II Guerra Mundial: propaganda audiovisual sobre a guerra no Pacífico

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
FLH0421 – ENSINO DE HISTÓRIA: TEORIA E PRÁTICA
PROFESSORA DOUTORA ANTONIA TERRA CALAZANS
GUILHERME MANZONI LEITE – N° USP: 8031715

II Guerra Mundial: propaganda audiovisual sobre a guerra no Pacífico
SÃO PAULO
2015

 


Tema:
Análise da guerra do pacífico e da propaganda ideológica norte-americana através de recursos audiovisuais, contrapostos a reportagens brasileiras de época sobre o mesmo assunto.


Público Alvo:
Alunos de Ensino Médio.


Duração:
4 atividades.


Objetivos:
Proporcionar aos alunos uma visão da guerra – com ênfase no episódio conhecido como Guerra do Pacífico – através de fontes de época, mostrando a construção da imagem do inimigo e a propaganda de guerra dirigida às massas. A leitura de fontes audiovisuais (incluindo duas destinadas ao público infanto-juvenil) e escritas permitirá que a classe conceba a situação do público diante da guerra, bem como criticar as mesmas num período posterior ao conflito, tendo noção dos vencedores e derrotado, assim como de suas motivações.
Num segundo momento, a atividade será direcionada a introduzir a participação brasileira no conflito, partindo da divulgação midiática dos enfrentamentos, culminando no momento da entrada do país na Guerra. A atividade deverá permitir aos alunos uma visão crítica da estrutura política global contraposta ao governo varguista e, também, à propaganda de massas dirigida ao público nacional.


Conceitos abordados:
-II Guerra Mundial (Guerra no Pacífico).
-Propaganda ideológica.
-Participação brasileira na Guerra.
-Veículos de massa.

 


Atividade 1


Objetivo:

Apresentar, ao mesmo tempo, uma introdução da Guerra do Pacífico – através de fontes de época – e do posicionamento brasileiro quanto ao conflito – tema que será melhor trabalhado posteriormente. A leitura de fontes jornalísticas de época devem despertar um senso crítico especialmente quanto a intencionalidade de sua produção, bem como possibilitar a observação da evolução do posicionamento brasileiro na Guerra e introduzir – indiretamente – o tópico da construção da imagem do inimigo.


(Nota: esta sequência deve ser realizada depois do estudo do Imperialismo e das Grandes Guerras, e antes da introdução do tema das bombas de Hiroshima e Nagasaki, por ligar a rivalidade nipo-americana a questões do imperialismo e da II Guerra).


Diretrizes:

Inicialmente, o professor deve apresentar as seguintes fontes documentais:

(Tradução: 1500 mortos no Havaí, Congresso vota guerra. Fonte: imagens do Google).
 

 


(Fonte: Revista Vamos Ler, Rio de Janeiro, 1941; disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_guerra/. Último acesso em: 15/06/15).

 


Após as leituras individuais, algumas questões podem ser postuladas sobre o tema e apresentadas à classe:


1. Vemos duas reportagens jornalísticas contemporâneas e sobre o mesmo tema, embora de nacionalidades diferentes. Como elas se relacionam? Quem as produziu? Possuem semelhanças ou diferenças?


2. Por que o principal enfrentamento dos norte-americanos na Segunda Guerra Mundial foi contra o Japão? Existiam antecedentes? Quais interesses estavam envolvidos?


3. O segundo documento é uma reportagem brasileira, evidentemente alinhada com os norte-americanos. Levando em consideração o contexto histórico nacional e internacional, por que ocorre este alinhamento? Como a reportagem o justifica?


4. Como a revista “Vamos Ler” representa os americanos? E os japoneses?


Note-se que esta primeira rodada de questões apresenta um forte caráter diagnóstico, especialmente de temas que deverão ter sido tratados previamente e que terão grande valor nos exercícios futuros, portanto, não deve possuir uma cobrança excedente. Para a próxima atividade, o professor pode solicitar aos alunos exemplos de produções conhecidas, voltadas para o entretenimento, que apresentem a II Guerra Mundial e uma caracterização marcante do “inimigo”, este esforço na identificação das mesmas irá facilitar a absorção da próxima atividade.

 


Atividade 2


Objetivos:

Proporcionar aos alunos o contato com produções de massa da época da Guerra, classificadas como o que hoje chamaríamos de “cultura pop”, permitindo-lhes estabelecer relações com as mídias jornalísticas apresentadas anteriormente e observar como a construção da imagem do inimigo era feita no campo ideológico-cultural, bem como suas funções junto a opinião pública.


Diretrizes:

Desta vez, a atividade irá se basear diretamente nos produtos difundidos em larga escala pelos norte-americanos em seu público interno, inicialmente, através da exibição do seguinte episódio do desenho animado “Popeye”, lançado em 1941, como parte do esforço de guerra contra o principal adversário do país no Oceano Pacífico: o Japão.


https://www.youtube.com/watch?v=8p_SABG3SPk
(Último acesso em: 15/06/15).


Observação: a ausência de legendas é, inicialmente, um problema, entretanto, pode-se contorná-lo de três maneiras possível: legendando o vídeo por conta própria, criando uma atividade coordenada com o professor de inglês, ou simplesmente deixando-o como está, porém, dando maior ênfase às informações visuais, ao lado de algumas traduções pontuais (Ex.: “Made in Japan”, “We want peace sign here”), tudo ficando submisso ao bom senso do professor.
Imediatamente após a exibição do desenho, introduz-se a seguinte imagem:

(Trad.: Superman diz: você pode estapear um “japa”, com ligações de guerra e selos [refere-se a auxílios financeiros que a população podia enviar]; fonte: imagens do Google).

