A imprensa negra através do jornal A Voz da Raça: uma São Paulo de negros para negros

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
FLH0425 - UMA HISTÓRIA PARA A CIDADE DE SÃO PAULO: UM DESAFIO PEDAGÓGICO
 
Profa. Dra. Antonia Terra Calazans Fernandes
A imprensa negra através do jornal A Voz da Raça: uma São Paulo de negros para negros
Gisele Matos Chaves
Nº USP 8575879
Sequência didática – Trabalho Final
São Paulo
2016
 
 
 
 
ÍNDICE
Resumo ........................................................................................................................................... 3
Introdução ........................................................................................................................................ 4
 
Atividade 1 – Discussão: a necessidade de uma imprensa negra em pleno século XX ............................................. 6
A vida cotidiana do negro em SP: moradia e emprego ................................................................................... 8
A importância da Frente Negra Brasileira nas questões cruciais a essa população ................................................. 8
 
Atividade 2 – Análise documental: o jornal A Voz da Raça e sua atuação social em diferentes números...................... 11
Integração do negro na sociedade paulista: prós e contras da proposta defendida pela Frente Negra Brasileira em A Voz da Raça .............. 14
 
Atividade 3 – Mãos na massa! Confecção de um jornal que contemple o cotidiano do bairro aonde a escola fica localizada ...................... 18
Considerações finais ...................................................................................................................... 19
Referências bibliográficas .............................................................................................................. 20
Referências iconográficas .............................................................................................................. 20
 
 
 
Resumo
Esta sequência didática, destinada a professores de história que ministram aulas para os 2º e 3º anos do Ensino Médio Regular, tem como principal objetivo trabalhar a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas de todo o país. A temática abordada visa entender o cotidiano do negro na cidade de São Paulo no século XX. Nossa análise se propõe a estudar o papel da imprensa negra paulista em seu período de maior reivindicação política, que se inicia com a fundação da Frente Negra Brasileira (1931) e que tem seu auge com a publicação do seu órgão fundamental, o jornal A Voz da Raça, perdura de 1933 a 1937.
 
Entendemos que as publicações jornalísticas, além de transmitir a realidade vivenciada pelo negro nesse período histórico, retrata também a mentalidade de uma classe média pobre que, em meio a tantas adversidades, procura por meios para sobreviver e ascender socialmente, buscando a integração da população negra à sociedade paulista, reivindicando seus direitos como cidadãos e criticando os preconceitos de cor existentes nessa sociedade que, em pleno século XX, vive uma intensa onda imigratória e de assimilação das teorias raciais, marginalizando, assim, cada vez mais a população negra.
 
A proposta vai além de aulas expositivas tradicionais. O intuito aqui é de incitar o professor a provocar discussões que levem o aluno a entender como os processos históricos passados influenciam nas relações sociais do presente. O modo de estruturação dos movimentos sociais negros, a maneira como esses indivíduos eram tratados pelas autoridades e/ou pela própria população não negra e as formas de sobrevivência encontradas para se integrar na São Paulo moderna e industrializada leva a reflexões que nos permitem pensar o racismo atual e a atual situação da população negra, contribuindo, assim, para que o aprendizado possa diminuir preconceitos e estereótipos associados a esses indivíduos.
 
 
Palavras-chave: Imprensa Negra; Frente Negra Brasileira; A Voz da Raça; São Paulo; Jornal
 
 
 
Introdução
No ambiente escolar, se dá pouca atenção à história do negro no Brasil. Tudo o que se aprende, grosso modo, é que durante o período colonial, pela impossibilidade de escravizar os índios e empregá-los nas atividades realizadas na colônia, o uso de mão de obra escrava africana torna-se preponderante no Brasil, uma vez que o tráfico negreiro é de grande rentabilidade para Portugal. A partir daí, fala-se do negro dentro do regime escravocrata, das atividades realizadas por ele, da sua cultura, algumas questões sobre as revoltas como forma de resistência à escravidão, a importância do quilombo de Palmares e dos processos que levaram, em 1888, à libertação desses indivíduos.
 
