Comparação Entre As Inconfidências Mineira e Baiana

 

COMPARAÇÃO ENTRE AS INCONFIDÊNCIAS MINEIRA E BAIANA

 

 

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
FLH0421 - ENSINO DE HISTÓRIA: TEORIA E PRÁTICA
PROFª. DR. ANTÔNIA TERRA CALAZANS
ALUNO MOACIR MARQUES DE LIMA JÚNIOR Nº USP: 2947215 - VESPERTINO
PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA:
COMPARAÇÃO ENTRE AS INCONFIDÊNCIAS MINEIRA E BAIANA

 


O objetivo desta proposta de sequencia didática é a construção por parte dos alunos de uma análise
comparativa entre dois momentos de máxima importância na construção da História do Brasil, a
Inconfidência Mineira (1789) e a Inconfidência Baiana (1798).
Procura-se através da análise das sentenças de morte dos condenados nas inconfidências analisar semelhanças
e diferenças tanto no momento histórico em que ocorrem, como na forma como elas foram sendo apropriadas
ao longo da História.
Este projeto tem em mente o trabalho com alunos da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental II e tem um
espaço previsto para 2 ou 5 aulas, dependendo do ritmo da sala, sendo divididos em 11 passos, seguindo uma
ordem que pode (e deve ser) modificada segundo os interesses e necessidades do professor e dos alunos.

 

Leia os textos abaixo com muita atenção!

Fragmento da sentença de Tiradentes Fragmento da sentença dos Conjurados Baianos
Condenar ao réu José da Silva Xavier, por alcunha o
Tiradentes. Alferes que foi de tropa paga da capitania
de Minas, a que com baraço e pregão seja conduzido
pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra
morte natural para sempre, e que depois de morto e
lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde
em o lugar mais público dela será pregada, em um
poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo
será dividido em quatro quartos, e pregado em postes,
pelo caminho de Minas, Sítio da Varginha e das
Cebolas, onde o réu teve esta infames práticas, e os
mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo
também os consuma; declaram o réu infame, e seus
filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o
Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila
Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais
no chão se edifique,e, não sendo própria, será
avaliada e paga a seu dono pelo bens confiscados, e
no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se
conserve a memória abominável desse abominável
réu.
(Citado em Brasil 500 anos. São Paulo, Abril, 1999. v. 1, p. 275)
E, pela dedução dos fatos descritos e suas
convincentes provas, o que tudo visto, e mais dos
autos, condenam os réus Luiz Gonzaga das Virgens,
pardo, livre, soldado, solteiro 36 anos; Lucas Dantas
de Amorim Torres, pardo, liberto, solteiro, 24 anos;
João de Deus Nascimento, pardo, livre, casado,
alfaiate, 27 anos; Manoel Faustino dos Santos Lira,
pardo, forro, alfaiate, 22 anos [...] a que com baraço
e pregão, pelas ruas públicas desta cidade, sejam
levados a Praça da Piedade, por ser também uma das
mais públicas dela, onde, na forca, que, para este
suplício se levantará mais alta do que a ordinária,
morram morte natural para sempre, depois do que
lhes serão separadas as cabeças e os corpos, pelo
levante projeto, pelos ditos réus, chefes, a fim de
reduzirem o continente do Brasil a um Governo
Democrático.
(TAVARES, Luis Henrique Dias. A Conjuração Baiana. São Paulo: Ática, 1994,
p.75)

 

1º passo  Pedir a leitura dos textos por ao menos dois alunos, um para cada texto;


2º passo  Após a primeira leitura pedir para os alunos destacar palavras cujo significado é desconhecido e
estimular a utilização de um dicionário de língua portuguesa para a formação de um vocabulário das palavras
desconhecidas. Por Exemplo:
Baraço = corda ou laço para enforcamento.
Pregão = Divulgação das boas ou más qualidades, das ações meritórias ou censuráveis de alguém.

