Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
O Descarte de lixo em São Paulo
BÁRBARA ESTEFÂNIA BARTOLOMEU ZIBORDI.
PROFª DRª ANTONIA TERRA CALAZANS FERNANDES.
São Paulo
13 de Dezembro de 2013
O Descarte de lixo em São Paulo.
Esta seqüência didática tem como objetivo promover a compreensão dos alunos de que a noção que temos sobre o lixo é uma construção histórica1, que sua trajetória é intrínseca às mudanças da cidade, logo a relação e sensibilidade dos moradores de São Paulo com o lixo e com aqueles que vivem dele foi se transformando.
Levando em consideração que a questão do descarte de resíduos tem tomado cada vez mais espaço no âmbito político-econômico-social, mesmo que cotidianamente não refletimos sobre essa problemática, se faz necessário mais que pensar “o lixo” historicamente, promover a conscientização de que ao produzi-lo temos responsabilidades sobre ele, principalmente no que toca o aproveitamento dos materiais recicláveis; fomentar a conscientização de que temos um compromisso com seus potenciais impactos ambientais.
1- Para começar, o professor pode mostrar a imagem de Cláudio Dickson, e fazer um breve levantamento de questões com os alunos.
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Qual é a abordagem da imagem?
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Que sujeitos (quem), que objetos e símbolos aparecem?
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Que espaço está sendo representado?
Cláudio Dickson. Catadores de Rua – óleo sobre tela 2006.
Obtida no site: http://tintaaoleo.files.wordpress.com/2008/07/catador-rua.jpg
Com isso, o professor deve incentivar os alunos a exporem suas opiniões e discutirem sobre questões como a coleta de lixo, os catadores, a reciclagem, os locais de depósito e os impactos socioambientais causados por uma grande produção de lixo urbano.
2- Após esse primeiro momento de discussão o professor pode perguntar aos alunos se a forma como entendemos hoje o que é lixo e como lidamos com ele mudou ao longo do tempo, se, por exemplo, a nossa relação com os resíduos é a mesma dos moradores de São Paulo enquanto colônia; nesse sentido o professor pode explicar que até fins do século XIX, se tinha uma maior proximidade da população com o lixo, que era tida como pouco problemática ou até normal.
Partindo para uma questão mais social, apontar o fato de que o despejo cotidiano de lixo na São Paulo colonial era uma atividade incumbida a escravos e mulatas forras, que aqueles que recolhiam a sujeira eram os excluídos da sociedade, mas também que os lugares de despejo recebiam nomes pejorativos, como “becos”, “buracões”.
3- Entregar aos alunos um trecho do artigo de Rosana Miziara, Por uma história do lixo, que se refere ao final do século XIX e começo do XX, fazer uma leitura coletiva com eles esclarecendo o seu contexto histórico.
“Em suma, com as epidemias, o lixo tornou-se alvo de preocupações de autoridades, um perigo para a ordem pública e para a saúde. A população, entretanto, convivia com ele. Concomitantemente a esse território do perigo que o lixo representa, as atividades a ele relacionadas passaram a ser classificadas como perigosas. Alguns anos mais tarde, carroceiros, sucateiros e trabalhadores que viviam do lixo seriam considerados ameaça à ordem e perseguidos. A partir das epidemias, pode-se perceber ainda a elaboração ou a articulação de algumas medidas para sanear a cidade. Entre elas, destaca-se a coleta do lixo, a construção dos cemitérios e o alinhamento das ruas e das casas.”
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(MIZIARA, Rosana. Por uma História do Lixo. In: InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.3, n.1 Art. 6, jan./abril. São Paulo: Senac , 2008, p. 5) http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/wp-content/uploads/2013/07/art-6-2008-6.pdf
Após a leitura, entregar a imagem – sem a legenda – do incinerador de Pinheiros aos alunos, para que a observarem e questionem o que é esse prédio.
Prédio do incinerador do lixão de Pinheiros, antes da reforma da Praça Victor Civita. (Foto: Divulgação). Obtida no site: http://www.sampacriativa.org.br/o-lado-invisivel-de-sao-paulo/
Depois de identificar que o prédio da fotografia é um incinerador e do professor esclarecer um pouco qual a sua função, propõe-se perguntar aos alunos que relação se pode fazer entre o trecho do artigo e o fato de os incineradores começarem a ser usados em São Paulo no começo do século XX.
(Espera-se aqui, que entre as especulações, se faça uma ligação com a preocupação das autoridades de governo em lidar com a questão do lixo; assim o professor pode abordar o problema destacando o esforço da época em implantar soluções ao serviço de limpeza pública, em estabelecer locais específicos para os restos, mas também a preocupação com o não desperdício de lixo, transformando-o em energia no ato da queima, num contexto industrial).
4- Apresentar aos alunos o recorte de jornal de 1968, para que o analisem ao responderem o questionário.
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Para quem o recorte é direcionado?
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Que visão sobre o lixo pode ser percebido na reportagem?
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Em que contexto histórico ele está inserido?
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Que posicionamento pode-se inferir/deduzir que a reportagem possui sobre as formas de coleta do lixo utilizada em São Paulo? Qual é considerada “adequada”?
