Ditadura Militar no Brasil: Repressão e Resistência.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA


Seqüência Didática de Ensino de História
Ditadura Militar no Brasil: Repressão e
Resistência.


Nome: Laís Alves Sanchez
Nº USP: 5974076
Professora: Antonia Terra Calazans
Ensino de História: Teoria e Prática

Seqüência Didática desenvolvida para a Disciplina de Ensino de História: Teoria e Prática, orientada
pela professora Antonia Terra Calazans.
Tema:
· Ditadura Militar no Brasil.
· Práticas e Instrumentos de Tortura.
· Movimentos de Resistência e Protestos.
· O Papel da Música nos movimentos de Resistência.
Público Alvo:
· Alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II e do 3º ano do Ensino Médio.


Objetivos:
Trazer ao aluno a discussão sobre o tema Ditadura Militar no Brasil, situando as práticas de
tortura e repressão e os movimentos de protesto, principalmente os festivais musicais. A
discussão de um tema tão importante para o entendimento e conhecimento da História do Brasil
se faz amplamente necessária e se dá de várias maneiras, por isso é interessante e julgo
necessário que o professor de história tente se valer e aproveitar as diversas manifestações da
sociedade e representações para realizar esta discussão.
Para tanto, proponho uma seqüência didática que trabalhe com historiografia, história
oral, documentos de época, legislações, produção cinematográfica nacional, vídeos não-oficiais,
notícias de jornais e músicas.
As atividades serão desenvolvidas em grupos ou individualmente, conforme o necessário,
procurando sempre organizá-las da maneira em que os alunos apreendam melhor o conteúdo e
possam fazer reflexões críticas.


Procura-se trabalhar com os alunos os seguintes conceitos:
· Relação Passado/Presente
· Sujeito Histórico
· Verdade Histórica
· Construção Histórica
· Golpe de Estado
· Noções de Cidadania e Democracia
· Construções Ideológicas

As expectativas de aprendizagem perpassam pela idéia de fornecer aos alunos instrumentos de
capacidade crítica e mostrar que eles podem (e devem) fazer uso dela no dia-a-dia. Partindo da
definição de história feita por Marc Bloch de que a História é a ciência do homem no tempo1, a
idéia é trabalhar com os alunos a noção de sujeito histórico e pertencimento com a história. Têmse
como objetivo também dar ao aluno instrumentos para que ele seja capaz de identificar que a
construção histórica carrega tensões do período que ocorreu e principalmente de quando foi
abordada.
Duração das Atividades:


As atividades demandam de 1 a 3 aulas cada, tendo como base aulas de 50 minutos,
dependendo do andamento da turma e da coordenação do professor.
*****
“O passado deve ser interrogado a partir de questões
que nos inquietam no presente (caso contrário, estudá-lo
fica sem sentido). Portanto, as aulas de História serão muito
melhores se conseguirem estabelecer um duplo compromisso:
com o passado e o presente”.
(PINSKY; PINSKY, 2004: 23).
“O texto é muito importante, nunca deve ser abandonado, mas o
objetivo é fazer pensar, e, assim, o texto é um instrumento deste
objetivo maior. Lembre-se de que há outros instrumentos. A
sedução das imagens deve ser uma alavanca a nosso favor, nunca
contra nós. Usar filmes, propagandas, charges, desenhos, mapas:
tudo pode servir ao único grande objetivo da escola: ajudar a ler
o mundo, não apenas a ler letras”(KARNAL, 2002: 20).
1 BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Jorge Zahar Editor. Pág 55.

Desenvolvimento das Atividades


Atividade 1:
Duração aproximada: 1 aula


Aula de Introdução
Nesta primeira aula o professor deverá introduzir o assunto da Ditadura Militar no Brasil
aos alunos. Para iniciar essa aula o professor deverá mostrar as seguintes imagens sem falar do
que elas tratam, para ver se os alunos reconhecem o período citado:

Imagem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ImagemImagem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao mostrar estas imagens o professor deve realizar algumas perguntas básicas, as quais
podem ser as seguintes:

  • Vocês reconhecem essas imagens?
  • O que estas imagens representam?
  • Qual o tipo de governo retratado? E qual a opinião das pessoas sobre ele?