3º passo  Estimular a comparação entre os dois textos quanto ao conteúdo, apontado semelhanças e
diferenças presentes nos textos;


4º passo  destacar a natureza das penas, isto é, a violência, indicando quem foi sentenciado;


5º passo  Levantar hipótese, a partir dos alunos, sobre quem eram os condenados e qual terrível crime
merecia sentenças tão duras e cruéis;


6º passo Após a leitura do conteúdo dos textos procurar identificar os movimentos políticos, primeiro a partir
dos próprios documentos. Observar que no primeiro texto a acunha Tiradentes facilita a identificação da
Inconfidência Mineira;


7º passo Pedir para a próxima aula leitura do livro-texto sobre a Inconfidência Mineira e a Inconfidência
Baiana e procurar estimular os alunos a retirarem informações importantes, tais como o contexto histórico, tipo
de estrutura social vigente na época, situação econômica e política da época, propostas de governo pelos
inconfidentes nos dois movimentos, influencias ideológicas presentes nos dois movimentos, bem como quais
foram os exemplos inspiradores presentes nos dois movimentos, observar se há diferença ou semelha entre o
tipo de liderança existentes em cada um dos movimentos e destacar a participação, as propostas sociais e o
modelo de governo proposto em cada uma dos movimentos, por fim, destacar o resultado imediato dos
movimentos e penas dos condenados;


8º passo Procurar construir uma linha do tempo inserindo os movimentos em um período maior e em um
contexto político mais amplo a partir do que foi estudado antes. Por exemplo:
Cronologia


 1734 – Na França, o filósofo Voltaire publica suas Cartas inglesas;
 1748 – publicado na França O espírito das leis, obra de Montesquieu.
 1751 – Começam a ser publicados na França, sob a direção de Denis Diderot, os 28 volumes da
Enciclopédia;
 1762 – Jean Jacques Rousseau publica na França O contrato social;
 1776 – Adam Smith publica na Inglaterra a obra UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A NATUREZA E
A CAUSA DA RIQUEZA DAS NAÇÕES;


 1775 -1783 – Guerra de Independência das Colônias Inglesas na América do Norte;
 1780 - 1781 – Revolta de Tupac Amuru no Vice-Reino do Peru;
 1787 – Promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América do Norte;
 1789 – 14 de julho Tomada da Bastilha: o início da Revolução Francesa;
 1791-1804 - Guerras de Independência do Haiti.


9º passo  Após a identificação dos movimentos levantar hipóteses sobre o porquê da Inconfidência Mineira
ser mais conhecida do que a Inconfidência Baiana. Discutir a construção de mitos heroicos na História do Brasil
e a ressignificação constante da História para cada geração, grupo social e interesses políticos do momento.


Apresentar as discussões da historiografia selecionada abaixo demonstrando como o mito do herói nacional foi
construído no Brasil sobre a figura de Tiradentes e como A Conjuração Baiana foi incorporada no século XX
por diversos setores baianos e hoje pelo movimento negro como forma de luta para defender interesses
presentes através da releitura e ressignificação do passado para justificar e qualificar lutas políticas e demandas
sociais contemporâneas, tais como valorização da Bahia no contexto nacional e do segmento negro na
construção da sua própria identidade bem elemento como formador e atuante decisivamente na configuração da
identidade brasileira.


10º passo  Construir com os alunos um quadro comparativo entre a Inconfidência Mineira e Inconfidência
Baiana.


 