Quando se estuda o século XX, há pouca ênfase no que diz respeito à história dessa população. Sabemos, hoje, que o processo de abolição deu a liberdade ao negro, mas largou-o a sua própria sorte. Não houve políticas de reparação social para que esses indivíduos pudessem se integrar na sociedade. Homens e mulheres negros, lutando pela sobrevivência, realizavam trabalhos informais para garantir a subsistência1.
 
Em São Paulo, esse processo não foi diferente. A cidade, impulsionada pelo boom do café, torna-se o centro econômico do país. A expansão para o oeste faz com que os cafeicultores paulistas pensem numa outra forma para substituição da mão de obra, uma vez que o trabalho escravo foi extinto. Unindo o útil ao agradável, houve o incentivo à imigração de milhares de europeus para as terras paulistas. O negro foi substituído pelo imigrante e o discurso para essa ação estava pautados nas teorias raciais de que o avanço e desenvolvimento só seria possível através do branqueamento da população, uma vez que a raça negra estava fadada ao fracasso e a degeneração social2.
 
Temos, nesse momento, uma São Paulo buscando a urbanização e que tem, em seu território, diversas minorias nacionais e raciais. Os italianos, alemães, espanhóis que aqui residiam, fundavam associações, clubes recreativos e publicações panfletárias próprias a fim de manter sua cultura e garantir o diálogo entre os irmãos de nação. Os negros viram, também, necessidade de fundar suas organizações a fim de reivindicar seus direitos e de se integrarem nessa cidade em transformação.
 
1 Para maiores informações sobre a vida do negro no pós-abolição, ver WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível. In: SEVCENKO, Nicolau (org.). História da Vida Privada no Brasil. República (vol. 3). São Paulo: Cia das Letras, 1998. pp. 50-130.
2 Ver ROLNIK, Raquel. Territórios Negros nas Cidades Brasileiras (etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro). Disponível em https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros… . Acesso em 12/12/2016.
 
 
 
 
 
 
Uma vez que a imprensa tradicional não estava preocupada com questões específicas e caras aos negros, surgem organizações que, além de promover bailes e eventos beneficentes, pensam uma imprensa que contemplem as questões raciais. Miriam Ferrara descreve bem essas instituições: “Eram associações essencialmente urbanas existindo tanto nas grandes quanto nas pequenas cidades, principalmente no Estado de São Paulo. Afirmavam dupla finalidade: uma que podemos chamar “mundana”, consistindo em organizar bailes e recepções para seus associados; e outra que seria “cultural”, buscando alargar a instrução e os horizontes mentais dos negros com o fito de auxiliá-los em sua ascensão socioeconômica. Do ponto de vista das realizações, a atividade lúdica parece ter superado sempre a atividade cultural. ”3
 
A imprensa negra paulista é dividida pela mesma em três momentos: de 1915 a 1923, com o surgimento do primeiro jornal com maior visibilidade direcionado à população negra, o Menelik. Os periódicos, nessa fase, preocupam-se em destacar pequenas notas e acontecimentos como noivados, casamentos, entre outros. Apresentava caráter mais informacional.
 
O segundo período faz começa em 1924, com a fundação d’O Clarim da Alvorada, um jornal com caráter mais combativo. Em 1931 surge a Frente Negra Brasileira e seu órgão oficial, o jornal A Voz da Raça, é institucionalizado em 1933. Nesse momento, a imprensa negra torna-se mais reivindicatória, questiona com maior veemência o preconceito de cor e a exclusão do negro na sociedade. Como diria Roger Bastide, é “a passagem da reivindicação jornalística à reivindicação política4”.
 
Essa fase tem seu término em 1937, pois, com a instauração do Estado Novo, as organizações políticas são extintas. O terceiro período vai de 1945 com a reorganização da Frente Negra Brasileira e com o surgimento de novos jornais, tais como O Alvorada. Este, encerra-se em 1963, com a tentativa de nova reorganização das instituições.
 
 
3 FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista (1915 – 1963). São Paulo, FFLCH/USP, 1986. Antropologia, 13; p. 49
4 BASTIDE, Roger. A imprensa negra do Estado de S. Paulo. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. CXXI. Sociologia nº 2. Estudos Afro-Brasileiros. Coleção “Estudos”. Editora Perspectiva; p. 132.
 
