As Aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu , resistência guarani na cidade de São Paulo

Discentes: Débora Alencar, Deborah Lavorato e Rafael Pires.

Docente responsável: Profa. Dra. Antonia Terra Calazans Fernandes.

Disciplina: Uma história para a cidade de São Paulo: Um desafio pedagógico.

 

 

Tema: As Aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu , resistência guarani na cidade de São Paulo

 

         Justificativa:

 

         O tema procura fazer com que os alunos entendam melhor a relação da cidade com os povos indígenas próximos a eles através da compreensão de resistências e incorporações que as tribos do Jaraguá estabelecem com relação aos costumes do "homem branco".

            As aldeias do Jaraguá, próximas ao pico do Jaraguá, localizada na zona oeste da cidade de São Paulo, tem início na década de 1960, quando mudam para o local Joaquim Augusto Martins e sua esposa Jandira Augusta Venício com sua família, que são pertencentes a etnia Guarani. As aldeias são dividias por uma estrada turística, a Estrada Turística do Jaraguá, sendo a de baixo, “Tekoa Ytu”, mais antiga. A de cima, “Tekoa Pyau”, faz divisa com a rodovia dos Bandeirantes e ainda não é pertence legalmente aos índios moradores da área. Além da barreira da Estrada há entre as duas uma barreira de “desenvolvimento”, pois, enquanto a aldeia de baixo hoje conta com condições melhores, como casas de alvenaria, a de cima continua com uma precaridade maior, embora ambas vivam uma situação de carência.

            Atualmente, as aldeias vivem de seus artesanatos – já que não podem contar com os recursos naturais de antes, visto que o local é vítima da poluição do rio que corta a aldeia, além de áreas terrestres que serviriam para plantio, devido, em grande parte, a expansão da presença branca em áreas próximas a aldeia, prejudicando o modo de vida dos índios.

            Um elemento fundamental presente nas aldeias guarani do Jaraguá – presente também nos guaranis que vivem na Baixada Santista – é a preservação de seus costumes, aceitando pouca, quando nenhuma, influência externa, inclusive com relação ao aparelho de Estado (embora exista instituições e organizações dentro das duas aldeias). Entre os costumes preservados temos a língua, o tupi-guarani, as músicas como forma de expressar sua espiritualidade, seus modos de construção, como é o caso da permanência da utilização do barro na formação das ocas, e seu modo de ser “voltado para dentro” de seu grupo pertencente (o que dificulta, muitas vezes, a criação de soluções para seus problemas). Contudo, mesmo com a resistência a cultura externa, os índios absorveram parte da “civilização branca” como vestimentas e usos de aparelhos eletrônicos, mesclando elementos da sua cultura e do “outro” para se adaptar e ajustar em mundo diferente do habitual a eles.

            Outra característica importante é a união entre essas tribos entre si e com às do litoral e do interior pertencentes a mesma etnia, visto que, grande parte dos indivíduos têm entre si relações de parentesco, uma vez que trata-se de um povo de cultura nômade, então, sendo assim, estende-se por longas distâncias.

            Ao vermos a situação encontrada nas aldeias do Jaraguá, pode-se pensar criticamente sobre outras aldeias brasileiras e mesmo em outras partes do mundo.

 

Aula 1: As Aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu na cidade de São Paulo

 

Objetivos:

  • Identificar um dos espaços ocupados pelos guaranis em São Paulo (Jaraguá);
  • Compreender que as culturas indígenas se modificam com o tempo e o contato com outras culturas, sem contudo, perder sua identidade.

 

Sugestão para o professor:

     Sugerimos ao professor que organize as carteiras em roda, uma vez que a lousa não será utilizada. Esta disposição permitirá: facilidade para a circulação dos documentos, possibilidade de todos os alunos participarem melhor dos debates e criará uma aula mais dinâmica e agradável.

 

Plano de Aula:

     1° Parte: O professor poderá dar início à aula com uma sequência de perguntas aos alunos, incentivando a participação de todos, a respeito do que conhecem sobre os índios: quem são, onde e como vivem, perguntar o que aprenderam na escola e nos livros didáticos, se algum deles já teve contato direto com um índio ou visitou uma aldeia. Se houver, deixar o aluno relatar sua experiência.

 

     Após a discussão, mostrar um mapa da região oeste de São Paulo e apontar a localização das aldeias, próximas ao Pico do Jaraguá e pedir aos alunos para observar as cidades vizinhas, observar a rodovia dos Bandeirantes que é bastante próxima. Assim, o professor poderá desconstruir a ideia comum de que os índios vivem somente em comunidades isoladas na região Norte ou Centro-Oeste do Brasil ou muito distante das cidades. 

