MAESTRA PAULISTANA: HISTÓRIA, CIDADE E MÚSICA NA SALA SÃO PAULO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

 

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

UMA HISTÓRIA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO: UM DESAFIO PEDAGÓGICO Profa. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes

 

VITOR MORAIS GRAZIANI (Número USP 11252343)

 

 

A PAULISTANA: HISTÓRIA, CIDADE E MÚSICA NA SALA SÃO PAULO

 

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

UMA HISTÓRIA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO: UM DESAFIO PEDAGÓGICO

Profa. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes 

VITOR MORAIS GRAZIANI (Número USP 11252343)

 

 

 

 

MAESTRA PAULISTANA: HISTÓRIA, CIDADE E MÚSICA NA SALA SÃO PAULO

 

Trabalho apresentado como requisito

para conclusão da disciplina Uma História para a Cidade de São Paulo: um Desafio Pedagógico.

 

 

Alegria, bela centelha divina, filha dos Campos Elíseos,

nós adentramos, ébrios de fogo, o teu santuário, ó divindade!

Teus sortilégios reúnem o que os costumes separaram à força; todos os homens tornam-se irmãos

sob tuas asas protetoras.

Ode An Die Freude. Friedrich von Schiller.

Tradução livre de Samuel Titan Jr.

 

 

Canto porque canto porque sai

Canto porque canto porque voa

 

Canto porque canto

Canto pelos neurastênicos ares desta vastidão cósmica (des)humana...

 

Mas canto porque se não cantasse Morreria sufocado e só No canto do meu canto.”

Voz Dissonante. Vitor Morais Graziani.

 

SUMÁRIO

 

I. INTRODUÇÃO: CONHECENDO O ESTUDADO .......................................... p. 05

 

II. JUSTIFICATIVA: GRITO INCESSANTE POR OLHARES .......................... p. 06

 

III. OBJETIVOS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA .................................................. p. 08

 

IV. ESTRUTURA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA ................................................ p. 09

 

V. PROJETO – SEQUÊNCIA DIDÁTICA A SALA SÃO PAULO: HISTÓRIA,

 

CIDADE E MÚSICA” ........................................................................................................ p. 09

 

A. AULA 01: ANTES DA SALA: CAFÉ, IMIGRAÇÃO, DESENVOLVI- MENTO URBANO E A INVENÇÃO DE UMA CULTURA SINFÔNICA .................... p. 09

 

B. AULA 02: A RESSURREIÇÃO: A ESTAÇÃO DE TRENS TORNA-SE SALA DE CONCERTOS E O VELHO CENTRO PROMETE RENASCER .................. p. 28

 

C. AULA 03: DESAFIOS EM ABERTO: UM FUTURO URBANO E MU- SICAL PARA A SALA ..................................................................................................... p. 50

 

VI. EPÍLOGO: ENTRE SONHOS E ABISMOS .................................................. p. 83

 

VII. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ p. 84

 

VIII. ANEXO: FOTOGRAFIAS DA SALA ......................................................... p. 90

 

I. INTRODUÇÃO: CONHECENDO O ESTUDADO

 

Este projeto didático possui como principal intuito trazer à tona, em sala de aula, um debate multifacetado sobre o uso cultural e urbano-social da cidade e, consequentemente, levar os alunos e alunas nele envolvidos a questionarem os processos de construção da estrutura hierquica da cidade em que vivem. Para tal, centraremos nossos esforços em um edifício que consegue unir a História, a cidade e a música: a Sala São Paulo, principal sala de concertos do país, eleita pelo jornal inglês The Guardian como uma das dez melhores salas de concerto do mundo1, sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)- consensualmente a maior referência, atualmente, em música sinfônica na América Latina2 e parte integrante do edifício onde também se encontra a Estação Júlio Prestes, inicialmente pertencente à Sorocabana e hoje estação da linha 8 Diamante, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).

 

O projeto se ergue sob a base de estudar, no campo histórico, a construção do edifício, ligada ao momento de declínio do ciclo cafeeiro em consequência à Crise de 1929 e a ascenção da industrialização, mas também se permite um estudo sobre o campo histórico-musical paulista a partir da OSESP e seu desenvolvimento alcançado com a inauguração da Sala, em 09 de julho de 1999, data de aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932. No que diz respeito à cidade, a partir do edifício-sede da Sala, é possível estudar a ascensão e queda da região em que se situa, os Campos Elíseos, ao mesmo tempo que permite compreender os afluxos populacionais que em o Paulo aportaram advindos do interior na atual Estação Júlio Prestes. Não obstante, ainda sobre a cidade, é possível pensar no que a existência da Sala, ainda em

1999 e a hoje –, significou e significa para uma região que está tão degradada, especialmente com o acúmulo de grandes levas de usuários de entorpecentes nos arredores da Sala. No campo musical, por fim, a Sala permite estudar o desenvolvimento cultural trabalho continuamente in progress que, tendo-a como epicentro, colocou São Paulo como a capital latino-americana da sica de concerto, bem como permitiu o desenvolvimento de projetos educacionais da OSESP, como a Academia da OSESP e o projeto Descubra a Orquestra, que apresenta o mundo da música de concerto a estudantes de escolas das redes pública e privada

além    do    Festival    Internacional    de    Inverno    de    Campos    de    Jordão    que,    de

 

 

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1. https://www.theguardian.com/travel/2015/mar/05/10-worlds-best-concert-halls-berlin-boston-tokyo

 

2. https://www.terra.com.br/esportes/automobilismo/osesp-uma-orquestra-brasileira-no-circuito- internacional,b9b18c6427099310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

 

alguns anos para , tem as aulas dos alunos bolsistas sediadas na Sala tentativas essas que, não sem problemas, tentam reverter a herança cultural do elitismo que ronda o ambiente da música de concerto e torna-la mais acessível e democtica.

 

II. JUSTIFICATIVA: GRITO INCESSANTE POR OLHARES

 

Mas por que escolher a Sala São Paulo para ser levada à sala de aula? É inegável que o Brasil tem experimentado um fenômeno de aversão cultural nos últimos tempos e isso se comprova com a gritante amea às instalações culturais do estado de São Paulo, na qual se inclui a OSESP, com os cortes anunciados pelo governador João Doria Jr. em abril de 2018 junto a seu secrerio da pasta econômica, Henrique Meirelles, o que colocaria em xeque o funcionamento de inúmeros mecanismos de cultura, inclusive a OSESP, mesmo sendo essa, como dito, a mais importante orquestra sinfônica da América Latina3. A OSESP e as atividades paralelas a ela que transcorrem na Sala São Paulo vão além das apresentações regulares semanais que são uma exceção para os quadros orquestrais do país. Dentro do escopo da Fundação OSESP há elementos de formação e divulgação de conhecimento, como a Academia da OSESP, que forma novos músicos, e a Editora da OSESP, que edita, revisa e publica partituras de compositores brasileiros. Somam-se ainda iniciativas como o programa Descubra a Orquestra”, citado, e os Concertos Matinais”, concertos gratuitos realizados todos os domingos pela OSESP ou por orquestras parceiras. Nesse sentido, a OSESP e o complexo cultural no qual se encontra envolto a Sala São Paulo é produtor e emulsificador de cultura musical justamente em um país onde mal se conhece Heitor Villa-Lobos, o maior compositor brasileiro, reconhecido internacionalmente pela singularidade de suas obras.

 

Ora, em um momento de crise ético-política no segmento cultural, em que a própria OSESP se ameaçada, urge para que se propague o conhecimento sobre a importância que se representam, para a cidade, o estado de São Paulo e o país, os trabalhos ali realizados. Nesse sentido, trabalhar tal temática em sala de aula, para um público de ensino médio, que está formando suas matizes culturais e construindo suas atividades cidadãs, é mecanismo de afirmação da importância da Sala São Paulo e da OSESP no polo cultural que nos cerca e que não é conhecido por todos; e se o é, não o é por completo: falta, muitas vezes, a informação dos

programas de inclusão que existem e que foram supracitados.

 

 

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3. https://brasil.elpais.com/brasil/2019/04/08/politica/1554741080_908161.html

 

É evidente, porém, que problemas e eles serão tratados. 20 anos depois de sua inauguração e passada a euforia dos anos primeiros, hoje, a Sala São Paulo se tornou uma espécie de banker no centro de uma das regiões mais degradadas da cidade de São Paulo, onde parte da elite financeira goza de requintes grandiosos que soam dissonantes à pobreza do lado de fora, onde um alto-falante toca constantemente uma música que de nada serve para resolver o problema – e esse alto-falante tem sido uma das poucas iniciativas tomadas na construção de uma relação entre Sala e entorno, embora se esbocem mudanças, como a construção de uma concha acústica na praça em frente à Sala4 e a recente estreia, em 03 de novembro de 2019, da Missa Nóia, de Arrigo Barnabé, encomendada pela OSESP para o Coro da OSESP5.

 

Deve-se, entretanto, antentar-se para o positivo ali produzido que é gigante comparado à possíveis fatores negativos. É inegável o crucial ponto de inflexão na história da música em São Paulo que a Sala representa, assim como são indimensionáveis os avanços alcançados nos últimos anos por conta dele. Sob esses, recaem nossos olhares, sem deixar de ter uma preocupação social com o projeto que essa representa. Cabe aqui um panteses: o autor que aqui vos escreve é frequentador da Sala São Paulo, assim como dos concertos da OSESP e tem dificuldades em imaginar as penúrias que enfrentaria para ouvir o que hoje escuta na Sala antes dela. Acredito, porém, que caiba, na tessitura do projeto que segue, um distanciamento às convicções pessoais – o que se torna dever do historiador em se tratando de temas que venham a lhe ser caros. Tento, nesse sentido, elencar as qualidades que, particularmente enxergo na Sala, a partir de trabalhos acadêmicos com destaque à tese de Doutorado de Ricardo Teperman, sobre a inauguração da Sala –, bem como não deixar de apontar os efeitos colaterais que ainda insistem em soarem negativos na Sala os incontáveis desafios para uma efetiva democratização do espaço, que há anos se desenha em projetos que, aos poucos, vão se consolidando e na sua relação com a cidade que a acolhe. Busco assim, por meio de fontes terceiras das mais variadas: desde acadêmicas à musicais –, mostrar a importância da Sala e da OSESP, claro, movido pela convicção essa sim, pessoal da importância que ambarepresentam em incontáveis esferas.

 

 

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4. TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 305.

5. Para mais informações sobre a Missa Nóia, de Arrigo Barnabé, ver em http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019-livretos/2019-site-livreto-cor04.pdf

 

Em fala antes do concerto da OSESP, junto a convidados, no dia 04 de julho de 2019, em comemoração aos 20 anos da inauguração da Sala, o diretor artístico da Orquestra, músico, crítico literário, ensaísta e ex-professor universirio, Arthur Nestrovski, pedia ao público que continuasse a defender o projeto da OSESP que, em suas palavras, era erigido sobre o tripé de valores de “cultura, educação e democracia.6  Este projeto vem para honrar as palavras e o pedido de Nestrovski.

 

III. OBJETIVOS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA Este projeto tem como objetivos os seguintes: a. No campo da História:

01. Permitir a compreensão da construção de São Paulo como metrópole;

 

02. Permitir a compreensão dos impactos do ciclo econômico do café no estado de São Paulo e sua deterioração com a Crise de 1929;

03. Levar o aluno à compreensão da importância exercida pela Sorocabana na primeira metade do século XX no estado de São Paulo;

04. Levantar indagões sobre a reflexão de um estilo artístico de uma obra e o período político de sua feitura; 

b. No campo da cidade: 

01. Entender os afluxos populacionais que desembarcaram em São Paulo a partir da estação da Sorocabana e suas relações com o entorno da estação; 

02. Compreender as relações exercidas entre o poder público, moradores e a região de Campos Elíseos nos momentos antes e depois da inauguração da Sala São Paulo; 

03. Compreender o que representa, para a cidade e para o bairro de Campos

 

Elíseos, – em termos de erros e acertos – a inauguração da Sala São Paulo;

 

c. No campo da música: 

01. Permitir a construção de uma história da cultura sinfônica paulistana e da

 

OSESP no imaginário dos estudantes;

 

 

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6. https://www.youtube.com/watch?v=fk4kXF7-4zg&t=2815s. Fala aos 47 minutos do vídeo. Acesso em 09 de setembro de 2019.

 

02. Compreender a importância de uma orquestra para a educação, para a música e para a cidade que a sedia;

 

03. Compreender o papel decisivo da Sala São Paulo no processo de evolução técnico-musical da OSESP;

 

04. Buscar dimensionar a importância social dos projetos musicais de inclusão desenvolvidos na Sala São Paulo.

 

IV. ESTRUTURA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA

 

Público-alvo: turmas de Ensino Médio;

 

 

• Duração: três aulas de 2h (dois módulos/aula de 1h por conjunto de aula);

 

Aula 01: Antes da Sala: café, imigração, desenvolvimento urbano e a invenção de

 

uma cultura sinfônica;

 

Aula 02: A Ressurreão: a estação de trem torna-se sala de concertos e o velho centro

 

promete renascer;

 

• Aula 03: “Desafios em aberto: um futuro urbano e musical para a Sala;

 

Utilização de textos, imagens, documentos, trechos de obras musicais, dentre outros, previamente instruídos, far-seo necessários e essenciais para o desenrolar do curso e entendimento do conteúdo por parte dos alunos e alunas;

 

A estruturação das aulas pelo docente deve se dar sempre por meio de reflexões

 

direcionadas aos alunos, atuando como um provocador” mediante os materiais anaisados.

 

 

V.  PROJETO:  SEQUÊNCIA  DIDÁTICA   “A  SALA  SÃO  PAULO:  HISTÓRIA, CIDADE E MÚSICA”

 

A. AULA 01: ANTES DA SALA: CAFÉ, IMIGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO URBANO E A INVENÇÃO DE UMA CULTURA SINFÔNICA

 

INTRODUÇÃO: APRESENTAÇÃO DO CURSO

 

Nesta parte, o docente deve buscar refletir o elencado no capítulo Justificativa do presente trabalho, enfocando o início da construção de uma consciência sobre a Sala São Paulo;

O docente inicia perguntando aos alunos: Quem conhece esse prédio?. E

 

aponta para a foto abaixo:

 imagem estacao julio prestes

Fonte da imagem: http://cidadedesaopaulo.com/v2/atrativos/estacao-julio-prestes/

 

 

Ø O docente deve trabalhar a partir das respostas dos alunos. É recomendável que se dê preferência, inicialmente, aos que respondam que não conhecem o prédio. À sala, neste momento, se justo, cabe indagar: O que vocês acham que funciona neste prédio?.

Ø  Abre-se espo aos que conhecem o prédio para responderem. Duas serão as respostas mais diretas a serem consideradas: estação de trem e/ou sala de concertos. O docente deve trabalhar a partir de uma

delas:

 

§    Se  estação  de  trem,  cabe  trabalhar  a  questão  da presença do trem em nossas vidas perguntar aqueles que andam de trem regularmente, entre outras similares;

§    Se sala de concertos (resposta a qual deve ser dado maior enfoque), trabalhar a pergunta: O que é uma sala de concertos?Cabe ao docente explicar, resumidamente, o que é um concerto, bem como falar sobre a música sinfônica considerações existenciais sobre a música de concerto podem ser ditas, por exemplo, o fato da música sinfônica existir unicamente por conta do silêncio, pelo fato de aharmonias e ritmos se modularem pelo intervalo de ausência de som (silêncio) sob o qual estão cadenciados os instrumentos, a partir da batuta do regente7.

 

Nesse momento, o docente faz uma brevíssima explicação. Diz que o edicio é a Sala São Paulo, sede da OSESP, e, além de ainda ser estação de trens, é uma importante sala de concertos, espaço destinado a espetáculos de música. Finaliza apresentando o programa de aulas:

 

Ø  Aula 01: “Antes da Sala: café, imigração, desenvolvimento urbano e a invenção de uma cultura sinfônica. Nesta aula, o estudo se concentrará no período anterior às discussões sobre a Sala. Refletiremos sobre a São Paulo cafeeira, da imigração, que se afirma enquanto metrópole, centrada na construção da Estação Sorocabana, hoje Júlio Prestes. Finalizaremos com um estudo histórico da OSESP

Ø Aula 02: A Ressurreição: a estação de trens torna-se sala de concertos e o velho centro promete renascer. Nesta aula, estudaremos o processo do qual frutificou-se a Sala: por que uma sede para a OSESP? Por que a antiga Estação Sorocabana? Quais os impactos da Sala para a OSESP? Iniciaremos, também, a longa discussão aprofundada na terceira aula sobre as relações entre a sala e seu entorno.

Ø     Aula 03: Desafios em aberto: um futuro urbano e musical para a Sala.” Nesta aula, discutiremos mais afundo o que se deu com a Sala, a OSESP e os Campos Elíseos de 1999 ano de inauguração da Sala

até o presente momento. Centraremos nossos esfoos em dois eixos: o projeto de democratização da música pela OSESP e as relações  entre  a  Sala  e  seu  entorno,  ocupado  por  usuários  de

entorpecentes.

 

 

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7. Para essas e outras informações, ver WISNIK, José Miguel. O Som e o sentido: Uma outra história das músicas. 3ª ed São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

 

 

 

PARTE A: A CONSTRUÇÃO DA METRÓPOLE

 

 

 

O docente inicia apresentando aos alunos a seguinte imagem e perguntando-os que cidade é essa?:

 imagem são paulo em 1872

 

Fonte da imagem: https://iphotochannel.com.br/fotografia-documental/militao-de- azevedo-e-a-cidade-em-movimento

 

Ø  O docente ouve as respostas e responde dizendo que é São Paulo, tratando-se de uma fotografia do século XIX. Para esclarecer a situação, convida os alunos à uma leitura conjunta do trecho que segue: 

 

São Paulo tinha 31 385 habitantes em 1872, quando foi realizado o primeiro senso nacional. Ficava atrás não do Rio de Janeiro, de Salvador e Recife, cidades nascidas na vocação de centros importantes, mas também de Belém, Niterói, Porto Alegre, Fortaleza e Cuiabá. São Paulo era a prima pobre, a enjeitada, a excluída capital distante e roceira de uma província que passara os três primeiros séculos e meio de vida imersa no sono das coisas que ainda não aconteceram. Os registros feitos mais ou menos por essa época pelo primeiro fotógrafo da cidade, o carioca Militão Augusto de Azevedo, revelam um vilarejo de casebres mal-ajambrados, ruas de terra batida, charcos, raras pessoas na rua, animais dormitando pelas esquinas. E isso foi ontem, em termos históricos.

[...]

 

São Paulo é feita de travessias bruscas. No segundo censo nacional, de 1890, a população dobrou 64 934. Numa contagem promovida pelo governo do estado em 1893, apenas três anos depois, dobrou de novo 130 775. E no terceiro censo nacional, em 1900, tinha 239 820 habitantes. Já era a segunda cidade brasileira, atrás apenas do Rio de Janeiro.” 

 

TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da vertigem: Uma história de São Paulo de 1900 a 1954. I. ed Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. pp. 16 – 17. 

 

Ø  O docente deve instigar os alunos a refletir o que pode ter levado às profundas mudanças apresentadas no texto. Vale dizer que, para Roberto Pompeu de Toledo, a o Paulo de antes de 1900 é A Capital da Solio8, enquanto para após essa data é A Capital da Vertigem9. Como entender essa mudança de paradigmas? O docente deve perguntar: De que é composta uma cidade?” Ao responderem: De pessoas, esse deve responder perguntando, E de onde vem as pessoas que habitam São Paulo?” Esperam-se respostas das mais variadas, com ênfase aos italianos. O professor deve responder perguntando: E essas pessoas chegaram aqui quando?” Caso os alunos não infiram que chegaram no período descrito no

texto, o docente dá essa informação;

 

 

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8. TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da solidão: Uma história de o Paulo das origens a 1900. Iª  

ed – Rio de Janeiro: Objetiva, 2003 

9.                                                        . A capital da vertigem: Uma história de o Paulo de 1900 a 1954. Iª e 

Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.

 

PARTE B: SÃO PAULO, 1900 1929: O BERÇO ECONÔMICO DO PAÍS E O

 

DESENVOLVIMENTO URBANO

 

O docente deve questionar: Mas por que essas pessoas vinham para São Paulo?. Aguarda-se a resposta de que vieram para trabalhar na lavoura do café. O docente então questiona: Mas essas pessoas eram empregadas ou proprierias nas lavouras de café?. Aguarda-se a resposta de que eram empregadas. Questiona-se, então, quem eram os proprierios. O docente fala sobre os Baes” do Café;

 

O docente pergunta:Mas o que a cidade de São Paulo tem a ver com isso?” Aconselha-se desenvolver as respostas dos alunos, direcionando para a leitura conjunta do trecho que segue:

 

A partir da década de 1870, São Paulo tornou-se palco privilegiado para transformões socioeconômicas, urbanísticas, físicas e demográficas. Pressionada pela prosperidade da lavoura cafeeira e pelas tensões derivadas do fim da escravidão no país, a antiga cidade se transformava na ‘metrópole do café’: um entreposto comercial e financeiro. Foi a época da criação do Instituto Butantã (que produziu soros à base de veneno de cobra), da inauguração da iluminação elétrica e dos transportes públicos orquestrados pela estrada de ferro. Novas vias foram abertas, prolongaram-se velhas estradas, ampliaram-se largos, e surgiram novos jardins públicos.