 


À seguir, sugere-se uma série de questões como forma de contextualização e interpretação dos desenhos apresentados:


1. Sabendo que ambos os desenhos foram produzidos no contexto histórico apresentado na atividade 1, por quem e para que público eles foram desenvolvidos?


2. O que (ou quem) os personagens Superman e Popeye representam?


3. Você acha que, por serem desenhos, ele se destinavam apenas a crianças?


4. Como os japoneses são retratados? Por que? Cite exemplos.


5. Quais são os efeitos deste tipo de material divulgado em épocas de guerra? Eles são eficazes em atingir seus objetivos?


6. Quais são os valores que eles exaltam? E quais eles condenam?


7. Podemos dizer que os dois materiais convergem? Por que?


A discussão pode ser feita em forma de questionário, ou, preferivelmente, de diálogo entre a sala, mediado pelo professor. A atividade também servirá como diagnóstico do quanto a sala é capaz de ler as entrelinhas de documentos audiovisuais e visuais e de sua capacidade de transpor informações de veículos de entretenimento para um contexto de estado como a guerra.


Para a próxima aula, o professor pode selecionar pequenos enxertos do livro didático de História do Brasil que tratem do Estado Novo, dando ênfase às características gerais do regime e do posicionamento perante a Segunda Guerra Mundial.

 


Atividade 3


Objetivo: Finalizar a discussão, ligando os conceitos das duas aulas anteriores, enquanto se insere a realidade brasileira no cenário construído.


Diretrizes: Novamente, será utilizada uma fonte jornalística de época, mas, desta vez, tratando diretamente da participação brasileira. O professor deverá indicar a leitura da seguinte notícia:

(Fonte: Revista O Mês, Fortaleza, 1945, disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_guerra/. Último acesso em: 15/06/15).

 


Caberá ao professor organizar uma conversa com os alunos sobre o documento, inicialmente, sem utilizar-se de perguntas-modelo, já que é importante avaliar a própria capacidade dos alunos de interpretar um texto jornalístico, ainda mais após as duas primeiras atividades. Após uma conversa inicial, o professor deve direcionar o debate sob os seguintes aspectos:


1. Identificar o(s) produtor(es) do documento, bem como sua época e possíveis motivações (contextualizar a reportagem).


2. Observar a exaltação dos Aliados e o desmerecimento do Eixo.


3. Identificar as figuras de Plínio Salgado e do integralismo de modo a enriquecer o debate.


4. Permitir a relação ambígua entre a ação brasileira na Guerra e a linha seguida pelo Estado Novo.


5. Reconhecer nesta reportagem, relações iguais ou similares às produzidas pelas fontes anteriores.


Por fim, pede-se que os alunos opinem sobre esta relação: o que pensavam da participação brasileira, se achavam que a Guerra realmente dizia respeito aos povos latino-americanos, se o alinhamento de Vargas com os Aliados não era contraditório, qual a função da mídia na época (se é apenas informar), etc. As opiniões podem ser dadas na forma de um debate entre a sala (ou ente grupos), ou, caso o professor prefira assim, à partir da entrega de algum material escrito.


Atividade 4:

 


Objetivo: Estimular os alunos a elaborarem um material baseado nos conceitos desenvolvidos nas aulas anteriores, de forma a exemplificar os conhecimentos adquiridos e liga-los a um tipo de avaliação que terão de encontrar em exames vestibulares ou no ENEM.


Diretrizes: Com o fim das discussões à partir dos materiais apresentados, os alunos deverão produzir uma redação individual com os temas trabalhados (propaganda de guerra, construção da imagem do inimigo, Guerra do Pacífico, participação brasileira na Guerra). Os textos poderão seguir os seguintes modelos:


1. Dissertação, nos moldes dos exames nacionais, onde o aluno deve utilizar-se dos materiais, elaborar uma tese e defende-la.
2. Texto narrativo, onde os conceitos trabalhados devem servir de inspiração para uma história original na forma de narrativa em prosa.
3. Criação de um texto jornalístico fictício nos moldes dos apresentados na atividade, preferencialmente, baseada em outro evento, histórico ou atual, onde haja a formulação negativa de um determinado grupo adversário.


É importante que a avaliação do professor leve em conta a consciência crítica do aluno, bem como sua capacidade de trabalhar os temas de forma não-óbvia.

 


Materiais complementares:
“Estrada 47”, Dir. Vicente Ferraz, Brasil, 2015.
Exposição virtual “A Segunda Guerra em revista”, Arquivo Público do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_guerra/ (último acesso em: 15/06/115).
“Inferno no Pacífico”, Dir. John Brooman, EUA, 1968.

 


Bibliografia:
ADORNO, Theodor. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995.
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo, Cortez, 2004.
BONET, Fernanda Santos. O discurso oficial brasileiro durante a II Guerra Mundial: o Brasil se une para a Guerra. In: Encontro Estadual de História, 9., 2008, Rio Grande do Sul. Vestígios do Passado: a história e suas fontes, ANPUH-RS, 2008.
COGGIOLA, Osvaldo. O sentido histórico da Segunda Guerra Mundial. In: Olho da História, Salvador-Bahia, n. 1, novembro de 1995.
ZABALA, Antônio. “Os enfoques didáticos”. In: COLL, César, MARTÍN, Elena, ... (org.). O construtivismo em sala de aula. São Paulo, Ática, 1996.

 

 

 

Referencia
Graduandos