 

     2° Parte: Retomar a discussão com os alunos, desta vez direcionando o debate. Distribuir fotos atuais dos índios e aldeias guaranis do Jaraguá e perguntar aos alunos o que pensam sobre as imagens. Possivelmente apontarão para elementos “não-índios” nas fotografias: casas de alvenaria e telhas, caixa d’água, roupas que os índios vestem, o teclado que o índio está tocando, etc.

      Estimular o debate e reflexão sobre as mudanças culturais indígenas no tempo e no espaço, fazendo uma provocação sobre a identidade do índio: ele continua sendo índio se vive na cidade, estuda, trabalha ou faz uso de aparelhos eletrônicos? Para que o aluno compreenda que as novas tecnologias ou utensílios não são fatores de distinção de identidades, dar exemplos concretos, do tipo: Temos os mesmos hábitos alimentares, vestimos o mesmo tipo de roupa ou falamos do mesmo modo como nossos avós, ou como no período colonial?

 

     A partir desta reflexão, atentar para a historicidade das culturas indígenas. Não é possível que elas permaneçam imutáveis e isoladas. As mudanças são inevitáveis e consequências de trocas de experiência, contato entre diferentes grupos, em diferentes espaços e de avanços tecnológicos não as tornam menos indígenas.

 

Materiais para a aula:

 

 

 

 

Aula 2: Conhecendo os guaranis e as aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu

 

Objetivos:

  • Conhecer a formação das aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu contada pelos próprios moradores;
  • Conhecer a organização e o cotidiano contado pelas crianças guaranis;
  • Compreender que o contato com não indígenas, através do comércio de artesanato, tem vantagens e desvantagens para os guaranis.

 

 

Plano de Aula:

 

1° Parte: O professor poderá exibir o documentário "Crianças contam as aldeias - Tekoa Ytu e Tekoa Pyau", desenvolvidos por alunos da Faculdade Anhanguera e pelo grupo universitário de markteing OCAP (Organização Cultural de Amparo e Pesquisa.

     Após a exibição do filme, separar os alunos em grupos e estimular discussões sobre o que viram no vídeo, apontando, se necessário, para:

  • Elementos de resistência cultural como a Casa de Reza, o artesanato, as danças, o uso da língua guarani;
  • Presença do Estado nas aldeias: a escola com a bandeira do Brasil e de São Paulo, o posto de saúde;
  • Como os índígenas enfrentaram e ainda enfrentam dificuldades para terem suas terras, casas e direitos assegurados.

 

     Após o debate nos grupos, pedir que cada grupo socialize com todos os colegas suas impressões e as conclusões que chegaram às discussões do grupo.

 

 

2° Parte: Utilizando fotografias de utensílios artesanais produzidos pelos guaranis e expostos em uma feira no estado do Rio Grande do Sul, região em que os guaranis também habitam, perguntar aos alunos o que percebem de comum entre todas as fotografias.

     Possivelmente apontarão para a matéria-prima utilizada. Toda ela é retirada da natureza (sementes, cipós, madeira) e as técnicas utilizadas são fatores de resistência cultural internamente nas aldeias, uma vez que os guaranis jovens aprenderão com os mais velhos como se trançar cipós, fabricar cestos, talhar animais em madeira, etc. Ao mesmo tempo, a venda é uma forma de integrar economicamente os guaranis, permitindo compra de suprimentos não produzidos na aldeia.

 

     Provocar um debate entre os alunos sobre a importância da demarcação de terras indígenas, uma vez que a coleta (e em outras tribos a caça e a pesca) é tão praticada. Por exemplo, um guarani encontrará madeira, penas, cipós no meio de uma cidade?

 

Materiais para a aula:

Documentário “Crianças contam as aldeias - Tekoa Ytu e Tekoa Pyau”. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=6wWHgS-YLQA

Fotos de artesanatos Mbya Guarani. Disponível em: http://www.rs.gov.br/fotos/R/maisf/54993/Galeria-de-Fotos-Exposicao-fotografica-e-de-artesanato-Mbya-Guarani/10-8-2012

 

 

 

Aula 3: Resistência Indígena na Periferia de São Paulo – as aldeias guaranis do bairro do Jaraguá

 

Justificativa:

Quando nos referimos hoje aos povos indígenas que ainda resistem às influências da cultura branca, nossa fala apresenta um tom de distanciamento, como se os índios dos quais estamos falando estivessem a milhares de quilômetros de distância de qualquer núcleo urbano, sendo que, ao direcionar nosso olhar para a periferia, lá está o índio brasileiro, marginalizado, vivendo segregado num espaço que outrora ele ocupou sem a necessidade de provar que era seu por direito e de lutar pela posse dele. É o caso das aldeias Guaranis do bairro do Jaraguá, na zona noroeste da cidade de São Paulo, cuja resistência demanda nossa atenção e olhar especiais, para podermos agir no sentido de compreender e por um fim à sua luta para sobreviver às margens da sociedade numa das maiores cidade do mundo contemporâneo.