Após a exibição destas imagens o professor deve perguntar aos alunos se eles sabem qual o
momento histórico destas imagens. Por ser um período cronologicamente próximo aos dias atuais
e presente no imaginário da sociedade, muitos alunos provavelmente já ouviram alguma coisa a
respeito.

Nesta primeira aula o professor deve introduzir o assunto para os alunos, explicando o que
foi o período da Ditadura Militar no Brasil, as características gerais, sem a preocupação de abarcar
todo o conteúdo. Trata-se de uma aula de introdução.
Para mostrar aos alunos que a História faz parte do nosso presente e que existem várias
formas de história o professor poderá pedir aos alunos, como tarefa de casa, uma atividade de
história oral. Os alunos deverão realizar uma entrevista com pelos menos 3 (três) adultos da
família ou conhecidos que tenham vivido na época da ditadura e perguntar quais as impressões
que estas pessoas têm do período a ser estudado. Assim os alunos encontrarão diversas versões
sobre a ditadura e o professor poderá confrontá-las em um próximo encontro.


Atividade 2:
Duração aproximada: 1 aula


Nesta segunda atividade o professor deverá recolher a atividade proposta na aula anterior
e dividir a sala em pequenos grupos para que os alunos discutam sobre as informações recolhidas
nas entrevistas.
Após a discussão feita em pequenos grupos o professor deverá abrir a discussão para a
sala toda fazendo com que os grupos relatem as experiências e levantem as principais
características encontradas sobre o período. Neste o momento o professor deverá montar um
quadro, que será consultado e acrescentadas outras informações, com estas primeiras
características encontradas.
O professor deverá dividir a sala em 3 (três) grupos para que estes se encarreguem de
pesquisar: o DEOPS, o DIP, os Atos Institucionais. Os grupos apresentarão as informações
recolhidas na próxima aula.
A intenção das atividades de pesquisa e em grupos é a de que os alunos se sintam
participantes e construtores da aula e não meros expectadores passivos. Trata-se de uma maneira
de envolver os alunos no processo do aprendizado e trabalhar a autonomia deles.


Atividade 3:
Duração Aproximada: 1 aula


Trabalho com imagens e propagandas.
No início da aula o professor deve montar a sala em um grande grupo e solicitar aos
alunos uma ajuda para a construção da aula, sendo assim, os alunos responsáveis pela pesquisa
sobre o Departamento de Imprensa e Propaganda deverão apresentar as informações colhidas nas
pesquisas.
Nesta aula o professor deverá retomar as imagens exibidas na primeira aula, pois aquelas
mostram propaganda realizada em favor do governo ditatorial e de movimentos contrários, e
poderá acrescentar outras:

Imagem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagem

 

Emílio Gastarrazu
Médici, presidente do
Brasil, e Carlos Alberto,
capitão da seleção,
segurando a Taça da
Seleção Brasileira,
tricampeã mundial de
futebol em 1970.

 

 

 

 

 

 

 

O professor deverá trabalhar esta imagem perguntando aos alunos:

  •  Qual idéia as propagandas pretendem passar?
  •  Qual a relação da Copa de 1970 com a propaganda ideológica da Ditadura Militar?

O que vocês acham que significa a expressão “Brasil: Ame-o ou Deixe-o”.
Ao finalizar esta atividade o professor deverá abrir espaço para perguntas dos alunos. Esta atitude
propicia um bom contato do professor com os alunos e os deixam mais à vontades para perguntar
o que tiverem dúvida.