 

Tantas alterões levariam a mudanças claras no comportamento da população local. Em São Paulo, a ‘boa sociedade descobriu novos hábitos sociais nos bailes, no turfe, no trottoir e nas noitadas no teatro. E também em São Paulo o processo de urbanização implicou oembelezamento’ da cidade, mas igualmente a expulsão da pobreza. Se a infraestrutura da cidade foi alterada com a abertura de novos bairros e ruas elegantes como a avenida Paulista, casebres e favelas foram destruídos, com o objetivos de garantir o prolongamento e ampliação de ruas, largos e praças.

 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. ed.

 

São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 327.

 

 

Ø  O docente deve iniciar os questionamentos e reflexões sobre a leitura perguntando o porquê de São Paulo ser um palco privilegiado para as transformações pelas quais passou. Cabe questionar: o que é um entreposto comercial e financeiro?” Esse  fato  impede  a  construção  de  uma  vida  social  na metrópole? Torna a cidade meramente com função econômica? Vale ressaltar o que o próprio texto demonstra com as mudanças no comportamento da população como as noitadas no teatro, em referência ao Theatro Municipal, inaugurado em 1911 e palco da Semana da Arte Moderna de

1922.

 

Ø  Cabe ao docente sintetizar que São Paulo se constrói enquanto uma metrópole que, embora com centralidade financeira, mantém uma vida social, no campo popular anarquizada pela confluência dos imigrantes que se alojavam na cidade10  e no campo mais elitizado, centrado em ambientes aristocratizados como o próprio Theatro Municipal.

 

PARTE C: MIGRAÇÕES E DESENVOLVIMENTO URBANO

 

O docente deve questionar: Mas como chegavam em São Paulo esses imigrantes?, Por que alguns aqui ficavam?, Do que se ocupavam esses que aqui ficavam?. Ao trabalhar as respostas, o docente deve se atentar ao fato de que a ocupação em São Paulo ocorre junto ao desenvolvimento econômico, a partir das prodões no interior, sobretudo no oeste do estado, de café;

 

• O docente deve convidar os alunos à leitura do seguinte trecho: 

 

O trem, que desde 1865, com a inauguração da São Paulo Railway, apelidada de ‘A Inglesa’, e mais tarde conhecida como Santos-Jundiaí, impregnava a cidade com seus trilhos, determinava mudanças importantes na fisionomia urbana. Outras duas estradas de ferro elegeriam a cidade como ponto de partida, a Sorocabana e a Estrada de Ferro do Norte (a futura Central do Brasil), ambas entradas em operação no mesmo ano de 1875. A Inglesa inauguraria, em 1901, sua nova e esplêndida estação, no mesmo lugar onde existira a acanhada estação primitiva, no bairro da Luz. Era toda feita com materiais importados da Inglaterra, acom um regio inspirado no Big Ben, e desde logo se impôs como um dos símbolos do progresso

paulistano. A Estação Sorocabana e a Estação do Norte, como a outra, começaram em prédios

 

 

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10. Para mais informações, ver SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

 

modestos, mas já nos mesmos lugares em que, futuramente, ergueriam, respectivamente, a Estação Júlio Prestes e a Estação Roosevelt, a primeira também no bairro da Luz, a segunda no do Brás. A presença das estações gerou novos fluxos de trânsitos e condenou ao ostracismo os antigos, usados pelas tropas de burros. Com isso subúrbios surgidos como pousos de tropa, como a Freguesia do Ó e a Penha, conheceram o isolamento e a decadência. As estações de trem inauguraram fluxos entre elas e o Centro que vieram se sobrepor amplamente às históricas entradas da cidade pela várzea do Carmo, caminho de quem vinha a cavalo, ou das mercadorias que chegavam no lombo dos burros.” 

 

TOLEDO, Roberto Pompeu de. A capital da vertigem: Uma história de São Paulo de 1900 a

 

1954. Iª ed – Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p. 28.

 

 

Ø  Em complemento ao texto, e antes de analisa-lo, o docente apresenta a fotografia abaixo:

 

 maestra paulista 3

Fonte da fotografia: Google Earth. Em preto, trechos ferroviários.

 

 

Ø  O docente deve questionar aos alunos, inicialmente, qual o papel das linhas ferroviárias e das estações de trem na região central da cidade de São Paulo. Para que servem? Qual o impacto que essas construções dão à morfologia urbana local? As respostas do docente devem se fundamentar na questão da guetificação e segregação socio-espacial que tais espos geram para a cidade reforço à ideia da ferrovia como barreira urbana intransponível;  Deve-se se somar à isso o questionamento sobre a ocupação de tais espos pelos que aportavam em tais estações: quais espos ocupavam? Para onde iriam? (Estas informações serão completadas mais adiante com a leitura de trechos de Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo ao refletirmos sobre a origem do bairro de Campos Elíseos);

Ø  Por fim, o docente deve se atentar à questão da estação Sorocabana.

 

Cabe a este dizer que a então estação Sorocabana é hoje a Sala São Paulo. Cabe refletir quais os novos fluxos de trânsito” que essas construções geraram. Para tal, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

 

A relativa melhora da situação financeira com a chegada dos anos 1920 estimulou a construção de uma nova estação, cujo projeto foi encomendado ao arquiteto Christiano Stockler das Neves, em 1925. Autor dos projetos para a Estação D. Pedro II, no Rio de Janeiro, e para a Estação do Norte, em São Paulo, o arquiteto é descrito mesmo por autodeclarados admiradores como retrógrado ou reacionário, tecnicamente atualizado e esteticamente conservador. Em agosto de 1929, Stockler das Neves publicou um libelo contra a pretensa arquitetura moderna” na Revista Architectura e Construões, em que defendia sua opção pelo estilo Luiz XVI modernizado’ para a Estação Sorocaba e afirmava: A utilização do ArNouveau só fez desvalorizar as construções. Deve-se respeitas a tradição.’”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 235.

 

Ø O docente deve questionar: qual o significado de uma obra encarregada a um reacionário” em pleno momento de efusão cultural no Brasil, como se comprova com a Semana de Arte Moderna de 1922 e, na música, por exemplo, com a estreia, em 1926, do Choros 10 Rasga o Coração, de Heitor Villa-Lobos? Seria, também, um recado da oligarquia paulista? O docente convida, então, à análise da imagem que segue

 imagem sala são paulo

FELIZARDO, Luís Carlos. Colunas Coríntias na Sala São Paulo. 1999. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de o Paulo. p. 61.

 

Ø O docente deve refletir junto aos alunos e alunas: alguma referência explícita ao Brasil nas colunas? Cabe dissecar a influência coríntia; portanto grega, dessas. O reacionarismo do arquiteto se baseia, assim, no culto aos valores da Antiguidade Clássica. O docente deve retornar à pergunta: trata-se de um recado da oligarquia ao mundo das artes? Por que não escolher um arquiteto mais ligado às pautas modernistas? O docente convida, então, à leitura do trecho que segue:

 

Burguês na tipologia e na composição social, aristocrata no imaginário, os Campos Elíseos serviram à forja de uma ideia de cidade disciplinada, refinada, exclusiva, estribada naquilo que a sociedade paulista podia evocar como sua vieille roche, seu padrão ximo de refinamento e distinção nata. Foi e ainda é o bairro mais associado aos ‘barões’ do café.

 

MARINS, Paulo César Garcez. Um lugar para as elites: os Campos Elíseos de Glette e Nothmann no imaginário urbano de São Paulo”. IN: LANNA, Ana Lúcia Duarte et al (Orgs.). São Paulo, os estrangeiros e a construção das cidades. São Paulo: Alameda, 2011. p. 231.

 

Ø  O docente deve questionar os alunos a simbologia de se instalar uma estação de trens de autoria de um arquiteto reacionário” (TEPERMAN, 2016 p. 235.) em um bairro “aristocrata no imaginário” (MARINS, 2011, p. 231). O docente deve trazer, também, duas questões, preparatórias às pximas aulas: o texto de Marins ainda descreve os Campos Elíseos? A Sala São Paulo, hoje, representa o ideal reacionário” do arquiteto Christiano Stockler das Neves?

Ø  Vale, uma vez mais, uma citação aos entraves da construção da sala e o conservadorismo por detrás dela:

 

Iniciadas em 1926, as obras da Estação Sorocabana se arrastaram por 12 anos, tumultuadas pela crise de 1929, por mudanças políticas e por brigas do arquiteto com a administração da ferrovia. Já em 1928, no entanto, foi inaugurada de maneira parcial a ala das plataformas, Dois anos depois, era a vez do concourse (pátio), o grande salão que dava acesso a elas. Conforme explica o pesquisador Ricardo Teperman em estudo sobre a OSESP, Stockler das Neves havia previsto entradas separadas para passageiros de primeira e segunda classes.

Aos primeiros seria reservada a menina dos olhos do projeto, o Grande Hall, com 48 metros de comprimento, vinte de largura e 24 de altura, e anunciado como ´o maior salão do Brasil`, explica (TEPERMAN, 2016, p. 236.) O enorme pé direito seria sustentado por 32 colunas coríntias e coroado por uma majestosa aboda com vitrais.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 13.

 

Ø  Cabe ressaltar que a inauguração da Estação, ocorrida apenas em

 

1938, se dá após o auge do ciclo cafeeiro paulista e em meio ao crescimento da atividade industrial. Aquele que a nomeia, Júlio Prestes, não obstante, foi importante nome de tal elite. O docente deve questionar se essas informações reforçam a visão da arquitetura do prédio da Sorocabana como uma resposta conservadora da elite paulista. Sobre isso, o docente convida para a leitura do texto que segue, sob o qual as reflexões devem continuar:

 

Assim, a inauguração da Estação Sorocabana pode ser considerada o último mbolo da era ferroviária paulista. Ela receberia o nome atual Estação Júlio Prestes em 1951, em homenagem ao ex-presidente do Estado de São Paulo, falecido pouco tempo antes e que havia tido um papel decisivo no prolongamento da Sorocabana, quebrando o monopólio da companhia inglesa. Júlio Prestes estava no poder quando o prédio da Sorocabana foi parcialmente inaugurado, em 1928.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 14.

 

Ø  O docente deve questionar quais os significados e simbologias por trás do fato de Júlio Prestes dar nome à estação nas condições acima descritas. Por que Júlio? Qual sua relevância para a causa? Deve-se retomar a pauta da resposta arquitetônica conservadora: estaria ela apoiada e ancorada no Estado?

 

 

• O docente convida à análise do quadro que segue:

DO AMARAL, Tarsila. Estrada de Ferro Central do Brasil. Óleo sobre tela. 1924.

DO AMARAL, Tarsila. Estrada de Ferro Central do Brasil. Óleo sobre tela. 1924. Fonte: https://virusdaarte.net/tarsila-estrada-de-ferro-central-do-brasil/

Ø  O docente deve questionar como a ferrovia se relaciona com a cidade no quadro. Ela interage com a cidade ou a segrega? A ferrovia é elemento do desenvolvimento urbano da cidade ou dificultador desse processo, ao passo que impede a construção de novas habitões? Para uma melhor reflexão sobre as respostas, passa-se ao próximo tópico.

 

• O docente convida para um exercício de escuta.

 

Ø   Exercício   de   escuta   I:    Heitor   VILLA-LOBOS.   Bachianas Brasileiras nº 04: IV. Tocata (O Trenzinho do Caipira) Um poco moderato. (1933). 

 

a)   Disponível via Spotify: https://open.spotify.com/album/507kSNpxDAiuk71KjpKHUT. Roberto Minczuck rege a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo interpretando, de Heitor Villa-Lobos, a Tocata das Bachianas Brasileiras nº 04. (Acesso em 29.10.2019).

b)   Disponível via  YouTubehttps://www.youtube.com/watch?v=wIG4h7lvj4Y.

 

Roberto Minczuck rege a Orquestra Sinfônica Brasileira interpretando, de Heitor Villa-Lobos, a Tocata das Bachianas Brasileiras nº 04. (Acesso em 29.10.2019). 

 

Ø  O docente apresenta também, aos alunos, os versos que Ferreira Gullar fez sob a peça que se ouviu, parte integrante de seu Poema Sujo e que seguem abaixo:

 

lá vai o trem com o menino

 

lá vai a vida a rodar

 

lá vai ciranda e destino cidade e noite a girar

lá vai o trem sem destino

pro dia novo encontrar correndo vai pela terra

vai pela serra vai pelo mar

 

cantando pela serra do luar correndo entre as estrelas a voar

no ar

piuí! piuí piuí 

no ar

 

piuí piuí piuí

 

GULLAR, Ferreira. Poema Sujo. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2006. pp. 46 – 47

 

 

Ø  O docente deve convidar os alunos e alunos, após a escuta da obra, a refletirem sobre a escuta musical do país e do viajante que aporta em São Paulo em meio à grandiosidade de uma estação como a Júlio Prestes. O docente deve perguntar se alguém se sente representado ao ouvir a pa de Villa-Lobos. Finaliza-se com a leitura do seguinte trecho:

 

[...] A tocata final, mais conhecida por Trenzinho do Caipira, é uma encantadora peça descritiva das impressões de uma viagem nos pequenos trens do interior do Brasil. Villa-Lobos, nesta ia musical, não quis descrever simplesmente uma locomotiva em marcha, mas fazer uma obra brasileira, emprestando-lhe delicada melodia nacional.” 

 

MARIZ, Vasco. História da música no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

 

1983. p. 135.

 

 

PARTE D: DA CAFEICULTURA À INDUSTRIALIZAÇÃO

 

Ø  Como   entender   a   transição   na   economia   paulista      e,   por consequência final, do país – do ca rumo à industrialização? Como lida a sociedade paulistana com tal  e como isso se recai sob  construção de um operariado e de uma cultura urbana? O docente convida, então, à leitura do trecho que segue. 

 

Qual seria então a proveniência dos capitais iniciais das indústrias brasileiras? Quem foram os nossos primeiros empresários? Ora, mais uma vez cabe sublinhar que várias pesquisas convergem para um mesmo ponto: nossa primeira industrialização, 1880 1930, grosso modo, originou-se da importão de máquinas modernas custeadas pelo mundo agrário tradicional.

[...]

 

Tal qual ocorria em vários lugares, os fazendeiros paulistas investiam os recursos extras da lavoura de exportação na compra de máquinas. Muitos viam nesse investimento uma forma de complementar as atividades agrícolas. [...]

O que, porém, teria levado São Paulo a se tornar o principal polo industrial e quando isso ocorreu? Ora, uma vez mais adentramos em um campo de infindáveis polêmicas, cabendo aqui sintetizar a explicação mais recorrente. Primeiramente, cabe ressaltar que os paulistas possuíam a mais próspera atividade agcola do país. Desde a década de 1830, o café havia se tornado o principal item da economia brasileira. No ano de 1900, o produto rendia, em exportões, dez vezes mais do que o úcar, vinte vezes mais do que o algodão e quase trinta vezes mais do que o tabaco; somente a borracha que estava vivendo seu período áureo podia rivalizar com o café; mesmo assim, o fruto do extrativismo nos seringais da Amazônia contribuía, no quadro das exportões, com um quarto do que representava a matéria-prima da popular bebida matinal.

Alimentada por férteis terras e por estradas de ferro que viabilizavam a expansão da fronteira agcola em regiões bastante afastadas do litoral, a lavoura cafeeira paulista, entre 1886 e 1910, aumentou sua participação na produção nacional de 42% para 70%, deixando muito atrás seus vizinhos fluminenses. Números ainda mais impressionantes quando recordamos que, na última data mencionada, o Brasil controlava cerca de 75% da prodão mundial, o que significava dizer que os paulistas produziam aproximadamente metade do ca comercializado no mundo; produção que, em 1906, implicava a exportação de algo não muito distante de um bilhão de quilos!

Ora, tal situação garantia o ingresso de polpudas rendas para a economia local, ampliando o mercado consumidor e as fontes de renda para o investimento fabril. Além de contar com recursos abundantes que podiam ser canalizados para a indústria, os paulistas dispunham ainda de outras vantagens que os capacitavam a superar industrialmente as demais regiões brasileiras. Uma delas foi a de ter recebido milhões de imigrantes europeus, que competiam com os ex-escravos no mercado de trabalho, fazendo com que, até aproximadamente a década de 1920, os sarios localmente pagos fossem inferiores aos despendidos por empresários cariocas e gaúchos; havendo casos, como o das indústrias de vestuário e de calçado, em que tais vencimentos eram a inferiores à média nacional, incluindo aí as regiões nordestinas atrasadas. [...]

Tendo em vista essa relação, ao mesmo tempo complementar e contraditória, entre lavoura exportadora e indústria, compreende-se por que não houve uma veloz revolução industrial paulista, mas sim um processo de transformação econômica lento e cheio de percalços. A mesma afirmação é, com certeza, válida para o resto do Brasil, que somente em meados da década de 1940 assistiu à indústria superar a agropecuária no conjunto das riquezas nacionais.” 

 

DEL PRIORE, Mary. VENANCIO, Renato. Uma Breve História do Brasil. Iª ed. – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010. pp. 236 – 240.

 

 

Ø  O docente deve questionar a ambivancia entre o projeto econômico da elite cafeicultora paulista, refletindo sobre o produto de capital esperado por essa elite: ca ou bens industriais? O docente deve, também, refletir sobre qual foi o papel desta elite no desenvolvimento da cidade de São Paulo: com as indústrias, permitiram a erupção de uma metrópole ou elementos que mostram que outros atores com  intenções  próprias,  a  exemplo  da  chegada  dos  imigrantes europeus? O docente finaliza com a pergunta, em caráter retórico e reflexivo: quem inventou a São Paulo urbana?11

Ø  O docente deve, também, refletir sobre a questão da freneticidade da

indústria desenvolvida a meados da década de 1940. Ponto a ser fundamentado no exercício de escuta que segue.

 

 

 __________________________________________________________________________________

11. Para maiores embasamentos em tal reflexão, vale novamente SEVCENKO, Nicolau. Op. cit.

 

Epílogo: música e exploração industrial. O docente convida para o exercício de escuta que segue:

 

 

 

Ø  Exercício de escuta II:  Cláudio SANTORO. Impressões de uma  Usina de Aço. (1943).

 

 

 

a)    Disponível via YouTubehttps://www.youtube.com/watch?v=edCghYpxNkc

 

Ligia   Amadio   rege   a   Orquestra   Sinfônica   Nacional      UFF

 

interpretando, de Cláudio Santoro, Impressões de uma Usina de Aço

 

– Homenagem à Siderúrgica Nacional. (Acesso em 02.11.2019).

 

 

Ø  Para a análise da escuta, o docente convida à leitura do texto que segue:

 

[...] Na sua primeira versão de 1943, a obra ainda se chamava Numa Fundição de Aço (... da emoção causada pela visão do o em estado de ebulição’, como se encontra no manuscrito.’) [...]

 

Em depoimento gravado, o compositor comenta:

 

[...] Essa pa eu fiz primeiro para a Rádio Tupi... me pediram para fazer um programa em homenagem à Siderúrgica Nacional em seus 40 anos. Escrevi essa peça, impressionista pelo aspecto do barulho de uma usina – chamei de usina mas era uma fundição deo. [...]

 

Consta no programa do concerto de 4 de maio de 1946:

 

[...] É uma pa de caráter nitidamente impressionista, o que vale dizer, contém as

 

impressões musicais sugeridas ao autor pelo tema em epígrafe.’”

 

SANTORO, Alessandro. Notas de programa: Impressões de uma Usina de Aço. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019-livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). pp.

73 – 74.

 

Ø  O docente deve questionar, a partir da obra apresentada, a crueldade, a freneticidade, o rigor industrial então em voga. Deve questionar aos alunos como percebem tal na obra de Cláudio Santoro e, também, se em algum momento a escuta da obra os deixou incomodados (como se a música não lhes soasse agradável). O docente deve questionar os alunos as imbricões de tais fatos na atividade de construção da então Estação Sorocabana e, como se ve à frente, na reformulação do espaço para abrigar a Sala São Paulo. Finaliza-se com o questionamento se é válido tal atividade econômica ante ao apresentado em Impressões de uma Usina de Aço.

 

PARTE E: A INVENÇÃO DE UMA CULTURA SINFÔNICA E O SURGIMENTO DA OSESP

 

 

Ø O docente deve iniciar esta parte da aula com os seguintes questionamentos: para que serve uma orquestra sinfônica? Por que ela é importante para uma cidade? Afinal, o que é uma sinfonia?

Ø  As respostas podem ser amplas e as respostas do docente devem ser conduzidas à introdução da ideia geral e propósitos da OSESP. Observações mais específicas são válidas também, como: a) a orquestra sinfônica tem o papel de executar um determinado tipo de música, que exige um contingente considerável e que, também, não pode ser apresentado sob quaisquer circunstâncias, seja ela de pessoas ou estruturais; b) uma orquestra sinfônica de qualidade, que tenha alguma ligação com sua cidade, pode, além de produzir, em nível profissional, prodões locais, também levar o nome da cidade junto ao seu sucesso mundo afora; a cidade se desenvolve, nem que nominalmente ou idealisticamente, com o desenvolvimento da orquestra; c) a sinfonia é uma forma musical típica, que já passou por inúmeras transformações: originada como a abertura da ópera italiana, desenvolvida em Viena e solidificada na forma romântica de Beethoven, teve seus limites rompidos com o avançar do tempo por figuras     como     Gustav     Mahler      e     Dmitri     Shostakovich.12

 

 

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12. Para maiores informações sobre o conceito primário de sinfonia, ver CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da História da Música. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. pp. 139 143.

