Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Graduação História
Disciplina
Uma História para a cidade de São Paulo: Um desafio pedagógico
Residência de quem e para quem?
Ana Carolina Apolinário
Professora Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes
Vespertino - 2º Semestre 2013
São Paulo - SP
Sequência didática: Residência de quem e para quem? Objetivo:
A sequência didática tem como finalidade estabelecer uma reflexão acerca da história da moradia no Brasil, sobretudo do pós-abolição ao período contemporâneo mantendo assim um diálogo de viés político, econômico e sócio cultural, pela descrição do meio rurbano em macro escala do Brasil, com peculiaridades do estado de São Paulo. Pretendo mostrar um panorama das habitações, até os complexos coletivos denominados cortiços e favelas alvos de preconceito e também símbolo da desigualdade social existente. Visa-se, portanto apresentar a camada de moradores em situação marginalizada ou aqueles que ainda não possuem uma propriedade, priorizando a visão analítica para a construção do senso crítico dos alunos.
- Público Alvo:
- 2º ou 3º Ano do Ensino Médio.
- Material desenvolvido ao Professor, para que este possa trabalhar em sala as perspectivas habitacionais existentes de acordo com interesses diversos.
- Palavras Chaves:
Brasil, São Paulo, Cortiços, Urbanização, Favela, Moradores da rua, Movimentos sociais organizados.
- Duração: 6 aulas.
Contextualização
“Eu não tenho onde morar é por isso que eu moro na areia”1, este verso musicado metaforicamente, mostra de forma crítica a ausência de moradia a todos, esse tema é uma grande problemática social brasileira, mas por que será que em um país de dimensão continental, ainda não se conseguiu suprir um dos direitos humanos2?
Moradia, residência, habitação, abrigo, lar, palavras sinônimas que designam o local onde moramos. Bem como a cidade de São Paulo que já obteve diversas alcunhas: “Vila dos Jesuítas”, “cidade dos Bandeirantes”, “Imperial cidade e Burgo dos estudantes”, “capital do café” e “São Paulo polo industrial do Brasil”. Cada uma destas
nomenclaturas representa o imaginário de determinado momento histórico.
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1 CAYMMI, Dorival, canção “Eu Não Tenho Onde Morar” álbum de 1960, pela gravadora Odeon.
2 O Artigo XVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, diz:
1) Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros;
2) Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Pois a megalópole do mundo ocidental, localizada na América do Sul, possui muitas marcas do passado apesar de todas as tentativas de destruição. Terreno construído e reconstruído por várias vezes à medida que sua estrutura de produção mudava. As transformações inscritas em seu espaço correspondem à chegada e fixação de levas de moradores trabalhadores, pessoas construtoras da cidade.
Durante o fim do século XIX, a elite paulistana cunhou o período colonial do sudeste como o gérmen do desenvolvimento do país, através da inserção de atributos a capital paulista, como a “locomotiva do Brasil” e o mito dos bandeirantes como desbravadores do sertão, numa tentativa de legitimar a tradição e a unidade familiar. Mas vamos voltar um pouco no tempo.
Por estudos revisionistas da história da vida privada, é possível conhecer o cotidiano e modo vivente dos bandeirantes, suas ambições e costumes. Em uma perspectiva mais compreensível do que a mítica criada para a sua exaltação. Bem como os outros grupos do mesmo período histórico em condição de liberdade ou escravidão.
Grafite realizado por Helder de Sousa3 na data de 01/11/2013.
1) Como exercício os alunos podem pesquisar, procurar e observar as casas mais antigas da cidade, como as habitações paulistas do período colonial, as cabanas de pau a pique, ocas, quilombos, choupanas, mocambos, edifícios conventuais, entre outros. Após a pesquisa verificar através de discussão em grupo como eram as moradias e quem as habitava.
Aula 1 - Ouro de tolo: São Paulo de ontem e de hoje.
A cidade teve sua paisagem modificada pela atividade comercial, em nome do “progresso e a civilização” a chácara foi expandida e toda a colina povoada, mas não houve um planejamento de inserção de todos os moradores.
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3 Helder de Sousa ou Origi é b.boy e grafiteiro, morador da DaVila, idealizou de acordo com seus conhecimentos históricos esta representação de Bandeirante. A imagem dialoga com a realidade construída pela historiografia ou não?
O centro antigo durante muito tempo foi utilizado para escoar a produção comercial, seu apogeu ocorreu com os casarões construídos pela elite cafeeira, as pessoas da classe média alta e também alguns donos dos bens de produção.
Enquanto as pessoas de menor poder aquisitivo passaram a ocupar as áreas periféricas e várzeas de rios. Estas pessoas habitavam em muitos casos residências coletivas. Nestas vilas coabitavam os nascidos aqui e os iludidos com o sonho da cidade grande, (imigrantes e migrantes), atraídos e rejeitados logo no inicio, passaram a viver como podiam.
2) Para atividade pode-se estabelecer uma comparação entre a cidade de São
Paulo em 1775, com a de 2013:
[“Para proceder ao levantamento anual dos habitantes da cidade de São Paulo, a mando do Morgado de Mateus, a partir de 1765, os recenseadores naturalmente procuraram localizar a população através de suas moradias situadas na confusa rede de ruas, becos, travessas ou servidões de passagem estabelecida desde o século XVI e que, com o tempo, foi sofrendo lentas alterações ou acomodações visando não só facilidades para o tráfego, mas a garantia de um “endereço”, isto é, da demarcação definitiva de uma posse, ou melhor, da propriedade do imóvel na cidade de todos. Naqueles dias, eram muito poucas as ruas já delimitadas através do uso constante, sobretudo aquelas nascidas dos caminhos de saída do burgo bandeirante. Não devemos esquecer que ainda não havia compacidade no adensamento populacional; a cidade era rarefeita, mercê de grandes quintais. Ruas com casario contínuo de ambos os lados, as mais populosas eram muito poucas, como a Rua Direita, a do Rosário, a São Bento na altura dos “Quatro Cantos”, ou a da “Quitanda”, nome assumido pela Rua da Misericórdia ou do Comércio nos primeiros tempos. Daí a expressão Quitanda Velha, quando a denominação se destinou também ao beco ou rua “do Cotovelo”, que fazia a sua ligação com a Rua São Bento. Enfim, essas ruas já bem definidas cercavam grandes bolsões de propriedades, acessíveis unicamente por vias ou passagens sem nome e, daí, seus donos outrossim serem arrolados como moradores de
“travessas” das vias “oficiais” mais próximas.”]4
O trabalho acima utiliza recenseamentos do século XVIII, e abaixo temos um estudo de recenseamento do IBGE de 2010, para entender a dinâmica da cidade, seu marco zero e estrutura cultural, social e política. Para uma analise de semelhanças e contraste do passado e presente pode-se estudar as cartas topografias e o recenseamento antigo e contemporâneo.
[“Abaixo a matéria publicada no JT de dezembro de 2010 com importante observação da professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo Raquel Rolnik:
Há mais casa vazia que família sem lar em São Paulo. Tiago Dantas
O número de domicílios vagos na cidade de São Paulo seria suficiente para resolver o atual déficit de moradia. E ainda sobrariam casas. Existem, na capital, cerca de 290 mil imóveis que não são habitados, segundo dados preliminares do Censo 2010. Atualmente, 130 mil famílias não têm onde morar, de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação – quem vive em habitações irregulares ou precárias, como favelas ou cortiços, não entra nessa conta.