TABELA COMPARATIVA ENTRE A INCONFIDÊNCIA MINEIRA(1789)
E
A CONJURAÇÃO BAIANA OU REVOLTA DOS ALFAIATES (1798)
  INCONFIDÊNCIA
OU
CONJURAÇÃO MINEIRA (1789)
INCONFIDÊNCIA OU CONJURAÇÃO
BAIANA
OU
REVOLTA DOS ALFAIATES (1798)
CAUSAS
IMEDIATAS
ESGOSTAMENTO DAS MINAS E
ALTOS IMPOSTOS (AMEAÇÃO DE
DECLARAÇÃO DA DERRAMA)
MÍSÉRIA, ALTOS IMPOSTOS,
INFLAÇÃO E ESCASSEZ DE
ALIMENTOS E DESIGUALDADE
ECONÔMICA E RACIAL
INSPIRAÇÃO
IDEOLÓGICA
ILUMINISMO ILUMINISMO
EXEMPLO
INSPIRADOR
INDEPENDÊNCIA DOS EUA REVOLUÇÃO FRANCESA
ASPIRAÇÃO INDEPENDÊNCIA DE MINAS GERAIS INDEPENDÊNCIA DA BAHIA
GOVERNO
PROPOSTO
REPÚBLICA REPÚBLICA
LÍDERANÇA ELITE ELITE E MUITA PARTICIPAÇÃO DA
POPULAÇÃO POBRE (NEGROS,
LIBERTOS OU ESCRAVOS, BRANCOS
POBRES, MULATOS ETC.)
PROPOSTA
SOCIAL
PERDÃO DE TODAS AS DÍVIDAS
COM A FAZENDA REAL
PORTUGUESA
FIM DA ESCRAVIDÃO E IGUALDADE
ENTRE BRANCOS E NEGROS
RESULTADO
IMEDIATO
FRACASSO FRACASSO
QUEM FOI
PUNIDO
TIRADENTES (O ÚNICO QUE NÃO
ERA DA ELITE)
OS NEGROS
TIPO DE PUNIÇÃO MORTE POR ENFORCAMENTO E
DEPOIS CORPO ESQUARTEJADO
(MORTE MUITO VIOLENTA)
MORTE POR ENFORCAMENTO E
DEPOIS CORPO ESQUARTEJADO
(MORTE MUITO VIOLENTA)
OBJETIVO DA
PUNIÇÃO
DEMONSTRAR O PODER DE
PORTUGAL SOBRE A AMÉRICA E
DESESTIMULAR QUALQUER
TENTATIVA DE REVOLTA CONTRA O
SEU PODER
DEMONSTRAR O PODER DE
PORTUGAL SOBRE A AMÉRICA E
DESESTIMULAR QUALQUER
TENTATIVA DE REVOLTA CONTRA O
SEU PODER
APROPRIAÇÃO
HISTÓRIA
AINCONFIDÊNCIA MINEIRA,
PARTICULAMENTE TIRADENTES,
FORAM APROPRIADOS PELOS
REPÚBLICANOS DO SÉCULO XIX,
PELOS POLÍTICOS MINEIROS PARA
DESTACAR MINAS FRENTE AO
BRASIL E MAIS TARDE PELA
DITADURA MILITAR BRASILEIRA
(1964-1985) PARA JUSTIFICAR OS
SEUS ATOS
DESDE MEADOS DA SEGUNDA
DÉCADA DO SÉCULO XX A
INCONFIDÊNCIA BAIANA ESTA
SENDO APROPRIADA PARA
DESTACAR A BAHIA NO CONSTEXTO
HISTÓRICO E POLÍTICO NACIONAL.
E HOJE O MOVIMENTO NEGRO A
USA COMO SÍMBOLO DA
RESISTÊNCIA NEGRA E UMA
POSSIBILIDADE ABORTADA DA
CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE
BRASILEIRA NA QUAL BRANCOS E
NEGROS SERIAM IGUAIS
     

 

11º passo  AVALIAÇÃO DISSERTATIVA:
Leia os textos abaixo com muita atenção!