 
 
 
Atividade 1
Para dar início à sequência, recomenda-se ao professor a iniciar um debate em sala de aula a fim de lançar uma breve introdução sobre o tema a ser estudado. Fica a critério do professor escolher as perguntas a serem feitas para dar vasão à discussão.
 
Seguem aqui sugestões de perguntas para iniciar a conversa:
 
1) O que significa, para vocês, a palavra “imprensa”?
Conduza a discussão até ela chegar em uma definição próxima àquela descrita pelo Dicionário Online de Português: “Imprensa é o conjunto dos jornais, dos jornalistas e dos meios de divulgação de notícias ou comentários”. (Disponível em https://www.dicio.com.br/imprensa/ Acesso em 12/12/2016).
 
2) Por que é importante que exista a imprensa?
Possíveis respostas: para nos informar; para que possamos saber notícias do Brasil e do mundo; para que estejamos conectados aos acontecimentos, etc.
 
3) Quais são os veículos de comunicação utilizados pela imprensa para propagar notícias?
Possíveis respostas: jornais, revistas, televisão, rádio, internet, etc.
 
4) Quais desses veículos vocês mais utilizam hoje em dia?
Respostas esperadas – maior índice: televisão e internet.
 
5) Vocês acham que os meios de comunicação dizem alguma coisa sobre o cotidiano das sociedades de um determinado período? Por que?
 
 
Resposta esperada: Sim, as notícias nos informam sobre fatos que ocorrem a todo o momento. Esses fatos, todavia, dizem respeito a uma sociedade, portanto, esboçam aspectos da vida cotidiana das pessoas.
 
Quando os professores perceberem que o debate foi bem endossado para se entender a importância da imprensa e sua função na sociedade, direcionar as perguntas ao tema a ser estudado:
 
 
1) No século XX, período em que São Paulo estava se modernizando, quais veículos vocês acham que eram mais acessados pela sociedade?
Respostas esperadas: jornal e rádio.
 
Sobre o jornal: Surge no período joanino, veículo de comunicação mais antigo existente no Brasil. “(...) a Imprensa Nacional que fez surgir a imprensa no Brasil, em 13 de maio de 1808, e o primeiro jornal impresso no país, a Gazeta do Rio de Janeiro, em 10 de setembro de 18085”. Sobre o rádio: “ (...) nasceu no Brasil, oficialmente, em 7 de setembro de 1922, nas comemorações do centenário da Independência do país, com a transmissão, à distância e sem fios, da fala do presidente Epitácio Pessoa na inauguração da radiotelefonia brasileira6”.
A partir dessa discussão, o professor deverá fazer uma exposição, de acordo com a introdução, da configuração da São Paulo do início do século XX, em pleno momento de urbanização e modernização. Informar sobre a questão da imigração e da marginalização dos negros.
 
São Paulo possuía uma população extremamente diversificada, com muitos imigrantes e negros e que, esses grupos, a fim de se organizarem e reivindicar seus direitos, organizaram periódicos para expor e fazer circular suas ideias.
 
Os jornais impressos eram o mecanismo mais utilizado para veicular essas publicações, uma vez que nem toda a população tinha acesso ao rádio e, este, por sua vez, era dominado pela imprensa tradicional, que não abordava questões de interesse exclusivo das minorias. E, como o objetivo geral destas aulas é entender como se dava a vida cotidiana do negro no pós abolição, vamos nos utilizar de um dos jornais impressos produzidos por eles para entender como essa população se relacionava e sobrevivia nesse período.
 
Segue aqui um depoimento pessoal de José Correia Leite, um dos fundadores do jornal O Clarim da Alvorada que exemplifica bem essa questão: “São Paulo era uma cidade cosmopolita, de minorias raciais e nacionais, com colônias alemã, espanhola, italiana, etc., que tinham seus jornais e sociedades fortes. O negro então fundou seus jornais e sociedades para fazer, também, suas reivindicações7”.
 
