A diversidade cultural indígena no século XXI: permanências e mudanças

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

LUCAS PEREIRA LOPES

(Vespertino Nº USP: 9337760)

 

 

 

Sequência Didática - A diversidade cultural indígena no século XXI: permanências e mudanças

 

 

 

 

São Paulo

2018
Introdução

Esta sequência didática foi pensada para ser aplicada em turmas do 6º ano do Ensino Fundamental, justificando a opção de recorrer à habilidade artística dos alunos, à capacidade de analisar iconografias, o uso de vídeos curtos e a leitura de texto breve e de fácil entendimento. Além disso, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e com a incipiente Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é nesta etapa do Ensino Fundamental que os discentes iniciam a trabalhar com maior intensidade a História e cultura indígena, como determina a Lei Federal nº 11.645/08.

Por se tratar de uma atividade introdutória, intentando despertar nos alunos a compreensão de que existe, ainda hoje, uma vasta diversidade de etnias indígenas no território brasileiro, sendo que, dentro destas, se encontram tanto culturas mais isoladas da influência ocidental quanto aquelas cuja cultura possui permanências, porém passaram por transformações advindas do contato com a cultura ocidental, fato que não a dirime. Ademais, acredita-se que iniciar as crianças já trabalhando tal assunto pode, mais facilmente, formar adultos conscientes das questões que envolvem a diversidade cultural indígena, pois desde os anos inicias tal ideia já estará plantada dentro destes.

A dinâmica da sequência didática não prevê nenhum tipo de aula expositiva, se dando por meio de uma oficina na qual os discentes, ao manusearem diferentes tipos de documentos (pintura, fotografias, texto e vídeos), assumem o papel de protagonistas na construção do conhecimento que a atividade busca os proporcionar.

 

Objetivo

Fazer com que os alunos percebam que o termo "indígena" não se refere a apenas um povo homogêneo e sim, a uma multiplicidade de etnias, cada qual com sua cultura própria. E, em relação a esta diversidade cultural, a atividade busca desenvolver com os discentes a compreensão de que a cultura de um povo é dinâmica, passando por transformações ao longo do tempo.

 

Metodologia

Os alunos deverão se expressar pela linguagem artística (desenhos) e escrita (questionários que guiarão as reflexões e redação de síntese do conteúdo trabalhado).

Ademais, a atividade trabalhará com imagens, vídeos e textos, os quais serão usados como ferramentas para que os alunos compreendam que as culturas indígenas possuem permanências, mas que também incorporaram novos elementos no decorrer do tempo.

A avaliação consistirá na análise de todo o material produzido pelos alunos ao longo da atividade, comparando o que os alunos compreendiam no início da sequência e as esperadas mudanças que atingiram no decorrer das aulas.

 

 

Atividade

A atividade se desenrolará ao longo de quatro aulas, de acordo com a seguinte divisão:

Aula 1 - confecção dos desenhos e resposta a questionário;

Aula 2 e 3 - análise de três tipos de fontes: escrita, audiovisual e iconográfica, com posterior redação de texto, abordando o desenho a partir dos três documentos;

Aula 4 - apresentação de vídeo, breve discussão oral sobre ele e elaboração de novos desenhos.

 

Aula 1

Será solicitado que os alunos façam dois desenhos: um retratando os indígenas e o outro, um "não-indígena", sendo que os dois desenhos devem ser referentes ao ano de 2018. Será explicado que o desenho precisa demonstrar o cenário onde a personagem vive e também uma atividade de seu cotidiano. Para tal, cada aluno receberá uma folha contendo dois quadros, lado a lado, onde deverão desenhar; abaixo virá um questionário o qual os discentes deverão responder após concluírem a primeira parte da atividade.

O questionário tem o objetivo de sintetizar os elementos retratados nos desenhos de forma escrita para o professor ter um diagnóstico mais claro das concepções dos discentes em relação aos "não-indígenas" e, especialmente, aos indígenas. Para cada desenho teremos um questionário contendo as mesmas perguntas, sendo elas:

1. Onde a pessoa está?

2. A pessoa também vive em outros locais além desse que desenhou? Onde?

3. O que ela está fazendo? Que outra atividade ela poderia estar fazendo?

4. A pessoa está usando que tipo de vestimenta? (camiseta, calça, tênis/sapato, tanga, nenhuma roupa, etc.)

5. Esta pessoa sempre usa este tipo de vestimenta quando está nesse local?

 

Ao final, teremos uma pergunta que relaciona os dois desenhos:

- Você acha que estaria correto desenhar as duas pessoas vivendo no mesmo local, realizando as mesmas atividades e usando as mesmas vestimentas? Por quê? (Lembrando que os dois desenhos retratam o ano de 2018)

As folhas serão então recolhidas e a aula encerrada. Caso falte responder alguma questão, será dado um pequeno tempo extra na aula seguinte. Nesta aula o trabalho será individual, pois é necessário que cada discente exponha sua própria maneira de pensar.

 

 

 

Aula 2 e 3

Na aula seguinte, a atividade terá sequência com a apresentação de dois vídeos curtos, os quais são de agentes indígenas (os dois vídeos encontram-se no link presente nos anexos). Após os vídeos 1 e 2, a sala será dividida em grupos de 4 pessoas (podendo variar, dependendo do número de alunos). Cada grupo receberá um texto (fonte indígena) e quatro iconografias, juntamente com um questionário que abordará tanto os vídeos quanto o texto e as iconografias.