Fragmento da sentença de Tiradentes Fragmento da sentença dos Conjurados Baianos
Condenar ao réu José da Silva Xavier, por alcunha o
Tiradentes. Alferes que foi de tropa paga da capitania
de Minas, a que com baraço e pregão seja conduzido
pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela morra
morte natural para sempre, e que depois de morto e
lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde
em o lugar mais público dela será pregada, em um
poste alto até que o tempo a consuma; e o seu corpo
será dividido em quatro quartos, e pregado em postes,
pelo caminho de Minas, Sítio da Varginha e das
Cebolas, onde o réu teve esta infames práticas, e os
mais nos sítios de maiores povoações até que o tempo
também os consuma; declaram o réu infame, e seus
filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o
Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila
Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais
no chão se edifique,e, não sendo própria, será
avaliada e paga a seu dono pelo bens confiscados, e
no mesmo chão se levantará um padrão, pelo qual se
conserve a memória abominável desse abominável
réu.
(Citado em Brasil 500 anos. São Paulo, Abril, 1999. v. 1, p. 275)
E, pela dedução dos fatos descritos e suas
convincentes provas, o que tudo visto, e mais dos
autos, condenam os réus Luiz Gonzaga das Virgens,
pardo, livre, soldado, solteiro 36 anos; Lucas Dantas
de Amorim Torres, pardo, liberto, solteiro, 24 anos;
João de Deus Nascimento, pardo, livre, casado,
alfaiate, 27 anos; Manoel Faustino dos Santos Lira,
pardo, forro, alfaiate, 22 anos [...] a que com baraço
e pregão, pelas ruas públicas desta cidade, sejam
levados a Praça da Piedade, por ser também uma das
mais públicas dela, onde, na forca, que, para este
suplício se levantará mais alta do que a ordinária,
morram morte natural para sempre, depois do que
lhes serão separadas as cabeças e os corpos, pelo
levante projeto, pelos ditos réus, chefes, a fim de
reduzirem o continente do Brasil a um Governo
Democrático.
(TAVARES, Luis Henrique Dias. A Conjuração Baiana. São Paulo: Ática, 1994,
p.75)

 

VOCABULÁRIO:
Baraço = corda ou laço para enforcamento.
Pregão = Divulgação das boas ou más qualidades, das ações meritórias ou censuráveis de alguém.
Após a leitura dos textos acima, pede-se:
a -) O por quê das penas dos sentenciados, tanto na Inconfidência Mineira ( 1789) como na Conjuração Baiana (
1798), terem sido tão duras e cruéis? (1/2 da questão)
b- ) Construa um texto comparando a Inconfidência Mineira ( 1789) e a Conjuração Baiana ( 1798) escolhendo
ao menos quatro das categorias abaixo:
1. Motivação imediata; 2. Inspiração ideológica; 3. Exemplo inspirador; 4. Liderança do movimento; 5.
Modelo de governo proposto; 6. Propostas sociais; 7. Grupo social punido. (1/2 da questão)
BIBLIOGRAFIA:
FONSECA, Thais Nívia de Lima e. A Inconfidência Mineira e Tiradentes vistos pela imprensa: a vitalização
dos mitos (1930-1960). Rev. Bras. Hist. [online]. 2002, vol.22, n.44, pp. 439-462. ISSN 1806-9347.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-01882002000200009.
JANCSO, Istvan. Na Bahia contra o Império: historia do ensaio de sedição de 1798.
São Paulo, Hucitec, 1996.
LARA, Sílvia Hunold. Tiradentes e a nação esquartejada. In: Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.
Pátria amada esquartejada. São Paulo, DPH, 1992.
RODRIGUES, Joelza Éster. História em Documento. v. 3. São Paulo: FTD, 2001.
MAXWELL, Kenneth R. A devassa da devassa: a Inconfidência Mineira: Brasil-Portugal, 1750-1808.
São Paulo Paz e Terra, 2005.
MICELI, Paulo Celso, O mito do herói nacional. São Paulo, Contexto, 1994.
TAVARES, Luis Henrique Dias. A Conjuração Baiana. São Paulo, Ática, 1998.
VALIM, Patrícia. Da sedição dos mulatos à conjuração baiana de 1798: a construção de uma memória
histórica. São Paulo, 2007. FFLCH/USP. Dissertação de mestrado.

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-12022008-111026/pt…;. Último acesso em: 28/06/2012.
 

 

 

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-12022008-111026/pt-br.php>. Último acesso em: 28/06/2012.

 

 

Referencia
Graduandos
Anexo Tamanho
conjuracoes_mineira_e_baiana.pdf 126.05 KB