Objetivos:

-Discutir a disputa pela posse de terras na região e debater as atuais condições de vida dos índios;

-Analisar documentos, fontes visuais e orais para melhor compreender a resistência indígena na região.

 

Plano de aula:

1ª Parte da aula – Comparando o antes e o depois

Problematizar as atuais condições de vida dos índios nas aldeias do Jaraguá, pensando em como eles viviam antes dessa proximidade com a cultura do homem branco: como eles se organizavam? Eles moravam em casas de madeira e de alvenaria? De que maneira se alimentavam? Como se dava o abastecimento da aldeia? Eles caçavam, pescavam, coletavam? Frequentavam a escola? Usavam roupas e calçados? Iam à igreja?

As influências do homem branco na cultura indígena foram no sentido de melhorar a qualidade de vida dos índios? Eles vivem melhor antes ou depois dessa aproximação com a modernidade e as tecnologias do homem branco?

Seria interessante nesse momento mostrar a charge a seguir, do cartunista Angeli, publicada no portal de notícias UOL, e ouvir o que os alunos têm a dizer sobre essa comparação.

A partir da análise da charge, pode-se inferir sobre o que foi feito dos recursos naturais que eram a fonte de sobrevivência dos índios, sobre como os índios encontram-se às margens da industrialização do homem branco, sobre o uso que é feito das terras indígenas e a quem elas pertencem.

2ª Parte da aula – A questão da terra

No caso das tribos Guaranis do Jaraguá, os índios estão literalmente cercados por duas rodovias, a Bandeirantes e a Anhanguera. Seria interessante pensar nesse momento a que/quem nos remete os nomes dessas rodovias e o que elas representam hoje.

A resistência dos índios que vivem na base do Pico do Jaraguá é justamente no sentido de conquistar o direito de ocupar esse espaço, sendo que, atualmente, apenas uma das duas aldeias pertence legalmente aos índios; nas palavras do cacique Vitor Fernandes, eles vivem “como passarinhos presos em uma gaiola”. Para o cacique Vitor, esse é o sentimento da tribo Guarani do Jaraguá em relação às concessões de terras no entorno da aldeia feitas às rodovias e ao Rodoanel.  Outra forma de resistência é a construção de novas aldeias na região; hoje os índios estão instalados no sopé do Pico do Jaraguá, mas, de acordo com o cacique Vitor, eles pretendem se mudar para o cume do Pico.

Cabe aqui a análise de mais uma charge, de Miguel, publicada no Jornal do Commercio em 22/08/1993, em que é criticada a forma como se dá a demarcação das terras indígenas: com o derramamento de sangue indígena.

A questão da demarcação de terras indígenas também abrange protestos e intervenções, como o evento ocorrido no dia 22/10/2013, quando o Monumento às Bandeiras do escultor Victor Brecheret amanheceu pichado. A escultura é um símbolo da cidade de São Paulo e enaltece a imagem dos bandeirantes paulistas, o que pode ser fonte de debates e questionamentos, pois trata a figura do bandeirante como o desbravador do interior brasileiro e superior ao índio.

Na escultura foram escritas frases de repúdio à Proposta de Emenda Constitucional 215, que transfere a competência da União na demarcação das terras indígenas para o Congresso Nacional e possibilita a revisão das terras já demarcadas, além da frase: “bandeirantes assassinos”, como podemos observar na imagem abaixo.

Materiais para a aula: fotos de uma das tribos Guarani do Jaraguá e do entorno (fotos tiradas pela discente Deborah Lavorato)

O Pico do Jaraguá e a Rodovia dos Bandeirantes

 

Índio conversando com um morador do bairro

Fotos tiradas do lado de fora da aldeia, mostrando as moradias dos índios da aldeia do Jaraguá:

 

 

 

 

 

 

 

O cacique Vítor Fernandes e a última construção de pau à pique da aldeia, segundo ele, não é mais possível construir casas como essa, pois eles não têm mais acesso ao material necessário.

 

 

 

 

 

Referencia
Graduandos