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4 LEMOS, Carlos. Organização urbana e arquitetura em São Paulo dos tempos coloniais. IN: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo – A cidade colonial 1554-1822. São Paulo: Paz e Terra, 2004, pp. 177.
Os recenseadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encontraram
3.933.448 domicílios residenciais na capital, onde vivem 11.244.369 pessoas. “Foram contabilizadas
107 mil casas fechadas, que são aquelas em que alguém vive lá e não foi encontrado para responder ao questionário”, explicou a coordenadora técnica do Censo, Rosemary Utida. Já as 290 mil residências classificadas como vazias não têm moradores, diz Rosemary.
O Censo de 2000 já mostrava que a capital tinha mais casas vazias do que gente
precisando de um lugar para morar, segundo a urbanista Raquel Rolnik, relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para o direito à moradia adequada e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. “Em 2000, tínhamos cerca de 420 mil domicílios vagos para um déficit de 203 mil moradias. Era quase o dobro”, afirma Raquel.
O secretário municipal de Habitação, Ricardo Pereira Leite, discorda dessa conta. “Se desse para resolver o problema só distribuindo as casas para quem não tem onde morar, seríamos os primeiros a propor isso”, afirma. Segundo Leite, o número revelado pelo Censo diz respeito à vacância de equilíbrio, o tempo em que um imóvel fica vazio enquanto é negociado.
A relatora da ONU avalia que, mesmo que parte desses imóveis precisasse passar por
reforma antes de ser destinado à moradia popular, seria possível, pelo menos, reduzir o número de famílias sem-teto. Um dos maiores entraves para a solução do problema, porém, é o preço do solo. “A moradia tem, como função principal, ser um ativo financeiro, e acaba não desempenhando sua função social”, diz a professora da FAU-USP.
Segundo ela, o poder público poderia investir não só na construção de casa, mas em subsídio de aluguel. “Infelizmente temos uma inércia e uma continuidade muito grande nessa área. As políticas públicas não tiveram, ainda, força para provar que o pobre não precisa morar longe, onde não há cidade, aumentando os deslocamentos na cidade”, opina Raquel.5
Entre o plano dos desejos encontramos ainda de maneira forte o sonho pela casa própria, tão propagandeada tornou-se uma forma de atração de um determinado público a muitas gerações. E a população mais pobre esteve e ainda se mantém numa situação de falta ou em condição de moradia desconfortável, pautadas pelos alugueis, cortiços, ou favelas.
Atividade extra:
Uma residência nos remete a um endereço, pensando nisso agucemos nossos sentidos. Um olhar atento e observador nos instiga acerca das construções, características peculiares e cada rua, avenida ou travessa, guarda uma história curiosa, não somente aquelas que homenageiam pessoas que de certa forma participaram ou foram colocadas na história como vitoriosas. Mas o olhar atento nos revela nomes de ruas como: do Violão, Bandolim, Flauta, da Graúna, Sábia, do Tanque Velho, do Gasômetro, da Indústria, entre outras.
3) Reúna um grupo de estudo, faça um estudo de meio em seu bairro, observe a cidade ao redor, as casas, seu formato arquitetônico, é importante saber se há domicilio vazio e por que, qual foi o uso anterior do local e se possível quem era o antigo proprietário. Fotografem e entrevistem moradores antigos. Para a discussão em sala troquem as experiências vividas, contado os relatos e
exibindo o material.
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5 Matéria disponível no link: http://umhistoriador.wordpress.com/2013/10/30/moradia-ha-mais-imoveis-vazios-do-que-familias- sem-moradia-em-sao-paulo/, acesso em dezembro de 2013.
Aula 2 - Estudo com imagens:
Para a constituição do olhar crítico podemos comparar fotografias do antes e depois;
Figura 01: Moradores da área do vale do Bexiga (rua Japurá próximo à rua Jacareí, 1942) parte traseira dos cortiços do início da rua Japurá. (Acervo Municipal do Estado SP).
Figura 02: Barcos no rio Tamanduateí, provavelmente nas proximidades da Rua Santa Cruz da Figueira, no Brás, c.1910, São Paulo – SP. (Vincenzo Pastore/Acervo Instituto Moreira Salles)
Figura 03: Casario e lavadeira às margens do rio Tamanduateí, c. 1910, São Paulo – SP. (Vincenzo Pastore/Acervo Instituto Moreira Salles)
Figura 04: Rio Tamanduateí, Parque Dom Pedro II – São Paulo, 2009. (Disponível em: http://www.panoramio.com/photo/36355392)
Figuras 05 e 06: Fotografias recentes, Várzea do rio Tamanduateí, a imagem 06 (à direita) mostra os moradores sem teto na área de convivência da região, São Paulo, 2013/Ana Carolina Apolinário.
Refletir é preciso:
“Com a aceleração do desenvolvimento industrial na cidade, com o constante crescimento populacional, e com a baixa oferta de casas, já que desde o início da Grande Guerra (1914-1918) não se construía mais na capital paulista, os aluguéis das moradias pobres acabaram por atingir as alturas. Tornou-se desde então uma das metas da luta popular a criação da Lei do Inquilinato. Segundo a imprensa operária da época, esse dispositivo legal viria a se tornar um instrumento de defesa das camadas de baixa renda, já que aliviaria as agruras dos trabalhadores.
Durante o Estado Novo (1937-1945), foi instituída a Lei do Inquilinato (1942), lei
que tinha como objetivo básico desestimular o mercado rentista imobiliário por meio do congelamento dos aluguéis. Embora vista na época como uma medida eficaz para forçar a baixa dos valores das locações, a Lei do Inquilinato, segundo a interpretação de Nabil Bonduki (Origens da habitação social no Brasil, 1998), acabou provocando, ao contrário, uma forte crise no setor habitacional.
Com a falta de imóveis para alugar (ninguém mais os construía porque não era mais garantia de obtenção de renda) e com o Estado, nas décadas seguintes, mostrando- se incapaz de buscar uma solução realmente válida para a questão da moradia popular, só restou à população mais pobre tentar solucionar o problema por si mesma, por meio da autoconstrução, em loteamentos clandestinos desde então abertos na periferia dos grandes centros habitacionais, e por meio do fenômeno do encortiçamento, da favelização e da invasão de áreas públicas e particulares, hoje amplamente disseminados
pelas áreas urbanas de todas as grandes cidades brasileiras.” 6
O contexto acima em comparação com as imagens nos leva a refletir sobre a questão habitacional problemática ainda hoje, juntamente com a degradação ambiental.
Além de convivermos diariamente com a desigualdade social, representada por distinções nas moradias dos mais e menos abastados, ou ainda aqueles que nem teto tem, para abrigar-se.
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6 CAMPOS, Eudes. Casas e vilas operárias paulistanas. Informativo Arquivo Histórico Municipal, 4 (19):
jul/ago.2008, disponível no site: http://www.arquivohistorico.sp.gov.br
Aula 2 – Continuação: Estudo com as canções populares.
Muitos foram os compositores preocupados e protestadores da problemática acerca da moradia. Portanto a música é uma forma de sensibilizar os alunos, assim a aula pode contar com a exposição de estrutura habitacional “ilegal”, com problematização da falta de recurso de alguns moradores, sobretudo no pós-abolição, no qual os ex-escravizados, tachados como vadios, encontraram no cortiço, maloca sua morada, mas viviam em condições precárias, devido à falta de saneamento básico e a pouca presença do Estado assistencialista, pois o projeto e plano desenvolvido por muitos governantes foi o de expulsão e bota abaixo, em situação degradante os recém-saídos das senzalas, vão morar nos cortiços e daí para a rua sem nenhuma assistência, conforme menção das canções abaixo.
