A Greve de 1917, Contando a História de São Paulo

 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
ALEXIA SAYURI HINO – Nº USP: 9403750
SEQUÊNCIA DIDÁTICA: A GREVE DE 1917, CONTANDO A HISTÓRIA DE SÃO PAULO
Trabalho da disciplina de História da Cidade de São Paulo do curso de História da Universidade de São Paulo.
Professora Antônia Terra Calazans Fernandes.
São Paulo
Dezembro de 2016
 
 
 
 
 
Sequência didática – História da cidade de São Paulo
 
1. Tema: A greve de 1917 contando a história de São Paulo
 
2. Justificativa:
 
A sequência didática aqui proposta visa uma articulação do passado com o presente na qual a história da cidade de São Paulo seja contada através da manifestação popular escolhida, no caso, a greve de 1917.
 
O que a greve de 1917 nos conta sobre a cidade de São Paulo? A partir dessa questão, foi possível preparar um conjunto de quatro aulas estimulantes, contendo conteúdos que proporcionam exposição, dinâmicas, análise de documentos e imagens. As aulas montadas, seguem uma linha cronológica, visando a compreensão aprofundada dos alunos sob o contexto e os antecedentes da greve de 1917.
 
Com isso, passa-se então pelos: industrialismo, o bairro operário (bairro do Brás), a cidade com imigrantes e por final, a grande greve. O conjunto de aulas, caminha para uma reflexão final sobre as condições de trabalho nos dias de hoje.
 
 
 
3. Objetivos:
a) Estabelecer um paralelo do passado com o presente
b) Analisar fontes documentais (fotos e jornais)
c) Fomentar reflexão dos alunos sobre as condições do trabalho (passado e presente)
d) Mostrar a ligação da história de São Paulo com o movimento operário do Brás
4. Ano/série: Ensino médio
5. Tempo previsto (número de aulas): 3 aulas (de 1hora cada)
 
 
 
Primeira aula
 
São Paulo - A cidade industrial
 
1. Contextualização das industrias.
Dinâmica 1: Professor(a) mostre o anexo 1 e em seguida pergunte a seus alunos:
 
 
 
 
 
Questões:
 
a) O que podemos ver na imagem? Resposta: A fábrica Matarazzo, umas das primeiras a se instalar na região do Brás.
b) O que vocês (alunos) acham que ela fabrica? Resposta: Ela fazia a moagem de trigo. Após essa pergunta é interessante ao professor(a) perguntar sobre o que os alunos tem de conhecimento sobre o nome “Matarazzo”. Pois, este compôs uma grande rede industrial paulista. Caso eles se interessem mais sobre o Matarazzo:
 
Francesco Matarazzo veio da Itália ao Brasil, com o objetivo de ser um grande comerciante de secos e molhados. Matarazzo instalou-se primeiro em Sorocaba. Com a “comercialização de farinha de trigo, sal, fubá, arroz, feijão e outros alimentos. Especialmente banha de porco” (site revista de história).
 
Assim é interessante citar que já que a indústria brasileira era incipiente, Matarazzo tinha que fabricar tudo o que precisava. Como por exemplo as latas para propor embalagem aos seus produtos. Com essa grande cadeia de produção, não demora para a companhia Matarazzo (composto principalmente por seus familiares) a dominar a cadeia produtiva completa. Desde a matéria prima até o transporte do produto final. Quando chega em São Paulo montou a Matarazzo&irmãos o que mais tarde seria somente Matarazzo S.A, na Rua 25 de Março, com a produção dos mesmos gêneros citados anteriormente. Vale ressaltar que a produção era para o comércio exterior. Porém mais tarde veio a ser para o mercado interno (quando o exterior não estava tão favorável comercialmente).
 
Em 1911, funda a IRFM – Indústrias Reunidas Fabricas Matarazzo. Após isso, expande seus campos de atuação, compondo um império empresarial sem igual: alimentos, tecidos, bebidas, transporte, navegação de cabotagem, energia, metalúrgica, agricultura, bancos e imóveis.
 
