Educação da população negra no Brasil: dificuldades e mecanismos de resistência ao longo da história

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
FLH 0423 - A ESCOLA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
 
Educação da população negra no Brasil:
dificuldades e mecanismos de resistência ao longo da história
 
Sequência didática elaborada
para conclusão da disciplina ministrada pela
Profa. Dra. Antonia Terra Calazans Fernandes
Gisele Matos Chaves
Nº USP 8575879
SÃO PAULO
2017
 
 
TEMA
Educação da população negra no Brasil: dificuldades e mecanismos de resistência ao longo da história.
 
 
PÚBLICO ALVO
Professores de educação básica de qualquer ciclo/disciplina, atuantes, preferencialmente, na rede pública de ensino.
 
 
JUSTIFICATIVA
 
A historiografia da educação brasileira, por muito tempo, silenciou a trajetória traçada pela população negra no que diz respeito ao acesso à educação. Entretanto, nas últimas décadas, tem-se preocupado em compreender como se desenrolou esse processo ao longo da nossa história. Acreditamos que, por meio de uma análise concisa desse tema, é possível compreender aspectos da educação pública oferecida hoje, da qual pardos e pretos são os maiores beneficiários.
 
Como afirma Ramos (2005, p. 11),
 
A história da educação do negro traz para o nosso convívio determinações históricas de exclusão. Mas, também, traz possibilidades pelas identidades que revela, pelas formas de resistência cultural, pela tradição da história resguardada pelas práticas educativas populares, pelos valores ancestrais perpetuados pela memória dos mais velhos.
 
Faz-se necessário o desenvolvimento de uma formação de professores abrangendo temas como esse, visto que, muitos professores não estão cientes dos debates acerca da escolarização da população negra e seus mecanismos de resistência, seja para acessar a escola tradicional ou para desenvolver instituições próprias. Cruz (2005, p.30) declara que “a produção de conhecimentos e a introdução de temas e conteúdos sobre as trajetórias educacionais dos afro-brasileiros nos cursos de formação de professores podem contribuir com a formação de professores em condições de lidar solidariamente com a diversidade cultural do Brasil.”
 
Proporcionando tais discussões, espera-se que os professores reavaliem seus planos de aula e incorporem, efetivamente, as demandas da lei 10.639/10 para, assim, tentar, de alguma forma, aproximar os alunos do ambiente escolar e estabelecer, pois, a relação destes com o saber.
 
 
OBJETIVOS GERAIS
Instigar professores a refletirem sobre racismo no ambiente escolar; reavaliar conduta pessoal e profissional no contato com alunas/os negras/os; verificar, ao longo da história, como o racismo se configurava na sociedade brasileira, em geral e, nas instituições de ensino, em particular; pensar mecanismos para promover a igualdade e a promoção social nas escolas.
 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Compreender a educação brasileira sob a ótica da escolarização da população negra por meio de uma perspectiva histórica; verificar como a escola tornou-se, por muito tempo, uma instituição que disseminou o racismo; analisar as causas que levam os negros a criarem instituições próprias de ensino ao longo do tempo; verificar condições atuais de ensino para crianças e adolescentes negros; traçar novas possibilidades de ensino para que esses alunos se sintam parte da escola.
 
 
METODOLOGIA
Doze horas de formação continuada, sendo quatro aulas com duração de três horas cada uma. As aulas serão conduzidas a partir de discussões propiciadas por leituras coletivas e análises de documentos diversos, tais como gráficos, fragmentos de jornais, iconografia, músicas, dentre outros.
 
 
MATERIAIS
Quadro, giz, projetor, equipamento multimídia e conexão com a internet para reprodução de vídeos, documentos impressos para serem disponibilizados ao grupo.
 
 
CARACTERÍSTICAS GERAIS
 
Aula 1 - Sensibilização
 
 
PROPÓSITOS
 
Nesta primeira aula, a intenção é inserir os professores no debate acerca da situação atual da população negra quando nos referimos à educação. Espera-se que os professores reflitam sobre os desafios de uma educação que realmente corresponda às demandas da população negra, que contribua para a extinção do racismo e que desenvolva uma sociedade mais justa e igualitária, tendo em vista que esse processo é bastante complexo e amplo, uma vez que está ligado a fatores de ordem econômica e social.
 