Eu Não Tenho Onde Morar
Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia
Eu nasci pequenininho Como todo mundo nasceu Todo mundo mora direito
Quem mora torto sou eu
Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia
Vivo na beira da praia Com a sorte que Deus me deu Maria mora com as outras Quem paga o quarto sou eu
Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia
Composição de 1960, Dorival Caymmi
Moro onde não mora ninguém
Moro onde não mora ninguém Onde não passa ninguém Onde não vive ninguém
É lá onde moro
E eu me sinto bem Moro onde moro .... Não tem bloco na rua Não tem carnaval
Mas não saio de lá
Meu passarinho me canta a mais linda
Cantiga que há
Coisa linda vem do lado de lá
Coisa linda vem do lado de lá
Moro onde moro ... (eu também moro...) Uma casinha branca
No alto da serra
Um coqueiro do lado
Um cachorro magro amarrado
Um fogão de lenha, todo enfumaçado
É lá onde moro
Aonde não passa ninguém É lá que eu vivo sem guerra É lá que eu me sinto bem
Agepe ano de 1975.
Opinião
Podem me prender
Podem me bater
Podem, até deixar-me sem comer Que eu não mudo de opinião Daqui do morro
Eu não saio, não
Se não tem água Eu furo um poço Se não tem carne
Eu compro um osso
E ponho na sopa
E deixa andar
Fale de mim quem quiser falar
Aqui eu não pago aluguel
Se eu morrer amanhã, seu doutor
Estou pertinho do céu
Composição de 1964, Zé Keti.
A Lei do Inquilinato
O Doutor vai descurpa, nós viémus se informá,
E a informação é só o sinhô, que pode dá, nós mora numa favela,
Sem soalho e sem janela,
Que nem siqué, nós pode arrespirá! Nós paga prá morá, quatrocentos miréis, Até aí, tá tudo muito bem!
É, mas por fóra do recibo, é que nós paga,
Mais um conto e cem!
E como se não bastasse, a nossa situação;
Aindo proprietário que mudar, Dizendo que aumentaram o imposto do terreno,
E se nós num pagar mais, ele faz um galinheiro!
Então, nós viemus pra sinformar,
A Lei do Inquilinato, onde é que está?
Composição de 1957, de Lino Tedesco.
Daqui não saio
Daqui não saio / daqui ninguém me tira / onde é que eu vou morar / o senhor tenha paciência de esperar / inda mais com quatro filhos
/ onde é que vou morar/...
Composição de 1950,
Paquito e Romeu Gentil.
Despejo na Favela
Quando o oficial de justiça chegou
Lá na favela
E contra seu desejo Entregou pra seu Narciso Um aviso pra uma ordem de despejo
Assinada seu doutor, Assim dizia a petição
Dentro de dez dias quero a favela vazia
E os barracos todos no chão
É uma ordem superior, Ôôôôôôôô Ô meu senhor, é uma ordem superior
Não tem nada não, seu doutor, não
tem nada não;
Amanhã mesmo vou deixar meu barracão Não tem nada não, seu doutor, vou sair daqui
Pra não ouvir o ronco do trator Pra mim não tem problema
Em qualquer canto me arrumo
De qualquer jeito me ajeito Depois o que eu tenho é tão pouco
Minha mudança é tão pequena que
cabe no bolso de trás Mas essa gente aí, hein, como é que faz???
Composição de 1969, de
Adoniran Barbosa
O som e o sentido das canções funcionam como uma maneira de sentir o modo de vida das pessoas retratadas nas canções populares, ao longo dos anos.
Aula 3 e 4 - Especulação imobiliária e as intervenções populares na cidade.
Saudosa maloca, maloca querida7, o século XX, foi marcado pelo consumismo, para disseminação desta ideia a publicidade tornou-se uma grande aliada. Pois a região central antes desvalorizada e ocupada por pessoas marginalizadas, pouco a pouco, torna-se alvo atrativo, estratégico ao comércio. Assim os antigos moradores do centro perdem seu domicilio, porque os lugares tornaram-se “importantes” e assim reivindicados por outros grupos sociais, que defendiam a ideia de que as pessoas pobres eram vadias, promiscuas, sendo necessária medida sanitarista para a cidade.
A população pobre majoritária negra passou a morar cada vez mais afastada da área central, na periferia, a dinâmica econômica paulatinamente transforma-se de latifundiária cafeeira em industrial.
Assim as moradias coletivas próximas às fábricas transformam-se em atrativas, dando inicio as vilas operárias.
“Embora a forma de vila operária encontre raízes em um remoto passado. Elas apareceram como um sucedâneo da senzala no período escravocrata, junto à casa senhorial, rural ou urbana, o proprietário preservava e protegia sua mercadoria (o escravo). Posteriormente, o trabalho livre rural, exercido pelo colono, também foi controlado e parcialmente remunerado pelo uso da habitação nas “colônias” no interior das fazendas”.8
Fotografias recentes da vila operária na região do Brás - São Paulo, 01/12/2013 - Ana Carolina Apolinário.
Algumas casas operárias ainda existem e estão tombadas pelo CONDEPHAT, estas fotografias nos apresenta um pouco como estava configurado o espaço operário em São Paulo. O empresariado beneficiou-se desta articulação na medida em que a mão de obra fabril “consumia sua morada”, porque o operário produzia por salário aviltado,
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7 Saudosa Maloca é uma composição de Adoniran Barbosa em 1951. Também interpretada por
Demônios da Garoa.
8 BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: Vilas operárias na cidade de São Paulo. São Paulo,
Nobel, 1985, pp. 30
deixava, portanto, boa parte de sua renda no aluguel e nos alimentos, pois era comum a presença dos quartos no primeiro andar e na parte térrea destas casas funcionava um armazém, sendo assim o empregador tinha seu dinheiro de volta de modo altamente lucrativo.
Pode-se também abordar o sonho da casa própria, pois a questão habitacional foi largamente pensada como um produto a ser entendido dentro da teoria das “necessidades sociais”, num sistema econômico regido livremente pela procura e oferta. O direito acabou-se tornando um status, hoje existem peculiaridades contraditórias, pois determinados grupos sociais moram em condomínios fechados, isolados do restante da população, mas com ampla infraestrutura, na contrapartida as pessoas menos abastadas continuam morando na favela, sem nenhum tipo de amparo principalmente no que diz respeito a saneamento básico e outras necessidades.
Bandeira de luta pelo direito.
Pela analise histórica dos movimentos sociais atrelados aos problemas habitacionais poderíamos estabelecer um marco importante já em 1808.