Francesco Matarazzo, virou um símbolo do industrialismo no Brasil. Tornou-se mais tarde presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e o italiano mais rico do mundo em sua época. Fonte: site da revista de história (link na página de anexos)
 
c) Por quê, na opinião de vocês (alunos), São Paulo foi a cidade que favoreceu o industrialismo? Resposta na exposição.
 
 
 
Exposição do conteúdo de aula:
 
O industrialismo paulista, emergiu na época da República Velha (1889 – 1930). Tal época em que o governo era marcado pela alternância entre um presidente paulista e outro mineiro. Conhecido como o governo “café com leite”. São Paulo era um grande destaque devido a produção de café. O café, foi um fator que favoreceu a indústria local, pois a lavoura produzia excedentes que poderiam ser aplicados na indústria. Além de que, o café proporcionou uma grande rede de transportes e comunicação ligando o estado às demais localidades (PEREIRA, 1967, p.15), como por exemplo as construções de estradas de ferro (SEABRA, 2011, p. 1).
 
Com a economia do estado aquecida, houve uma inserção mais veloz da população na economia de mercado. O que fazia São Paulo, um local de forte mercado interno consumidor. Também houve a questão da corrente imigratória. Muitos imigrantes devido a questões de conjuntura política/econômica de seus países vieram trabalhar nas lavouras de café (mão-de-obra) ou investir na instalação de indústrias. Como foi o caso do Matarazzo, exibido na foto no início de aula. Outros fatores foram: a questão da energia elétrica (sistema de hidrelétricas em formação), sua localização perto de mercados consumidores que iam se constituindo e a abundância de matérias primas. Por fim, o crescimento do sistema bancário, que foi criado para gerir as questões do café mas que acabou servindo também para a expansão industrial (PEREIRA, 1967, p.15).
 
 
 
 
Resumo:
 
Por quais razões ocorreu o industrialismo em São Paulo?
 
- Economia do café facilitou a indústria
- Redes de transporte e comunicação
- Mão de obra abundante (imigrantes mais migrantes)
- Energia elétrica das hidrelétricas
- Localização perto de outros mercados consumidores
- Matérias-primas
- Sistema bancário
 
(Mostre o anexo 2 – Fábrica Mariângela)
Fábrica de fiação e Tecelagem Mariângela. Fonte: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,uma-sao-paulo-industrial…
 
Esta fábrica da companhia Matarazzo, é de grande importância, devido a um ocorrido anterior a greve geral.
 
 
 
2. Contextualização do Brás - Um bairro operário da cidade de São Paulo
 
Professor (a) pergunte: “Quem trabalhava nessas fabricas?” Respostas: imigrantes, trabalhador paulista e etc.
Para saber mais dos operários da cidade de São Paulo, foi delimitado o bairro do Brás para a compreensão da greve de 1917. Apesar da abordagem da aula ser somente focado ao Brás,
não deixe de citar que outros bairros como Mooca e Belenzinho, estavam sob condições muito semelhantes.
 
Dinâmica 1: Mostre as imagens (anexo 3 e 4) abaixo e questione seus alunos:
 
 
 
a) De que bairro se trata? Resposta: Brás, atualmente
 
 
b) O que é possível observar do Brás antigo? Resposta: Casas e fábricas
 
 
 
Exposição do conteúdo de aula: O bairro do Brás está localizado entre as várzeas do rio Tiete e Tamanduateí. Antes da instauração da indústria, o bairro era uma antiga zona de propriedades agrárias (RIBEIRO, 1994, p.43). O seu destaque na história da cidade de São Paulo iniciou-se na época do café. Pois o café trouxe para a região linhas de trens que foram de muita importância para o desenvolvimento local. A primeira linha de ferro era a São Paulo Railway, fundada em 1867, esta fazia a conexão do interior com o porto de Santos. Após um tempo, em 1877, outra linha veio a preencher o bairro: Estrada de Ferro do Norte, mais conhecida como Central do Brasil, que fazia a conexão de São Paulo com o Rio de Janeiro (ANDRADE, p.98). (Em seguida mostre os anexos 5 e 6)
 