 

 

 

Ø  O docente deve, nesse sentido, buscar dimensionar a importância da existência de um projeto fixo de orquestra cabe retomar o trecho lido de Lilia Schwarcz e Heloísa Starling em Brasil: Uma Biografia no que se refere às noitadas no teatro. Como garantir as noitadas no teatro” sem um corpo artístico fixo? O docente convida, então, à leitura do trecho que segue: 

 

A OSESP foi fundada oficialmente em 1954, embora já estivesse em funcionamento desde o ano anterior. Sob a batuta do pianista, maestro e compositor João de Souza Lima, seu primeiro regente titular, o conjunto funcionou por pouco tempo. Novos registros de atividade aparecem em 1964, quando o maestro Bruno Roccella tornou-se seu novo regente e diretor artístico. Finalmente, em 1973, após um recesso de mais de cinco anos, a OSESP passa por uma nova reestruturação, conduzida por Eleazar de Carvalho. Depois de quase dez anos de residência no Teatro Cultura Artística, entre 1979 e 1986, com temporadas memoráveis, a orquestra viu-se novamente em situação precária, sem sede e sem recursos. 

 

Nos últimos anos de vida de Eleazar, a OSESP apresentava-se no Memorial da América Latina, que não possuía condições acústicas adequadas para a música sinfônica. Além disso, a orquestra não era titular do espo e quando o teatro estava ocupado com outras atividades, via- se obrigada a ensaiar no restaurante do memorial. Os salários dos músicos eram baixos e às vezes atrasavam. Os quadros da orquestra estavam defasados e muitas vezes era necessário alterar a programação, com peças que não exigissem grande orquestração.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 30.

 

Ø  O docente deve questionar a cronologia apresentada sobre a História da OSESP e as condições nas quais se desenrola seu percurso histórico. Deve-se apontar o atrelamento da oficialização do corpo artístico, em 1954, com o quarto centenário da cidade de São Paulo e a necessidade de um nome de peso fixo, como Eleazar de Carvalho, para a também fixação do projeto. Deve-se, também, se atentar-se aabandono que passa a OSESP a partir de 1986: por que a Orquestra cai em esquecimento? Trata-se de esquecimento ou não entendimento da dinâmica necessária para o efetivo funcionamento de uma orquestra digna de renome e reconhecimento? Cabe apontar que nem com Eleazar à frente do projeto essa obteve espo. É neste cenário de esquecimento, para não se dizer abandono, que florescerá o projeto de construção da Sala São Paulo como sede oficial da OSESP, concretizado em 09.07.1999 e tema de nossa próxima aula.

 

 

B.  AULA  02:  A  RESSURREIÇÃO:  A  ESTAÇÃO  DE  TREM  TORNA-SE  SALA  DE CONCERTOS E O VELHO CENTRO PROMETE RENASCER

PARTE A: A RESSURREIÇÃO DA OSESP

 

O docente deve retomar os aspectos finais da aula 01, com ênfase ao cenário de abandono e esquecimento no qual se encontrava a OSESP naquele momento. Feita tal recapitulação, devem ser feitas as seguintes questões: como ressuscitar” a OSESP? Por que ressuscitar? As reflexões devem se concentrar nas respostas iniciais à parte E da aula 01, enfatizando a importância de uma orquestra de qualidade e, acrescido à isso, o fato de que uma sede própria (de qualidade) torna-se fator de consolidação de um processo de maior assistência à um projeto cultural como a OSESP ao passo que estrutura física fixa para essa, além de um espo que tem em sua razão de existência a música sinfônica e que, portanto, não teria os problemas acústicos enfrentados, por exemplo, no Memorial da América Latina. Acerca da questão da ressurreão, o docente deve abrir caminhos para reflexões que serão melhor abordadas em outros momentos, como a questão do renascer de um sonho maior o de um Centro habitável” que teria na Sala e na OSESP suas âncoras, assim como em outros projetos posteriores como a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa. Feita esta introdução, o docente convida à leitura do trecho que segue:

No dia 13 de setembro de 1996, Eleazar era velado no Teatro Municipal de São Paulo. Durante todo o tempo, músicos se revezavam em torno do esquife, tocando em homenagem ao maestro. Num desses momentos, Gilberto Siqueira, trompetista da OSESP, improvisou um discurso emocionado. Dizia que ali estava um homem que tinha devotado sua vida à música, e que apesar de ter conseguido tantas coisas, não teve êxito em dar uma sede à orquestra ele próprio, ao ser velado, precisava de uma casa emprestada’. Dizia esperar, ainda, que os políticos realizassem o sonho de Eleazar. Segundo relatos, nesse momento o então governador do Estado, Mário Covas, chegava ao velório. Siqueira não tinha essa informação, mas os presentes entenderam que o recado era dado a Covas, que foi vaiado e retirou-se rapidamente. 

 

É provável que o governador soubesse que, a essa altura, estava no radar uma nova reformulação da OSESP que incluía a aquisição de uma nova sede. Já em 1995, o então secretário de Cultura, Marcos Mendonça, e assessores sondavam espos possíveis. [...]

Ao mesmo tempo, o maestro John Neschling era sondado por Mendonça durante suas férias no Brasil, em julho do mesmo ano. Quando Eleazar morreu, em setembro, Neschling topou assumir o projeto da ‘nova OSESP desde que fossem observadas uma série de condições, como o número de músicos, o sario, o repertório e a quantidade de concertos. A ‘condição primeira’, segundo Neschling, era a existência de uma sede.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). pp. 16 – 17.

 

Ø  O docente deve, mais uma vez, atentar-se à questão da necessidade de uma sede para a Orquestra. Por que teria John Neschling colocado como “condição primeira para sua vinda à OSESP a existência de uma sede? Cabe, mais uma vez, refletir sobre as implicações que ter uma sede própria pode dar à Orquestra e, em última expressão, também à cidade, como apontado antes (a sede torna-se local fomentador de um determinado tipo de manifestação cultural, a qual, por sua vez, encontra nela um meio regular para ser exercida). Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue: 

 

Os argumentos técnicos ou pragmáticos, ainda que pertinentes, não esgotam o sentido da existência de uma casa’ da orquestra. A Sala São Paulo é a face mais visível da orquestra, seu cartão postal e seu cartão de visitas. [...] Como se a Sala pudesse tornar visível e palpável algo que de resto é pura passagem do tempo.

A criação da Sala São Paulo foi estratégica para a consolidação do projeto da orquestra, algo que não escapou a observadores sagazes como o maestro George Olivier Toni, que declarou, já no dia da inauguração: Hoje não é a orquestra que garante a sala de concertos. Neste momento é a sala de concertos que garante a existência da orquestra. [...].

 

Pelo menos três razões dão consistência e profundidade à intuição [...] de Olivier Toni. [...] Finalmente, como disse Neschling, porque a existência de uma sede suntuosa tornava a orquestra quase uma obrigação. 

 

E ainda, porque o concerto sinfônico não é apenas música música nunca é apenas música mas uma experiência social, que começa antes e termina depois das reverberações acústicas, e não se esgota nelas.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 246 – 247.

 

Ø  O docente deve ressaltar dois aspectos do trecho lido: a) a questão da Orquestra ter como dever o primor ante à suntuosidade do edifício, Deve-se problematizar a questão da suntuosidade”, a partir das reflexões feitas na primeira aula acerca da escolha arquitetônica da Sala; b) a questão de música nunca ser apenas música: cabe ao docente questionar sobre a questão da “experiência social” por trás do “assistir a um concerto: como tal implica na existência de uma sede? O fato de se ter um lugar fixo reforça as relações sociais exercidas pelo público? O primor da Orquestra acompanha sentimentos incalculáveis para o exercício da cidadania paulistana (e brasileira; e universal)?

 

Como encontrar a sede da OSESP? O docente deve questionar aos alunos: que lugar pode ser uma sala de concertos? Pode-se apresentar um concerto em qualquer lugar? Qual a qualidade necessária para tal? As respostas vêm junto à leitura do trecho que segue:

 

Marcos Mendonça convidou Mario Garcia para um almoço com John Neschling, Ismael Solé e Chris Blair, da Artec, no último dia da passagem do maestro pelo Brasil em novembro de 1996. Ao saber que nenhum dos espos visitados havia sido aprovado pelo engenheiro americano, e que a solução com a qual eles passariam a trabalhar, sem entusiasmo, era a construção de um prédio novo algo mais caro e mais complicado , Garcia sugeriu que visitassem a Estação Júlio Prestes. Como o próprio maestro relata em seu livro de memórias, a ideia lhe pareceu ‘pura loucura’, a tal ponto que preferiu voltar para o hotel: ‘Duvidei que uma estação ferroviária, ainda em serviço, pudesse servir de sede para uma orquestra.’ O maestrtambém comenta que o prédio ficava na zona mais degrada da cidade, conhecida como

 

´cracolândia`,  e  era  cercado  por  todos  os  lados  por  camelôs  e  pela  mais  fina  flor  da malandragem’, para então concluir: Difícil imaginar a Osesp tocando ali’.

 

Neschling levanta duas lebres importantes: a incompatibilidade entre a necessidade de isolamento acústico e a presença constante do ruído e trepidação de trens; e a discrepância entre a excelência do projeto que pretendia criar e o abandono da região onde se propunha insatalá- lo. Ambas fragilidades seriam transformadas em forças: a obra se anunciara como um feito de engenharia que funcionara como ‘âncora cultural’ para a transformação da região.”

 

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 249.

 

Ø  O docente deve refletir sobre a viabilidade do projeto de instalação da sede da OSESP na Estação Júlio Prestes e a transformação das incompatibilidades em âncoras de um projeto maior (como se ve a seguir). Por que é difícil imaginar a OSESP tocando ali?” Qual o preço a se pagar para que a sede seja erguida ali? É o que veremos a seguir.

 

 

PARTE B: A RESSURREIÇÃO DO CENTRO

 

O docente deverá explorar nesta parte da aula o fenômeno de “ancoragem” que a construção da Sala São Paulo exerceu na ideia de revitalização do Centro de São Paulo não à toa a ideia de ressurreição. Para tal, convida à leitura do trecho que segue:

O projeto de criação de uma sede para a Osesp por meio de uma grande reforma na EJP e em seu entorno surgiu em linha de continuidade com relação ao ideal de recuperação’ do Centro. O imaginário evocado pelo vínculo histórico da EJP com tempos de grandeza paulista e o classicismo da arquitetura original do prédio se viam reforçados pelos valores associados à música sinfônica. A criação ali de um grande centro cultural apareceu como uma solução miraculosa contra a ‘degradação’. 

 

É cil avaliar hoje a dimensão fantasiosa dos discursos que projetavam uma ampla e profunda transformação do Centro pela instalação de uma sala de concertos   a própriadministração estadual passou a rever sua posição recentemente. Seria impreciso, no entanto, considerar o projeto da Sala São Paulo como uma grande operação de maquiagem. Sua complexidade e envergadura superavam em muito a de intervenções pontuais e superficiais, [...].”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 242 – 243.

 

Ø  Sobre o trecho, vale notar a questão da intervenção do poder público (não apenas dele, mas centrada nele, afinal a ação de construção da Sala é ação do governo estadual) na imaginação de uma ressurreão” do Centro, junto à da OSESP. Qual o papel do poder público no meio desse processo? Projetos próprios, como a questão da sede da OSESP, podem se tornar massa de manobra para algo maior como a ressurreição” do Centro? Vale o que Teperman aponta: Seria impreciso, no entanto, considerar o projeto da Sala São Paulo como uma grande operação de maquiagem. Sua complexidade e envergadura superavam em muito a de intervenções pontuais e superficiais [...].” Afinal, como se viu, havia uma pauta interna na OSESP que, malogros à parte, se coadunou à uma pauta de interesse do governo estadual. Essa visão é reforçada no trecho que segue, ao qual o docente convida para a leitura conjunta:

 

Vale destacar duas circunstâncias que se repetiriam no processo de reestruturação da Osesp nos anos 1990: primeiro, a capacidade de mobilização dos músicos; segundo, o fato de que suas demandas foram respondidas na medida em que atendessem interesses que extrapolam o âmbito da música e que estivessem ligadas a uma ideia de orgulho paulistano” (em 1954, o quarto centenário; em 1999, a promessa de revitalização” do centro histórico [...]). Em ambas ocasiões, quaisquer mudanças na condução política poderiam ser fatais.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 115.

 

O docente deve apresentar uma imersão ao ambiente imagético-psicológico que as classes médias e altas criaram sobre o Centro. Para tal, vale-se da exibição de trecho do filme Sábado (1995), de Ugo Giorgetti a seguir:

 

Ø  Filme          na          íntegra          disponível          no          YouTube:

 

https://www.youtube.com/watch?v=BHWOuzK8Wck.  Acesso  em

 

03.11.2019. A cena a ser exibida se inicia aos 20 segundos do vídeo e vai até 1 minuto e 55 segundos.

Ø  O docente deve destacar o seguinte trecho: Sábado, oito e trinta da manhã. A mulher elegante de blazer amarelo é Magda Bloom, pontual como sempre. O cavaleiro que fala com ela é Tonhão, zelador do Edifício das Aricas, um marco da arquitetura da cidade. Como todos nós, Magda ama o Centro. Embora, como todos nós, não vá mais ao Centro, é claro. Afinal, nos últimos quarenta anos, algo mudou no Centro da cidade [...].

(Transcrição do filme Sábado (Ugo Giorgetti, 1995).

 

Ø  O docente deve trabalhar a questão de que todos amam o centro, mas que, também como todos, não vão mais ao centro. Deve perguntar o docente: quem são todos? O centro ficou vazio de fato? O que simboliza o ninguém mais que vai ao centro? Quem ocupa de fato o centro? Sobre isso, vale a leitura do trecho que segue:

 

 

O imaginário aristocrata se sobrepunha a uma realidade cheia de contradições. Mas se o bairro dos Campos Elíseos durante algumas décadas foi um endereço privilegiado po‘baes, no decorrer do século XX o perfil de seus habitantes passou por transformações de monta.

 

razoável consenso na bibliografia de que duas grandes intervenções, ligadas à circulação na cidade cria uma situação particular e de consequências indesejáveis para a região da Luz e dos Campos Elíseos. No eixo norte-sul, as catorze faixas de tráfego expresso da avenida Tiradentes segregam de maneira radical os quarteirões em torno da Pinacoteca do Estado e do Jardim da Luz, de um lado, e o Museu de Arte Sacra, do outro, Também a passagem do eixo ferroviário no sentido leste-oeste opera um corte drástico entre bairros vizinhos como Pari e Brás, ou Bom Retiro e Campos Elíseos. Os efeitos são funestos: criam-se ‘zonas mortas’, e tanto a circulação de pedestres quanto a de veículos motorizados é prejudicada com impactos negativos na vitalidade da malha urbana ao desfavorecer a integração dos muitos atrativos da região: a pujança do comércio no Bom Retiro e na região da Santa Ifigênia; a própria localização central; o grande número de equipamentos urbanos (museus, igrejas e sinagogas, escolas, monumentos históricos). A multiplicação de desastrosas intervenções viárias na região da Luz e em seu entorno expandido (dentre as quais a construção do Minhocão, em 1970, é talvez a mais emblemática), só viria a agravar esses problemas.

Um marco simbólico para a deterioração do bairro foi a saída da sede de despacho do governo estadual em 1965. A instalação, em 1962, do Terminal Rodoviário Luz e das muitas linhas que acessavam a rodoviária, também geraria impacto negativo na região, com excesso de ônibus transitando em ruas relativamente estreitas. Nos anos seguintes, o acesso de camadas populares ao Centro foi favorecido pela ampliação dos sistemas de transporte coletivo, representando uma importante ampliação de direitos. Mas a grande maioria dos deslocamentos não tinha ali seu destino final: o Centro se transformava em um grande redistribuidor, sem que esta função tivesse sido adequadamente planejada. A deficncia na integração entre diversos modais passou a gerar um fluxo intenso de pedestres que se deslocam entre terminais, estações pontos finais’, o que implicou na transformação parcial do Centro em um enorme entrelugar’. É essa característica que explica também o grande número de camelôs que passa a ocupar a região – notadamente na Praça Júlio Prestes –, acompanhando os transeuntes.

Sem que fossem acompanhadas de intervenções que dessem qualidade ao tecido urbano, tais como a boa manutenção de praças ou a ampliação de áreas verdes, a intensificação do número de passantes veio a contribuir para diminuição do número de residentes e a desvalorização dos imóveis.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 238 – 240.

 

Ø  Vale ressaltar, a partir da leitura do texto; portanto, que o Centro e, no caso da Sala São Paulo, a região de Campos Elíseos, não constituiu um vazio demográfico. Houve, entretanto, uma alteração no painel econômico e social dos que habitam este espaço: da alta elite econômica aos esquecidos socialmente. Nesse sentido, cabe ao docente questionar: para a instalação da Sala, como lidar com a existência de tal população em seus arredores? É o que se ve no trecho a seguir, ao qual o docente convida para a leitura:

 

Quero com essa breve análise sinalizar para a capacidade que o filme tem de flagrar os sentimentos ambivalentes de uma certa classe média (intelectualizada, que produz e consome cinema nacional) com relação ao Centro, ao lamentar sua degradação” e buscar, repetidamente, maneiras de recuperar um sentido de pertencimento com espos e memórias da região.

A Estação Júlio Prestes, assim como o Edifício das Américas, também era cobiçada pelo poder de evocação de suas colunas coríntias, seus vitrais, sua história. [...]

Como no filme de Ugo Giorgetti, um velho edifício do Centro era visto por frações das classes médias e altas como mbolo de um passado glorioso, de um tempo e um lugar (reais e imaginários)  que  haviam  se  ‘degradado’  ou,  como  se   nas  entrelinhas,  haviam  sido ‘usurpados’ por populações pobres. Operações de maquiagem tornavam os espos novamente aptos a representar uma certa grandeza paulista, ao menos por algumas horas (o tempo da gravação de um comercial ou da realização de um evento corporativo ou social). Essa grandeza se definia pela excelência arquitetônica, de influência clássica (cimento importado da Suécia, pinho-de-riga- e mármore de carrara’, no Edifício das Américas; Luís XVI modernizado’, na EJP), e pela frequentação (‘as melhores famílias da cidade’; usuários de Primeiras Classe).”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 234 235; 242 243.

 

Ø  O docente deve propor aos alunos uma síntese do pensamento dos defensores da ressurreição” do Centro: política higienista? Memória hegemônica conservadora de um passado inexistente? Saudosismo? Sobre isso, ver-se-á no próximo tópico.

PARTE C: A RESSURREIÇÃO DA ESTAÇÃO

 

Sobre o projeto que previa a ressurreão da Estação Júlio Prestes e suas relações com o projeto de ressurreão” do Centro de São Paulo, o docente convida à leitura do texto que segue:

 

De agosto de 1999 a agosto de 2000, uma combinação de operação policial e sanitarista (com jatos água pela manhã, acordando e expulsando os moradores de rua) afastou boa parte dos usuários de crack da região. Os resultados provisórios e parciais dessa política levaram a diagnósticos precipitados (ou delirantes) a respeito do sucesso da empreitada. Em 2001, reportagem de Frederico Mengozzi na revista Urbs dava o assunto por encerrado no título: Adeus, Crack. O texto explicava: Há um ou outro usuário, mas o núcleo de distribuição consumo da droga, em pleno bairro central de Santa Efigênia, não existe mais, expulso pelo policiamento e pela ocupação cultural’. A frase sugere uma tomada violenta do espaço e a imposição de uma ptica entendida como ‘civilizatória’.

 

[...]

 

Mas o diagnóstico de que as políticas repressoras e higienistas haviam obtido sucesso na ‘limpeza da região era infundado, como ficou comprovado com a contínua expansão dos usuários de crack no entorno da Sala São Paulo nos anos seguintes. A partir de etnografia realizada entre usuários de crack na região da Luz, bem depois do período enfocado em minha tese, a antropóloga Taniele Rui discute a construção de uma imagem homogênea dos usuários da droga, figurados por um tipo radical de viciado a que chamam nóia, como portadores de cum corpo abjeto’. Segundo ela, é dessa alteridade extremada que ‘emerge e se justifica todo o aparato repressivo, assistencial, religioso, midiático e sanitário.

 

A aposta numa idealizada capacidade purificadora da música clássica aparece como contraface dessa política de exclusão. Como se a música clássica tivesse o poder de transformar jovens negros e pobres, viciados em crack, em distintos melômanos de cabelos brancos e hábitos refinados. É como se esperassem que a Osesp, instalada na Sala São Paulo, pudesse funcionar como um flautista de Hamelin às avessas, atraindo legiões de pessoas ricas e supostamente cultas, que fariam da Luz um bairro ilustrado, enquanto os ratos’ eram enxotados pela política.

 

A principal força discursiva no lançamento da Sala São Paulo tem origem justamente na dissonância entre um projeto de excelência no campo da música clássica e a carga simbólica de ‘degradação extrema’ ou colapso civilizacional que se cola à região dominada por usuários de crack e seuscorpos abjetos’. Era pela promessa de enlevamento e regeneração da música clássica que o projeto da nova sede da Osesp aparecia como inatacável. Como se Mahler pudesse mesmo fazer as pessoas melhores’ ou pelo menos, como defendia o discurso da revitalização, ‘trazer as melhores pessoas.