Pois assim que D. João VI, desembarcou no Rio de Janeiro percebeu-se que não haveria abrigo para “acomodar a família real e a corte de 1500 fidalgos, a cidade do Rio de Janeiro contava na época, com 15 logradouros, 46 ruas, 19 campos ou largos, 6 becos e 4 travessas. Embora D João VI fosse conciliador e pacifico, logo os fidalgos recorreram à violência e as “aposentadorias”, as ordens sumarias tornaram-se praxe. As letras PR sobre as fachadas das casas pretendidas pelos fidalgos e que significavam Príncipe Regente passaram a significar Ponha-se na Rua.”9
Artigo XVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos de José Guyer
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9 O trecho faz parte da obra de arte que retrata o artigo XVII da Declaração Universal dos Direitos Humanos de José Guyer Salles: “Todo ser humano tem direito a propriedade”. A mostra sobre os direitos foi exposta pelo Sesc Pompeia, (Direitos Humanos – Essência e Arte: São trabalhos inspirados na Declaração Universal dos Direitos Humanos desenvolvidos para a exposição "Cidadania: 200 anos da declaração dos direitos do homem e do cidadão" realizado pelo Sesc Pompeia em 1991), atualmente esta exposta no Centro Cultural Banco do Brasil, na mostra “Resistir é Preciso...”, de 12 de outubro de 2013 a 06 de janeiro de 2014, a imagem esta no site http://colecoesnacionais.com.br/loja/product_info.php?products_id=6375&osCsid=52bbe1f9efe964e07af955c35699022c
Pode-se discutir em grupo como a população já vivente no Brasil deste período foi tratada, expulsa e excluída de suas casas, para acomodação dos fidalgos.
Um ponto de luta que também pode ser abordado em sala são os movimentos sociais organizados por moradia, pois existem muitos imóveis voltados ao interesse especulativo fruto da supervalorização ou desvalorização do adensamento do espaço urbano. Por esta razão alguns proprietários deixam seus imóveis em situação degradante visando valorização do espaço, sem um uso social, enquanto outras pessoas se veem impossibilitadas da conquista ao direito a moradia.
Por conta dessa situação muitos prédios ou casas abandonadas são ocupados, temos exemplos de movimentos como a FLM (Frente de Luta por Moradia), o MMRC (Movimento de Moradia da Região Centro), MMRT (Movimento Moradia Para Todos).
Imagem 01: Prédio ocupado pela FLM, na Avenida Consolação, há outros locais ocupados na região central como na
Avenida São João, próximo a Praça do Correio Av.
Rio Branco, dentre outros / São Paulo
04/12/2013 - Ana Carolina Apolinário.
FLM (Frente de Luta por moradia)
Conteúdo atualizado em 24/04/10
A Frente de Luta por Moradia (FLM) é um coletivo de luta por moradia, formado por representantes de movimentos autônomos que somam esforços para conquistar projetos habitacionais. Os movimentos que integram a Frente são comprometidos com a implantação de políticas sociais destinadas à população de baixa renda.
A FLM estimula e articula ainda lutas populares em geral, defendendo a luta popular permanente, o mais abrangente possível, com participação intensa das famílias.
A Frente participa de outras organizações de luta social, em âmbito internacional, nacional, estadual, regional e municipal, visando somar esforços no sentido de fortalecer o desenvolvimento de programas habitacionais e sociais para as famílias de baixa renda.
Fonte: http://www.portalflm.com.br/frente-de-luta-por-moradia/principios
Objetivo
Nosso site tem como objetivo principal estimular a conscientização da luta por moradia. Buscar de forma incessante o cumprimento do art. 6º da Constituição Federativa do Brasil, que expressa sobre o direito de todos à MORADIA. Por intermédio desse site, queremos estabelecer um intenso intercâmbio com o munícipe, apresentando O MMPT como ela é: um MOVIMENTO que representa a voz daquele que não suporta mais pagar aluguel, viver sem um teto. Essa luta é de todos nós.
O MMPT defende a prioridade da reutilização dos prédios que não cumprem sua função social
no centro da cidade, por meio da desapropriação por parte dos órgãos governamentais. É nesse sentido que, com a colaboração de um coletivo de arquitetos e alunos da FAUUSP, o Movimento já se adianta com projetos de conversão dos edifícios ocupados (6 edifícios situados na área de abrangência da contra-rótula.
O MMPT defende a ideia de locação social, dado a possibilidade de acesso à moradia no centro desvinculada do valor das prestações do custo do imóvel. “Além disso, o fato de o imóvel manter como propriedade pública, impede que a população beneficiada fique submetida à pressão do mercado imobiliário que a expulsa quando há valorização das áreas centrais” (Moradia é Central, Centro Gaspar Garcia, 2012)
Como Lutamos
Por acreditarmos na importância da construção participativa e na gestão democrática da cidade, Participamos ativamente de todos os debates em volta da cidade: Plano Diretor, Gestão das ZEIS, etc. Trazendo propostas para solucionar problemas urbanos.
Para pressionar os governantes e agilizar o processo, são OCUPADOS prédios que estão a muitos anos abandonados, ou seja, sem função social*, e com dividas com o próprio estado como: IPTU, contas de água e luz.
Os ocupantes são famílias de baixa renda e de boa fé que lutam pelo direito a uma moradia digna no centro da cidade, próximas ao trabalho, ao lazer, a saúde e a cultura.
Advogados, Pedagogos, professores, também moram nas ocupações lutando pelo direito a
moradia e pelo direito à cidade.
A OCUPAÇÃO AUXILIA também famílias, crianças e idosos em grande risco social, criando um espaço onde seja possível sua reestruturação, fazendo o dever que o Estado não cumpre!
As ocupações seguem regras para que se possa ter uma boa convivência: o morador não pode
entrar embriagado e nem usar drogas dentro da ocupação. Qualquer violência seja física, verbal a adultos e crianças não é tolerada no interno da Ocupação.
Medidas e Programas municipais.
Cortiços
[“A Prefeitura de São Paulo está trabalhando para acabar com o estigma do cortiço como emblema do abandono e da moradia precária. Desde que iniciou o Programa de Cortiços, em 2006, a Secretaria de Habitação (Sehab), em parceria com o Programa de Atuação em Cortiços da Companhia do Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e com as subprefeituras, atua intensivamente junto aos proprietários dos imóveis para mudar o quadro dessas moradias subnormais.
Os resultados são significativos. Duas subprefeituras importantes da capital, Sé e Mooca, que abrigam respectivamente 1.288 e 523 cortiços, são
exemplos da transformação. Na Mooca, 179 cortiços estão em reforma, que trará
uma vida melhor para 1.694 famílias; na Sé, já são 113 imóveis em reforma para beneficiar 1207 famílias.
O cortiço é um problema de origem antiga e complexa. Porção expressiva dos moradores de cortiços sempre viveu em regiões com excelente infraestrutura de urbanização sem, no entanto, poder usufruir do conforto de morar no centro. O que o Programa de Cortiços faz, sobretudo, é alterar essa realidade.
Com o advento da Lei Moura (1991), que estabelece as condições mínimas de iluminação, ventilação, segurança de estrutura e instalações elétricas, espaços, equipamentos e adensamento máximo, os proprietários dessas
moradias coletivas, apesar de obrigados a obedecer aos parâmetros então estabelecidos, não o faziam. Faltava a presença do poder público para isso.
A Lei Moura e sua aplicação
Fazer valer a Lei é tarefa de difícil execução, mas viável. O primeiro passo foi ir a campo mapear e vistoriar os cortiços da Capital. Até o momento foram vistoriados 1.590 imóveis. Como premissa do Programa, foi criada uma metodologia que está apoiada em três eixos: capacitação dos moradores de cortiços; fiscalização para adequação dos imóveis à lei e intervenção nos imóveis.
O trabalho exigiu um leque de ações que começam com uma visita do fiscal da subprefeitura para intimar o imóvel. Assim que é constatada a irregularidade, o proprietário recebe uma intimação, que, caso não seja atendida,
pode resultar em fechamento do imóvel e multa, que chega a R$ 18 mil. Até o momento, as intimações têm obtido
excelente resposta.