Anexo 5: Primeira estação do Brás
Primeira Estação do Brás. Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/braz.htm
 
 
 
Anexo 6: Segunda estação do Brás (Central do Brasil)
Segunda estação do Brás. Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/braz.htm
 
 
 
Dinâmica 2: Professor(a) mostre o anexo 7 e siga as instruções:
Mapa de linhas ferroviárias de São Paulo. Fonte: - http://portaldotrem.com.br/imagens/geral/nossomapa1.jpg
 
 
a) Peça para seus alunos identificarem a estação do Brás.
 
b) Peça para eles se colocarem na posição de um industrial. E pergunte “Por que vocês escolheriam a região do Brás?”
 
Através desta imagem, destaque a importância das estradas de ferro para o bairro do Brás. As regiões ficaram atrativas para as indústrias. Já que o local era conectado com os principais portos para o escoamento de produtos.
 
As indústrias e estradas de ferro, foram também um grande atrativo para os imigrantes, principalmente os italianos. Para Suzana Ribeiro, cientista social: “Esse enorme contingente de imigrantes instala-se no Brás em função da facilidade de transporte, pelo baixo custo dos terrenos e aluguéis e principalmente, pelas oportunidades de trabalho. ” (RIBEIRO, 1994, p.43). O recomeço da vida em terras paulistas resultou em mão-de-obra para a indústria local e também para empreendimentos. (Mostrar anexo 8 e 9)
 
 
Anexo 8:
Jornal A Concordia de 3 de Outubro de 1909.
 
 
 
Anexo 9:
Jornal A Concordia de 3 de Outubro de 1909.
 
 
 
Dinâmica 3: Professor(a) informe seus alunos que eles irão analisar um documento de época. O documento em questão é o jornal Concordia, do dia 3 de Outubro de 1909. Peça para os alunos identificarem elementos relacionados com o conteúdo da aula. Caso eles tenham dificuldade, guie-os com essas questões:
 
a) Em qual local em especifico o jornal trata? Resposta: Avenida Rangel Pestana, Brás.
b) É possível identificar elementos da imigração no documento? Resposta: Nomes citados.
c) O documento dá pontos de referência em relação a ambientação do mesmo? Resposta: “Em frente as Estações Norte e Brás”
d) Há indícios da economia da época? Resposta: Havia pequenos comércios de imigrantes.
 
 
 
 
Dinâmica 4: Professor(a) questione os alunos a respeito de imigrantes atuais no Brás. Quais nacionalidades eles podem citar? O que é conhecido sobre a condição de trabalho desses imigrantes atualmente? (Peça para pesquisarem em casa, para apresentarem na próxima aula)
 
Segunda aula
Os imigrantes de São Paulo e a formação da classe operária paulista
 
Dadas as informações da aula passada, é possível que o aluno já tenha uma visão histórica do bairro do Brás. Portanto, abre-se espaço para falar dos operários da época. Antes, questione a dinâmica 4 da aula anterior, referente a pesquisa dos alunos.
 
Feito isso, retome o anexo 4: pode-se ver a mescla da indústria com as habitações. Tais quais, muito provavelmente são ocupadas por operários. Mostre/leia o trecho Italianos do Brás, imagens e memórias de Suzane Ribeiro:
“A concentração industrial coincide com a expansão física da cidade; com frequência são encontradas indústrias ocupando a mesma região das residências, sem qualquer preocupação com planejamento. Zonas residencial e industrial se confundem de tal forma que muitas dessas indústrias conhecidas como “fundo de quintal”, passam despercebidas. ” (RIBEIRO, 1994, p.43).
 
 
 
Exposição do conteúdo de aula:
São Paulo, no momento estava recebendo grandes leva de imigrantes. Pois, além da efervescência industrial possuía a questão da alta do café. A cidade teve um aumento populacional significativo, como diz Margarida Maria de Andrade, doutora em geografia humana da FFLCH-USP:
 
“Para se ter uma ideia dessa acumulação, a população do Brás quintuplicou entre 1886 e 1893 (de 6 mil para 32 mil habitantes) e a população da cidade multiplicou por seis entre 1886 e 1900, ano este em que cerca de 55% da população da cidade (que atingia 240 mil habitantes), era formada de estrangeiros em sua grande maioria italianos. ” (ANDRADE, p.99).
 
