerra em si, mas também por fome e doenças) se sente até os dias de hoje. No Paraguai, tal guerra é chamada de “A Grande Guerra”, enquanto a figura de Duque de Caxias ainda possui uma conotação positiva no Brasil.  Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51693818>. Acesso em 10/07/2021.

 

 

 

Documento 14: Augusto Heleno: o general fala com líder de grupo de apoiadores do ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide sobre a rota que uma manifestação deveria tomar em 29 de março de 2005

A Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) foi, supostamente, uma missão de paz criada pelo conselho de segurança da ONU para intervir militarmente no Haiti, com coordenação realizada pelo Brasil.

Contexto: A Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti (MINUSTAH) foi, supostamente, uma missão de paz criada pelo conselho de segurança da ONU para intervir militarmente no Haiti, com coordenação realizada pelo Brasil. Uma das mais polêmicas operações da missão foi batizada de “Punho de Ferro”: comandada pelo general Augusto Heleno, foi responsável pelo disparo de mais de 22 mil tiros em Cité Soleil, um bairro pobre da capital haitiana. Esta operação, considerada “um sucesso” pelo general, vitimou dezenas de civis pegos no fogo cruzado. A MINUSTAH não trouxe paz para o país caribenho e Augusto Heleno hoje é ministro -chefe do gabinete de segurança institucional do governo Bolsonaro. Disponível em: <https://exame.com/brasil/general-augusto-heleno-futuro-ministro-liderou-missao-polemica-no-haiti/>. Disponível em 10/07/2021.

 

 

 

 

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