 
DESENVOLVIMENTO
 
A formação pode se iniciar com um breve momento de apresentação do educador-condutor e dos professores participantes.
 
Após esse momento, o educador inaugura a formação apresentando aos professores participantes alguns dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), do IBGE, comparando o percentual de crianças e adolescentes que frequentaram/concluíram determinadas etapas do ensino básico no ano de 2014 (ANEXO 1).
 
A partir da análise dos gráficos, devem ser direcionadas algumas perguntas aos professores, a fim de iniciar o debate. Seguem algumas sugestões:
 
• O que chamam mais a atenção de vocês ao verificarem esses dados?
• Vocês saberiam dizer quais os motivos para uma discrepância tão grande entre os dados apresentados?
• Por que será que tais diferenças se tornam mais evidentes a partir do ensino fundamental?
• Quais os fatores que levam uma criança/adolescente a abandonar a escola?
• Por que será que crianças/adolescentes pardos/pretos abandonam a escola com maior frequência que crianças/adolescentes brancos?
 
Após a discussão inicial, o educador pedirá para que os participantes se distribuam em grupos. O educador distribuirá para cada grupo algumas reportagens dos últimos anos que tratam das desigualdades étnico-raciais no âmbito educacional. Os professores deverão discutir o conteúdo das reportagens em grupo,
relacioná-las com os dados apresentados na discussão anterior e compartilhar suas conclusões para toda a classe.
 
Sugestão de notícias que poderão ser utilizadas (fica a critério do educador utilizar estas ou outras matérias mais atuais de sua preferência):
 
• O que afasta as crianças e adolescentes negros das escolas? de Juliana Gonçalves para o CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades) - (29/06/2014). Disponível em https://www.ceert.org.br/noticias/crianca-adolescente/4808/o-que-afasta…
• Educação reforça desigualdades entre negros e brancos, de Deustche Welle para a Carta Capital (18/11/2016). Disponível em https://www.cartacapital.com.br/sociedade/educacao-reforca-desigualdade…
• Negra e adotada, garota de 12 anos é alvo de bullying em três escolas de BH, de Agência Estado (16/04/2017). Disponível em https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/04/16/interna_gerais,8625…
• 8 dados que mostram o abismo social entre negros e brancos, de Beatriz Souza, para Exame (20/11/2014). Disponível em https://exame.abril.com.br/brasil/8-dados-que-mostram-o-abismo-social-e…
 
 
Aula 2 - Educação no Brasil Imperial era para todos?
 
PROPÓSITOS
 
Nesta aula, a ideia é refletir sobre como se pensava a educação, especialmente para a população negra, no Brasil Imperial, antes da abolição da escravidão, em 1888.
 
 
DESENVOLVIMENTO
 
Aula será dividida em dois momentos:
O educador deverá lançar questões iniciais para verificar se os participantes possuem algum conhecimento prévio a respeito do tema que será abordado. Seguem algumas perguntas norteadoras:
 
• Você já pensou sobre como a educação era vista no Brasil Colônia? E no Brasil Império, será que tem alguma diferenciação?
• O que você sabe sobre a educação desse período? Existiam escolas? Existiam professores? A educação era pública e gratuita ou majoritariamente privada?
• O que será que se ensinava às crianças?
• Será que todas as pessoas podiam ter acesso às escolas?
 
Após a sondagem inicial, apresentar aos participantes trechos dos dois documentos listados abaixo. Tais documentos devem ser analisados pela classe como um todo. Este material que vai nortear a condução da aula.
 
Neste primeiro momento, o educador deverá auxiliar os participantes na análise documental e questioná-los, incitando o debate, sem interferir em suas respostas.
 
 
DOCUMENTO 1
 
Constituição Brasileira de 18241
 
[...]
TITULO 8º - Das Disposições Geraes, e Garantias dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros.
[...]
XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos.
XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.
 
Sugestões de perguntas para analisar este documento:
 
• Após a leitura deste documento, vocês acham que todas as pessoas tinham acesso à educação?
• Quem seriam os cidadãos aos quais o trecho da constituição se refere?
• E os colégios e universidades, aos quais o parágrafo XXXIII faz referência, eram públicos ou privados? Será que todos podiam frequentar essas instituições?
 