Na indústria, os estrangeiros compunham quase 90% dos braços operários, a princípio viam subsidiados pelo estado. Devido a demanda exigida (SEABRA, 2011, p.3). Nesse contexto, em 1887 nasceu a hospedagem de Imigrantes em São Paulo, hoje o Museu da Imigração. Cite museu da imigração: O mesmo fica localizado na Mooca, outro bairro industrial e consequentemente, operário. (Mostra-lo no anexo 10 – Hospedagem dos imigrantes)
Anexo 10:
 
 
 
Sugestão: Professor(a) segue o link do site do Museu da Imigração: http://museudaimigracao.org.br/ , se possível organize uma visita para os alunos acomodarem as estruturas que estão sendo criadas com as aulas.
 
Assim, visto que a cidade estava em uma tentativa de receber e organizar todos esses imigrantes. É importante mencionar o que era feito nessas industrias, onde afloravam um dinamismo no bairro do Brás, Mooca e Belenzinho. Essas industrias, produziam bens de consumo como: tecidos, alguns produtos alimentares, bebidas, chapéus, móveis, produtos de metalurgia leve e artigos de vidro. (ANDRADE, p.100). Entretanto, não havia somente grandes fabricas, o cenário também era composto por oficinas e pequenas fabricas que misturavam-se com as casas, conhecidas como “fabricas de fundo de quintal”. Ademais, havia vilas operárias e cortiços.
 
Dinâmica: Professor(a) faça com que os alunos vejam os documentos (anexos 11,12) e identifiquem elementos citados nesta aula sobre a questão comercial de pequenas fabricas e grandes fabricas.
 
 
 
 
Anexo 11 – Jornal A Concordia:
Jornal A Concordia de 1 de Abril de 1906. Fonte: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/repositorio_digital/jorn…
 
 
 
Anexo 12 – Jornal A Concordia:
Fonte: Jornal A Concordia de 1 de Abril de 1906. Fonte: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/repositorio_digital/jorn…
 
 
 
 
A partir desses documentos, também vale lembrar que imigrantes com recursos investidos no comércio local somados aos imigrantes operários, resultaram em uma estrutura dos bairros como Brás, Mooca e Belenzinho (ANDRADE, p.100). A cidade de São Paulo, formava-se aos poucos. Com isso, é relevante citar em sala a condição espacial da cidade na época. O Brás, por ser um bairro industrial, seus habitantes em sua maioria eram compostos por operários e comerciantes locais. Entretanto, não significa que não havia elite convivendo no mesmo. Porém utiliza-se um trecho de Teresa Pires do Rio Caldeira:
 
“Embora a elite e os trabalhadores vivessem relativamente próximos uns aos outros, havia uma tendência de a elite ocupar a parte mais alta da cidade – em direção ao espigão central onde se localizaria a Avenida Paulista – e os trabalhadores vivem em áreas mais baixas, ladeando as margens do rio Tamanduateí e Tietê e próximo ao sistema ferroviário. ” (CALDEIRA, 2000, p.214)
 
Ou seja, essas duas classes coexistiam no espaço. Mas iniciava-se um processo segregatorio que fez com que certos bairros da cidade de São Paulo fossem rotulados até hoje como: popular e classe alta.
 
Sendo assim, o período estudado aproxima-se ao grande embate eminente no cenário internacional: a Primeira Guerra Mundial. O ocorrido causou impactos no Brasil e teve ligação com a causa operária.
 
 
 
 
Terceira aula
A grande greve de 1917
 
Professor(a) a terceira e última aula, constitui-se finalmente sobre a grande greve. Após as três aulas dadas anteriormente, admite-se que o aluno consiga visualizar melhor o ambiente operário. Tudo isso possibilitado pelo estudo dos antecedentes e analise de fotos e documentos. Nesta aula, caminharemos para compreender melhor a grande greve, com isso focaremos na questão das pautas operárias que deflagrou o movimento.
 