O proprietário deve, a partir do laudo técnico de Sehab que indica as reformas exigidas, proceder às intervenções para adaptar seu imóvel à lei. Enquanto aguardam as reformas, os moradores podem optar por uma moradia temporária ou por uma unidade habitacional em programa da CDHU (caso tenha renda para tanto) e até
mesmo receber uma carta de crédito, calculada de acordo com a renda familiar.
O valor da carta de crédito para aquisição do imóvel pode variar de R$ 29 mil a R$ 58 mil, com prestações que vão de R$ 62 a R$ 242. Como o valor médio do aluguel nos cortiços é de R$ 200, significa que muitos moradores têm capacidade financeira para pagar um financiamento. Com isso pode-se
constatar que os "encortiçados" têm as menores rendas e pagam muito caro por um local insalubre e altamente adensado, realidade antiga que o programa está mudando.
Com a adoção do Programa de Cortiços, muitas famílias que antes eram
"encortiçadas" já vivem em melhores condições. Na Mooca, 1.780 famílias e, na Sé, outras 347 famílias já foram encaminhadas para atendimento da CDHU, o que totaliza 4 mil famílias em atendimento em apenas 46 meses de aplicação do Programa.
Os números do problema
- Na Capital existem 23.688 imóveis "encortiçados", onde vivem 160.841 famílias (dado Fipe, 1993);
- Na Subprefeitura da Sé são 1.288 cortiços onde vivem 15.102 famílias;
- Na Subprefeitura da Mooca são 523 cortiços onde vivem 4.156 famílias”.]10
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10 Fonte pesquisada site da prefeitura de São Paulo:
Site: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/programas/index.php?p=3380, na data de
01/11/2013.
Imagens desta página: São Cortiços da Região do Brás e Luz. Fotografias de Ana Carolina Apolinário em 01/12/2013.
Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS.
[“Caracterização do serviço: Unidade pública onde se ofertam serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos nas diversas situações de violação de direitos na perspectiva de potencializar e fortalecer sua função protetiva.
Usuários: Famílias e indivíduos que vivenciam violação de direitos, dentre eles a violência física, psicológica, sexual, situação de rua, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, etc.
Formas de Acesso ao Serviço: por identificação e encaminhamento do CRAS, dos serviços de proteção e vigilância social; por encaminhamento de outros serviços socioassistenciais, das demais políticas públicas setoriais, dos demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos e demanda espontânea ”.]11
Medidas como esta são importantes para amparo da população carente, entretanto ainda não atingimos a causa maior da problemática, que é a desigualdade social, possibilitadora da fortuna de poucos e miséria de muitos.
Locais esquecidos pelo poder público, mas não pelos desabrigados:
Os Campos Elíseos antes comparado ao Champs Élyseés, hoje ganhou a alcunha de Cracolândia. O Castelinho da rua Apa, possui uso comum, dos moradores da rua desta região, embora esteja em uma situação de urgência para a reforma, o local tido como uma lenda urbana, por conta de um crime, passa por extremo abandono e em seu anexo hoje vigora o Clube de mães, coordenado por Maria Eulina dos Reis Hilsenbeck.
Mas enquanto todas estas tramas de interesses e desinteresses correm pelo tempo tão vertiginosamente quanto os veículos e as mudanças pela cidade, o Castelinho já perdeu o telhado, o assoalho do segundo andar, as portas e as janelas. Instalado num endereço caro, embora não mais elegante, ainda conserva o aspecto que lembra uma apropriação da Idade Média numa das avenidas mais movimentadas da capital paulista. Assim podemos questionar as propriedades antigas devem ser preservadas ou detonadas para a construção de uma nova cidade?
“De iniciação ater-se a três temas básicos: por que preservar, o que preservar e como preservar, levando-se em conta tão-somente o caso brasileiro, com suas peculiaridades, sem, contudo, descuidarmos das recomendações internacionais a que estamos sujeitos via acordos culturais regidos pela UNESCO.” 12
“Assim, preservar não é só guardar uma coisa, um objeto, uma construção, um miolo histórico de uma grande cidade velha. Preservar também é gravar depoimentos, sons, músicas populares e eruditas. Preservar é manter vivos, mesmo que alterados, usos e costumes populares. É fazer, também, levantamentos, levantamentos de qualquer natureza, de sítios variados, de cidades, bairros, de quarteirões significativos dentro do
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11 Site: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/assistencia_social/creas/index.php?p=2003PALAVRAS- CHAVES:%20creas,%20centro%20de%20refer%C3%AAncia%20especializado%20de%20assist%C3%AAncia%20social,
12 LEMOS, Carlos A.C, O que é Patrimônio Histórico. São Paulo, Brasiliense, 1981, p. 23.
contexto urbano. (...) especialmente aquelas sabidamente condenadas ao desaparecimento decorrente da especulação imobiliária.” 13
Fotos da esquerda para a direita: Castelinho da rua Apa em dois momentos, na data de 1933 e atualmente.
Neste contexto, é preciso avaliar a importância de conservação e preservação do patrimônio, este símbolo neomedieval passou por diversos momentos de glória e hoje encontra-se totalmente degradado pela ação natural do tempo e também pelo abandono imposto ao bem público, tão frequente em nosso cotidiano, talvez pela especulação imobiliária, ou pelos interesses vastos que o local ocupa no imaginário paulistano.
Ao castelo da Apa, restou, portanto refugio aos excluídos do sistema capitalista vigente, as pessoas antes em condição de degradação buscam no espaço um meio de reinclusão social, adquirido através da ONG Clube das Mães do Brasil, fruto da persistência da senhora Maria Eulina dos Reis Hilsenbeck, porque o castelo em questão passou por alterações e releituras permanentemente ao longo de sua existência, e mantém-se resistente na medida do possível aguardando o restauro, proposto recentemente pelo arquiteto, Paulo Bastos.
Entretanto é notória a diferença com construções diversas, instaladas em outras áreas dentro do estado, e com usos financeiros distintos. Pois se no momento da construção o castelo da Rua Apa era elemento de luxo, pompa e reflexo da Belle Époque, este status hoje foi emprestado as demais moradias e pontos de consumo, utilizadas por pessoas de alto poder aquisitivo, que não se importam de empregar milhões, em lazer e a “segurança” enquanto a maior parte da população ainda vive modestamente.
Para refletir ouça a canção: Cidadão de Zé Geraldo
Tá vendo aquele edifício moço? /Ajudei a levantar / Foi um tempo de aflição / Eram quatro condução / Duas pra ir, duas pra voltar / Hoje depois dele pronto / Olho pra cima e fico tonto / Mas me chega um cidadão / E me diz desconfiado, tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar? / Meu domingo tá perdido / Vou pra casa entristecido / Dá vontade de beber / E pra aumentar o meu tédio / Eu nem posso olhar pro prédio / Que eu ajudei a fazer / Tá vendo aquele colégio moço? / Eu também trabalhei lá / Lá eu quase me arrebento / Pus a massa fiz cimento / Ajudei a rebocar / Minha filha inocente / Vem pra mim toda contente / Pai vou me matricular / Mas me diz um cidadão / Criança de pé no chão / Aqui não pode estudar / Esta dor doeu mais forte / Por que que eu deixei o norte / Eu me pus a me dizer / Lá a seca castigava mas o pouco que eu plantava / Tinha direito a comer / Tá vendo aquela igreja moço? / Onde o padre diz amém / Pus o sino e o badalo / Enchi minha mão de calo / Lá eu trabalhei também / (...)