 
DOCUMENTO 2
 
Decreto 1331-A, de 17/02/18542
Art. 69. Não serão admittidos á matricula, nem poderão frequentar as escolas:
§ 1º Os meninos que padecerem molestias contagiosas.
§ 2º Os que não tiverem sido vaccinados.
§ 3º Os escravos.
 
 
Sugestões de perguntas para análise do documento:
 
• Analisando este documento, quais aspectos chamam mais a atenção?
• Qual a ambiguidade presente no início do artigo 69? Quais as possíveis interpretações que podemos fazer dela?
• Será que com estas restrições, a população liberta e pobre conseguia ter acesso às escolas? Por que?
 
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1 Documento completo disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm. Acesso: 28/11/2017
2 Documento completo disponível em http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1331-a-17-…. Acesso: 28/11/2017
 
Após discussão e análise dos documentos apresentados, o educador deve fazer uma breve contextualização de como se desencadeou o processo de escolarização no Brasil Império, levando em conta a exclusão da maioria da população negra desse processo.
 
 
TEXTO DE APOIO
 
A educação no Brasil pode ser pensada desde tempos remotos. No período colonial, a educação jesuítica é o principal instrumento de "civilidade" e doutrinação, seja de brancos, índios e até negros. Neste caso, em especial, ela se dá através do controle e da disciplinarização do negro nas atividades do trabalho escravo.
 
Já no período imperial, desde 1808, com a chegada da Coroa Portuguesa, ocorre a instalação das escolas de primeiras letras no Brasil. A Constituição de 1824 oficializa a proibição da instrução aos escravizados, garantindo educação pública e gratuita para todos os cidadãos brasileiros: homens e mulheres livres nascidos no Brasil. As primeiras universidades surgem em 1827, em São Paulo, são frequentadas exclusivamente pelas elites por causa dos altos custos de investimento que era necessário empregar em uma formação de nível superior.
 
Em 1854, instituiu-se o decreto que obrigava a inserção de crianças a partir de 07 anos nas escolas de primeiras letras. Contudo, existiam restrições para o ingresso dessas crianças nas escolas públicas e gratuitas: elas não podiam ser portadoras de doenças contagiosas e nem serem escravas. Apresentavam-se, portanto, empecilhos para que crianças negras tivessem acesso à educação.
 
Quando estas venciam as duas barreiras acima, outras dificuldades surgiam e impediam que essas crianças dessem continuidade aos estudos. Muitas delas não possuíam recursos para aquisição de vestimentas ou material escolar designados pelas escolas e muitas delas constituíam mão de obra para subsistência do núcleo familiar. Além do mais, as crianças das camadas subalternas sofriam racismo dentro do ambiente da escola formal, pois eram consideradas como "ovelhas negras que contaminavam os bons alunos".
 
Percebemos, pois, que, por mais que negros libertos alcançassem o ambiente escolar, muitos eram os obstáculos que os impediam de prosseguir com os estudos. Sendo assim, Barros (2005, p. 91) afirma que "o acesso às letras seria um elemento de diferenciação entre brancos (que se consideravam superiores) e negros (considerados inferiores)", ou seja, apesar de o ensino básico ser gratuito e obrigatório, arquitetavam-se empecilhos para manter privilégios às classes dominantes, garantindo, assim, educação para crianças brancas nas instituições públicas.
 
Contudo, mesmo com as dificuldades, a população negra desenvolveu mecanismos de resistência para ter acesso ao letramento, o que quer dizer, além de libertos, haviam também escravizados letrados. Muitos deles aprendiam a ler espiando as sinhás que recebiam educação cívica e religiosa no próprio ambiente doméstico, além de senhores que financiavam o aprendizado de letras e aritmética a alguns escravos por eles lhes possibilitarem, assim, maiores possibilidades de lucros, dentre tantas outras hipóteses.
 
Neste segundo momento, o educador iniciará o debate através de uma afirmação e, em seguida, questionamentos aos participantes:
Além do mais, por conta de todas essas dificuldades, a população negra buscou a instrução, nesse período, por meio de projetos de educação alternativos às escolas oficiais, em algumas escolas privadas.
 