 

Atividade 4:
Duração Aproximada: 1 aula
Análise do Ato Institucional Nº 5

 

 

 

 

ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e
 

CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais
se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um
sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da
pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a
corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);
 

CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e
segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou
ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder
Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que "não se disse que a Revolução foi, mas que é e continuará" e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;
 

CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao convocar o
Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar "a
institucionalização dos ideais e princípios da Revolução", deveria "assegurar a continuidade da obra revolucionária" (Ato
Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966);
 

CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e
culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa,
desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;
 

CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais
superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a
harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;
 

CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do
Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as
providências necessárias, que evitem sua destruição,
Resolve editar o seguinte

ATO INSTITUCIONAL


Art. 1º - São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições estaduais, com as
modificações constantes deste Ato Institucional.

Art. 2º - O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias
Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os
mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.

§ 1º - Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas
as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.

§ 2º - Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, estaduais e os Vereadores só
perceberão a parte fixa de seus subsídios.

§ 3º - Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que
não possuam Tribunal de Contas, será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de
auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.

Art. 3º - O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e
Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.
Parágrafo único - Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e
exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão
das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.

Art. 4º - No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança
Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer
cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.
Parágrafo único - Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos
cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente
preenchidos.

Art. 5º - A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:

I - cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

II - suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

III - proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

IV - aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:

a) liberdade vigiada;

b) proibição de freqüentar determinados lugares;

c) domicílio determinado,

§ 1º - O ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente
ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.

§ 2º - As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da
Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.

Art. 6º - Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, mamovibilidade e estabilidade,
bem como a de exercício em funções por prazo certo.

§ 1º - O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em
disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias,
empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou
membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo
de serviço.

§ 2º - O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios.

Art. 7º - O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado
de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.

Art. 8º - O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos
tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas
e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.
Parágrafo único - Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.

Art. 9º - O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional,
bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152
da Constituição.

Art. 10 - Fica suspensa a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança

nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.

Art. 11 - Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato
institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.

Art. 12 - O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.

A. COSTA E SILVA
Luís Antônio da Gama e Silva
Augusto Hamann Rademaker Grünewald
Aurélio de Lyra Tavares
José de Magalhães Pinto
Antônio Delfim Netto
Mário David Andreazza
Ivo Arzua Pereira
Tarso Dutra
Jarbas G. Passarinho
Márcio de Souza e Mello
Leonel Miranda
José Costa Cavalcanti
Edmundo de Macedo Soares
Hélio Beltrão
Afonso A. Lima
Carlos F. de Simas
Ato Institucional acessível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-05-68.htm

O professor deverá fornecer uma cópia para cada aluno e fazer a leitura do Ato Institucional com
eles.


Após a leitura o professor deverá levantar algumas perguntas, tais como:

  • Qual imagem sobre o governo que está retratada nesta legislação?
  • O que pretende este Ato Institucional?

O professor pode elaborar, junto com a classe, um quadro com as características deste Ato
Institucional.


Atividade 5:


Duração Aproximada: 1 Aula


Trabalho com relatos de prisioneiros, extraídos da obra BNM – Brasil: Nunca Mais.
Uma breve explicação sobre o BNM:


“A pesquisa revelou quase uma centena de modos diferentes de tortura, mediante agressão física,
pressão psicológica e utilização dos mais variados instrumentos, aplicados aos presos políticos
brasileiros. A documentação processual recolhida revela com riqueza de detalhes essa ação
criminosa exercida sob auspício do Estado. Os depoimentos aqui parcialmente transcritos
demonstram os principais modos e instrumentos de tortura adotados pela repressão no Brasil.”
Modos e Instrumentos de Tortura:


O “pau-de-arara”


(...) O pau-de-arara consiste numa barra de ferro que e atravessada entre os punhos amarrados e
a dobra do joelho, sendo o “conjunto” colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado
pendurado a cerca de 20 ou 30 cm. do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente,
seus “complementos” normais são eletrochoques, a palmatória e o afogamento. (...)


(...) que o pau-de-arara era uma estrutura metálica, desmontável, (...) que era constituído de dois
triângulos de tubo galvanizado em que um dos vértices possuía duas meias-luas em que eram
apoiados e que, por sua vez, era introduzida debaixo de seus joelhos e entre as suas mãos que
eram amarradas e levadas até os joelhos; (...).