5 Maiores informações no portal Imprensa Nacional. Disponível em http://portal.imprensanacional.gov.br/acesso-a-informacao/institucional… . Acesso: 12/12/2016.
6 Maiores informações, no site da ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV). Disponível em http://www.abert.org.br/web/index.php/quemsomos/historia-do-radio-no-br… . Acesso: 12/12/2016.
7 FERRARA, Miriam Nicolau; op. cit; p. 51.
 
 
 
 
A vida cotidiana do negro em São Paulo: moradia e emprego A importância da Frente Negra Brasileira nas questões cruciais a essa população
 
Como já dito na introdução, o negro, marginalizado na São Paulo moderna e urbanizada, procura possibilidades de sobrevivência. Nesse módulo, vamos entender a configuração social na qual esses indivíduos estavam imersos, como se deu o surgimento da Frente Negra Brasileira e do jornal A Voz da Raça e qual era o objetivo das publicações referente ao cotidiano dessa população.
 
A exposição acerca do tema não se dará, aqui, de forma tradicional. O intuito é que os professores se utilizem de imagens que retratem a São Paulo do século XX para contrapor o cotidiano da população negra frente a essa sociedade que se moderniza. Foram selecionadas imagens para visualizarmos o desenvolvimento da cidade e a realidade da população negra.
 
Após cada imagem, inserimos um breve texto para contextualizar cada momento retratado, servindo assim, como conteúdo base que deverá ser destacado ao apresentar cada imagem.
Recomenda-se, antes de expor essa contextualização, que os professores dialoguem com os alunos a fim de captar suas percepções mediante cada imagem apresentada.
 
 
 
Imagem 1
Vista do Parque do Anhangabaú, segunda metade da década de 1920. Disponível em https://sampahistorica.wordpress.com/2013/09/16/o-parque-do-anhangabau-… . Acesso: 12/12/2016.
 
 
A região central da cidade começa a modernizar-se a partir do final do século XIX e início do século XX. A verba para europeizar a cidade é proveniente da expansão do café. Juntamente a esse processo, a população começa a crescer absurdamente.
 
Há remodelagem na infraestrutura: ruas e prédios são construídos, a paisagem vai se modificando em favor do progresso e do desenvolvimento industrial. A chegada de imigrantes é intensa, uma vez que ocorre a substituição da mão de obra escrava para o trabalho livre, capitalista, mais rentável.
 
 
 
 
São Paulo começa a se transformar no maior centro comercial e industrial do país. Contudo, esse processo de modernização deixa marcas violentas nas camadas mais pobres da sociedade.
 
 
Imagem 2
Cortiço em Santana. Início do século XX. Disponível em http://www.fsp.usp.br/site/paginas/mostrar/244 . Acesso: 12/12/2016.
 
 
 
O processo de urbanização expulsa as camadas mais pobres da sociedade para regiões distantes do centro. Essas regiões, por sua vez, não possuem infraestrutura como água encanada, rede elétrica e esgoto. Em bairros como Bexiga, Liberdade e Barra Funda, tinham-se grande contingente de população negra. Esses indivíduos residiam em habitações coletivas, os chamados cortiços. Esse tipo de moradia não era vista com bons olhos pelas demais camadas da sociedade, uma vez que eram considerados como locais desorganizados, aonde a promiscuidade e a falta de moral imperavam.
 
 
 
Imagem 3
Vendedor de vassouras em ruas do centro da cidade. Início do século XX. Autoria: Vicenzo Pastore. Disponível em http://www.ims.com.br/ims/artista/colecao/vincenzo-pastore/obra/6206 Acesso: 12/12/2016.
 
 
 
Com a vinda dos imigrantes, a população negra foi ainda mais marginalizada e não lhe restou outra opção a não ser sobreviver realizando atividades informais, tais como serviço doméstico e o comércio ambulante. Importante destacar também que a maior parte da população negra era analfabeta e ainda sofria com o preconceito de cor vindo desde o período escravocrata e acentuado com as teorias raciais que inferiorizavam esses indivíduos.
 
Vendo a realidade a qual estava fadada a raça negra, em 1931, um grupo de correligionários negros articula a Frente Negra Brasileira. O objetivo principal dessa instituição era o de integrar o negro à sociedade paulista, possibilitando e ele a real condição de “cidadão brasileiro”. Esse processo viria através da “conscientização, da educação e da luta contra o preconceito”.8 O órgão de divulgação dos ideais da associação foi fundado em 1933, o jornal A Voz da Raça. Através das publicações do jornal é que a Frente Negra apresentava suas reivindicações e defesa dos interesses da população negra.
 