• Como será que eram essas escolas? Será que só tinham crianças negras? Quem será que eram os professores dessas escolas? Quem patrocinava o estudo dessas crianças?
Após iniciar o debate, o educador deverá propor aos participantes uma leitura e discussão coletiva da matéria "Rio de Janeiro teve única escola exclusiva para negros", de Adriana Maria Paulo da Silva, a fim de identificar aspectos das instituições que, durante o período imperial, deram uma atenção especial à parcela pobre e negra da população brasileira: http://www.gazetadopovo.com.br/ideias/rio-de-janeiro-teve-unica-escola-…. Acesso 29/11/2017.
 
 
Aula 3 – Abolição e educação: a busca pela integração e por novas alternativas
 
PROPÓSITO
 
Compreender debates da educação brasileira propiciados pela abolição da escravatura em 1888; as características da educação da população negra no período republicano até a primeira metade do século XX; detectar o papel da imprensa negra no cotidiano dessa população e as ferramentas desenvolvidas por ela para integrar e instruir o negro agora livre das amarras da escravidão.
 
 
DESENVOLVIMENTO
 
Aula será dividida em dois momentos:
Os participantes deverão ser divididos em grupos. O educador deve entregar a cada grupo alguns fragmentos de jornais da imprensa negra (ANEXO 3) e solicitar aos participantes que leiam as notícias, discutam entre si e criem uma narrativa para apresentação ao grupo sobre como a educação da população negra no pós-abolição e na primeira metade do século XX se configurava na perspectiva dos jornais.
 
Após a apresentação das narrativas, o educador fará uma breve contextualização sobre como se apreende a educação brasileira neste período e sobre o que foi a imprensa negra, quais eram seus objetivos e quais suas ações sociais.
 
 
TEXTO DE APOIO
As reformas educacionais propostas nas primeiras décadas da república, ainda não possibilitaram efetivamente o acesso em massa da população negra às escolas oficiais. Muitos dos empecilhos vivenciados por esses indivíduos no período imperial continuaram impedindo que crianças negras ingressassem na educação formal.
 
Contudo, alguns indivíduos negros que possuíam melhores condições de vida, graças a relações de proteção estabelecida com ex-senhores e até mesmo por esforços pessoais, conseguiram acessar as escolas no final do século XIX, com a implementação do ensino popular nas escolas profissionalizantes, encarregadas de preparar mão de obra para o processo de industrialização que se desenvolve no país. Estes negros, pois, formaram uma classe média intelectualizada que lutará ativamente, nas primeiras décadas do século XX, pela integração e melhoria nas condições de vida dos negros mais pobres.
 
Nesse período, a Imprensa Negra surge como uma criada por negros para discutir sobre questões que atrasavam o desenvolvimento dessa população, buscando, pois, por alternativas para resolver questões ainda ligadas às estruturas do sistema de escravidão, além de traçar caminhos para promover a ascensão social do negro. Conforme afirma Lucindo (2016, p. 312): "(...) jornais, sociedades, clubes e centros beneficentes foram usados para discutir as questões que consideraram comuns, formaram opiniões e planejaram suas ações; constituíram-se em uma estrutura de comunicação sem as funções e os conteúdos da comunicação cotidiana." Para estas associações, o período republicano, ao contrário do Império, possibilitava maiores oportunidades ao povo negro. A educação, para essas associações, era a chave para que a população negra alcance a liberdade de fato. Através do conhecimento e do letramento, seria possível integrar-se à sociedade e, assim, conquistarem melhores condições de vida.
 
Neste segundo momento, o educador pode conduzir a análise coletiva de alguns outros fragmentos de jornais (ANEXO 4) que mostram iniciativas de formação de escolas/cursos profissionalizantes por parte das associações que conduzem a imprensa negra e discutir com os participantes sobre os projetos de educação que tais instituições propõem à população negra na primeira metade do século XX.
 
 
TEXTO DE APOIO
 
Muitas associações negras, nas primeiras décadas do século XX, fundam escolas para que a população negra tenha acesso à educação de forma justa e igualitária, uma vez que o preconceito e as dificuldades ainda impossibilitam o acesso às escolas primárias formais.
 