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 255 – 256.

 

Ø O docente deve trazer à tona a reflexão sobre a questão da higienização proposta como forma de ressurreão” do centro. Como entender uma dinâmica sanitarista como essa? Quais seus objetivos? Também deve-se aprofundar a reflexão contida no último pagrafo do trecho: pode a música fazer as pessoas melhores? Se não, como torna-las melhores? Deve-se outrem querer tornar alguém melhor? Se sim, como dissociar o que é arte, na música, e o que é papel efetivo de transformação? Cabe reforçar a visão higienista no trecho que segue:

Com a mudança dos camelôs, podem começas as obras do grande jardim que se construído na área. Que se todo cercado, lógico.”

 

GIOBBI, César. Sem camelôs. O Estado de S. Paulo, 24 abr. 1999. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 278.

 

Ø  Cabe ao docente questionar: por quais razões é gico que o jardim em frente à Sala São Paulo seja cercado? Qual o impacto de tal imagem estar em um veículo de comunicação como o em que foi publicado? Somam-se à tais questionamentos os feitos anteriormente. Tais questionamentos devem seguir na leitura conjunta do trecho que segue:

 

Nos meses que antecederam a inauguração da Sala São Paulo, as declarações dos representantes do governo, das lideranças da orquestra e de boa parte da opinião pública enfatizavam o impacto que a reforma do prédio da Estação Júlio Prestes e a instalação da orquestra teriam na região. A ideia aparece fortemente em falas do secrerio Marcos Mendonça, para quem a novidade iria mudar ‘o perfil de frequência na região. No programa de concertos distribuído pela Osesp em julho de 1999, o secretário celebra: ‘Para nós, a Sala São Paulo significa a transformação de toda uma região que, pelo uso cultural de um de seus mais importantes espos, começa a renascer.’ Anos depois, fazendo uma espécie de balanço de sua gestão, diria: Trabalhamos para usar a cultura como um instrumento para a revitalização do centro de São Paulo e como um instrumento de transformação social.

 

Em discurso escrito para o dia do lançamento das obras na Júlio Prestes, em 11 de março de 1997, Mario Covas anuncia: ‘A obra está inserida em um projeto maior que é a revitalização de uma área em deterioração.’”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 259.

 

Ø  Cabe ao docente, por fim, questionar a o discurso empregado pelo governo do estado de São Paulo: estava efetivamente a área em deterioração? Se sim, como resolver os problemas de áreas em deterioração? É a cultura um desses meios? O público da sede da OSESP estabeleceria relações com o local e entorno então degradados a ponto de altera-lo? As respostas devem vir dos alunos, cabendo ao docente, porém, o apontamento do cenário do bairro de Campos Elíseos descrito em trecho lido em conjunto anteriormente e o desenho de um projeto isolacionista, mesmo que cultural em razão de existência, que se comprova no cercamento do jardim em frente à futura Sala São Paulo.

 

Cabe ao docente, também, questionar a aceitação de tais propostas ante à sociedade. Não houve manifestações contrárias ao projeto higienista do governo do estado? Para tal, vale a leitura conjunta do trecho que segue:

 

o caráter estanque da Sala não é [...] apenas a resposta a um problema técnico de isolamento acústico dos ruídos e trepidações, mas uma ação deliberada de produzir isolamento social.”

 

WISNIK, Guilherme et al. Notas sobre a Sala o Paulo e a nova fronteira urbana de cultura. Pós, n. 9, jun. 2001. p. 15. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 263.

 

Ø  O docente deve questionar aos alunos a crítica de Wisnik ao projeto da Sala: havia isolamento social no projeto em voga? Qual o impacto de tal processo? O docente também deve refletir sobre o meio sob o qual ecoa a crítica: um ambiente universitário, notadamente o dos alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, no caso de Wisnik. Qual o verdadeiro impacto que uma crítica de alunos de universidade podem causar a um projeto de cunho governamental    entremeado    a    um    discurso    moral-cívico     de

 

ressurreão do Centro?

 

Ø  Ainda sobre tais reflexões, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

É inegável o impacto positivo que o Complexo Cultural Júlio Prestes e todo esse conjunto de obras, que representam um investimento de mais de uma centena de milhões de reais, causarão em benecio da recuperação do Centro. No entanto, dado o seu vulto, é imperioso que todos esses investimentos públicos não sejam pensados apenas da porta para dentro’ e que, quando tais obras sejam planejadas e executadas, estabeleça-se também uma ‘zona de interesse estratégico metropolitano’ para o entorno, com projetos de cunho urbanístico e incentivos especiais visando à maximização de seus benecios para a população da região e de toda a metrópole.

 

ALMEIDA, Marco Antonio de. A Júlio Prestes e a recuperação do Centro. Urbs, n. 10, jul./ago. 1999. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 265.

 

Ø  O docente deve questionar aos alunos sobre a questão da não negação de todo o projeto de reestruturação da OSESP e da construção de sua nova sede na região dos Campos Elíseos, mas sim o fato de que todo este processo, amalgamado sob a égide da ressurreão” do Centro, deveria estar ligado a projetos mais sólidos sobre a integração externo-interno, como se ve na aula 03.

 

O docente deve, por fim, deve questionar o papel dos músicos em meio a este processo: foram meros joguetes de um jogo político maior? Foram protagonistas na consolidação de um sonho maior para a OSESP? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

Mais do que avaliar a pertinência das posições estéticas, o sentido dos interesses fisiológicos conflitantes ou os conteúdos políticos e ideológicos em disputa, interessante notar como a orquestra estava submetida a pequenos jogos de poder, no ramerrão rasteiro da administração pública. Fica claro que a mobilização dos músicos, mesmo dos mais brilhantes, era necessária e operativa, mas insuficiente: sem apoio de figuras do escalão médio do governo, as  coisas  não  andavam.  Dada  a  precariedade  do  sistema  musical  no  país,  costuras  de

 

conveniência parecem ter sido uma constante ao longo da história da orquestra.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 132.

 

Ø  Cabe ao docente ressaltar, portanto, o papel dos músicos para que, em meio aos interesses e projetos do governo para a OSESP sob a visão da âncora do projeto da ressurreição” , houvesse alguma preocupação com os elementos necessários para uma nova sede de qualidade em termos musicais (acústica de qualidade, dentre outros).

Ø  Vale ressaltar, nesse sentido, as relações entre Orquestra e governo.

 

Afinal, trata-se da Orquestra Sinfônica do estado de São Paulo. A quem deve tocar a orquestra (seus projetos, programas e planejamentos): aos interesses do governo ou aos interesses da comunidade musical, sendo o estado apenas financiador de uma política cultural sua a serviço da comunidade e dos anseios dessa? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

[...] Em diversas vezes, variando na escolha das palavras, John Neschling afirmou: ‘A Osesp precisa de subsídio do Estado, mas sem estar ligada a governos que a fragilizam porque deixam à mercê das mudanças políticas’. Como obter apoio institucional e a maior parte de sua verba da administração estadual sem ‘ligar-se aos governos? [...]

 

O histórico da orquestra, [...], mostra de que maneira os rumos da orquestra dependeram de articulações no interior da administração estadual. Tampouco é possível entender os caminhos percorrido pela Osesp desde o final dos anos 1990 sem considerar a atuação por vezes coordenada, por outras em concorrência, e muitas vezes as duas coisas ao mesmo tempo

de quadros políticos” e cnicos” dos sucessivos governos em São Paulo. O fato de que um mesmo partido tenha se mantido no poder certamente contribuiu para a relativa estabilidade que a orquestra viveu. [...]  

 

Dizer que a administração estadual, como principal financiadora da orquestra, ‘dava o tom’, não esgota o assunto. Quando Neschling programou a Sinfonia Ressurreição para o concerto de abertura da Sala São Paulo, e advertiu todos os presentes que não aplaudissem, propôs simbolicamente que era a música que estava no comando non ducor duco [não sou

 

conduzido, conduzo], como diz o brasão da cidade.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 147; 156.

 

Ø  O docente deve, uma vez mais, apontar para o papel decisivo do maestro John Neschling para a formatação do projeto da nova OSESP” da forma mais independente possível do governo, aliada à aceitação e engajamento dos músicos, como já apontado. Neste sentido, o docente deve buscar refletir aos alunos o papel do não sou conduzido, conduzo: se a OSESP é a orquestra do estado de São Paulo, quem representa o estado ali? Os representantes do governo? O secrerio de cultura? O maestro? Os músicos? Ou o público? Os dados   apresentados   tendem   a   dizer   que   as   imbricações   dplanejamento convergem para a comunidade musical.

 

PARTE D: O RITUAL

 

O docente deve, nesta parte, refletir sobre a inauguração da Sala São Paulo, e09.07.1999. Por que esta data? Quem estava ali? O que representava aquele evento? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

A história da Sala São Paulo se inicia em 9 de julho de 1999, dia de sua inauguração oficial. Essa data de nascimento, no entanto, é precedida de uma série de acontecimentos históricos, fatos fortuitos e mesmo sorte, e seria possível iniciar a narrativa em diversos pontos: a partir de 1973, quando o maestro Eleazar de Carvalho assume a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e promove sua primeira reformulação; em 1938, data de inauguração do prédio, após anos de problemática construção; ou ainda, em algum momento da segunda metade do século XIX, quando a necessidade de linhas férreas para o escoamento de algodão e café a o Porto de Santos motivou o surgimento da Sorocabana, empresa responsável pela instalação do edifício.

O dia 9 de julho não havia sido escolhido por acaso, e era apenas mais um dos elementos a acentuar a simbologia daquela inauguração. No feriado que comemorava o início da Revolução Constitucionalista de 1932, quando o Paulo liderou um levante armado contra o governo de Gelio Vargas, a comunidade musical paulistana estava às voltas com a abertura da primeira sala dedicada a concertos sinfônicos do país. E, ao que tudo indicava, com parâmetros de qualidade aentão inéditos por aqui.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 10.

 

Ø  O docente deve questionar aos alunos as ltiplas origens da Sala São Paulo, a partir de elementos apontados ao longo do curso. Deve questionar: sua inauguração é mais um catulo numa longa história de sucessos e fracassos do edifício ou o início de uma nova fase, uma transfiguração? Vale ressaltar, ainda, o destaque que a autora dá às percepções do que ela chama de comunidade musical paulistana” sobre os eventos de inauguração da Sala, aludindo, uma vez mais, ao fato de ter-se essa como protagonista de cena, e não o governo, muito embora, como veremos, a noite de 09.07.1999 tenha sido dedicado aos políticos.

Ø  Sobre o questionamento acima proposto, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

Já antes da inauguração da Sala São Paulo os avanços da orquestra, com uma nova formação e uma temporada regular no [Theatro] São Pedro, eram notáveis. No dia 18 de junho, Arthur Nestrovski afirmava na Folha que a OSESP era ‘a melhor orquestra do Brasil’:

 

Há tanto tempo tanta gente falava tanto da nova OSESP, que qualquer crítico iria para o concerto com um atrás. Mas o crítico, mas uma vez, estava errado: não como não se render à evidência de que a OSESP é hoje, provavelmente, a melhor orquestra do país. [...]

 

Relembrando aquele momento, Nestrosvki diz que ‘ninguém tinha ideia de que a construção da Sala São Paulo pudesse se tornar o que se tornou, foi uma coisa espantosa. Mas, ao mesmo tempo, ele crê que ‘já na inauguração, não havia ninguém que não soubesse que ali havia um divisor de águas, As coisas tinham mudado de forma contundente.’”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). pp. 31 – 32.

 

Ø O docente deve questionar a percepção da Sala como ponto de inflexão tanto na trajetória histórica da OSESP quanto na cena musical paulistana (e nacional): quais fatores são determinantes para tal? A afirmação dos músicos, capitaneados pelo maestro Neschling ante ao governo do estado? A preocupação do governo do estado com a causa, ao toma-la como “âncorade uma causa maior? Ou ainda à “causa maior” que era a ressurreão” do centro, apoiada por setores da sociedade civil? As respostas devem convergir para a comunidade musical, como se comprova com a atitude de Arthur Nestrovski que, enquanto crítico musical para um jornal de porte como a Folha apontava para aviragem que a inauguração da Sala representaria e o grau de excencia atingido, nacionalmente, pela OSESP em meio ao seu processo de ressurreição.

Nesta parte, o docente deve questionar os elementos para a instalação de uma sala de concertos: o que é preciso para um lugar como esse? O que não pode faltar? O que, se de qualidade, pode ser seu diferencial? Sobre isso, o docente convida ao trecho que segue:

“armários para guarda de instrumentos individuais (tamanhos variados), com as respectivas caixas; armários para guarda de indumentária e pertences pessoais dos músicos; armários para guarda de instrumentos de propriedade da orquestra; armários para guarda do arquivo musical, incluídos também videoteca, CDteca, biblioteca [...] lockers para funcionários não artistas; espelhos de corpo inteiro, araras, bancadas, sofás, cadeiras, espelhos menores para camarins; pianos de armários para camarins e salas de ensaio; espelhos de corpo inteiro para áreas contíguas ao palco; cadeira para maquiagem, toalhas de banho e de rosto, secador de cabelos, máquina de lavar e secadora de roupas, ferro e mesa de passar roupas; máquina de costura; caixa de costura; copos, xícaras, bandejas, garrafas rmicas, potes para biscoitos para montagem do serviço de camarins [...] Projeto e aquisição de sistema de vídeo para sala de espera (público atrasado); aquisição de intercomunicadores volantes para indicadores de público, pessoal de segurança e técnicos de palco; Escolho de tema e gravação de sinal sonoro para aviso do público (início e intervalo de função); Seleção e contratação de empresas de segurança e limpeza, prevendo treinamento especializado para as equipes, tendo em vista as especificidades do edifício, de seu funcionamento e do público usuário.”

 

TONI, Claudia.Inauguração da Estação Julio Prestes, rol inicial de necessidades. 1998. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 244.

 

Ø  O docente deve apontar para a complexidade de equipamentos que exige uma sala de concertos, que vai desde uma sala de espera aos atrasados a o sinal sonoro de aviso ao público do início do concerto e do intervalo (atualmente, trecho da Alvorada da ópera Lo Schiavo, de Carlos Gomes). Deve-se questionar, então, por que o governo do estado comprou” uma causa tão complexa? Vale o trecho que segue:

 

A sofisticação das soluções, a beleza e a excelência técnica da Sala São Paulo contaminariam positivamente a Osesp. Tanto Tim Fox, da Cami, quanto Pedro Kranz, da agência Caecilia, afirmaram em entrevista que a melhor maneira de ‘vender’ a orquestra era falar da Sala. Solistas e regentes convidados também passaram a contribuir para a boa reputação internacional da orquestra, ao levarem relatos entusiasmados sobre a nova sede.

 

Mas nenhuma dessas sofisticadas soluções e características leia-se, as dimensõe‘mágicas’ de caixa de sapato; o forro inteiramente móvel e a acústica de ponta, com consultoria da Artec; a beleza Luís XVI do prédio dos anos 1930; o insólito de que fosse uma estação de trem se bem que indispensáveis para a realização cnica em nível de excelência a que se propunha a sala, seriam suficientes para a sustentação pública da iniciativa.

 

É pela promessa de revitalização do entorno degradado, principal gancho dos discursos sobre a importância social, política e econômica do projeto, que a Sala prestou seu maior serviço à orquestra [...].”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 254.

 

Ø  O docente deve finalizar com a reflexão de que o que leva o governo do estado a “comprar” a causa da nova sede da OSESP, de acordo com o autor, está muito além das peculiaridades da instalação da sede da orquestra na Estação Júlio Prestes, senão no epicentro da promessa de revitalização do entorno degradado.

 

O docente deve, neste trecho, comentar especificamente sobre o concerto de inauguração da Sala o Paulo em 09.07.1999: quem estava lá? Qual a mensagem que a orquestra quis transmitir? Sobre tal, convida-se para a leitura do trecho que segue:

 

Pouca gente escapou das vaias dos funcionários do Banespa, na entrada da EstaçãJúlio Prestes, sexta-feira, na inauguração da Sala São Paulo.

 

Os manifestantes se divertiam, com batucada e apitos, tanto são funcionários públicos com o emprego e o futuro garantidos. Só temem a privatização. Que virá. Bem feito. Aplausos só para poucos, como Raul Cortez e Marta e Eduardo Suplicy. Júlio Neves escapou, porque chegou com d. Paulo Evaristo Arns. Sobrou a para Plínio Marcos, que estava tão chique que não foi reconhecido...

A segurança do presidente deu bastante trabalho aos organizadores e chefes de protocolo. Esvaziaram todo o prédio, das 15h às 17h, para rastreamento, impedindo ensaios e preparativos. Carmo Sodré Mineiro teve de tirar as joias para passar. E uma senhora, com uma roupa cheia de botões de metal, fez a máquina enlouquecer. Depois de tanto rastreamento, deixaram-na passar...

Quem tinha convite ficou na plateia. Quem tinha credencial vermelha pôde subir ao andar dos camarotes. Mas para entrar no balcão nobre, transformado em camarote presidencial, era preciso uma amarela. O presidente e comitiva, o governador e seu secrerio. Ministros de Estado, governadores convidados, estavam todos lá. E, é claro, Wagner Ibrahim. Mesmo com a presença do casal presidencial, ficou óbvio para todos que a noite era de Mario Covas, muito aplaudido.

O maestro John Neschling fez um discurso inesperado, agradecendo ao governador Mario Covas pela nova sede sinfônica. No discurso, pediu ao público que desligasse os celulares e não aplaudisse nos intervalos. Não era um público de música erudita. Mas isso foi considerado um faux pas.

Depois do Hino Nacional, tocou a Sinfonia da Ressurreão, de Mahler, uma pa maravilhosa que aproveita tudo o que uma grande orquestra tem, mais solistas e coro. Muita gente achou que o programa foi mal escolhido.

Aquela plateia estava para ver o governador e o presidente. Preferia peças leves e curtas. No sábado, tocando a mesma obra para um público pagante, a orquestra e o maestro foram ovacionados.

Neschling mostrou que domina aquela orquestra. Dava gosto de ver. Finalmente, temos uma orquestra digna de Primeiro Mundo. O som da sala pareceu maravilhoso. Para os ouvidos treinados da turma da música erudita, entretanto, a acústica ainda não chegou no seu máximo.

Alguns reclamaram do som dos metais. É porque não tinham ouvido os metais durante o ensaio. Problemas ainda há. Tanto que, depois do primeiro movimento, o maestro reafinou a orquestra. Mas estão sendo resolvidos. E o púbico era unânime: embasbacado com a beleza da Sala São

Paulo.

 

Quem estava nos camarotes próximos ao presidencial pôde ver que muitos dos convidados de honra não resistiram aos dois primeiros movimentos da pa de Mahler. As cabeças caiam sobre o peito, no começo com relutância, depois com descaramento. Pelo menos uma esposa de ministro, uma das muitas primeiras-damas, e alguns secrerios de Estado ressonaram livremente. Outros esfregavam os olhos com insistência para resistir bravamente ao

sono.

 

Após a apresentação, o presidente e o governador foram levados a uma sala vip para cumprimentar o maestro. FHC e Ruth Cardoso, mais comitiva, saíram em seguida. Mas o governador desceu ao saguão, onde o público se deliciava com um coquetel oferecido pela família Fasano, e ficou um tempão recebendo cumprimentos e conversando.

Depois disso, e de esperar os carros por bastante tempo diante do teatro, o público invadiu os restaurantes. Os mais procurados foram o Fasano, o Massimo, o La Casserole e o Oriental. FHC e Ruth Cardoso foram levados por Mônica e José Serra para comer pizza aos pedos, num famoso restaurante da Granja Viana.”

 

GIOBBI, César. Um presente de Covas. O Estado de São Paulo, 12 jul. 1999. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 78 – 80.

 

Ø O docente deve iniciar as reflexões sobre o texto de Giobbi focalizando os discursos e camadas sociais presentes nele: a) Qual o significado da manifestação dos funcionários do Banespa? Pode-se dizer que a manifestão comprova o caráter elitista da festa da inauguração? b) Qual o papel do discurso de John Neschling ante aos presentes? Ele reforça o não sou conduzido, conduzo? A OSESP de fato “conduzia” o evento? c) Por que o público da inauguração não era público de música erudita”? Qual o significado disso? A Sala estaria ali para os políticos ou para a comunidade musical? d) Qual o papel da música na inauguração da Sala o Paulo se a plateia lá estava para ver o governador e o presidente, de acordo com articulista? Para que serve a música? O fato dos que estavam no camarote presidencial terem dormido durante a execução da Sinfonia Ressurreição pode evidenciar o descaso com a música por parte do poder público? Mais: pode simbolizar efetivamente que o papel do estado naquela obra estava essencialmente ligado ao projeto de revitalização do Centro e não com a revitalização da OSESP em si? e) A ida do público aos referidos restaurantes após o concerto pode nos dizer o que sobre o público daquela apresentação? Havia uma representação da comunidade musical? Havia uma representação popular? povo” na comunidade musical? Aprofundaremos mais estes estudos na próxima aula. De momento, o docente convida à leitura do trecho que segue:

A crença no poder de elevação espiritual por meio da música clássica certamente serviu aos propósitos de ões que visavam ‘limpar’ o bairro. Foi a afinação entre discursos sobre cultura e sobre urbanismo que deu força ao aparato ideológico de sustentação do projeto, garantindo ampla e entusiasmada adesão da opinião pública. Isso explica em parte como uma obra de vulto pôde ser entregue em prazo exíguo e durante uma gestão marcada pela sobriedade orçamentária.