O choque elétrico


(...) O eletrochoque é dado por um telefone de campanha do Exército que possuía dois fios longos
que são ligados ao corpo, normalmente nas partes sexuais, além dos ouvidos, dentes, língua e
dedos. (...)


(...) que foi conduzido às dependências do DOI-CODI, onde foi torturado nu, após tomar um banho
pendurado no pau-de-arara, onde recebeu choques elétricos, através de um magneto, em seus
órgãos genitais e por todo o corpo, (...) foi-lhe amarrado um dos terminais do magneto num dedo
de seu pé e no seu pênis, onde recebeu descargas sucessivas, a ponto de cair no chão, (...)

O “afogamento”

(...) O afogamento é um dos “complementos” do pau-de-arara. Um pequeno tubo de borracha é
introduzido na boca do torturado e passa a lançar água. (...)


...), e teve introduzido em suas narinas, na boca, uma mangueira de água corrente, a qual era
obrigado a respirar cada vez que recebia uma descarga de choques elétricos; (...)


(...) afogamento por meio de uma toalha molhada na boca que constituí: quando já se está quase
sem respirar, recebe um jato d’água nas narinas; (...)“


(...) A palmatória é uma borracha grossa, sustentada por um cabo de madeira, (...)

O enforcamento é efetuado por uma pequena corda que, amarrada ao pescoço da vitima, sufoca-a
progressivamente, até o desfalecimento. (. . .)


O professor deverá distribuir fragmentos das práticas de tortura realizados com os
prisioneiros aos alunos e uma cópia do trecho do discurso acima redigido e pedir que eles
desenvolvam uma reflexão por escrito para ser entregue sobre estas práticas e que formulem
questionamentos sobre elas e sobre o porquê desta prática existir.
Os alunos deverão levar em conta o Ato Institucional já analisado.
Depois os alunos deverão apresentar as suas discussões para a sala e o professor deverá
pedir aos alunos que pesquisaram sobre o DEOPS e os Atos Institucionais apresentem e
expliquem o funcionamento destas instituições.


Trecho do discurso de Márcio Moreira Alves, 1968
Uma vez que no Brasil de hoje torturar presos inermes parece ser motivo de
promoção na outrora honrada e gloriosa carreira militar, pergunto: quando
pararão as tropas de metralhar as ruas do povo?
Quando uma bota, arrebentando uma porta de laboratório, deixará de ser a
proposta de reforma universitária do governo? Quando teremos, como pais, ao
ver os nossos filhos saírem para a escola, a certeza de que eles não voltarão em
uma padiola, esbordoados ou metralhados?
Quando poderemos ter confiança naqueles que devem executar e cumprir as leis?
Quando não será a polícia um bando de facínoras? Quando não será o Exército um
valhacouto de torturadores?
ALVES, Márcio Moreira. 68 mudou o mundo. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.

Nesta aula o professor deverá auxiliar os alunos a fazerem ligações entre as instituições
estudadas.


Atividade 6:


Duração aproximada: 2 aulas


Música e História.


Análise de Letras e Músicas da época da Ditadura Militar


Carimbador Maluco2
Composição: Raul Seixas


5... 4... 3... 2...
- Parem! Esperem aí.
Onde é que vocês pensam que vão?
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!!
Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
O seu Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Tem que ser selado, registrado, carimbado

____________________________
2 Letra retirada do site: letras.mus.br

Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar....
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Plunct Plact Zum
Não vai a lugar nenhum!
Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês
Aventura como essa eu nunca experimentei!
O que eu queria mesmo era ir com vocês
Mas já que eu não posso:
Boa viagem, até outra vez.
Agora...
O Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
Plunct Plact Zum
Pode partir sem problema algum
(Boa viagem, meninos.
Boa viagem).