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13) LEMOS, Carlos A.C, O que é Patrimônio Histórico. São Paulo, Brasiliense, 1981, p. 29.
Atividade Interdisciplinar:
4) Os professores de literatura, geografia podem se unir-se ao professor de história para montagem de um roteiro para estudo do meio.
ü Professor de Literatura: é possível explorar a leitura nas obras:
a) O Cortiço de Aluizio de Azevedo, Quarto de despejo da Carolina Maria de Jesus e Capitães da Areia de Jorge Amado, pois o cortiço traz uma análise darwinista da sociedade, o quarto de despejo traz as angústias de uma mulher, negra, mãe solteira, cuja única válvula de escape é a escrita, o desabafo com o papel e o trapiche é um local de liderança, sobrevivência, violência, lealdade entre os meninos abandonados que vivem em liberdade e solidão, sem conhecimento da infância, mas dotados dos sentimentos universais.
ü Professor de Geografia: apresentar, mapas e cartas topográficas de São Paulo, bem como recenseamentos, comparando dados e propondo um levantamento habitacional da região selecionada.
ü Professor de História: solicitar um vídeo documentário do roteiro realizado, posterior às discussões.
Aula 5 - Diversidade habitacional: da moradia coletiva marginal aos condomínios luxuosos da elite burguesa.
[“Urbanizar é levar infraestrutura, como abrir e pavimentar ruas, instalar iluminação pública, construir redes de água e de esgoto e criar áreas verdes e de lazer, além de espaço para escola, creche e posto de saúde. A urbanização é uma estratégia, pois também garante o acesso à saúde e à segurança, na medida em que ambulâncias e policiamento têm acesso a esses locais, antes degradados, sem ruas pavimentadas, calçadas, vielas etc”.
“A urbanização é indispensável para a regularização fundiária dessas áreas que, por sua vez, é fundamental para promover a inserção dessa população no contexto legal da cidade”.]14
Bem mais esta mesma ausência do estado contribuiu para o crescimento da violência e outras mazelas.
[“E existem os enclaves fortificados, modelo de segregação espacial e social, transformadores da realidade publica, por serem locais privatizados, fechados e monitorados, com finalidade residencial, trabalho, lazer e consumo. Erguidos pelo medo das pessoas que não conseguem ter segurança na cidade.”]15
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14 Estas informações são ditas no Programa de Regularização Urbanística e Fundiária do país e abrange ainda loteamentos irregulares e precários.
15 Teresa Pires do Rio CALDEIRA. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo, Editora
34/Edusp, 2000. 400 páginas.
Localização do consumo.
A cidade é mediada pelo consumo, como bem descreve Carlos Drummond de Andrade no poema A Flor e a Náusea16, “Mercadorias melancolias espreitam-me”. Existe uma São Paulo igual para todos, é impossível não revoltar-se, pois existe uma parcela grande de moradores de rua, marginalizados pela sociedade estes perdem o pouco do que tem quando ocorre um incêndio criminoso. Pois os usos e usuários da
cidade são diversos e prevalecem os que podem pagar o preço do conforto, lazer.
[“Esse é um debate intenso e atual dentro do campo maior da questão habitacional na cidade de São Paulo: a questão dos usos, das lutas e dos projetos para o centro da cidade,(...). O processo de gentrification (ou "enobrecimento") tem sido uma política generalizada nas áreas centrais de grandes cidades brasileiras, e ancora-se em três princípios: patrimonialização cultural, requalificação dos usos da cidade e melhorias na infraestrutura urbana (LEITE, 2007, p. 20) - com vistas a transformar o patrimônio cultural dos "centros históricos" em mercadoria cultural e bem de consumo turístico. De acordo com vários manifestos divulgados recentemente pelos movimentos populares, os preparativos para a realização dos megaeventos que estão programados para os próximos anos no Brasil, a saber, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de Verão, em 2016, estariam contribuindo para acelerar um projeto de "higienização social" do centro que vem sendo colocado em prática pela atual administração em São Paulo e em diversas outras capitais brasileiras. É contra essa política que o movimento de moradia levanta a bandeira do "direito de morar no centro", chamando a atenção para a natureza essencialmente política dos processos de ocupação dos espaços da cidade, como explica Kowarick:
"De um lado a ênfase na limpeza, na ordem, no controle, no esquadrinhamento, disciplinarização e policiamento; de outro a priorização da função social da propriedade e a ocupação de edifícios que se encontram vazios por parte daqueles que querem exercer o direito de viver nas áreas centrais. Neste sentido, a maneira de ocupar os espaços da Cidade é essencialmente política em dois sentidos: na acepção de que deve ser objeto primordial das políticas públicas (policies) e, sobretudo, de que nela se estruturam interesses diversos e, por vezes, antagônicos, que procuram mobilizar forças para levar
adiante suas reivindicações (políticas)" (KOWARICK, 2009, p. 154)”.]17
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16 Alguns trechos do poema: Preso à minha classe e a algumas roupas,/Vou de branco pela rua cinzenta./ Melancolias, mercadorias espreitam-me./Devo seguir até o enjôo?/ Posso, sem armas, revoltar-me’?/Vomitar esse tédio sobre a cidade./ Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado./Nenhuma carta escrita nem recebida./ Todos os homens voltam para casa./Estão menos livres mas levam jornais /e soletram o mundo, sabendo que o perdem./ Crimes da terra, como perdoá-los?/ É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
17 Luciana Tatagiba; Stella Zagatto Paterniani; Thiago Aparecido Trindade. Disponível em Opinião Publica vol.18 Nº2
Campinas Nov. 2012, site: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-62762012000200007, com o título: “Ocupar, reivindicar, participar:
sobre o repertório de ação do movimento de moradia de São Paulo”. Consultado em 01/11/2013, pelo banco de dados Scielo.
Aula 5: Matérias jornalísticas recentes, sobre a temática.
05/12/2013 - 10h24
Manifestantes liberam avenida e começa a reintegração de posse na zona sul.
DA AGÊNCIA BRASIL DE SÃO PAULO
As famílias de uma comunidade na Vila Andrade, na zona sul da capital, começaram a deixar suas casas por volta das 8h desta quinta-feira (5), após acordo feito com a Polícia Militar para evitar um confronto durante cumprimento de reintegração de posse. Os manifestantes que faziam barricadas na Avenida Doutor Guilherme Dumont Vilares desocuparam a via por volta das 10h15.
A avenida estava fechada desde as 6h pelo grupo que é contra a reintegração de posse de uma área na Rua Doutor Soter Faria. Os manifestantes chegaram a atear fogo em madeiras, sofás e pneus na via e fecharam os dois sentidos. O acordo feito entre a liderança da comunidade e a PM foi para que a Tropa de Choque recuasse, enquanto as famílias retornariam às casas para fazer a retiradas de pertences.
Na comunidade há casas de alvenaria, inclusive sobrados, onde 57 famílias vivem há mais de 40 anos. De acordo com Suzete Maria Garcia Mendes, oficial de justiça do Fórum de Santo Amaro a área tem sete lotes e todos pertencem à Cristiane Copppola Bove Santos, entre outros proprietários.