Inicie com a dinâmica abaixo. Afim de saber os conhecimentos prévios dos alunos sobre o ocorrido e também as relações que os mesmos conseguem estabelecer através dos conteúdos dados.
 
 
 
 
Dinâmica 1: Professor(a) mostre a seus alunos a imagem a seguir e pergunte: (anexo 13)
 
 
a) Quais razões vocês (alunos) acham que culminaram na grande greve?
 
 
Exposição do conteúdo de aula:
A grande de greve de 1917, foi um movimento que tem tal importância devido a sua dimensão no cenário paulistano. Entretanto, é importante analisar que antes dessa greve tiveram movimentos anteriores. Divide-se esta aula em: O cenário econômico do Brasil e do mundo, a condição do operário paulista e a greve.
 
 
1. O cenário econômico do Brasil e do mundo
A primeira Guerra Mundial, afetou a economia paulistana devido a substituição das importações que atendiam o mercado brasileiro e a crise do café. Durante o período de guerra, o café brasileiro tornou-se produto de baixa demanda e com este cenário, as importações brasileiras estavam inviáveis.
Com isso a economia brasileira voltou-se ao mercado interno (SAES, p.21). Como consequência, a exigência sobre o trabalhador aumentou.
 
 
 
 
2. A condição do operário paulista
Com a guerra viu-se uma piora das condições dos operários paulistas. Como colocou Biondi: “(...) um período de intensificação do horário de trabalho. De subida repentina dos preços e estagnação dos salários: ou seja, de uma fortíssima piora no poder de compra e das condições de trabalho. A guerra, ao desestruturas e reorientar as antigas redes comerciais e principalmente o aparato produtivo dos países diretamente envolvidos no conflito, fez com que os produtos manufaturados brasileiros pudessem substituir importados e pudessem também ser exportados ao mundo afora. A consequência foi uma alta de preços e uma intensificação extraordinária do trabalho, sobretudo manual, uma vez que o maquinário necessário para o salto repentino não podia ser importando rapidamente. ” (BIONDI, p. 1).
 
Ademais, para melhor ilustrar o cotidiano do operário paulistano, utiliza-se um trecho do trabalho de Seabra: “As formas precárias e insalubres das habitações dos operários refletiam suas dificuldades econômicas. Os meios de transporte assim como o elevado custo dos alugueis pesava no orçamento familiar e geralmente as famílias optavam por moradias próximas das industrias para a diminuição com estes gastos. As famílias em geral se instalavam em cortiços, casebres, pensões, casas de cômodos e etc. Muitos se instalavam em cômodos atrás de vendas, nos fundos de depósitos, em cocheiras, estábulos ou qualquer cômodos oferecido a preços acessíveis ao seu salário. ” (SEABRA, 2011, p. 5).
 
 
 
 
3. A greve
A somatória dos fatores citados anteriormente, colaboraram para as manifestações operárias. Ressalta-se a grande importância de ideais provindas dos imigrantes como o anarquismo e o socialismo. Ideais que compuseram as bases das movimentações operárias. Em 1903 a 1905 nasceram as ligas de resistência em São Paulo. Em novembro de 1905, essas ligas se uniram em torno da FOSP, Federação operária de São Paulo (LOPREATO, 2000, p.19 LOPREATO). Pode-se perceber que essas ligas nasceram antes da eclosão da guerra, entretanto delibera-se que os operários paulistas não possuíam as melhores condições de trabalho antes da guerra.
 