Mas a despeito da onipresença do tema da ressurreão’ do Centro nos discursos sobre a criação da Sala São Paulo, não houve um plano de ões governamentais que pusesse em marcha as muitas possibilidades aventadas para levar adiante uma política urbanística e que provocassem mudanças profundas na região nem tampouco o estabelecimento de um programa de atuação para a orquestra que visasse seu entorno.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 264.

• O docente convida para o exercício de escuta que segue:

 

Ø   Exercício de escuta III: Gustav MAHLER. Sinfonia nº 2 em Dó menor – Ressurreição: V. In Tempo des Scherzos. Wild herausfarhrend. (1888 – 1894).

a)  Disponível via  Spotify: https://open.spotify.com/playlist/7l6eJR4tmDMRSX6E4cKyZY. Leonard Bernstein rege a Filarmônica de Nova York interpretando Sinfonia 2 em Dó menor Ressurreição, de Gustav Mahler. Faixa

 

5. Acesso em 04.11.2019.

 

b) Disponível via YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=r- rxzTZGO9o&t=5104s. Marin Alsop rege a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo interpretando a Sinfonia 2 em menor – Ressurreição, de Gustav Mahler. Início do quinto movimento à 1 hora, 4 minutos e 48 segundos do vídeo. Acesso em 04.11.2019. Observação: o docente recomenda que os alunos acompanham a letra abaixo na seção coral introduzida nos minutos finais do exercício de escuta. Encontra-se disponibilizado a versão original, cantada em alemão, e a tradução para o português:

 

 

AUFERSTEH´N . Texto de Friedrich Gottlieb Klopstock.

 

 

RESSURREIÇÃO

 

 

Ressuscitar, sim, tu o farás!

 

Após breve descanso, do pó ressuscitarás! Vida imortal a ti trará

Aquele que te chamar.

 

 

Para reflorescer, será semeado! O senhor da colheita caminha

e a nós, agora mortos, aos feixes nos recolher!

 

Acredite, meu coração, acredite: Nada perderás!

A ti pertence o que desejas! É teu, tudo o que amas, Tudo que conquistas! Acredite,

não nascestes em vão!

 

Tampouco em vão a vida e a dor vivestes. Morre o que nasce!

 

AUFERSTEH’N

 

 

 

Aufersteh’n, ja Aufestehn wirst du mein Staub, nach kurzer Ruh! Unsterblich Leben! Unsterblich Leben wird, der dich rief, dir geben.

 

 

Wieder aufzublün, wirst du gesä’t! 

Der Herr der Ernt geht und sammelt Garben uns ein, die starben! 

 

O glaube, mein Herz! O glaube: 

es geht dir nichts verlores! 

Dein ist, ja Dein, was du gesehnt, Dein, was du geliebt!

was du gestritten! O glaube:

du warst nicht umsonst geboren! Hast nicht umsonst gelebt, gelitten!

Was entstanden ist, das muss vergehen!

 

E renasce o que morre. Cesse o tremor!

Prepara-te para a vida!

 

Oh dor, que a tudo penetra! De ti consegui escapar!

Oh morte, que a tudo domina! Agora tu estás subjugada! 

 

Com as asas que conquistei, no esforço febril de amar, desaparecerei na luz,

jamais vista por algum olhar!

 

Com as asas que conquistei, Desaparecerei.

Morrer para viver!

 

Ressuscitar, sim! Meu coração, em um instante ressuscitarás!

O que na luta superas 

a Deus te conduzirá.

 

Was vergangen, auferstehen! Hör auf zu beben!

Bereite dich zu leben!

 

O Schmerz, du Alldurch dringender! Dir bin ich enturgen!

O Tod! Du Allbezwingender! Nun bist Du bezwungen! 

 

Mit Flügeln, die ich mir errugen, in heißem Liebesstreben

werd‘ ich entschweben zum Licht, zu dem kein Aug‘ gedrugen! 

 

Mit Flügeln, die ich mir errugen, werde ich entschweben!

Sterben werd‘ ich, um zu leben“

 

 

Aufestehn, ja auferstehn wirst du,

 

mein Herz, in einem Nu! Was du geschlagen,

zu Gott wird es dich tragen!

 

 

Poemas da Sinfonia 2 em Menor Ressurreão, de Gustav Mahler. Tradução de Marcos Branda Lacerda, publicada no livreto distribuído na Sala São Paulo em julho de 1999 e reproduzida no encarte do CD não comercial com a Sinfonia nº2. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 340 – 341.

Ø  Feito o exercício de escuta, o docente deve buscar refletir sobre o significado da ressurreição” na obra de Mahler, bem como o diálogo que essa exerce com o imaginário de ressurreição” do Centro e da OSESP em voga quando da inauguração da Sala São Paulo. Para tal, convida à leitura do trecho que segue:

 

[...] Descreve esse movimento da seguinte maneira: ‘Começa com um grito do herói falecido. Um tremor percorre a terra. Escutai o redobrar dos tímpanos. Ressoa a Grande Chamada, abrem-se as tumbas, e todas de dentes. Todos acorrem ao desfile gigantesco, os mendigos e os ricos, o povo simples e os reis. Todos eles com a mesma ansiedade gritam de medo, pois ninguém é justo diante de Deus. Entretanto a Grande Chamada continua se fazendo ouvir desde o outro mundo, desde o Além. Por último, quando o tremendo tumulto está apaziguado, sozinha, saindo da última sepultura, ressoa a voz da ave da morte. Nada do que todos temiam acontecerá: não have eleitos nem condenados. Ninguém é bom, ninguém é mau. Não há juiz nem juízo final. Suave e simples, o coro começa a cantar: ´Levantai-vos, sim, levantai-vos...`. Nesse momento pode-se captar a melodia apenas audível de um rouxinol, último eco trêmulo da vida terrena. Ressuscitareis, certamente ressuscitareis, o amor infinito ilumina nosso ser. Sabemos e somos.’”

 

LIBERMAN, Arnoldo. Gustav Mahler Um coração angustiado. Iª ed.   Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. p. 133.

 

Ø  O docente deve finalizar as reflexões pensando sobre a questão da redenção que Mahler explora no final de sua Sinfonia junto ao poema de Klopstock: a ressurreão” é transpassada para o quê? O ser humano está desfigurado e se reinventa? Estava o Centro e a OSESP desfigurados e agora efetivamente se reinventaram? É possível sentir essa sensação ouvindo a música de Mahler? Finaliza com a questão que deve ser ponto-chave para a terceira aula: após o 09.07.1999, foi o discurso da Ressurreição de Mahler que continuou a dar o tom, como se todos estivessem ainda sob o efeito cartico do que haviam ouvido?

 

C. AULA 03: DESAFIOS EM ABERTO: UM FUTURO URBANO E MUSICAL PARA A SALA

PARTE A: O FRACASSO DA RESSURREIÇÃO

 

Nesta parte, o docente deve apontar para o caminho percorrido pelo discurso de ressurreão do centro após a inauguração da Sala e nos momentos que se seguiram. O centro efetivamente ressuscitou? Se sim, os paradigmas apresentados na aula passada foram cumpridos? Se não, por que fracassou? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

A direção geral da aposta da administração estadual, ratificada pela AVC [Associação Viva o Centro], era a gentrificação da região central da cidade. O conceito cuja conotação de classe é menos explícita em português do que no original inglês (“gentry, ou pequena nobreza) foi pauta de longos e acalorados debates entre urbanistas, antropólogos e demais estudiosos da cidade. Para ficar com uma definição abrangente, tomo a de Neil Smith, que entende a gentrificação como ‘uma aliança concentrada e sistemática do urbanismo público e do capital privado e público’ que implica no deslocamento dos moradores das classes populares dos centros.’ [...]

Hoje parece claro que o principal fator a dividir linhagens no pensamento urbanístico da época era o reconhecimento da legitimidade e da relevância dos movimentos por habitação. Em sua tese de doutorado, João Whitaker Ferreira questiona o fato de que os recursos aplicados pelo estado tenham sido sobretudo para novos centros culturais de grande porte, como a Pinacoteca do Estado e a Sala São Paulo, sem que o governo tenha oferecido respostas minimamente satisfatórias às reinvindicões dos movimentos de cortiços. E, em segundo lugar, aponta a incompetência em atingir seus objetivos gentrificadores, de resto neles mesmo criticáveis:

Todos esses esfoos vêm se mostrando insuficientes para promover uma ‘volta do interesse do capital para a região, o que resulta em uma clara inversão de prioridades nas políticas públicas: milhões são gastos para promover arevitalização” de uma área que não consegue abrir seu espo na competição com as outras frentes imobilrias’ da cidade, em detrimento de investimentos urbanos de ordem social significativamente mais prementes.’ (FERREIRA, João Sette Whitaker. São Paulo: o mito da cidade-global. Tese (Doutorado) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2003. p. 271). 

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 268 – 269.

Ø  O docente deve trazer à tona, junto aos alunos, as reflexões sobre a ideia de gentrificação, apontada no texto: ela realmente ocorreu? Quem foi substituído por quem? O mero uso de veículos culturais como ancoragem do processo garante eficácia a ele? Como lidar com os que estavam e os que deveriam vir para o Centro no lugar dos antigos moradores? As respostas devem convergir não apenas para a confirmação  da  ocorrência  da  gentrificação   solidificada  pelos argumentos do texto como pelo fato de que houve uma defasagem na substituição dos atores do processo no caso da Sala São Paulo: ficaram os usuários de entorpecentes, por exemplo, mas chegou o público, de classe mais alta, da Sala.13 Como entender o convívio entre tais mundos? Sobre tal, o docente convida à leitura do trecho que segue:

Se a relação da orquestra com outros agentes do mundo da música é no mais das vezes hierarquizada e superficial, seu insulamento na Sala São Paulo constitui uma declaração da falência do projeto de transformação do entorno, amplamente alardeado no final dos anos 1990.

A instalação de catracas e o fechamento das principais portas de acesso à Sala na praça Júlio Prestes são os sinais mais visíveis desse insulamento. De resto, não se trata de uma exclusividade desta orquestra: basta pensar no Theatro Municipal, cujas portas laterais permanecem fechadas há anos. Ao longo da primeira década do novo século, os governos estaduais e municipais seguiram apostando na ideia desconcertada de âncoras culturais para a revitalização do Centro e optando por políticas de enfrentamento das populações encontriçadas, estabelecendo relações cada vez mais conflituosas com os movimentos urbanos de luta por moradia.

Entre os muitos casos de desocupação violenta se destaca o do Edifício Prestes Maia. Abandonado no início dos anos 1980, o prédio foi ocupado pelo MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro) em novembro de 2002 e chegou a abrigar 468 famílias (aproximadamente 1.700 pessoas), tornando-se, à época, a maior ocupação vertical da América Latina. Em junho de 2007, a polícia executou o mandato de reintegração de posse, retirando os moradores à força. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) ofereceu a 150 famílias que se mudassem para um empreendimento social em Itaquera, na Zona Leste. Outras 150 famílias aceitaram receber a bolsa-aluguel da prefeitura por seis meses, renováveis por mais seis. Após a desocupação, o imóvel ficou um ano e meio vazio, até ser reocupado em meados de 2009.

Outro exemplo gritante é a desocupação, em 2007, e posterior demolão, em 2010, do antigo terminal rodovrio, para dar lugar ao Complexo Cultural Luz, sede da São Paulo

 

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13. Para informações mais detalhadas, além da já apresentada tese de Doutorado de João Sette Whitaker Ferreira, também vale KARA JOSÉ, Beatriz. Políticas culturais e necios urbanos: a instrumentalização da cultura na revalorização do centro de São Paulo (1975 2000). São Paulo: Annablume, 2007.

 

Companhia de Dança. Anunciado em 2009, o projeto foi abandonado em 2015, após gastos da ordem de R$ 188 milhões. A área segue a hoje vazia, contribuindo para a degradação do bairro que pretendia revitalizar’. 

 

Igualmente frustrado foi o projeto Nova Luz, na gestão do prefeito Gilberto Kassab. O projeto previa a desapropriação e a demolão de vários imóveis na região da chamada cracolândia e, como destaca Guilherme Wisnik, propunha entregar o bairro inteiramente para o mercado imobilrio, sem nenhum regulamento pela prefeitura, rifando a ideia de uma política social e urbanística de interesse coletivo. Em outras palavras, [a prefeitura] terceiriza a expulsão dos moradores dos inúmeros cortiços e ocupações de sem-teto da região, evitando o desgaste decorrente desses enfrentamentos.’ (WISNIK, Guilherme. Estado Crítico: à deriva nas cidades. São Paulo: Publifolha. 2009. p. 54.)

A negociação com os proprietários de imóveis na região e com a Associação dos Comerciantes da Rua Santa Ifigênia não prosperou, e o projeto da Nova Luz foi engavetado. Antes disso, a prefeitura antecipou a demolão de dois quarteirões (entre as ruas Mauá, dos Protestantes e General Couto de Magalhães). Nada foi construído no lugar desde então, e a presença dos terrenos baldios só agravou os problemas do bairro.

Uma reversão dessas políticas parecer ter sido iniciada recentemente. No âmbito do município, a gestão de Fernando Haddad mudou o paradigma do enfrentamento da questão dos usuários de crack com a implementação do programa Braços Abertos, que se baseia em uma política de redução de danos.

A administração municipal também passou a investir em programas de moradia social no Centro. Em outubro de 2015, anunciou a compra do Edifício Prestes Maia, para sua conversão em moradia popular – uma ação de forte conotação simbólica.

No âmbito da administração estadual, a grande novidade está no anúncio da construção de um ‘megacondomínio no terreno da antiga rodoviária da Luz, ao lado da praça Júlio prestes. Segundo o projeto da Secretaria do Estado da Habitação, serão construídos 3.600 apartamentos

dos quais 70% serão habitões de interesse social; os outros 30% serão para o mercado popular, para famílias com renda de até dez sarios.

Um projeto que prevê a transformação do piso térreo do estacionamento da EJP em parque público, com a instalação de um novo acesso à estação Luz do metrô, foi recentemente apresentado pela Fundação Osesp à Secretaria Estadual de Transportes. Também está em estudos, ainda preliminares, a construção de uma concha acústica na Praça Júlio Prestes, para realização de apresentações musicais da orquestra e dos demais corpos estáveis ligados à Secretaria de Estado da Cultura, entre outras.

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 299 – 305.

Ø O docente deve destacar, em suas reflexões sobre o texto, o descompasso existente entre realidade e políticas públicas, ao menos até a gestão de Fernando Haddad. Como dimensionar programas governamentais que colocam em voga, mais uma vez, a substituição dos atores em cena por outros não protagonistas e alheios? Cabe ao docente, também, questionar: por que a insistência em não dialogar com os atores mais prejudicados da cena e a escolha quase que constante pela condenação desses? Qual o papel das ões da gestão de Fernando Haddad nesse sentido? Não obstante: tais políticas – inegavelmente inovadoras geraram resultados contínuos efetivos que perduram até a atualidade na região? Conseguiu-se resolver o problema da Cracolândia e suas imbricações com o ambiente estético-social do entorno da Sala São Paulo? Basta uma visita à região que se comprovará que não.14 15

 

O docente deve, também, questionar o papel da OSESP (desde 2005 gerida pela Fundação OSESP como veremos na parte C desta aula), no processo de ressurreão” do Centro, afinal, para o governo do estado de São Paulo, seriam ela e sua sede âncoras de um projeto maior de renovar um ambiente degradado. Qual o papel da OSESP nesse processo?

Deve a Orquestra se envolver em temas político-sociais ligados ao seu entorno ou manter-se

 

 

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14. Para maiores informações, vale a reportagem que segue, de 30 de agosto de 2019 (acesso em 05.11.2019):

 

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/08/cerco-a-cracolandia-no-centro-de-sp-recrudesce.shtml

 

15. Vale ao docente, também, apontar a violenta alteração nos paradigmas de políticas públicas acerca de tal temática na gestão de João Doria na Prefeitura de São Paulo (2016 - 04/2017), marcadas pelo enfrentamento da questão como uma guerra, com amplo discurso higienista, embasado no projeto de tentativa de internação compulsória dos usuários que estivessem na região o que mostra a continuidade da dificuldade de acerto em medidas públicas capazes de resolverem efetivamente a questão. Para maiores informações sobre a política de João Doria ante a tal temática, ver https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/doria-pede-a-justica-internacao- compulsoria-de-usuarios-de-drogas.ghtml. Acesso em 06.11.2019.

 

restrita ao ambiente musical (com as devidas entonações político-sociais que esse permite, como veremos na parte D desta aula)? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

Ao mesmo tempo, os problemas do bairro da Luz, notadamente o drama da venda e consumo de crack, escapam à alçada da orquestra.

 

‘A questão urbana tem que ser tratada sistematicamente; a vida é ltipla, não é apenas cultural’, afirma Marcelo Lopes [diretor executivo da OSESP]. ‘A Salao Paulo é um ativo importante para a música e para a cultura, mas ela não pode ter o papel de resolver as questões sociais que o Brasil tem, completa.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). pp. 24 – 25.

 

Ø  O docente deve questionar o ponto da Sala São Paulo não ter o papel de resolver as questões sociais do Brasil. Como veremos adiante, existem projetos sociais na Sala, como a Academia da OSESP. O docente deve refletir junto aos alunos a pauta de ter uma preocupação social” e a de uma resolução das questões sociais. Qual o melhor caminho a ser adotado por uma instituição como a OSESP e a Sala São Paulo? Sobre isso, o docente convida, como conclusão, à leitura do trecho que segue:

 

Os concertos semanais da Osesp não produzem apenas experiências de transformação pessoal pela música, com viagens vertiginosas pelas harmonias cada vez mais dissonantes da grande tradição sinfônica. Há também uma dissonância nas relações criadas a partir da grande intervenção urbana que foi a Sala São Paulo. A reforma da EJP se anunciou como parte de uma

articulação concertada’, como queriam os ideólogos do planejamento urbano estratégico. No entanto, a ação do governo do estado limitou-se quase unicamente à instalação de grandes equipamentos culturais, apoiando-se na expectativa de que estes pudessem funcionar como

âncoras’ de transformação.

Dimensões mais abrangentes e integradoras, articulando educação musical, aproveitamento democtico do espo público e enfrentamento da demanda popular por habitação nas regiões centrais, viram-se relegadas a segundo plano, quando não totalmente preteridas. Não se trata de atribuir aos músicos e demais líderes da Osesp a responsabilidade por tudo o que foi discutido acima, Desafios de monta se colocavam para a orquestra, no sentido da conquista de autonomia, excelência e perenidade, e a maneira encontrada para enfrenta-los foi uma espécie de blindagem, que mostrou-se eficaz para a consolidação e manutenção do grupo.

 

Enquanto a Osesp e a Sala São Paulo se consolidavam como instituições de referência para a música sinfônica, no Brasil e no mundo, o cenário de desolação na região da Luz, com áreas cada vez maiores sendo ocupadas por usuários de crack, dava a dimensão do desconcerto entre as experiências dentro e fora da sala de espetáculos.”

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 296 – 297.

PARTE B: O SUCESSO DA RESSURREIÇÃO

 

• Nesta parte, o docente deve trabalhar a questão do desenvolvimento do corpo musical da OSESP mediante a comunidade nacional e internacional, focalizando entender como se esse processo e quem se beneficia dele. Inicia-se com a leitura do trecho que segue:

Mais do que uma boa surpresa, a resposta do público de forma tão entusiástica, menos de seis meses após o início das atividades da OSESP na Sala São Paulo, era um sinal de que coisas muito maiores estavam por vir. E de que a vida musical da cidade nunca mais seria a mesma.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 35.

 

Ø  O docente deve refletir, mais uma vez, o papel decisivo da sociedade na afirmação e renovão do processo de construção da nova OSESP. Como seria possível uma orquestra, como dito, que se percebia que não seria como antes, sem um público para tocar? (Falaremos mais sobre o público da Sala São Paulo na parte C desta aula).

 

Neste ponto, o docente deve refletir sobre os avanços estruturais e sociais da OSESP, massificados pela gestão da instituição pela Fundação OSESP, desde 2005 e pela criação da Academia da OSESP. O que representam ambas ões no pensamento estruturado da Orquestra com preocupação social” (e não solucionadora social)? Sobre isso, vale o trecho que segue:

 

Pensada a partir da década de 1990 no Brasil, a Organização Social (OS) é um tipo de associação privada, com personalidade jurídica e sem fins lucrativos, que recebe subvenção do Estado para prestar serviços de interesse público. No Estado de São Paulo, as OSs firmaram os primeiros contratos com o governo na área da saúde, chegando em seguida à área cultural.

 

A organização social Fundação OSESP foi instituída em 22 de junho de 2005 e, em 1º de novembro do mesmo ano, firmou contrato de gestão com o governo do Estado de São Paulo. Segundo seus estatutos, a Fundação tem por objetivos apoiar, incentivar, assistir, desenvolver e promover a cultura, a educação e a assistência social, com ênfase na música de concerto, instrumental e vocal.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 36.