O advogado das famílias, Ramon Koelle, diz que a antiga proprietária do terreno estava com processo de usucapião
do local. "Só que usucapião é pessoal, você só pode usucapiar para você. Ela [proprietária] colocava outros para morar nessa área. Então, o processo de usucapião tinha que ser em nome dessas famílias", defende.
Vitalina Cardoso Silva, de 48 anos é uma das moradoras mais antigas da comunidade. Ela diz que não tem para onde
ir. "É muito triste, porque a minha vida eu fiz aqui. Meus filhos nasceram e se criaram aqui. Eu vim para cá com 18 anos", lamenta.
Daniel Andrade, de 46 anos, motorista, morou durante um ano e meio no local. "Eu fui adotado por essa comunidade quando vim para cá. É difícil, época de fim do ano e Natal. Todo mundo sabia que um dia ia ter que sair, mas que fosse de uma forma digna, que viessem fazer um cadastro das pessoas, que oferecessem auxílio aluguel e alimentação", reclamou.
Aos moradores, a prefeitura ofereceu abrigo. Os proprietários do terreno disponibilizaram 12 caminhões para a mudança, além de depósitos judiciais para onde serão levados os móveis por 30 dias.
Reintegração de posse em São Paulo
Moradores tiram objetos de suas casas durante a reintegração de posse, em São Paulo.
Credito Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/12/1381093- manifestantes-liberam-avenida-na-zona-sul-grupo-e-contra- reintegracao-de-posse.shtml, data do acesso: 05/12/2013.
26/11/2013
Área de garagens chega a 50% da área privativa nos novos lançamentos imobiliários
As cidades, historicamente, tiveram que se ajustar espacialmente para comportar os automóveis. Esse processo ganha força no decorrer do tempo, a ponto das necessidades de acomodação e fluidez dos automóveis passarem a influenciar a sua produção. Em São Paulo estão cadastrados mais de sete milhões de veículos, dos quais 5,6 milhões são automóveis. Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo), cerca de 3,5 milhões circulam diariamente, com uma ocupação estimada de
1,2 pessoas por veículo. Isto significa que 4,2 milhões de pessoas se locomovem de carro diariamente.
As consequências desse modelo são bem conhecidas, sobretudo aquelas relacionadas ao trânsito e a poluição. O economista Alexandre Gomide (2006) afirma que o uso ampliado do automóvel favorece a dispersão das atividades na cidade. Dessa forma, as distâncias a serem percorridas aumentam e a mobilidade urbana é dificultada para aqueles que fazem uso do transporte coletivo.
Porém existe um aspecto importante, que é o espaço físico destinado ao automóvel quando o mesmo não é utilizado. Pensa-se muito no espaço de trânsito do automóvel nas vias e sua fluidez, contudo não se tem a mesma preocupação quando tal veículo está estacionado. Enormes áreas necessitam ser destinadas para estacionamentos nos centros comerciais, shoppings, supermercados, ruas e casas.
O presente trabalho procura dimensionar a produção de vagas de garagem nos empreendimentos imobiliários residenciais e estimar o espaço destinado aos automóveis.
Fonte: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/informes_urbanos/ site acessado em 26/11/2013.
As pessoas concorrem com os carros, na sociedade do consumo, os automóveis têm vez e lugar próprio e as pessoas não, pois muitas casas “abandonadas” estão tornando-se estacionamentos.
10/12/2013 - 10h17
Incêndio em Paraisópolis pode ter deixado 250 famílias desabrigadas, segundo Defesa Civil
Fernanda Cruz/Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Um balanço inicial feito pela Defesa Civil estimou que 250 famílias podem ter ficado desabrigadas no incêndio que consumiu casas na comunidade de Paraisópolis, zona sul da capital paulista. No total, cerca de
100 casas, com dois ou três andares, foram atingidas. A
Defesa Civil vai fazer uma avaliação das casas ao redor para avaliar se precisarão ser interditadas.
O incêndio começou por volta das 4h e, duas horas e meia
depois, o fogo já estava controlado. Por volta das 9h, os desabrigados ainda aglomeravam-se em frente às casas queimadas. Assistentes sociais da Prefeitura começaram a
cadastrar essas pessoas, para que possam receber assistência.
O major do Corpo de Bombeiros Roberto Lago informou que o incêndio não deixou vítimas, mas o trabalho de buscas por possíveis desaparecidos continua. “Precisa de muita cautela. Ninguém informou dar falta de alguém, mas a gente sempre faz uma busca minuciosa”, disse ele.
Segundo Lago, houve dificuldade no início do combate ao incêndio. “A inclinação do terreno é muito
desfavorável, o acesso aqui é muito difícil, porque tem muito lixo na rua, muito carro abandonado. Os nossos caminhões são grandes e para passar com eles aqui não foi fácil”, disse. O major informou também que ainda é difícil determinar a causa do fogo.
Fonte: Edição: Denise Griesinger Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil. Para reproduzir as matérias, é necessário apenas dar crédito à Agência Brasil, disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-12-10/incendio-em-paraisopolis-pode-ter-deixado-250- familias-desabrigadas-segundo-defesa-civil
Placas como, vende ou aluga-se estão cada vez mais presente em nosso cotidiano, já se perguntou por quê?
Arrastão em shopping ou O rolezinho, visões distintas do mesmo fato.
[“Quando foram construídos e organizados os primeiros grandes shoppings, tudo mudou em relação à permanência ou multiplicação de cinemas. Por diversas razões os shoppings puderam obter um novo complexo de sala de cinema, quase todos eles se transformaram em verdadeiras praças de visitação, bem mais seguras do que parques grandes e praças boscosas inseguros ou até fechados, durante a complexa noite de São Paulo. Nessa conjuntura, e sem prejuízo de nossos e diversificados restaurantes, surgem e se diversificam as chamadas praças de alimentação, existentes em quase todos os grandes ou modestos shoppings multidiversos, ainda que frequentados por classes sociais diferentes.
E, daí porque, as classes médias altas e pequeno burguesas, deixaram de frequentar os dois núcleos do Centro Velho, dando preferência para os shoppings onde ocorrem boutiques e comercio especializado, restaurantes famosos, pontos de encontro
de jovens e espaço adorado das crianças. Qualquer democratização da classe média
afugenta as classes ricas em ruas comerciais tradicionais, seduzidas por grifes de moda”.]18
[“Os shoppings são os espaços falsificados de beleza e direito do cidadão igualitário, que não existe entre nós a não ser onde o dinheiro o simula para a sua própria vida.
As ruas sempre idênticas de todos os shoppings demonstram qual é o espaço universal da cidadania entre nós: o da vida das mercadorias e sua metabolização humana, que é o puro ato do consumo.”]19
Os enclaves fortificados segregadores do consumismo sofrem onda de arrastões. Devido ao acesso restrito de uma parcela significativa da população que não pode morar e viver dignamente porque o consumo não é democrático, pois é valido apenas a quem pode pagar para ter o que almeja, sendo a distribuição de renda desigual.
Publicado em 08/12/2013.
Adolescentes fazem arrastão no Shopping Metrô Itaquera
Ana Paula Campos, William Cardoso e Josmar Jozino
do Agora
Um baile funk marcado pelo Facebook terminou em arrastão, ontem à noite, no Shopping Metrô Itaquera (zona leste de SP). A confusão começou por volta das 18h30, depois que seguranças do shopping pediram ajuda à Polícia Militar para dispersar milhares de jovens que se reuniam para o encontro nos corredores e no estacionamento do local.