Análise da Letra e Música:


“Tem que ser selado, registrado, carimbado
Avaliado, rotulado se quiser voar!
Se quiser voar
Pra Lua: a taxa é alta,
Pro Sol: identidade
Mas já pro seu foguete viajar pelo universo
É preciso meu carimbo dando o sim,
Sim, sim, sim.
Plunct Plact Zum”


Essa parte da música Raul Seixas faz uma referência à Proudhon, a idéia de ser governado,
o músico retira da Idéia geral da Revolução no século XIX, de Proudhon:


“Ser Governado
Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legislado,
regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado,
censurado, comandado por outros que não têm nem o título nem a ciência, nem a
virtude…(...) Ser governado, é ser, a cada operação, a cada transação, a cada movimento,
anotado, registrado, recenseado, tarifado, selado, tosado, avaliado, cotizado, patenteado,
licenciado, autorizado, apostilado, administrado, impedido, reformado, endereçado,
corrigido. É, sob pretexto de utilidade pública, e sob o nome do interesse geral, ser posto à
contribuição, exercido, extorquido, explorado, monopolizado, pressionado, mistificado,
roubado; depois, ao menor resmungo, à primeira palavra de reclamação, reprimido,
multado, enforcado, hospitalizado, espancado, desarmado, garroteado, aprisionado,
fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído, e por
cúmulo, jogado, ludibriado, ultrajado, desonrado. Este é o governo, esta é a sua justiça,
esta é sua moral!”


A música fez parte do musical infantil Pluct Plact Zumm da Rede Globo de Televisão em 1983 e foi
motivo de grandes críticas ao músico, pelo fato dele ter aparentemente “se vendido” ao sistema e
ter parado de criticá-lo.

A música é feita em ritmo de música infantil e passa como feita para crianças, o que fez com que
ela passasse pela censura, sem ter sido percebido o teor anarquista e crítico ao sistema vigente.
A música fez parte do musical infantil Pluct Plact Zumm da Rede Globo de Televisão em 1983 e foi
motivo de grandes críticas


Ao dizer que “Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar!” é
feita uma referencia à censura. Toda a letra é voltada a fazer referencia ao texto do Proudhon e
criticar o sistema.


O professor deverá entregar a letra da música aos alunos e tocar a música também. Deve pedir
aos alunos que escrevam uma análise da música a partir de algumas indagações:

  • Qual o público a que se destina esta música?
  • Qual a mensagem que o músico tenta divulgar?
  • Existe alguma intenção nesta letra? Se sim, quais as idéias que o autor tenta combater?

Só após esta primeira análise dos alunos é que o professor deve tocar novamente a música, ler a
letra com os alunos e ir fazendo uma análise em conjunto com a sala. Neste momento o professor
deve explicar as intenções do compositor, explicar as referências utilizadas por ele, no caso as
idéia de Proudhon.

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores3
Composição: Geraldo Vandré
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos

_________________________
3 Letra retirada do site: letras.mus.br

De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)


Com esta música o professor deve proceder da mesma maneira que na anterior. Existem três
versões da música bastante interessantes: a do próprio Geraldo Vandré no festival que participou;
uma do cantor Zé Ramalho, onde inclui sons de armamentos de guerra na música; e uma da

banda Charlie Brown Jr, que regrava a música, ao som de rock.O professor, ao utilizar as três
versões, mostra aos alunos a importância da música, não só a da letra.


O professor deve informar aos alunos que esta música, que também ficou conhecida como
“Caminhando”, como também ficou conhecida, apareceu em 1968, concorrendo na parte
nacional do III FIC (Festival Internacional da Canção). Mesmo sendo a favorita, ficou em segundo
lugar; a canção “Sabiá” de Chico Buarque e Tom Jobim


Após fazer as indagações aos alunos, o professor pode analisar a letra da seguinte forma4:


Caminhando e cantando e seguindo a canção / Somos todos iguais braços dados ou não:
representa as passeatas que reuniam, em sua maioria, jovens que tinham consigo um desejo de
mudança, ambições e sonhos, eram movidas a cartazes de protestos, a vozes gritantes que
entoavam hinos e músicas. Essa frase também nos mostra que independente de crenças e idéias,
as pessoas são iguais, estando elas do mesmo lado ou não.