Os grupos deverão analisar os três tipos de documentos e responder às questões, sendo elas:

De acordo com os vídeos:

1. Os indígenas também usam recursos tecnológicos como a internet?

2. O que você achou de assistir a um youtuber indígena?

3. O uso da tecnologia prejudica a cultura dos indígenas?

4. Todos os indígenas pertencem a uma mesma “tribo” (etnia)? Existem diferenças culturais entre eles? Falam a mesma língua?

 

De acordo com o texto:

1. Todos os indígenas são iguais? Por quê?

2. O autor do texto se considera um "índio"? Por quê?

 

De acordo com as imagens:

1. Todos os indígenas retratados na imagem 2 são iguais?

2. Descreva o que eles têm em comum.

3. Descreva o que eles têm de diferente.

4. O "homem branco" da imagem 3 se veste da mesma forma do "homem branco" da imagem 4? Por quê?

5. Descreva o que as pessoas retratadas na imagem 1 estão fazendo.

6. As pessoas da imagem 1 deixaram de preservar sua cultura por estarem usando equipamentos tecnológicos ou bebendo Coca-Cola? Por quê?

 

Após concluírem de responder o questionário, os alunos receberão os desenhos, os quais haviam sido recolhidos na aula anterior, e será solicitado que, individualmente, redijam um texto a partir do seguinte enunciado:

- Olhe para seus dois desenhos e releia as suas respostas.

Você mudaria algo em seus desenhos? Se sim, o que você mudaria? Por quê?

Escreva um texto que responda a essas perguntas (mínimo de 4 linhas). Lembre-se dos vídeos, do texto e das imagens que trabalhamos na aula de hoje.

 

Ao final, será recolhido todo o material da aula.

 

Aula 4

A aula iniciará com a apresentação do Vídeo 3. Na sequência, o professor, oralmente, fará perguntas à sala a fim de aferir o que os discentes entenderam do vídeo. Após esta breve discussão, será dada aos alunos uma nova folha para que façam dois novos desenhos, os quais devem possuir os mesmos elementos solicitados nos dois primeiros: estar em um cenário específico e realizando alguma atividade cotidiana.

Ao concluírem os desenhos, o professor poderá ver se os alunos, ao longo da sequência didática, mudaram ou não sua compreensão a respeito das transformações que tanto a cultura indígena quanto a ocidental sofreram ao longo do tempo. Espera-se, que após essas atividades, o aluno também seja capaz de perceber a heterogeneidade que permeiam as diversas etnias indígenas brasileiras.

 

Anexos

·         Vídeo 1

O que é ser indígena no século XXI - Wariu, 2018

https://youtu.be/XDaS70F2fPw

·         Vídeo 2

Índio Kayapó explicando o que é ser indígena no século 21 -  Edson Kayapó

https://youtu.be/DCTEsPlfbww

·         Vídeo 3

#MenosPreconceitoMaisÍndio - Instituto Socioambiental, 2017

https://youtu.be/uuzTSTmIaUc

 

 

 

 

 

Iconografias

·         Imagem 1

uma imagem gerada com alta confiança

 

·         Imagem 2

Uma imagem contendo dançarino, foto, bolo, interior 

  

 

 

·         Imagem 3


Uma imagem contendo grupo, árvore, ao ar livre, céu

Desembarque de Colombo, John Vanderlyn (1846)

 

·         Imagem 4

Uma imagem contendo pessoa, ao ar livre, chão, pessoas

 

 

Texto

Aílton Krenak – Fala aos Brasileiros – São Paulo, 1992

Eu quero me apresentar para vocês que estão aí me ouvindo: o meu nome é Aílton, e eu me chamo Aílton Krenak porque nós temos o costume de trazer junto com o nosso primeiro nome o nome da nossa tribo. Muito antes do filho do português vir para cá, muito antes do filho do italiano vir para cá, lá existia um povo que sempre viveu aqui. Essa gente é que é chamada índios. Mas nós não somos índios. Antes de ter encontrado os brancos, eu nunca tinha ouvido falar da palavra índio. Os brancos é que nos chamam assim. Na minha língua, nós nos chamamos borun, que quer dizer 'ente humano, 'ser humano. Mas desde a hora que os portugueses chegaram aqui eles começaram a chamar a minha tribo, o meu povo, com esse apelido de índio. E não conseguiram até hoje entender que nós somos tribos diferentes, somos povos diferentes, cada um com uma identidade própria, habitando diferentes lugares do Brasil. E existe também uma diferença dessas tribos com os outros brasileiros.

Mas nós podemos construir um entendimento sobre este lugar do mundo em que nós vivemos que seja favorável à compreensão de que nós somos povos diferentes. Porque aqui tem um pessoal que veio da África, que são os negros; aqui tem os filhos dos japoneses e de outros que vieram pra cá, que são os imigrantes; mas existem também as tribos, as populações indígenas que sempre viveram aqui, que têm uma maneira de pensar, que têm um sonho para si mesmas, que gostariam de continuar vivendo e desenvolvendo a sua cultura, da mesma maneira que os outros povos têm.

 

 

 

 

 

Bibliografia

BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.

FERNANDES, Antonia; SANTOS, Eva Aparecida; SANTOS, Patrícia, PELLARES, Renata. Experiências docentes: Subprojeto História Capes/Pibid/USP. Revista História Hoje, v. 4, nº 7, p. 205-222 – 2015.

ZABALA, Antoni. Os enfoques didáticos. In: COLL, César, MARTÍN, Elena... (org.). O construtivismo ems ala de aula. São Paulo: Ática, 1996, p. 153-196.

Referencia
Graduandos