Quando a polícia chegou, muitos jovens começaram a correr. "Por onde passavam, empurravam pessoas, batiam nas lojas e nos carros. Estavam bastante agressivos", disse o tenente Eduardo Januário.
Segundo ele, pelo menos 10 mil pessoas estavam no local, que fica ao lado do Fielzão, palco de abertura da Copa de 2014.
Houve pânico e correria no centro de compras. Clientes se esconderam nas lojas, que fecharam as portas temendo saques. Lojistas relatam que clientes tiveram bonés, relógios e celulares levados por alguns jovens.
Fonte: http://www.agora.uol.com.br/saopaulo/2013/12/1382586-adolescentes-fazem- arrastao-no-shopping-metro-itaquera.shtml
Outro ponto de vista do mesmo fenômeno:
Rolezinhos: O que estes jovens estão “roubando” da classe média brasileira por Eliane Brum
Os novos “vândalos” do Brasil
Publicado 25 de dezembro 2013.
“Será que a classe média entende que os jovens estão “roubando” o direito exclusivo de eles
consumirem? Direito que, por sua vez, vinha sendo roubado desses jovens pobres há muito tempo.”
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18 AB’SABER, Aziz. Depoimento sobre a cidade de São Paulo. IN: Revista do Arquivo Histórico Municipal. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico – São Paulo, 2004, pp. 16 e 17.
19 AB’SABER, Tales A.M.. Crônica da Província de São Paulo – Duas ou três coisas que eu sei sobre ela. IN: KON, Sergio e DUARTE, Fábio (org.). A (des)construção. São Paulo: Perspectiva, 2008, pp.200.
“É importante perceber que os shoppings onde os rolezinhos ocorreram estão em regiões mais periféricas. Eles não têm ido aos templos maiores do consumo de luxo na cidade.”
“Há uma tendência de perceber os jovens pobres a partir de três perspectivas: a do bandido, a da
vítima e a do herói.”
Os rolezinhos não são protestos contra o shopping ou o consumo, mas afirmações de: “Queremos estar no mundo do consumo, nos templos do consumo”. Entretanto, por serem jovens pobres de bairros periféricos, negros e pardos em sua maioria, e que ouvem um gênero musical considerado marginal, eles passam a ser vistos e classificados pela maioria dos segmentos da sociedade como bandidos ou marginais. Vamos pensar que, na própria concepção do shopping, não está prevista a presença desse público, ainda mais em grupo e fazendo barulho. Pergunto-me se fosse em um shopping mais nobre, com jovens brancos de classe média alta, vestidos como se espera que um jovem deste estrato social se vista, se a repercussão seria a mesma, se a criminalização seria a mesma. Talvez fosse considerado apenas um flash mob. Há uma tendência, por parcela considerável da classe média, da mídia e do poder público de perceber os jovens pobres a partir de três perspectivas, quase sempre exclusivistas: a do bandido, a da vítima e a do herói.
“O que são os videoclipes de funk ostentação que não imagens que os jovens produzem sobre o que
seria pertencer a outra classe social?”
“Devemos questionar não a ação dos meninos, mas as relações sociais fomentadas na contemporaneidade que se pautam cada vez mais pela busca do reconhecimento pelo consumo, pela posse de bens.”
“É como se a sociedade dissesse: ‘Vocês, pobres, podem consumir, mas ir ao shopping em grandes
grupos, só para zoar e cantar funk, aí já é vandalismo.”
“As novelas já vendiam uma vida de luxo há muito tempo, só que nelas os ricos eram os que pertenciam ao mundo de riqueza. Nos videoclipes de funk ostentação, são os pobres que aparecem neste mundo.” Por Eliane Brum
Fonte: para ler na íntegra acesse, http://www.geledes.org.br/em-debate/colunistas/22538-eliane- brum-rolezinhos-o-que-estes-jovens-estao-roubando-da-classe-media- brasileira?fb_action_ids=693371134041393&fb_action_types=og.likes&fb_ref=.Urx9Sp5qncR.like&f b_source=other_multiline&action_object_map=[552003968219189]&action_type_map=[%22og.like s%22]&action_ref_map=[%22.Urx9Sp5qncR.like%22]
NÃO É KIEV, É ITAQUERA
Os governos e a polícia mostraram mais uma vez, na manhã desse dia 20, como é tratada a questão
habitacional no Brasil: à base da porrada. A Tropa de Choque da Polícia Militar despejou de forma violenta cerca de 3 mil famílias do conjunto Caragua, na Zona Leste da cidade, que ocupavam o conjunto de 31 prédios desde agosto de 2013. Apesar de o conjunto ser destinado ao Programa Minha Casa, Minha Vida, os moradores alegam que há dois anos estavam vazios. Sem ter para onde ir, os moradores resistiram à invasão da polícia. A
repressão da PM, porém, foi brutal, com direito a helicópteros despejando gás de lacrimogêneo sobre mulheres, idosos e crianças, como na ocupação do Pinheirinho há dois anos. Enquanto os governos gastam bilhões com as obras da Copa, o déficit habitacional continua dramático e aos pobres só resta o cacetete e o gás lacrimogêneo da Polícia Militar (Imagem reprodução/Globo News)
Fonte: https://www.facebook.com/pstu16, data de
20/02/2014.
Proposta final discussão entre os grupos sobre os fatos recentes em comparação com os dados históricos discutidos ao longo das aulas.
Aula 6: O mundo das Favelas.
Através do estudo de recenseamento global das favelas20, é possível dizer que esta estrutura é a que mais cresce e vigora, dentro das cidades, foco de violência, exclusão social e com sérios problemas ambientais. Porque há favelas em área de manancial, zona de risco como várzea de rio, entre outros.
O Brasil, por exemplo, cresceu 7% ao ano de 1940 a 1970. Na década de 1980, cresceu 1,3%, e na década de 1990, 2,1%, segundo o IBGE. Ou seja, o crescimento econômico do país, nas duas últimas décadas do século XX, não conseguiu incorporar nem mesmo os ingressantes da População Economicamente Ativa (PEA) no mercado de trabalho, o que acarretou consequências dramáticas como a precarização do trabalho e, consequentemente, também para a crise urbana21.
Em vez das cidades de ferro e vidro, sonhadas pelos arquitetos, o mundo está, na verdade, sendo dominado pelas favelas22. A tendência ao empobrecimento urbano vem sendo alertada por numerosos autores e instituições. Quando então veremos a igualdade dos povos não só perante a declaração de direitos humanos, mas na pratica?
Atividade reflexiva: consulte o site do IBGE e faça um levantamento das favelas paulistanas e questões socioambientais ligadas a elas.
Fonte: http://lista10.org/diversos/as-10-maiores-favelas-do-brasil/23
Qual é a conclusão destes estudos, vivemos em sistema de exclusão ou inclusão da maioria?
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20 DAVIS, Mike. Planeta Favela. São Paulo, Boitempo, 2006.
21 MATTOSO, José. O Brasil desempregado. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 1999.
22 Frase da arquiteta, professora da FAU-USP, Hermínia Maricato, disponível em:
http://www.brasildefato.com.br/node/12950.
23 Para ver a lista completa, visite:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/aglomerados_subnormais/agsn2010.p df
Anexo - Fotografias:
Moradia improvisada, próximos aos trilhos da CPTM, na Avenida do Estado – SP.
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residencia_de_quem_e_para_quem.pdf | 3.04 MB |