Nas escolas nas ruas, campos, construções: as manifestações eram compostas de pessoas de
diversos ambientes, mas que possuíam o desejo de mudança em comum: agricultores, operários,
camponeses, mulheres, jovens, professores, jornalistas, intelectuais, padres e bispos. No caso de
professores, jornalistas e intelectuais eles eram censurados e vigiados, o que depois de AI-5
ocorreu com maior intensidade, os professores não podiam lecionar e mencionar nada referente
ao golpe, os jornalistas tinham seus artigos e matérias cortadas pela censura e os intelectuais
eram proibidos de disseminar suas idéias e também de publicá-las. Nas universidades não havia
vagas e muitos jovens não conseguiam estudar, mulheres eram descriminadas e impedidas de
trabalhar, os operários sofriam com os baixos salários, agricultores e camponeses tinham suas
terras ocupadas e os padres e bispos eram ameaçados, presos e muitas vezes expulsos do país.
Então a maneira encontrada para protestarem pelos seus direitos, era juntar-se aqueles que
também possuíam idéias de mudança e desejo por um país melhor.


Vem, vamos embora, que esperar não é saber: esse trecho contesta sobre aqueles que sofriam o
momento na pele e não faziam nada, afinal não se muda um país, ficando parado.


Quem sabe faz a hora, não espera acontecer: refere-se também a essas pessoas que preferiam
ficar em silêncio em vez de tentar alcançar a mudança junto aos estudantes e aos demais.


Pelos campos há fome em grandes plantações: as pessoas que trabalhavam nos campos, ou que
eram agricultores, também sofriam com a ditadura, os poucos que possuíam um pedaço de terra a

_______________________________________________________________-
4 PADILHA, Patrícia de Paula. Análise Crítica da Música: Pra não dizer que não falei das flores. Acessível em:
http://www.ump.edu.br/midialogos/ed_02/ensaios/Analise%20Critica%20da%2…

mesma lhe era tomada, os camponeses muitas vezes eram despejados e acabavam por passar
fome.


Pelas ruas marchando indecisos cordões: cordões é como ficou conhecido os grupos de foliões
que tomavam as ruas durante o carnaval, o nome refere-se a característica dos grupos serem
formados de forma que as pessoas se sucedem. Assim era composta algumas das manifestações,
como foi o caso da Passeata dos Cem Mil, que parecia ser dividida em blocos: artistas, mães,
padres, intelectuais e entre outros, que em muitos casos, caminhavam indecisos ou com medo dos
militares.


Ainda fazem da flor seu mais forte refrão / E acreditam nas flores vencendo o canhão: enquanto
os militares reprimiam os protestantes com canhões, bombas de gás, e armas, a população saia
nas ruas com cartazes e com a força de suas vozes, muitos atirando pedras e tudo o que se
estivesse ao alcance, mas nada parecia ser tão forte e provocante quanto os gritos, as palavras de
ordem dos movimentos estudantis, frases e músicas daquele ano, essas sim eram suas verdadeiras
flores. Mas começaram a surgir grupos que não acreditavam mais em democracia sem a violência,
alguns grupos de radicais se formavam e gritavam em coro: “Só o povo armado derruba a
ditadura”, enquanto do outro lado um grupo militante gritava: “Só o povo organizado conquista o
poder”.


Há soldados armados, amados ou não / Quase todos perdidos de armas na mão: os soldados
estavam sempre armados e dispostos a prender os manifestantes e levá-los para as salas do DOPS,
porém, muitos pareciam alienados, não sabiam direito o que acontecia ou fingiam não saber, para
quem sabe assim se redimir da culpa de tantas mortes e “desaparecimentos” da época. Mas
tinham famílias, namoradas, mãe, irmãos podiam sim ser amados por alguém ou então odiados
por todos. Muitas manifestações foram, sobretudo contra a violência dos policiais.