 

Ø  O docente deve questionar aos alunos o que representa a passagem da administração das mãos do governo e todo seu discurso da ressurreão para uma Organização Social, independente de tais vínculos (em tese). Sobre isso, convida à leitura do trecho que segue:

Depois da inauguração da Sala São Paulo, a criação da Fundação Osesp foi a principal conquista do projeto de estabilidade da orquestra. A começar pelo fato de oferecer pela primeira vez uma situação jurídica adequada e estável à orquestra, o que permitiu não a contratação dos músicos em regime celetista como o estabelecimento de práticas de gestão mais ágeis e eficientes. Também ampliou significativamente a verba anual da orquestra, tanto pela elevação da dotação pública anual como pela alta capacidade de arrecadação que a organização passou a ter na iniciativa privada.

O incremento da verba e a otimização dos recursos graças à gestão mais racional permitiu ainda maior intensificação das atividades da orquestra concertos, turnês, encomendas, gravações, edições e programas educacionais, incluindo a criação da Academia de Música e o Coro Acadêmico da Osesp.

 

E o que é talvez mais importante: a criação da Fundação Osesp garantiu um nível maior de autonomia da orquestra com relação aos ciclos políticos. Não que os conflitos e tensões com a administração estadual tenham desaparecido, mas os contratos de gestão são transparentes e tem duração de cinco anos, portanto vencendo sempre de maneira desencontrada dos ciclos eleitorais. Uma ressalva: a manutenção do mesmo partido no poder desde 1994 garantiu ao grupo à frente da Fundação Osesp, com ele alinhado, uma dose suplementar de estabilidade. É preciso aguardar alguma alternância no comando do governo do estado para que fiquem mais claros os termos dessa autonomia conquistada.

Neschling muitas vezes afirmou que a Osesp precisava se tornar ‘tão grande que não pudesse mais deixar de existir, um pouco à maneira das empresas consideradas too big to fail. A solução encontrada para garantir relativa autonomia ao projeto da orquestra foi ter uma sede imponente e construir uma fundação que opera com orçamento muito elevado e com certa autonomia financeira, liderada por um grupo de enorme poder político e econômico de que Fernando Henrique [Cardoso], líder que funciona como denominador comum para as várias dissidências dentro do partido que detém o poder no estado de São Paulo desde 1994, é a imagem melhor.

Parece claro que, com a inauguração da Sala São Paulo e a criação da Fundação Osesp, a missão de conferir estabilidade, autonomia e eficiência à orquestra foi bem sucedida. Uma evidência disso é o fato de que o afastamento de John Neschling, na virada de 2008 para 2009, não tenha implicado em maior desestabilização para o projeto.

Nos anos que se seguiram à saída do maestro, substituído por Yan Pascal Tortelier (e a partir de 2012, Marin Alsop [e, a partir de 2020 com Thierry Fischer]) como regente titular e Arthur Nestrovski como diretor artístico, a orquestra deu continuidade às temporadas de assinaturas, com programação intensa e convidados de renome, reforçou sua projeção internacional, com turnês e gravões, ampliou os programas educacionais, enfim, não sofreu maior abalo e continuou crescendo, Seguiu recebendo dotação anual do governo do estado, valor que compõe a maior parte de suas receitas (cerca de 60%, sendo o restante composto por doões, verbas de projetos de leis de incentivo, receitas com venda de ingressos e locação da Sala, patrocínio, doões, entre outros). Nesse sentido, não surpreende que tenha sido mantido o nome de Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em detrimento do plano de Neschling de rebatizá-la como Orquestra de São Paulo.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 299 – 305.

 

 

Ø  O docente deve, em suas reflexões junto aos alunos, explorar as consequências advindas com a criação da Fundação e a noção de uma OSESP too big to fail: como fica a questão da captação de recursos se o governo não é mais o protagonista na administração? Quais projetos viram prioridade a partir da chegada da Fundação? Por fim, qual tamanho toma a OSESP a partir de então? Neste sentido, vale ressaltar a questão da necessidade de uma maturidade, tanto da comunidade musical (maximizado pela Fundação) quanto, especialmente, do governo do estado, na gerência das finanças da Orquestra, o que passa por entendimentos que exigem uma dissociação clara entre ambas a Orquestra não pode ficar refém, por exemplo, dos gostos musicais pessoais do governador e/ou do secretário de cultura ou tão pouco deixar de apresentar peças com conteúdo que gere polêmicas” pelos temas abordado (a exemplo das sinfonias de Dmitri Shostakovich, especialmente as de número 5, 9 e

10, fortemente influenciadas pelo ambiente político repressivo da União Soviética, terra natal do compositor16.) Sobre o ponto da Orquestra chegar a um patamar too big to fail, o docente deve apontar para a ancoragem social que a nova OSESP trouxe, como já evidenciado anteriormente, aliada ao alto grau dos músicos, que, além de terem passado por novos processos de seleção, estavam sob a batuta de um maestro de renome à época, como John Neschling. Não se pode, entretanto, perder o foco crucial de que, não obstante a ancoragem social e o nível cnico da Orquestra, a inauguração da Sala é ponto de inflexão em tal processo, pois dilata suas estruturas a ponto de ganhar dimenes incontornáveis uma orquestra que ganha uma sede com uma qualidade musical como a da Sala São Paulo não conseguiria ser desmontada facilmente.

Ø  Ainda sobre a articulação interna para inovações com caráter de preocupão social, o docentconvida à leitura do trecho que segue:

 

 

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16. Sobre a obra de Dmitri Shostakovich, ver COELHO, Lauro Machado. Shostakóvich: vida, música, tempo. Iª ed São Paulo: Perspectiva, 2006; ROSS, Alex. A arte do medo: música na Rússia de Stálin. IN:                     . O Resto é Ruído: Escutando o Século XX. 1ª ed. – São Paulo: Companhia das Letras, 2009. pp. 233 279.

 

 

 

Penso na criação da Academia da Osesp. Esta Academia, formada pelos principais músicos solistas da Osesp, atuará como centro de formação de jovens músicos de orquestra. Estes entrarão eventualmente na orquestra na qualidade de estagrios, e tocarão nos concertos de música de câmara, sempre monitorados pelos solistas da Osesp.”

NESCHLING, John. Fax enviado em out. 1996. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 281.

Uma versão bastante reduzida do projeto seria criada apenas em 2006, com o nome de Academia da Osesp, atendendo vinte músicos em nível de especializão, muitos dos quais depois passam a integrar a própria orquestra ou outros grupos sinfônicos de prestígio no Brasil e no exterior. No final, o formado da Academia da Osesp seria mesmo modelado na Academia da Filarmônica de Berlim, como antecipara Neschling no faz de 1996.

Sem prejuízo da importância da iniciativa, é preciso reconhecer que algumas das versões intermediárias do projeto eram mais ambiciosas não apenas na quantidade de alunos ou no escopo da formação mas no fato de prever uma ambiciosa reforma para a sede da escola com anfiteatro, estúdios, café possivelmente intensificando a circulação de pessoas jovens e de origens sociais variadas no bairro, não de noite mas também durante o dia. Não se trata de atribuir à escola de música a capacidade de gerar, sozinha, grande transformação urbana. Afinal, a sede principal da ULM (hoje Emesp) foi instalada no prédio do antigo Hotel Piratininga, no largo General Osório, bem em frente à EJP, em 2001 sem que isso tenha gerado maior impacto na região.

O pulo do gato estaria no efeito exponencial que a integração das atividades dos dois prédios poderia promover: escola de música e sede da orquestra, uma ao lado da outra e com uma grande área (pública) de convivência a uni-las, no espo que veio a se tornar o pavimento térreo do estacionamento da EJP.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 289.

Ø  Sobre a Academia da OSESP o docente deve buscar as seguintes reflexões: quais seus impactos na comunidade musical paulistana? Qual marca ela deixa na imagem da OSESP sobre a prática educacional? Por fim: por que se inviabilizou um projeto maior para mesma? As respostas devem convergir para dois pontos: a) a Academia representa uma ação da OSESP em formar novos músicos, profissionais do futuro, deixando também um legado da atual geração para a próxima e criando um ciclo de formação que impede um vácuo na existência de músicos de qualidade (pensando unicamente na Academia da OSESP e excluindo as demais escolas e academias de música existentes em o Paulo e espalhadas pelo Brasil); b) Vale lembrar que o ponto pivotal da nova OSESP” na região de Campos Elíseos, era sua revitalização, tendo a música como elemento inspirador, elevador espiritualmente a atrativo para que ocorresse um retorno da sociedade à esta área. Se com a Sala, o retorno ocorria, por que mais gastos na mesma área? Mais: por que mais gastos para formação educacional e não para cultura (como foi com a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa)? Cabe ressaltar que a existência da Fundação OSESP não inviabilizou o projeto da Academia da OSESP, porém a não existência de uma ancoragem de sua importância ante ao governo do estado pode ter diminuído as expectativas por trás do que essa viria a ser e, em partes, é a hoje.

Ø  Vale, por fim, mais uma citação a um projeto de preocupação social” da OSESP: o Descubra a Orquestra. Sobre ele, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

O programa Descubra a Orquestra na Sala São Paulo é um projeto de iniciação musical dedicado a alunos e professores de escolas públicas, particulares e instituições beneficentes.

 

Composto pelas temáticas Formação de Professores, Formação de Público e Gincana Musical, o programa oferece diversas ações educativo-musicais, com o intuito de ampliar e fortalecer o desenvolvimento cultural e musical de alunos e professores inscritos.

 

Trecho retirado de: http://www.osesp.art.br/paginadinamica.aspx?pagina=descubraaorquestra. Acesso em 05.11.2019.

 

Ø  O docente deve destacar o papel crucial da formação de professores e de público, sob a égide da democratização da cultura da música de concerto, auxiliando na desmistificação de alguns conceitos (embora muitos ainda persistam, como veremos na parte C desta aula).

 

OBSERVAÇÃO: dentre as várias ões da Fundação OSESP e da OSESP, também merece secitada a Encomenda OSESP: peças sinfônicas que a Orquestra encomenda a compositorecontemponeos para serem estreadas pela Orquestra em seus concertos regulares de temporada. Por questões programáticas, porém, abordarei este tema na parte C desta aula, com a escuta da abertura sinfônica Cabinda Nós Somos Pretos, de Paulo Costa Lima, encomenda OSESP de 2015.

 

PARTE C: DISSECANDO A OSESP: INOVÕES E ARCAISMOS

 

O docente deverá, nesta parte, se atentar para a composição da OSESP: seu público e sua estrutura musical. Iniciaremos pelo público: quem frequenta os concertos da OSESP? Os concertos são acessíveis? Pode-se dizer que segregação social? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

‘O entorno do bairro ainda não se renovou totalmente e o ideal de acesso por transporte público continua no horizonte dos futuros deseveis. Assim, a melhoria dos acessos e guarda de veículos privados não pode ser descartada. Algumas obras previstas desde o projeto inicial serão finalmente realizadas, como o paisagismo da praça posterior voltada para a linha férrea’ (MARCO, Anita Regina Di; ZEIN, Ruth Verde. Sala São Paulo: a arquitetura da música. São Paulo, Alter Market, 2007)

Nas entrelinhas, encontra-se mais uma vez a perspectiva sanitarista e gentrificadora que antevê um horizonte de renovação total’ do entorno. Quanto à suposta ausência de transporte público, é difícil subscrever. Em 1999, como em 2007, e a hoje, a própria EJP continuava (e continua) recebendo diariamente trens da linha 8 Diamante da CPTM (os dois pontos anteriores são Palmeiras/Barra Funda e Lapa). A estação Luz do metrô fica a quinhentos metros da EJP, e várias linhas de ônibus servem a Avenida Duque de Caxias, com parada a poucos metros da entrada da Sala.

Na pesquisa realizada pelo instituto de Eugênia Paesani, a proximidade do metrô sequer aparece na lista de fatores que ‘podem ter influenciado’ na decisão em se fazer assinatura da Osesp. Já a facilidade em estacionar’, item incluído na pesquisa de razões estimuladas, é vista como ‘muito importante’ para 79% dos entrevistados, perdendo apenas para a ‘qualidade da orquestra (98%), a ‘qualidade acústica da Sala São Paulo’ (91%) e a ‘conveniência de ter ingressos antecipados(89%) – e mais importante que o ‘preço da assinatura(71%).

Paesani também registrou que algumas pessoas reclamam ‘de terem de passar por zonas perigosas à noite, sobretudo quando saem do concerto.’ [...]

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 294 – 297.

 

 

Ø  O docente deve, na tentativa de trar um perfil do público que assiste aos concertos da OSESP, tentar analisar os dados apresentados pela pesquisa que constam no texto e realizar as seguintes reflexões: por que uma pessoa vê como muito importante” a necessidade de um estacionamento para ir ao concerto? Vale citar, por exemplo, que o Theatro Municipal de São Paulo, outro palco da cultura sinfônica paulistana, não possui estacionamento próprio, contando, às vezes, com serviço de vallet, o que não impede o público de frequentar as apresentões ocorridas. O docente deve apontar que é claro que há uma preocupação com a qualidade musical e que esta é superior à outras, mas que essas outras também existem e devem ser questionadas;

Ø  Sobre a questão do medo de passar por algumas áreas para se chegar à Sala, vale a leitura do trecho que segue:

[...] A percepção do entorno da Sala como perigoso também aparece em nota na coluna social, reforçando os sentidos compartilhados pelo grupo de assinantes e frequentadores:

 

Fica aqui um aviso para frequentadores dos concertos da Sala São Paulo e para as autoridades. Na quinta-feira passada, indo para o concerto da Osesp, um casal de leitores da coluna foi assaltado, no centro, na Avenida Duque de Caxias. Ao chegarem à Sala São Paulo, as timas ouviram pelo menos mais três histórias idênticas, acontecidas na mesma data. Ou seja, há bandidos que já conhecem o horário certo para assaltar os frequentadores da sala.

Seria de bom grado, como faz a Sociedade de Cultura Artística, que coloca seguranças às próprias custas nos arredores da Rua Nestor Pestana em dia de concerto, que a Secretaria de Estado da Segurança passasse a proteger os frequentadores deste que é o maior ícone cultural da gestão Covas/Alckmin, e o novo grande orgulho dos paulistanos.’ (GIOBBI, César. Percalços no caminho.” O Estado de São Paulo. 22 abr. 2004)

No texto do colunista, o fato de o bairro da Luz permanecer ‘perigoso não interfere na percepção da Sala São Paulo como grande orgulho dos paulistanos. A solução proposta é a mobilização de forças de segurança para a proteção dos frequentadores da Sala, tendo como modelo a contratação de agentes privados pela Sociedade de Cultura Artística.

Na medida em que a perspectiva de Giobbi é representativa do imaginário de parte dos assinantes da Osesp, as críticas dos jovens autores das Notas sobre a Sala São Paulo” ganham notável justeza. Os concertos semanais da orquestra são também, ainda que não apenas, encenões de ‘isolamento social’ em que grupos sociais privilegiados frações das elites políticas, econômicas e intelectuais se refugiam, evitando qualquer ‘experiência de transcenderem seus limites de classe e que procuram um cotidiano totalmente fechado em seu próprio círculo.’ (WISNIK, Guilherme et al. Notas sobre a Sala São Paulo e a nova fronteira urbana de cultura. Pós, n. 9, jun. 2001. p. 15.)

O pedido de Giobbi para que a Secretaria de Estado da Segurança interviesse em defesa dos frequentadores da Sala é sintomático da dimensão conflituosa do que está em jogo. É o mesmo discurso que dava como ‘lógica’ a necessidade de que os ‘jardins francesesem frente à sala fossem cercados. O episódio flagra a ambivalência do projeto da Osesp, entre alguma novidade e muita repetição dos padrões que fazem com que a música clássica opere como cultura legítima’. Toda vez que privilegia seu quadro de assinantes poliglotas e viajados em detrimento da professorinha anônima ou do ‘enxame’ de que falava Mário de Andrade, a orquestra se mostra assemelhada àquela que parece ter sido um dia sua antípoda e, ao mesmo tempo, sua principal concorrente – a Sociedade de Cultura Artística.

Não se trata de menosprezar o risco efetivo de um assalto nas mediões da Sala São Paulo, mas reduzir as várias questões dos grupos sociais que ocupam a região central da cidade a um assunto de segurança pública é encurtar os horizontes. Em relação a posições como essa, toda experiência de grupos ligados ao Fórum Centro Vivo aparece como reação direta e manifestação inequívoca do conflito social.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 294 – 297.

Ø  O docente deve trazer as reflexões sobre o pedido de Giobbi: o que significaria seguranças escoltando a população a a chegada à Sala? Seria a prova da inconvivência total entre público habitante e público habitador do espaço? Vale, ainda, apontar que Giobbi coloca tais atos como uma ameaça ao grande orgulho dos paulistanos, em um discurso notadamente exagerado e provinciano (não que a Sala não seja um orgulho aos paulistanos, mas cabe dimensionar a citação no caso em que ela ocorre). O docente deve apontar as reflexões à fala de Wisnik sobre um “cotidiano totalmente fechado em seu próprio círculo”. Como entender os deslocamentos desta parcela da população a a Sala? Seria o orgulho paulistano? Como entender, também, o comportamento dessa estando lá? Para tal, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

Várias iniciativas procuravam aprofundar o sentido expresso no célebre slogan [‘Pode aplaudir que a Orquestra é sua’] [...]. No texto de abertura do programa de concerto de março de 2001, Neschling anuncia a criação de uma nova coluna: Tribuna, uma sugestão de Arthur Nestrovski, então professor na PUC-SP e crítico de música clássica do jornal Folha de S. Paulo. Nas palavras do maestro, a coluna pretendia ser um espaço aberto aos comentários de nossos amigos sobre aquilo que mais amam a música e, por extensão, o trabalho que viemos desenvolvendo. Ao aceitar a sugestão de Nestrovski e abrir uma ‘tribuna’ para o público, Neschling promovia a criação do sentimento de pertencimento, que ele dizia ser fundamental para a valorização da orquestra.

 

A análise desse material traz informações reveladoras acerca do perfil dos assinantes da Osesp e do imaginário compartilhado por esse grupo. Foram publicadas 25 colunas Tribuna, trazendo textos de assinantes com expressiva projeção profissional: sete professores universitários (dos quais seis da Universidade de São Paulo), quatro jornalistas, dois publicitários, duas escritoras, dois produtores culturais, três engenheiros, um cineasta, um economista, um juiz de direito e uma atriz. [...]

 

Esse grupo de pessoas contribui para a construção de um imaginário no qual a música representa um bem supremo e que encontra na Osesp algo que lhes havia sido negado durante muito tempo. É o que transparece no trecho que destaco a seguir:

‘O orgulho que sentimos, não pela sala como pela qualidade da orquestra e pela escolha do sofisticadíssimo repertório levantado por John Neschling, nos restitui a autoestima e renova nossas esperanças.’ [...]

Outros não hesitavam em adotar discursos hipérboles e com forte conotação classista, como a atriz Irene Ravache, que reclamava:Não tem cabimento não podermos aproveitar a beleza do Centro. Existe um pensamento que é muito pequenino de achar que o Centro tem que ser sujinho, mal conservado, entregue à prostituição, a párias.” Era o tom também de seu colega Raul Cortez, que disse: Quando eu chego aqui eu adoro, esqueço de tudo que tive que enfrentar lá fora, essa cidade esburacada, maltratada, suja violenta. Nesse momento a gente se reconcilia com tudo.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 182 – 184; 261.

 

Ø  O docente deve buscar refletir sobre a questão do orgulho” que sente tal parcela da população ao estar na Sala São Paulo e o como essa se sente usurpada desse apenas pela mera existência dos usuários de entorpecentes ao seu redor (vale notar: o problema não é a existência dos usuários, mas sim a presença deles ali, como que estragando a festa);

Ø  O docente também deve refletir sobre a imagem construída por esta parcela do público da Sala São Paulo sobre o papel da música e dos concertos que assistem em suas vivências. Como entender a reconexão e transcendentalidade para as quais apontam tais pessoas? Realmente fruto do escuto atento da música, ou resultado de um conjunto de impressões visuais e sonoras que vão além da música que levam a tal? Sobre isso, vale a leitura do trecho que segue:

 

Além do impacto visual, que sempre vem primeiro, é certo que as qualidades acústicas da Sala São Paulo são o principal motivo para as centenas de elogios. Quanto a essa questão, Arthur Nestrovski lembra que o edifício da Sala já existia, e que portanto ‘a combinação de detalhes entre a matéria prima da sala (a pedra, as colunas esculpidas) e tudo o que foi feito de moderno pelos arquitetos (a madeira, a tecnologia usada) é algo quase impossível de calcular’: é a dose imponderável de mistério acústico, reconhecido por todos que tocam e que ouvem música aqui.’”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 52.

 

Ø  O docente deve questionar a ideia do impacto visual vir primeiro que o musical: afinal, por que se vai à Sala São Paulo? Ela é, de fato, um pedo de uma antiga estação de trens, mas sua vocação atual e condição de existência é a música sinfônica. Portanto, caberia ir a ela pela música, e não pelo aspecto visual. O docente deve questionar, entretanto, aos alunos, se os relatos vistos acima, no trecho de Teperman, confirmam isso. As respostas devem convergir para o fato de  que  o  que  os  leva  à  Sala  é  justamente  a  junção  entre  grandiosidade arquitetônica e algum interesse pela música sinfônica (deve-se questionar se ligado a status social).