Sendo assim, a FOSP somada as deliberações do primeiro congresso operário, feita no Rio de Janeiro, decidiu que a estratégia de luta dos trabalhadores paulistas seria a ação grevista. Para a conquista das oito horas de jornada de trabalho (LOPREATO, 2000, p.22). Então nas comemorações do primeiro de maio (dia do trabalhador) de 1907, Lopreato menciona:
 
“Os primeiros a paralisarem as atividades foram os metalúrgicos da Cia. Lidgerwood, no dia 4 de maio, depois de terem sido recusadas as suas reivindicações de aumento de salário e implantação da jornada de oito horas. A partir dessa data, diversas outras categorias declararam-se em greve: pedreiros e serventes, seguidos de pintores de parede, trabalhadores de madeira, sapateiros, tecelões, gráficos, canteiros, vidreiros, trabalhadores de limpeza pública, costureiras, entre outras. ” (LOPREATO, 2000, p.23)
 
Nesta primeira greve, houve repressão policial e deslegitimação do movimento operário. Porém, algumas categorias como os trabalhadores de madeira, da construção civil e que trabalhavam em pequenas industrias tiveram suas reivindicações conquistadas. Já o setor têxtil (principal em São Paulo) nada foi concedido aos empregados. (LOPREATO, 2000, p.23).
Com isso, é possível observar que a aliança entre operários e o modo de reinvindicação e protesto estava em fase de maturação. Ocorreram outras greves após isso, como a de 1912, na qual os trabalhadores reivindicavam aumento de salário e diminuição da jornada de trabalho. Entretanto os tecelões da fábrica Mariângela e Santana que aderiram ao movimento não tiveram as reivindicações atendidas (LOPREATO, 2000, p.24).
 
Assim em meio de greves, no dia 10 de julho de 1917, no Brás, em frente a fábrica de tecidos Mariângela, um sapateiro espanhol de 21 anos, José Martinez não resistiu aos ferimentos causados por uma bala disparada em um confronto com a polícia. Esse ocorrido causou grande comoção aos operários (LOPREATO, 2000, p.29).
 
Dessa forma, enquanto outras greves eram realizadas em São Paulo nesta época, no dia 12 de Julho de 1917, a cidade amanheceu sem pão, leite, gás, luz e transporte. Os trabalhadores desse setor aderiram ao movimento grevista e a cidade parou:
 
“O comércio fechou as portas. Teatros, cinemas, e casas de diversão adiaram as programações. O tráfego de bondes foi interrompido. Nenhum tilbury circulou. Os paulistanos jamais tinham presenciado um movimento de tal envergadura. Uma convulsão social sem precedentes se inscrevia na história do Brasil.” (LOPREATO, 2000, p.46)
 
Na semana de 9 a 16 de Julho de 1917, cerca de cem mil trabalhadores interromperam as atividades. Alguns setores tiveram suas reivindicações aceitas, outros declaravam que nada tinham a reclamar do patrão. Entretanto a adesão à greve foi um ato de solidariedade entre o operário paulistano para uma luta conjunta (LOPREATO, 2000, p.47). O movimento operário tomou conta da cidade, Brás, Mooca, Barra Funda, Belenzinho, Cambuci, Luz, Penha, Lapa, Vila Mariana foram palcos de manifestações (LOPREATO, 2000, p.47). (Mostrar anexos 14, 15, 16)
Fonte: Livro: O espírito da revolta, de Christina Lopreato. Pag. 48.
 
 
 
 
Fonte: O espirito da revolta, de Christina Lopreato. Pág. 48.
 
 
 
Manifestação operária. Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0156r.htm
 
 
 
 
Com isso, a medida que as reivindicações foram sendo atendidas, a rotina em São Paulo foi se normalizando. Ocorreu muita negociação para que isso se consolidasse. Professor(a) chame atenção ao fato da greve ser composta por um corpo heterogêneo: havia homens e mulheres. Também coloque a questão do valor de uma greve. Pois a mesma, no contexto apresentado, representou uma formação de consciência de classe. O operário se manifestar em prol de seus interesses foi uma ruptura importante para a mentalidade da época. Lembre-se que, o Brasil possuía uma forte tradição agrícola e o espirito do escravismo ainda encontrava-se recente (LOPREATO, 2000, p.218). Então os operários foram responsáveis em mostrar que para um novo Brasil em formação (o industrial regional), necessitava de novas formas de convívio social.
 