Uma das escolas que mais obteve sucesso foi a da Frente Negra Brasileira (1931-1937). Sua experiência possibilitou o surgimento de diversas outras escolas similares por vários estados do país. Além dos cursos de alfabetização para crianças e adultos, desenvolveu cursos profissionalizantes e um núcleo cultural para estudos de idiomas, além de outras atividades.
 
Embora apresente caráter conservador, no sentido de considerar que o negro deveria ser integrado à sociedade, como um todo, a FNB teve papel importante na luta pela instrução, igualdade e justiça para a população negra, além de a auto estima desses indivíduos, fragilizados por séculos pelo processo de escravidão.
 
 
Aula 4 – Quebrando barreiras atuais: por uma escola que fale a minha língua
 
PROPÓSITOS
 
Impulsionar reflexões a respeito do que os estudantes do ciclo básico pensam da escola nos dias de hoje; desafiar os professores a desenvolverem novas metodologias a fim de amenizar as dificuldades; instigar os professores a elaborarem aulas que dialoguem com a realidade dos alunos e que abordem aspectos da história/cultura africana/afro-brasileira, conforme lei 10.639/10 solicita.
 
 
DESENVOLVIMENTO
 
Aula dividida em dois momentos:
O educador apresentará aos participantes o vídeo-clipe da música Pedagoginga, de Thiago Elñino, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=lEM-zYi7hcs.Acesso: 29/11/2017. Após a visualização, propiciar espaço para debate coletivo relacionado com elementos apresentados na música.
Sugestões de perguntas para impulsionar a discussão:
 
• Gostaram da música? Alguém já tinha ouvido/visto o vídeo-clipe antes?
• O que mais chama a atenção nessa música?
• Qual a visão de escola presente na música? Vocês acham que ela conversa com a concepção de escola que seus alunos possuem? Ela está de acordo com a visão de escola que você possuía como aluno? E como professor, sua noção de escola mudou? É similar (ou não) com a que acabamos de ver no vídeo-clipe?
• Será que é possível resignificar a opinião que nossos alunos têm sobre a instituição de ensino? Como?
 
Após discussões, o professor pode fazer uma afirmação para partir para o segundo momento da aula, no qual serão discutidas alternativas de educação informal nos dias atuais.
A música apresenta a escola como um local de negação e o hip-hop como o instrumento de resistência que devolveu a auto estima ao indivíduo. Nós vimos que, no decorrer da história, a população negra buscou por instituições fora da escola formal a fim de se instruir, visto que, muitas vezes, o racismo, o preconceito e as desigualdades sociais eram escancarados nesses ambientes.
 
• Você acha que hoje a população negra ainda busca por educação em instituições informais de ensino? Você conhece alguma dessas instituições? Quais são os objetivos dessas instituições?
 
Apresentar aos participantes alguns projetos de educação informal, como os cursinhos pré-vestibulares populares e discutir sobre as propostas desses movimentos ligados à educação popular. De acordo com Nascimento (2005, 141) Esse tipo de luta popular aparece ainda durante o período de ditadura militar. Algumas experiências se constituíram nos anos 70 e 80. Mas é na década de 90, com a explosão da demanda por ensino superior e com a explicitação do racismo como fundamental para o entendimento das desigualdades e produção de políticas públicas democráticas, que o trabalho popular de preparação para o vestibular, numa perspectiva emancipatória e constituinte ganhou força e se popularizou.
 
Sugestões de cursinhos populares destinados à população negra:
 
EDUCAFRO: O objetivo geral da EDUCAFRO é reunir pessoas voluntárias, solidárias e beneficiárias desta causa, que lutam pela inclusão de negros, em especial, e pobres em geral, nas universidades públicas, prioritariamente, ou em uma universidade particular com bolsa de estudos, com a finalidade de possibilitar empoderamento e mobilidade social para população pobre e afro-brasileira. São objetivos específicos da Educafro que contribuem para o cumprimento de sua missão: organizar e provocar o surgimento de núcleos de pré-vestibular (novos núcleos) nas periferias de todo Brasil; proporcionar surgimento de novas lideranças e cidadãos conscientes nas comunidades e nas universidades;
formação cidadã e acadêmica através das aulas de professores voluntários nos cursinhos comunitários, como também: apresentar propostas de políticas públicas e ações afirmativas aos poderes executivos, legislativo e judiciário; difundir princípios e valores que contribuam para a radical transformação social do Brasil e Américas, com fundamento no ideário cristão e franciscano; despertar nas pessoas a responsabilidade e autonomia na superação de dificuldades as tornando protagonistas de suas histórias; valorizar radicalmente, a organização de grupos sociais e populares como instrumento de transformação social e pressão junto ao Estado. Disponível em http://www.educafro.org.br/site/conheca-educafro/. Acesso: 29/11/2017
 