 

Ø  O docente deve, nesse sentido, buscar tecer uma linha de união entre a Sala São Paulo, seu público, e o seu entorno. Como entender pessoas de renome, como atores globais, indo à Sala, e, do lado de fora, consideráveis quantidades de moradores de ruas em situação de abandono e utilizando de entorpecentes? Sobre isso, o docente convida à leitura do trecho que segue:

 

“BACH DIRIA QUE A CRACOLÂNDIA É UMA ILHA NO MAR DA CIVILIZAÇÃO?”

 

Mário Sérgio Conti  

26.08.2017

 

Quarta-feira, 2 de agosto: depois de um debate sobre racismo, e de jantar no Sujinho, o escritor Paul Beatty quis ir ao recanto que, para gáudio geral, chamou de crackland. O pouco que temos a oferecer aos turistas está concentrado: cruza-se a cracolândia para entrar na Sala São Paulo.

 

O jardim das delícias paulistano lembrou a Paul Beatty a Los Angeles dos anos 1980. Foi quando o crack estourou nas quebradas negro-latinas e do white trash. Agora,   a onda lá são os opiáceos. Somos atrasados até no vício.

 

Tea, 8 de agosto: O Cravo Bem Temperadodaqui a duas semanas, será o concerto do ano da Sala São Paulo. O pianista Ands Schiff é hoje o grande intérprete de Bach. Dizem que toca o Cravo” de memória e sem pedal de apoio. O ingresso custou 200 paus. E era meia.

 

Sábado, 19: no dia do patrimônio histórico, é permitido aos bugres visitar o palacete do barão Carlos Leôncio de Magalhães, em Higienópolis. Embora o cafeicultor tivesse o brejeiro apelido de Nhonhô, seu casarão não inspira leveza, e muito menos leviandade.

 

Ele mescla o que de funesto em adereços arquitetônicos, de capitéis jônicas a entalhes de jacarandá. A feiura converge para uma capelinha manuelina onde se celebrava a suruba de commodities e contrarreforma. É um monumento pio à incultura do café, um mausoléu da civilização estéril. [...]

 

Tea, 22: O Cravo Bem Temperado” valeu cada real. Schiff de fato tocou todo de cor, e com o direito pregado no chão, durante duas horas. Os 24 prelúdios e 24 fugas iluminaram o presente com seu mistério.

 

Misrio que começa pelo título: ‘Cravo’ deveria ser traduzido por Teclado’ do clavicórdio,  do  órgão  e  do  cravo.  Mas  não  do  piano,  o  instrumento  em  que  é  tocado.

Temperado’ refere-se à afinação, a uma querela matemática que remonta a Platão.

 

Bach foi tido por piegas e rato de sacristia. Mas Glenn Gould disse que ele já era arcaico há 300 anos. Para Adorno, sua música encarnou a dissonância, em trânsito do sagrado para o profano, da igreja medieval para o teatro burguês.

 

Madrugada de quarta, 23: Bach diria que a cracolândia é uma ilha no mar da civilização? Que a Sala São Paulo é uma fortaleza sitiada? Quem seriam para ele os insensatos a plateia perfumada ou os noias andrajosos?

 

Dentro da sala, a plateia lavara o cabelo com xampu e se untara com cremes. Entendia a matemática da música e se enternecia quando Schiff prolongava uma nota. Éramos herdeiros de Nhonhô, disfarçando a opressão com adereços barrocos.

 

Lá fora, the crackland era um acampamento de refugiados à Bosch: grávidas acocoradas na frente de fogueiras, adolescentes mirrados enrolados em parangolés, pichações no corpo, tatuagens na alma, a harmonia infernal da fuga.

 

Anteontem, 24: Não havia no centro de São Paulo nem gêneros nem raças; nem classes conscientes nem minorias rebeldes. Era uma madrugada normal, uma caralhada de doidos de pedra na fissura do crack bem temperado.

 

CONTI, Mário Sérgio. Bach diria que a cracolândia é uma ilha no mar da civilização?. Folha de  S.  Paulo,      26.08.2017.      Disponível  online em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2017/08/1913057-diario-do-crack- bem-temperado.shtml. Acesso em 05.11.2019.

 

Ø  Diversas podem ser as abordagens a serem feitas para o ltiplo texto de Mário Sérgio Conti.

 

O docente deve, entretanto, refletir sobre os trechos finais embora seja justo comentário sobre o preço do ingresso para o concerto citado no texto: concerto para quem? É a Cracolândia uma ilha no meio da civilizão? É a Sala São Paulo uma fortaleza sitiada? Quem são os insensatos? As respostas devem convergir em: a) a Cracolândia representa, no imaginário popular ao menos, um lugar de desumanização a caralhada de doidos de pedra na fissura do crack betemperado; nesse sentido, ela se opõe a dinâmica da ordem e do progresso, pontos chaves da noção de civilização no Brasil, muito embora se fa não pela resisncia, mas pela entrega ao sistema; b) ao passo que o público da Sala São Paulo pede por seguranças que os escoltem no caminho a a Sala e entende, ao menos para Conti, a complexa matemática polifônica bachiana, assistindo a um dos maiores pianistas do mundo, também segundo Conti, enquanto ao mesmo tempo, a pouquíssimos metros, apenas atravessando uma parede, vive-se uma outra realidade, completamente à parte da estrutura civilizatória do concerto (horios fixos, regras sobre palmas, regras sobre a vestimenta dos músicos17), é possível pensar em uma fortaleza ou um bunker. Mas não uma fortaleza medieval, com muros altos e inacessível. Os programas com olhar social” desenvolvidos pela Fundação OSESP comprovam que alguma acessibilidade. Trata-se, assim, de uma fortaleza à brasileira, cujo sentido de fortaleza está na gritante ironia de mundos existentes entre o interno e o externo e que, se algum fator a torna inacessível, é justamente pelo endosso dessa ironia pelas mais variadas vertentes sociais desde os seguranças da entrada da Sala a o colunista social que pede por seguranças no caminho a a Sala18. c) Sobre o ponto da insensatez, Mário Sérgio Conti o ponto nevrálgico ao colocar o público do concerto que assistia na Sala São Paulo como os herdeiros de Nhonhô. Trata-se, ainda, de uma elite que convive com padrões estéticos para a vivência do ambiente social que o concerto proporciona, à parte do noia andrajoso” que apenas existe e sequer existe. Vale reforçar, porém, que é necessário dissociar a Sala São Paulo e a OSESP deste público herdeiro de Nhonhô. Atividades como a Academia da OSESP, o Descubra a Orquestra, os Concertos Matinais e o Passe Livre Universitário comprovam isso. O fato é que não se trata apenas dos incluídos” no jogo da música de concerto. ainda os herdeiros de Nhonhô” (falando, culturalmente, em palavras literais neste caso) o mausoléu da civilizão estéril.

 

 

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17. Para maiores informações sobre protocolos da música sinfônica, ver TEPERMAN, Ricardo Indig. Notas sobre o protocolo dos concertos sinnicos. IN:                   . Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala o Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Cncias Humanas da Universidade de São Paulo. pp. 96 112.

18. Acredito não ser do escopo deste trabalho um aprofundamento sobre as questões mais particulares ligadas à questão das “fortalezas sitiadas”. No entanto, caso condões terceiras como ambiente e tempo permitam, vale menção ao conceito de Tereza Pires do Rio Caldeira sobre os chamados Enclaves Fortificados”, tidos, para ela, como áreas que desvalorizam o que é público e aberto à cidade, tornando-se fechados à cidade (demarcados, isolados), por meio de muros, grandes, dentre outros, que o separam da urbe ao passo que criam fronteiras e constroem um público homogêneo. Acredito que há ressalvas a serem feitas na aplicabilidade da teoria de Caldeira à Sala São Paulo, dado os constantes avanços e tentativas de planos de ação da Fundação OSESP para democratização do espaço; embora a discussão sobre a homogeneidade do espaço e outras, como o fechamentdesse à cidade, se façam válidos. Para um estudo mais aprofundado da teoria de Caldeira, ver CALDEIRA, Tereza Pires do Rio. “Enclaves Fortificados”: a nova segregação urbana. IN: Novos Estudos Cebrap, n. 47, mar. 1997. pp. 155 176;                                  . Cidade de muros Crime, segregação e cidadania em o Paulo. SP: Editora

34; EDUSP 2000.

 

 

 

Ø  Para uma análise imagética da ilha no meio da civilização” da

 

Cracolândia, o docente deve apresentar as imagens que seguem:

 

 BOSCH, Hieronymus. O Jardim das Delícias Terrenas

 

BOSCH,   Hieronymus.    O    Jardim    das    Delícias    Terrenas.    Disponível    online    em: https://trocaodisco.com.br/2015/03/a-melodia-oculta-o-jardim-das-delicias-terrenas.html. Acesso em 06.11.2019.

 

imagem cracolandia

SANTOS,   Bruno.   IN:    https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/08/1906372-trafico- testa-policiamento-e-ensaia-retomar-acoes-na-cracolandia-de-sp.shtml.                     Acesso           e06.11.2019.

imagem frequentadores da cracolandia

Disponível   em:   http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/pesquisa-pioneira-revela-o-perfil- dos-frequentadores-da-cracolandia/. Acesso em 06.11.2019.

 

imagem campanha contra o crack

 

GARCIA, Janaína. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas- noticias/2017/06/24/apos-polemicas-sobre-a-cracolandia-doria-lanca-campanha-em-video- contra-crack.htm. Acesso em 06.11.2019.

Ø  O docente deve buscar referenciar as noções elencadas no texto de Mário Sérgio Conti e nas reflexões que se o seguirão para a análise das fotos em conjunto com os alunos: o que se vê? Quais são os atores da foto? O cenário é de civilização ou barbárie? A que ponto a ilha fora da civilização é positiva? Ojardim das delícias” ao qual Conti se refere no texto, é compavel ao Jardim das Delícias de Bosch? Focalizando na última foto, que permite ver a Cracolândia ao lado da Sala São Paulo: como entender essa fortaleza sitiada? A ilha fora da civilizão fomenta o estado de sítio da fortaleza? É sua condição de existência? Como romper tal ciclo vicioso? Valem, nesse sentido, as reflexões feitas anteriormente sobre as políticas públicas para tal setor e o radicalismo último da gestão de João Doria no que tange à esta tetica.19

O docente deve, agora, trabalhar a questão da comunidade musical que frequenta OSESP e do papel da própria OSESP na existência de uma vida musical contemponea brasileira. Sobre isso, vale a leitura do trecho que segue:

 

 

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19. Ainda sobre tal, o docente pode se embasar na canção “O Homem Sob O Cobertor Puído (2019), de Chico César, que explora o caráter do público da Sala São Paulo. Pelo nível das críticas e transversalidade delas, optou- se por não inclui-las diretamente na sequência. Elas podem ser, porém, forte elemento inspirador das discussões. A canção pode ser encontrada em: https://www.youtube.com/watch?v=Q6Lk64hcT1Q. Acesso em 08.11.2019.

 

Para Arthur Nestrovski, o estímulo que a Sala São Paulo e sua forma de organização propiciou está diretamente ligado ao resultado que se vê hoje em diferentes esferas de nossa vida musical: ‘a Sala São Paulo representou a criação de uma cultura musical própria e regular de alto nível, que nunca tinha existido nesse patamar no Brasil’. E conclui:

 

‘O resultado mais contundente desse processo é a qualidade dos músicos que têm a idade da Sala São Paulo – 20 anos. Cresceram ouvindo música em outros padrões. Isso também é resultado de diversos projetos educativos e sociais ligados à música clássica nesses 20 anos. Basta ver um concerto da orquestra do Festival de Campos do Jordão para entender o que acontece com 20 anos de investimento regular em cultura. Isso nos anima, a despeito de todas as dificuldades.’

 

Já para Marcelo Lopes, ‘a ideia de se criar um centro de desenvolvimento de performance que faça jus à pujança da cidade de São Paulo foi uma ideia feliz’:

 

‘A coragem de assumir que São Paulo precisava de um lugar importante para a música clássica foi fundamental, e a Sala foi a materialização de tudo isso. Manter a Sala viva nas condições que fazemos também alimenta a credibilidade dela. Os músicos do exterior sempre querem tocar na Sala São Paulo, porque aqui existe o respeito à música e aos artistas, isto é: as condições necessárias para um trabalho bem feito. [...]

 

Se São Paulo hoje é a capital da música clássica na América Latina, isto deve-se fundamentalmente à existência da Sala São Paulo.

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). pp. 58 – 59.

 

Ø  O docente deve trazer à tona reflexões acerca da ideia da Sala São Paulo como causa de uma consequência: a de São Paulo como a capital da música clássica na América Latina. Qual o papel da Sala nesse projeto? Em que pesam as ões da OSESP para tal solidificação? Qual a importância, para tal, de se haver uma geração que, para Nestrovski, cresceu ouvindo música de qualidade na Sala? As respostas devem convergir para o fator de união de que, ao passo que se tem estabelecida uma cultura musical fixa com temporadas  de  concertos,  os  programas  de  olhar  social”  acimmencionados a criação de uma cultura própria para tais atividades se consolida, emulsificada, para além da cidade de São Paulo, em meio à outros corpos artísticos de renome, pelas características acústico-musicais únicas da Sala, que a levam, como apontado, a ser uma das melhores salas de concerto do mundo pelo jornal inglês The Guardian;

Ø O docente deve, por fim, trabalhar a ideia do desenvolvimento contínuo de uma cultura sinfônica contemporânea, com viés social, que tem sua condição de existência no projeto de encomendas da OSESP. Sobre tal, vale o exercício de escuta que segue:

Ø  Exercício de escuta IV: Paulo COSTA LIMA. Cabinda Nós

 

Somos Pretos, Abertura Sinfônica. Op. 104.. (2015).

 

a)           Disponível           via           Selo           Digital           OSESP: http://www.osesp.art.br/paginadinamica.aspx?pagina=cdestreiasose sp2015. Marin Alsop rege a OSESP interpretando, de Paulo Costa Lima, Cabinda Nós Somos Pretos, Abertura Sinfônica. Op. 104. Acesso em 06.11.2019

b) Disponível via YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=jT80I4Pm4CM. Ricardo Bologna rege a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas interpretando, de Paulo Costa Lima, Cabinda Nós Somos Pretos, Abertura Sinfônica. Op. 104. Acesso em 06.11.2019

#   OBSERVAÇÃO:   Cabinda      Nós   Somos   Pretos,   Abertura

 

Sinfônica. Op. 104 foi Encomenda OSESP para a Temporada OSESP

 

2015.

 

Ø   Sobre a obra, antes da análise e depois da escuta, o docente convida à leitura dos trechos que seguem:

 

João Luiz Sampaio: A OSESP estreia em concerto neste mês sua abertura sinfônica

 

Cabinda: nós somos pretos. O senhor poderia falar um pouco sobre a gênese da obra?

 

Paulo Costa Lima: Busquei um caminho de criação que representasse meu percurso. Pensei, assim, em reverberar a consciência do papel civilizatório da África entre nós, pela ética e pela estética’, como gostava de frisar o musicólogo Gerard Béhague. O título vem do maculelê

– ‘nós somos pretos de Cabinda de Luanda –, mas a pa não deriva de uma única fonte, pelo contrário, investe na construção de um mosaico, um ciclo de referências. A obra não quefolclorizar’ nem preservar nada, quer, sim, experimentar com possíveis gicas de encadeamento coisas aparentemente díspares. Sendo assim, surge de uma grande interrogação: quantas coisas cabem numa gamela? É uma pergunta que se aplica também à sociedade brasileira. E isso gera situões de non sequitur, além da sensação de que tudo é possível, na medida em que práticas composicionais diversas se aninham e se estranham num mesmo fio narrativo. Voltando ao dito de Béhague, esse impulso na direção de incluir é de natureza tanto ética quanto estética, pois há nessa forma de pensar e de agir o registro do ser de grupo” que desenvolvemos por essas bandas, da sensação do coletivo, desafio ao qual vinculo meu esforço de compositor. A criação pode ser solitária, mas representa o todo.”

 

SAMPAIO, João Luís. Música e diálogo. IN: Revista Concerto. Abril 2015. pp. 14 15. Disponível online em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/300143/mod_resource/content/0/2015-04_Concerto%20ano%20XX%20n.215-Paulo%20Costa%20Lima.pdf. Acesso em 06.11.2019.

 

 

[...] Especificamente sobre o primeiro – interessado no diálogo entre a música erudita contemponea e o candomblé, discípulo e colega de Widmar, e com atividade educacional responsável pela formação de gerações de compositores Paulo Rios Filho afirma: ‘Paulo Costa Lima inventa uma Bahia com seu compor. Uma Bahia que nem a Bahia é ou que jamais podeser; ainda assim, Bahia a um tempo, além e aquém daquele lugar e povo; linhas de Caboclo, de Flecha, de 2 de Julho, que juntamente a outras linhas diversas (traços de Schubert, de vanguarda, de Beethoven, de Samba Reggae) ajudam a co-formar o seu compor e as obras que pululam desse lugar de criação’ (RIOS FILHO, Paulo. Sete Flechas (um batuque concertante), de Paulo Costa Lima: linhas de criação, de escuta e reciprocidade. Campinas: III Festival de Música Contemponea Brasileira – Anais, 2016).

 

PERPETUO, Irineu Franco. História Concisa da Música Clássica Brasileira. ed São Paulo: Alameda, 2018. p. 248

 

Ø O docente deve questionar aos alunos, em suas reflexões, os significados da obra: o que se sente ao escuta-la? Sente-se a Bahia? Sente-se Cabinda? Há representatividade do povo negro? Qual o ponto de convergência encontrado na obra? As respostas devem se centrar no uso de elementos étnico-musicais na obra que fazem com que se imagine a escuta de tais lugares, como a cantiga-base da peça nós somos pretos de Cabinda de Luanda”; destaca-se também caráter de protagonismo de África ante ao próprio Brasil, com afirmação de que essa “civilizou o Brasil”;

 

Ø  Vale ao docente ressaltar a ambivalência da peça ser uma Encomenda OSESP: ponto positivo, por promover não música contemponea como música contemponea social; mas dissonante com as características da plateia anteriormente enumerdas.

 

PARTE D: EPÍLOGO: SICA COMO INSTRUMENTO POTICO UM INTERLÚDIO BEETHOVIANO

Nesta parte, cabe ao docente dimensionar o papel político da música: a que toca a música? Como devem se posicionar compositores, músicos e comunidade musical em momentos de ataque? Neutralidade, apoio ou resistência? Sobre isso, o docente deve fazer um breve comentário sobre o ocorrido quando da Queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Um dia após a queda do muro, Leonard Bernstein, reconhecido maestro e compositor à época, regeu, em Berlim, a Nona Sinfonia Coral, de Ludwig van Beethoven, muito conhecida por seu hino Ode à Alegria, de Friedrich von Schiller e introduzido no quarto movimento da sinfonia. Bernstein, porém, fez uma adaptação à partitura original: onde se cantava alegria” (no alemão, freude), cantou-se liberdade(freiheit”). Era uma clara menção à questão da Alemanha Oriental que limitava saídas de seus cidadãos e tinha uma democracia questionável. Sobre isso, vale o exercício de escuta abaixo:

Ø   Exercício de escuta V: Ludwig van BEETHOVEN. Sinfonia nº 9 em menor Coral. Op. 125: IV. Finale. (1824). Versão Ode na die Freiheit.

a)  Disponível  via  Spotifyhttps://open.spotify.com/album/6B4KxEn11vQbzKOiXTBkJ6. Faixas 6, 7, 8 e 9. Leonard Bernstein rege orquestra, coro e solistas internacionais, reunidos especialmente para a ocasião, interpretando, de Beethoven, a Sinfonia nº9 Coral Ode à Liberdade. Acesso em 06.11.2019

 

b) Disponível via YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=IInG5nY_wrU&t=181s. Início do quarto movimento (coral) à 1 hora, 5 minutos e 53 segundos do vídeo. Leonard Bernstein rege orquestra, coro e solistas internacionais, reunidos especialmente para a ocasião, interpretando, de Beethoven, a Sinfonia nº9 Coral Ode à Liberdade. Acesso em 06.11.2019

 

# OBSERVAÇÃO: O docente recomenda que os alunos acompanhem a letra traduzida, abaixo, em português, e a original, em alemão, enquanto ocorre a escuta:

 

ODE AN DIE FREUDE/ODE NA DIE FREIHEIT Texto de Friedrich von Schiller Ludwig van Beethoven, com adaptações de Leonard Bernstein

 

 

ODE À LIBERDADE

 

Ah, meus amigos, outros sons, estes não!

Entoemos outros,

mais agradáveis e felizes!

(Texto de Ludwig van Beethoven) (Texto de Schiller)

Liberdade, bela centelha divina,

filha dos Campos Elíseos,

nós adentramos, ébrios de fogo, o teu santuário, ó divindade! Teus sortilégios reúnem

o que os costumes separaram à força;

todos os homens tornam-se irmãos

sob tuas asas protetoras.

 

Quem teve a ventura

de ser amigo de um amigo,

Quem conquistou uma mulher gentil,

Que se misture a nosso júbilo! E também quem pode dizer

sua alguma outra alma sobre a terra! E quem jamais chegou a tanto,

que se retire desta liga aos prantos.

 

Todas as criaturas sorvem

a liberdade dos seios da natureza, todos os bons, todos os maus,

seguem seu caminho juncado de rosas. Ela nos deu o beijo e o vinho

e um amigo fiel até a morte;

mesmo ao verme concedeu o gozo da vida,

e o querubim vive diante de Deus!