Dinâmica 2: Tendo em vista a greve de 1917, professor(a), faça as seguintes questões:
 
a) Vocês (alunos) acham possível ocorrer uma nova greve de trabalhadores hoje?
b) As condições de trabalho hoje, são melhores que as de antigamente?
c) Mostre a eles as seguintes fotos: (Anexo 17, 18, 19)
 
Manifestação de trabalhadores. Fonte: site http://sindilimpba.org.br/
 
 
 
Com isso, converse com eles a respeito dos ataques aos trabalhadores, inseridos em questões contemporâneas. Como por exemplo, o caso da terceirização: A terceirização modifica diretamente o salário do trabalhador e fragiliza a CLT. Para ilustração:
 
 
 
 
 
Ou também discuta sobre a Greve dos professores de 2015:
 
 
Também pode-se colocar um exemplo de manifestação de trabalhadores em contexto atual na qual você professor(a), achar pertinente. Mas o essencial é fomentar uma reflexão das condições de trabalho de hoje e sobre as formas reinvindicação. Para finalizar pergunte:
 
a) Qual ferramenta dos dias de hoje, facilitam a organização desses movimentos? Resposta: As redes sociais são grandes aliadas para a organização desses movimentos. Antigamente, no caso dos operários do Brás, eram realizados comitês proletários para a organização e discutir pautas (p.46).
 
b) Com a morte do sapateiro Martinez, é possível ter um panorama de repressão policial sobre as manifestações. Como o governo de hoje, reage as manifestações populares?
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
 
ANDRADE, Margarida Maria. Brás, Móoca e Belenzinho: “bairros italianos” na São Paulo além Tamanduateí. Disponível: http://www.revistas.usp.br/rdg/article/view/47331
 
BIONDI, Luigi. A greve geral de 1917 em São Paulo. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/verbetes/primeira-re… Acesso em: 10 de Dezembro de 2016
 
CALDEIRA, Teresa Pires. Cidade de Muros: Crimes, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: EDUSP, 2000.
 
LOPREATO, Christina Roquete. O espirito da revolta: a greve geral de 1917. São Paulo: Annablume, 2000.
 
PEREIRA, José Carlos. Estrutura e expansão da Industria em São Paulo. São Paulo: Nacional, 1967.
 
RIBEIRO, Suzana Barreto. Italianos do Brás: Imagens e memórias (1920-1930). São Paulo: Brasiliense, 1994.
 
SAES, Flávio A. M. de. A controvérsia sobre industrialização na Primeira República. IN: Estudos Avançados.
 
SEABRA, Eliane Pires. O movimento operário na primeira República. IN: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. Edição de Julho. São Paulo: 2011.
 
 
 
REFERÊNCIA DOS ANEXOS:
 
Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 4 - https://historiadesaopaulo.wordpress.com/industrializacao/ Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 5: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/braz.htm Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 6: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/braz.htm Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 7 - http://portaldotrem.com.br/imagens/geral/nossomapa1.jpg Acesso em: 11 de Dezembro de 2016.
 
Acesso em: 11 de Dezembro de 2016.
 
Acesso em: 11 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 10 - http://museudaimigracao.org.br/o-museu/fotos/ Acesso em: 11 de Dezembro de 2016.
 
Acesso em: 11 de Dezembro de 2016.
 
 
 
Anexo 14: LOPREATO, Christina Roquete. O espirito da revolta: a greve geral de 1917. São Paulo: Annablume, 2000, p. 48.
 
Anexo 15: LOPREATO, Christina Roquete. O espirito da revolta: a greve geral de 1917. São Paulo: Annablume, 2000, p.48.
 
Anexo 16: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0156r.htm .Acesso em: 12 de Dezembro de 2016.
 
 
Anexo 18 Foto do site terceirização: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-04/ato-em-sao-paulo-… .Acesso em: 12 de Dezembro de 2016.
 
Anexo 19: http://www.esquerdadiario.com.br/IMG/arton1531.jpg .Acesso em: 12 de Dezembro de 2016.
 
História Matarazzo: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/retrato/senhor-industria Acesso em: 10 de Dezembro de 2016.
Referencia
Graduandos