Nos quartéis lhes ensinam antigas lições / De morrer pela pátria e viver sem razão: Os soldados
aprendiam lições e como se houvesse uma lavagem cerebral aceitavam cumprir as ordens do
governo, mas acredito que em sua maioria muitos sabiam exatamente o que faziam e
concordavam com os planos e métodos. Como diz a frase eles aceitavam morrer pelo seu país,
mesmo que para isso eles fossem recriminados pela população e tivessem que viver sem anseios e
sem razão, afinal de contas eles só serviam para fazer o trabalho pesado para os governantes.
Somos todos soldados, armados ou não: na contradição de ser ou não soldados, todos eram, a
diferença esta nas armas e na motivação.

Os amores na mente, as flores no chão / A certeza na frente, a história na mão: a maioria, se não
todas as pessoas que participavam ativamente dos manifestos eram motivados pelas perdas que
sofriam, pelas mortes de amigos, parentes, conhecidos, pela dúvida do que aconteciam com as
pessoas que eram levadas. Alguns dos jovens quando crianças viram seus pais serem levados por
policiais e nunca mais tiveram noticias, muitos viram seus amigos morrerem e o corpo
simplesmente desaparecer e acabavam por não ter direito ao enterro, alguns poucos voltavam e
de outros nunca mais se ouvira, eram guiados pela certeza de que poderiam mudar o mundo e
pela história que cada um deles possuía.
O professor deverá também informar os alunos de que as canções de protesto estavam em voga
no final da década de 1960, e que os compositores foram alvos de muitas críticas. Nesta música
deve-se observar que a canção presentifica o tempo :”esperar não é saber/ não espera acontecer”,
o que desagradou e provocou a ira dos militares.
É importante lembrar aos alunos do Ato Institucional Nº5, decretado em dezembro de 1968, o
qual, suspendendo as liberdades democráticas, a censura atuou com ferocidade no plano cultural.
Canções e espetáculos foram proibidos; compositores foram parar na cadeia e no exílio5.


Atividade 7:
Duração aproximada: Exibição do filme: 3 aulas
Discussão: 2 aulas
Filme a ser exibido: Batismo de Sangue.


O filme é baseado na obra de Frei Betto - Batismo de Sangue: Guerrilha e morte de Carlos
Mariguella. Trata-se da história de frades dominicanos na luta contra a ditadura militar.
Assim como as atividades anteriores, esta deve conduzir o aluno a uma reflexão. O professor deve
orientar as discussões, instigar os alunos, propor perguntas.
Sugiro que o professor passe todo o filme, sem interrupções para explicações, a não ser que a sala
declare necessidade, mas isso depende da dinâmica de cada professor.

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5 Para mais informações sobre a influência do AI-5 o professor poderá consultar o artigo “A música popular
brasileira (MPB) dos anos 70: resistência política e consumo cultural” de Marcos Napolitano.

O professor deve lembrar aos alunos que assim como os demais documentos, o filme não é uma
representação exata do período retratado, é uma criação humana, e assim como fotografias,
músicas, documentos escritos, são carregadas de tensões e ideologias.
O professor deverá elaborar um “quadro informativo” com todas as percepções dos alunos sobre
o filme e o movimento retratado, sendo assim será feita uma análise em conjunto com toda a sala.
Esta, sendo a última aula, deve ser conclusiva. O professor deve aproveitar os efeitos causados
pelo filme nos alunos para tentar conduzir os alunos a uma reflexão sobre o período na sua
totalidade.
O professor deverá pedir um relatório sobre o filme, individual, para ser entregue. E como
avaliação poderá propor uma redação onde os alunos indiquem o que entenderam sobre a
assunto e coloquem a sua opinião, elencando todos temas abordados nas aulas.


Avaliação
O professor poderá pedir aos alunos que façam um trabalho de síntese das aulas, fazendo ligações
sobre os temas e os métodos de análise da cada documento utilizado. Este trabalho pode não ser
uma simples redação, e sim um trabalho de coleta de informações em que se leve em conta as
conclusões e reflexões feitas pelo aluno durante todas as atividades. Poderá ter a forma de uma
monografia, ainda que em menor profundidade.

Referencia
Graduandos