São Paulo perde luta contra o Lixo. 6 de Julho de 1968. O Estado de S. Paulo. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19660706-27980-nac-0010-999-10-not/busca/PAULO+S%C3%A2o+Paulo+lixo+S%C3%A3o
Aqui, nas várias questões que podem ser levantadas e discutidas, o professor pode destacar que a expansão urbana está ligada aos novos enfrentamentos que se tem com a produção de resíduos, o fato de o lixo entrar na lógica de produção capitalista e passar a ser algo rentável – para as empresas privadas contratadas pela prefeitura para prestação de serviço de limpezas e coleta de resíduos sólidos, lembrando que nessa reportem a coleta aparece como algo pesado, uma obrigação para o poder público –; pode-se abordar a possibilidade de medir o consumo da cidade a partir de sua produção de lixo urbano e perceber um discurso de que cidade desenvolvida implica numa cidade limpa.
5- Fazer o mesmo exercício com os alunos de análise de imagem e de uma reportagem da década de 1970, sobre utilização de sacolas plásticas para se colocar os resíduos.
O Estado de S. Paulo, 5 de Agosto de 1970. Ambos disponíveis em: http://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,como-era-sao-paulo-sem-sacos-de-lixo,9036,0.htm
O uso de latões para acondicionar lixo foi extinto em 1972, quando o uso de saco plástico virou lei. Alfredo/Estadão
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Para quem o recorte é direcionado?
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Que visão sobre o lixo pode ser percebido na reportagem?
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O que e que pessoas aparecem na fotografia?
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Em que a reportagem e a fotografia têm em comum?
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Tendo a fotografia como referência há alguma diferença entre a maneira como se armazenava, manuseava e coletava o lixo até a década de 1970 e a maneira de hoje?
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Pode-se deduzir que o ritmo de trabalho do lixeiro se alterou com o uso de sacolas plásticas?
Aqui temos um marco para a história do lixo de São Paulo, com a discussão do recorte de jornal e da fotografia o professor deve indicar a mudança não só de como se maneja o lixo, mas mudança no trabalho do funcionário e sua relação com o trânsito; com a utilização de sacolas plásticas e dos caminhões basculantes, gradualmente, o trabalho do lixeiro foi ficando mais veloz e ritmado pela velocidade do caminhão, se antes havia dois funcionários para coletarem os latões, a partir de 1970 se tem um funcionário indo de casa em casa lançando o saco no caminhão.
6- Fazer uma discussão com os alunos sobre como a sociedade vê e viu os catadores de lixo, se a sua relação com a população de hoje, a da virada do século XIX para o XX e a de São Paulo colonial é a mesma; se aqueles que trabalham, vivem do lixo ainda são os excluídos da sociedade, considerados ameaça à ordem, se sofrem preconceito.
Nesse sentido, o professor pode apresentar a seguinte fotografia:
Não Buzine - Agente ambiental trabalhando - para o criador do projeto, os catadores são verdadeiros agentes ambientais, pois sem o trabalho deles, a quantidade de lixo seria muito maior. Fotografia disponível em: http://www.tudo-sobre.net/conheca-o-pimp-my-carroca/nao-buzine
(Mais informações sobre o Projeto Pimp My Carroça no site Catarse: http://catarse.me/pt/pimpmycarroca e em http://www.tudo-sobre.net/conheca-o-pimp-my-carroca)
Aqui o professor pode falar um pouco do Projeto Pimp my Carroça, idealizado pelo grafiteiro Mundano, que tem a preocupação de valorizar o ofício dos catadores de material reciclável e torná-los visíveis, usando o grafite como mensagem social. Dessa forma, o professor deve direcionar os alunos a observarem no esforço do projeto de valorizar os catadores a percepção – implícita – que a sociedade tem desses sujeitos, em outras palavras, o que (que visão) este movimento está tentando desconstruir.
7- O professor deve passar o vídeo (reportagem da TV Cultura) sobre a Cooperativa Vira Lata, de catadores de materiais recicláveis, depois de assistido sugere-se que o professor exponha um pouco da história dessa Cooperativa e abra uma discussão sobre o que são as cooperativas, a importância delas como geradoras de emprego e renda, sua contribuição para a questão ambiental do despejo de material reciclável, e principalmente sua intenção/projeto de inclusão social.
Reportagem sobre a Cooperativa Vira Lata na TV Cultura.
(Disponível no próprio site da Cooperativa: http://www.viralata.org.br/index2.php?p=cooper&view=videos, ou em http://www.youtube.com/watch?v=MBQm1zhqjqE).
Mais informação sobre a história e os projetos da Cooperativa Vira Lata em: http://www.viralata.org.br/index.php
8- Propõem-se como última atividade que os alunos coletivamente façam, planejem um roteiro de um pequeno vídeo sobre o Lixo e São Paulo, abordando algumas questões que foram discutidas ao longo da aula e tendo como referência o curta-metragem Ilha das Flores, de Jorge Furtado (que o professor pode apresentar antes de propor a atividade).
BIBLIOGRAFIA:
MIZIARA, Rosana. Por uma História do Lixo. In: InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.3, n.1 Art. 6, jan./abril. São Paulo: Senac, 2008.
DOCUMENTÁRIO:
Ilha das Flores - Direção: Jorge Furtado - Ano: 1989. Duração: 13 min.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Hh6ra-18mY8
1MIZIARA, Rosana. Por uma História do Lixo. In: InterfacEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.3, n.1 Art. 6, jan./abril. São Paulo: Senac , 2008, p.15.
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