 

Felizes como os sóis que correm pela

 

ODE AN DIE FREIHEIT

 

O Freunde, nicht diese Töne! Sondern laßt uns angenehmere anstimmen, und freudenvollere! (Texto de Ludwig van Beethoven)

 

(Texto de Schiller)

 

Freiheit, schöner Götterfunken,

Tochter aus Elysium,

Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum! Deine Zauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder, Wo dein sanfter Flügel weilt.

 

Wenn der große Wurf gelungen, Eines Freundes Freund zu sein, Wer ein holdes Weib errungen, Mische seinen Jubel ein!

Ja, wer auch nur eine Seele Sein nennt auf dem Erdenrund! Und wer’s nie gekonnt, der stehle Weinend sich aus diesem Bund.

 

Freiheit trinken alle Wesen An den Brüsten der Natur; Alle Guten, alle Bösen Folgen ihrer Rosenspur.

Küsse gab sie uns und Reben, Einen Freund, geprüft im Tod; Wollust ward dem Wurm gegeben, Und der Cherub steht vor Gott!

 

Froh, wie seine Sonnen fliegen, Durch des Himmels prächt’gen Plan, Laufet, Brüder, eure Bahn,

Freihiting, wie ein Held zum Siegen.

 

vastidão gloriosa dos céus, correi vosso caminho, irmãos,

livres como um herói rumo à vitória.

 

Eu vos abraço, ó multidões,

que este beijo chegue ao mundo inteiro!

Irmãos, além do firmamento

Reside um pai bondoso, não há dúvida.

 

Já pressentes o criador, ó mundo? Procura-o além do firmamento! Ele reside além das estrelas,

não há dúvida!

 

 

Seid umschlungen, Millionen! Diesen Kuß der ganzen Welt! Brüder! überm Sternenzelt Mein lieber Vater wohnen.

 

Ihr stürzt nieder, Millionen? Ahnest du den Schöpfer, Welt? S uchihn überm Sternenzelt! Über Sternen muß er wohnen.

 

 

 

Tradução livre do alemão para o português por Samuel Titan Jr. Adaptações da versão Ode an die Freude para Ode na die Freiheit por Vitor Morais Graziani.

 

Ø  Para a análise do trecho escutado, o docente convida à leitura do excerto que segue:

 

A Sinfonia nº9 em menor, op. 125, de Ludwig van Beethoven, é uma das composições mais inovadoras e influentes da história da música. Seu movimento final cantado é uma declaração de fraternidade universal, o que explica que a Nona seja a obra mais frequentemente usada para conferir um caráter solene a ocasiões importantes a abertura das Nões Unidas, a assinatura de um tratado de paz no fim de uma guerra, a queda do Muro de Berlim ou a consagração de uma nova sala de concerto: ela é vista como veículo de uma mensagem que derrama uma espécie de bênção quase religiosa, mas sem ligação a qualquer denominação, a pessoas, instituições e empreendimentos bons” e justos” em suma, que estão do nosso lado, o que quer que isto signifique. [...]

 

[...] Graças a seu finale, contudo, a Nona tornou-se um paradigma de liberdade e alegria, embora tenha surgido no meio de uma década da história europeia caracterizada pela repressão e o nacionalismo ultraconservador, no momento em que os Bourbon, os Habsburgo, os Romanov e outros governantes dinásticos aterrorizados lutavam por embelezar e fazer valer o conceito de direito divino, no rastro da Revolução Francesa e do novo imperialismo napoleônico. Nesse simples movimento sinfônico, Beethoven oferecia, na verdade, um contra- argumento único às tendências retrógradas da época; em consequência, a compreensão das circunstâncias em que ele foi criado é tão reveladora da política, da estética e do espírito da época quanto da trajetória musical do compositor. [...]

 

[...] O que Beethoven quer agora que vivenciemos é uma alegria absoluta. Pois é este o momento da obra em que Beethoven mais inequivocamente declara seu objetivo de contribuir para a libertação da humanidade através da arte.

 

SACHS, Harvey. A Nona Sinfonia: a obra-prima de Beethoven e o mundo na época de sua criação. 1ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2017. pp. 9 – 10;  196.

 

Ø  O docente deve, em seu comentário de análise sobre a obra, convergir aos seguintes pontos: a) é possível sentir o movimento final como um hino à fraternidade universal? b) Como entender a ação de Beethoven de musicar justamente estes versos de Schiller em momento histórico como o narrado no trecho? c) Qual a alegria percebida ao ouvir a música de Beethoven?; É possível falar em um hino à humanidade?20

Ø  Sobre a questão do hino à humanidade, vale a leitura do trecho que

 

segue:

 

Em seu ensaio Is Music Unspeakable? (A música é indizível?), o historiador da cultura franco-americano Jacques Barzun conta a história de um compositor que se senta ao piano para tocar, para convidados, uma peça que acabou de compor. Posteriormente, um dos ouvintes pergunta-lhe qual o significado da peça; o compositor responde retornando ao piano e tocando-a pela segunda vez. ‘A resposta do compositor estava absolutamente certa’, diz Barzun.

‘O significado é inerente a qualquer obra de arte, e não pode ser decantado numa explicação.’ Ou, como dizia Stravinsky, a música é o seu próprio significado’. [...] aquilo que a maioria dos músicos, inclusive o autor deste livro, ouve e sente e imagina em grandes obras musicais é, simplesmente música.”

 

SACHS, Harvey. A Nona Sinfonia: a obra-prima de Beethoven e o mundo na época de sua criação. 1ª ed. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2017. pp. 147 – 148.

 

Ø  O docente deve questionar, junto aos alunos, o significado de música: o que se sente ao ouvir música? Deve-se buscar compreender literalmente o que está sendo dito? A música fala sem palavras? Vale, uma vez mais, a citação anterior de Teperman  no qual diz que música nunca é apenas música.” As respostas devem convergis para

 

 

 _____________________________________

20. Sobre isso, ver GRAZIANI, Vitor Morais. A Nona Sinfonia de Beethoven: Utopia Coletiva. IN: Folha

 

Andradense. Maio de 2019. p. 07.

 

 

Ø  Sobre o legado da música, focalizando o quarto movimento da Nona de Beethoven, o docente deve buscar refletir seu impacto social: qual sua signifincia no mundo em que se a toca? Qual mensagem carrega evocar Beethoven em determinados momentos de nossa História? Pode-se falar em atemporalidade para sua música? Sobre isso, o docente convida à leitura do poema que segue:

 

BEETHOVEN

 

Meu caro Luís, o que vens fazer nesta hora de antemúsica pelo mundo afora?

 

Patética, heroica, pastoral ou trágica21

tua voz é sempre um grito modulado,

um caminho lunar conduzindo à alegria.

Ao não rumor tiraste a percepção mais íntima

Do coração da terra que era o teu. Urso-maior uivando a solidão Aberta em ntico: entre mulheres

passando sem amor. Meu rude Luís, tua imagem assusta na parede,

em medalhão soturno sobre o piano.

Que tempestade passou em ti e continua a devastar-te no limite

em que a própria morte se socorre da vida, e reinstala

o homem na fatalidade de ser homem?

 

Nós, os surdos, não captamos

o amor doado em sinfonia, a paz em allegro22 enérgico sobre o caos, que nos oferta do fundo

de teu mundo clausurado.

Nós, computadores, não programamos a exaltação romântica filtrada

em sonatino adágio23 murmurante.

 

Nós, guerreiros nucleares, não isolamos o  cleo de paixão de onde se espraia pela praia infinita essa abstrata superação do tempo e do destino

que é a razão de viver, razão florente e grave

 

Tanto mais liberto quanto mais

em tua concha não acústica cerrado,

livre da corte, da contingência, do barroco, erguendo  o sentimento à culminância

 

da divina explosão que purifica

o resíduo mortal, a angústia mísera,

que vens fazer, do longe de dois séculos, escuro Luís, Luís luminoso,

em nosso tempo de compromisso e omisso?

 

Do fogo em que te queimaste, uma faísca resta para incendiar corações maconhados, sonolentos, servos da alienação e da aparência?

 

Quem comporá a Apassionata24 do nosso tempo, Quem remove as cinzas, despertará a brasa, Quem  reinventa o amor, as penas do amor, quem sacudirá os homens do seu torpor?

 

Boto no pickup o teu mar de música, nele me afogo acima das estrelas.

 

ANDRADRE, Carlos Drummond de. As Impurezas do Branco. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. pp. 85 – 86.

 

 

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21. Referências, respectivamente, à: Sonata para piano nº 8 Patética; Sinfonia nº3 em Mi bemol maior – Eroica; Sinfonia nº6 em maior Pastoral e Sinfonia nº5 em menor, por muito associada à figura do trágico; 

22. Referência à um tipo de movimento musical, o allegro, marcado pela vivacidade lírica e freneticidade musical entre os naipes da orquestra, com destaque à percussão e, em Beethoven, às cordas; 

23. Referência à um tipo de movimento musical, o adágio, costumeiramente lento, sendo, de Beehtoven, muito lembrando o adágio de sua Eroica, a marcha fúnebre; 

24. Referência à Sonata para piano nº 23 Appassionata.

 

 

 

Ø O docente deve buscar analisar o poema enfocalizando as relações entre os impactos da música de Beethoven em nosso tempo e a existência da Sala São Paulo. O que representa, para Drummond, Beethoven: uma voz dissonante num mundo bárbaro? Um brado contra os gemidos de dor universal? Um grito contra os horrores que insistem em imperarem? Devem fortalecer tais questionamentos o ponto em que Drummond fala em um tempo de antemúsica”: no caso da Sala São Paulo, o que é a “antemúsica”? A Cracolândia? Devem ser reforçadas as relações entre a crença na elevação espiritual que a música pode causar e os questionamentos acima feitos acerca de visão drummondiana de Beethoven. Finaliza-se com a questão: tanto Beethoven quanto a Sala São Paulo são vozes dissonantes em um momento de antemúsica cujo “ante” vai além da música, se expandindo para a vida, a sociedade, a economia, a política? Se Beethoven e a Sala São Paulo uma utopia?

 

PARTE E: SÍNTESE: MAESTRA PAULISTANA

 

Esta é a parte que encerra o curso. O docente deve trazer à tona reflexões sobre o significado existencial da Sala São Paulo. Para tal, convida à leitura do trecho que segue:

Podeamos definir a Sala São Paulo como uma usina musical, ou um grande centro cultural dedicado à música. Se levarmos em conta apenas as atividades que ocorrem no palco – desconsiderando todas as atividades descritas acima, que ocorrem em outros espos de suas dependências é raro o dia em que ao menos uma apresentação não ocorra. Nos finais de semana, é frequenta que a sala receba até três especulos manhã, tarde e noite realizados por diferentes promotores e voltados para públicos distintos. A Sala São Paulo, portanto, nunca está vazia.

Pensando em termos de investimento de poder público, parece claro que o valor gasto com a construção e manutenção do espo é ínfimo frente ao resultado que um equipamento cultural desse porte traz para a cidade. A título de curiosidade, vale a pena pensar no custo benecio de uma sala de concertos. Em termos financeiros descontando todo valor agregado e imaterial – é seguro dizer que o valor investido na Sala São Paulo já se pagou’ muitas vezes nesses 20 anos de intensa programação.”

 

FRESCA, Camila. Sala São Paulo 20 anos. IN: FUNDAÇÃO OSESP, Sala São Paulo: 20 anos (encarte distribuído nos concertos de comemoração dos vinte anos de inauguração da Sala São Paulo, em julho de 2019. Disponível online em: http://www.salasaopaulo.art.br/upload/2019- livretos/2019-site-ssp20anos.pdf). p. 55.

 

Ø  O docente deve, nas reflexões sobre o texto, retomar a ideia da Sala São Paulo como uma utopia, acrescendo a ela a ideia de maestra paulistana”. Se com tantos especulos, gerando empregos inclusive, oferecendo cultural de qualidade em alta oferta, em meio à um país (e um estado) que não valoriza a produção cultural25, a Sala São Paulo pode ter se tornado uma utopia? Um sonho irrealizável, que pelo somatório de fatores elencados ao longo do curso, se realizou? Mais, pode-se dizer que essa concentrou quase toda a cena musical erudita paulistana, tornando-se a regente do tema na cidade, isto é, dando o tom do que deve ser feito, inovando na medida como inovou com a criação da Fundação OSESP, algo que a hoje causa problemas ao Theatro Municipal26 –, mas também no que produz atraindo para a cidade nomes até então incogitáveis em terras paulistanas?

 

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25. Sobre a fragilidade cultural no estado de São Paulo, destacam-se a série de cortes no orçamento para a área da cultura, anunciados no primeiro semestre de 2019, que colocariam em xeque o funcionamento de instituões como a própria OSESP. Sobre isso, ver https://cultura.estadao.com.br/blogs/joao-luiz-sampaio/o-impacto-dos-cortes-na- cultura-de-sao-paulo-projeto-a-projeto/. Acesso em 07.11.2019. 

26.  Sobre  os  problemas  de  gestão  do  Theatro  Municipal  de  São  Paulo  que  se  arrastam  há  anos,  ver https://exame.abril.com.br/brasil/prefeitura-de-sao-paulo-vai-mudar-modelo-de-gestao-do-teatro-municipal/. Acesso em 07.11.2019. 

 

 

Ø  O docente deve, por fim, concluir sobre o quanto valem as críticas aqui feitas e o quanto valem os projetos aqui estudados com o trecho que segue:

 

Sim, a música clássica tende a aparecer como manifestação da cultura legítima. Mas não porque reduzir a isso a interpretação de uma peça como a Sinfonia Ressurreição de Mahler. Sim, os assinantes da Osesp eram majoritariamente ricos, brancos e com mais de cinquenta anos. Mas é preciso considerar que os ingressos baratos e as muitas ões da orquestra (editora, gravões, programas educacionais, enfim) ampliavam em muito – talvez não o suficiente – o contingente de pessoas a ter acesso à experiência do concerto sinfônico, além de injetar dinamismo no sistema da música clássica no país como um todo. E a própria instalação da Sala São Paulo na região da Luz poderia ter resultado em transformações significativas no entorno, caso algumas das medidas mais democratizantes que chegaram a ser discutidas no bojo do projeto tivessem sido levadas adiante [...].

 

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 263.

 

 

EPÍLOGO: ENTRE SONHOS E ABISMOS

 

Assim termina esta longa sequência didática: muito maior e imperfeita que o planejado, mas também muito satisfeita por ter trazido à tona os temas que trouxe e permitir que alunos em fase de formação de sua conscncia imagética e moral dimensionam fenômenos de sociomorfologia urbana e musical como o que ocorreu com a Sala São Paulo e a OSESP em sua trajetória.

Antes de tudo, sonha-se que este legado seja o sonho que um dia inspirou os músicos da OSESP e o maestro Neschling de que poderiam ter uma nova sede. Sem isso, não existiria este trabalho, pois não existiria Sala São Paulo. Os problemas continuarão e estão longe de serem resolvidos pelo poder público. O abismo que separa o sonho que a Salao Paulo representa, que chega a fazer brilhar os olhos de muitos dos que adentram, esbarra na tragédia social da Cracolândia. O caminho, entretanto, não é negar nem uma nem outra, mas sim enxergar em cada uma os erros e acertos (se é que se é possível no caso da segunda) e garantir a permanência dos sonhos, à parte de qualquer nefasta tentativa de desmonta-los. Afinal, é sempre importante lembrar, os sonhos também podem governar. E, no caso da Sala São Paulo, têm governado desde aquele 09.07.1999.

Não encontro outra maneira de terminar este estudo, se não com o trecho com o qual Teperman também terminou seu estudo sobre a OSESP na inauguração da Sala São Paulo e que segue abaixo:

Novos debates e disputas serão travados em torno da definição de uma política urbana para a região da Luz, mas desse já parece improvável que se atribua à cultura o mesmo tipo de protagonismo que dela se esperava nos anos 1990. Quem sabe assim, baixadas as expectativas, a Osesp e a Sala São Paulo possam encontrar meios para o estabelecimento de relações mais porosas com a cidade e com o mundo da música no Brasil. Não fórmula nem receita, nem se trata de tarefa necessariamente simples – mas não se pode esperar menos que isso.

É certo que os problemas do bairro da Luz, notadamente o drama da venda e consumo de crack, escapam à aada da orquestra e não cabe à música clássica oferecer solução a desafios desta ordem como pareciam acreditar (ou queriam fazer crer) os discursos à época da construção da Sala São Paulo. Mas enquanto as instituições musicais não tomarem para si o desafio de repensar os sentidos públicos de sua existência, as obras interpretadas semanalmente em seus concertos  serão, como dizia o velho Ives, apenas sons. É a reverberação dos harmônicos pela cidade que pode fazer com que estes se transformem em música.”

TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese (Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 305.

É pela música. Unicamente por ela.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

Livros, capítulos de livros, teses, artigos, quadros e fotografias.

 

ALMEIDA, Marco Antonio de. A Júlio Prestes e a recuperação do Centro. Urbs, n. 10, jul./ago. 1999. IN: TEPERMAN, Ricardo Indig. Concerto e desconcerto: um estudo antropológico sobre a Osesp na inauguração da Sala São Paulo. São Paulo, 2016. Tese 

(Doutorado) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade dSão Paulo. 

ANDRADRE, Carlos Drummond de. As Impurezas do Branco. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 

BOSCH,   Hieronymus.    O    Jardim    das    Delícias    Terrenas.    Disponível    online    em: https://trocaodisco.com.br/2015/03/a-melodia-oculta-o-jardim-das-delicias-terrenas.html. Acesso em 06.11.2019. 

CALDEIRA, Tereza Pires do Rio. Enclaves Fortificados: a nova segregação urbana. IN:

 

Novos Estudos – Cebrap, n. 47, mar. 1997. pp. 155 – 176;

 

                                  . Cidade de muros Crime, segregação e cidadania em São Paulo. SP: Editora 34; EDUSP 2000.

 

CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da História da Música. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. pp. 139 – 143.

 

COELHO, Lauro Machado. Shostakóvich: vida, música, tempo. Iª ed o Paulo: Perspectiva,

 

2006;

 

CONTI, Mário Sérgio. Bach diria que a cracolândia é uma ilha no mar da civilização?. Folha de        S.                 Paulo,      26.08.2017.      Disponível               online                      em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mariosergioconti/2017/08/1913057-diario-do-crack- bem-temperado.shtml. Acesso em 05.11.2019.

 

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deos e obras musicais.

 

https://www.youtube.com/watch?v=fk4kXF7-4zg&t=2815s.

 

VILLA-LOBOS, Heitor. Bachianas Brasileiras nº 2: IV. Tocata (O Trenzinho do Caipira)

 

https://open.spotify.com/album/507kSNpxDAiuk71KjpKHUT.

 

                                . Bachianas Brasileiras nº 2: IV. Tocata (O Trenzinho do Caipira)

 

https://www.youtube.com/watch?v=wIG4h7lvj4Y.

 

SANTORO,        Cláudio.        Impressões         de         uma        Usina         de        Aço.

 

https://www.youtube.com/watch?v=edCghYpxNkc

 

GIORGETTI, Ugo. Sábado. 1995. https://www.youtube.com/watch?v=BHWOuzK8Wck

 

MAHLER, Gustav. Sinfonia nº2 em Dó menor – Ressurreição: V. In Tempo des Scherzos. Wild herausfarhrend. https://open.spotify.com/playlist/7l6eJR4tmDMRSX6E4cKyZY.

 

                              . Sinfonia nº2 em Dó menor – Ressurreição: V. In Tempo des Scherzos. Wild herausfarhrend. https://www.youtube.com/watch?v=r-rxzTZGO9o&t=5104s.

 

CÉSAR, Chico. O Homem Sob O Cobertor Puído.

 

https://www.youtube.com/watch?v=Q6Lk64hcT1Q

 

COSTA LIMA, Paulo. Cabinda – Nós Somos Pretos, Abertura Sinfônica. Op. 104. http://www.osesp.art.br/paginadinamica.aspx?pagina=cdestreiasosesp2015.

                                . Cabinda – Nós Somos Pretos, Abertura Sinfônica. Op. 104. https://www.youtube.com/watch?v=jT80I4Pm4CM.

BEETHOVEN, Ludwig van. Sinfonia 9 em menor Coral. Op. 125: IV. Finale. (1824). Versão Ode na die Freiheit.  https://open.spotify.com/album/6B4KxEn11vQbzKOiXTBkJ6.

 

                                . Sinfonia 9 em menor Coral. Op. 125: IV. Finale. (1824). Versão

 

Ode na die Freiheit. https://www.youtube.com/watch?v=IInG5nY_wrU&t=181s.

 

 

ANEXO – FOTOGRAFIAS DA SALA

 

Observação: as fotos abaixo não foram incluídas nas sequências didáticas, mas recomenda-se que sejam utilizadas como elemento de aproximação entre os alunos e o objeto estudado durante as aulas.

 maestra paulista10

 

Foto: Vitor Morais Graziani. Novembro de 2019.

 

 maestra paulista 11

 

Foto: Vitor Morais Graziani. Julho de 2019.

 

 

 maestra paulista 12

Foto: Vitor Morais Graziani. Julho de 2019.

 

 

 maestra paulista 13

Foto: Vitor Morais Graziani. Maio de 2019.

 

 

 maestra paulista 14

Foto: Vitor Morais Graziani. Novembro de 2018.

Referencia
Graduandos