 
UNEAFRO - A UNEafro é um movimento que se organiza em núcleos de atuação em diversas áreas. O trabalho mais conhecido são os cursinhos pré-vestibulares comunitários que atendem jovens e adultos oriundos de escolas públicas, prioritariamente negros/as, que sonham em ingressar no Ensino Superior e preparar-se para o ENEM ou Concursos Públicos. Para a UNEafro o conceito político de núcleo é mais amplo. Existirão vários tipos de núcleos. São núcleos os grupos que atuarem em diversas áreas tais como cultural, capoeira, formação política, esportiva ou qualquer área acadêmica ou social. O que define a atuação de um núcleo é seu caráter comunitário, pelo qual a UNEafro constituiu-se num combativo Movimento Social e Popular onde homens, mulheres, donas de casa, operários, jovens, idosos, negros/as, nordestinos e o povo pobre em geral são os verdadeiros protagonistas.Disponível em http://uneafrobrasil.org/uneafro-brasil/. Acesso: 29/11/2017
 
 
NÚCLEO DE CONSCIÊNCIA NEGRA DA USP (NCN): O Núcleo de Consciência Negra é uma entidade sem fins lucrativos e autônoma do movimento negro que tem como objetivo a luta contra o racismo, o preconceito e todas as formas de discriminação (racial, sexual, etc.). Fundado em 1987, a partir da iniciativa de funcionários, estudantes e professores da Universidade de São Paulo, o NCN, além de atuar em várias instâncias do movimento negro, desenvolve diversos projetos educacionais e sociais como o Curso popular pré-vestibular, o Centro de estudo de idiomas (inglês, francês e espanhol) e atividades de formação como debates e cursos sobre a questão racial no Brasil, oficinas de grafite e hip hop, dentre outros. Embora realize uma grande quantidade de projetos, o NCN não recebe nenhum tipo de financiamento ou apoio institucional da Universidade de São Paulo. http://www.ncn.org.br/index.php/quem-somos/historico. Acesso: 29/11/2017
 
 
AVALIAÇÃO FINAL
Os participantes devem elaborar uma atividade a ser desenvolvida, na instituição em que trabalham, com os alunos, que abordem questões discutidas na formação e que atingem, principalmente, a população negra: pode ser um debate para falar sobre racismo, um grupo de teatro para elaborar peças com temas como desigualdade social ou até mesmo uma oficina de escrita de rap tratando do tema da educação.
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
Fontes documentais
Periódicos Imprensa Negra Paulista – USP http://biton.uspnet.usp.br/imprensanegra/index.php/periodicos/ . Acesso: 29/11/2017
 
 
Bibliografia
 
BARBOSA, Marcio (org). Frente Negra Brasileira: depoimentos / entrevistas e textos. Quilomboje. São Paulo, 1998.
 
FONSECA, Marcus Vinícius; BARROS, Surya Aaronovich Pombo de (orgs.). A História da Educação do Negro no Brasil. Niterói: EdUFF, 2016. FONSECA, Marcus Vinícius. A educação dos negros: uma nova face do processo de abolição da escravidão no Brasil. Bragança Paulista: EDUSF; 2002
 
ROMÃO, Jeruse (org). História da Educação do Negro e outras histórias. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2005.
 
SILVA, José Carlos Gomes da. Cultura afro-brasileira e patrimônios culturais africanos nos currículos escolares: breve memória de lutas por uma educação inclusiva. In: SEMINÁRIO RACISMO E
EDUCAÇÃO, II, 2006, Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2006.
Referencia
Graduandos