A organização possuía departamentos para atender às necessidades do povo negro. Os serviços e cursos eram gratuitos. Eram disponibilizados serviços de barbearia, atendimento médico e odontológico, educação infantil, curso de alfabetização para adultos, aula de música, cursos de costura e de teatro. Esses cursos e serviços eram mantidos por serviços voluntários de negros e de brancos que se dispusessem a auxiliar, além de doações dos associados (somente negros podiam se associar à organização) e a arrecadações dos eventos beneficentes e dos bailes que eram organizados pela comissão feminina da instituição, o grupo das Rosas Negras.
 
Vale ressaltar que os componentes da Frente Negra eram, em sua maioria, de classe média, mas cabe destacar, como diz Bastide, que “essa pequena classe média, formada de professores, advogados, jornalistas, revisores de provas tipográficas, há pouco saiu da classe baixa, conhece os desejos e as misérias dela na realidade, tornou-se o eco de toda uma classe de cor9”.
 
8 FERRARA, Miriam; op. cit; p. 83
9 BASTIDE, Roger; op. cit; p. 129-130.
 
 
 
Segue abaixo um depoimento pessoal de Francisco Lucrécio, integrante da Frente Negra, no que diz respeito à São Paulo que ele vivenciou no momento de surgimento da organização:
 
“Quando cheguei em São Paulo eu estranhei, porque a colônia italiana era forte no Bexiga, mas o que eu notei foi que os italianos não hostilizavam, se davam bem, jogavam futebol juntos e contavam histórias nas ruas, de noite, embaixo dos lampiões. Os negros moravam na sua maioria nos cortiços, e os italianos tinham casas próprias, moravam em cima e alugavam os cortiços para os negros. Ali todos os casarões tinham os porões e os cortiços. (...) os negros foram que povoaram inicialmente a Bela Vista. Desde a Brigadeiro Luís Antônio até aquela parte de saracura grande que é para lá da Nove de Julho residia grande número de negros. Já no triângulo da Paulista moravam muitos italianos. Mas na Marquês Leão, principalmente, lá aonde passava o rio Anhangabaú, naquela baixada morava o maior contingente negro”.
“(...) as mulheres trabalhavam como empregadas domésticas, cozinheiras, lavadeiras, passadeiras, enfim. A maior parte das mulheres que arcava com as despesas da família, porque eram importantes na limpeza. Elas encontravam emprego mais facilmente que os homens (...). Muitas famílias não aceitavam, inclusive, empregadas domésticas negras; começaram a aceitar quando se criou a Frente Negra Brasileira. Chegou ao ponto de exigir que essas mulheres tivessem a carteirinha da Frente”. Disponível em BARBOSA, Marcio (org.). Frente Negra Brasileira: depoimentos / entrevistas e textos. Quilomboje. São Paulo, 1998; p. 36 – 37.
Atividade 2
 
O objetivo maior desta atividade é indicar no jornal A Voz da Raça artigos que exemplifiquem a proposta da Frente Negra: a luta contra o preconceito; a biografia de negros que, apesar das circunstâncias, conseguiram ascender socialmente; a inserção da população negra na sociedade paulista, dentre outras questões.
 
A Voz da Raça é lançado em 1933. Era um jornal combativo, se comparado à primeira fase de atuação da imprensa negra. Suas tiragens eram de 1.000 a 5.000 exemplares e cada número contém, em sua maioria, 4 páginas. Poucos são os volumes que contém mais páginas que isso e, quando possuem, são, no máximo, 8 páginas. Foi divulgado em Angola e nos Estados Unidos.
 
Ele contraria a afirmação de Bastide quando diz que “os jornais de negros não tem grande tiragem; vivem miseravelmente; poucos duram mais de um ano10”, uma vez que possuíam número de impressão de exemplares acima da média, se comparados a outros jornais da imprensa negra da época e perduraram por um longo período, de 1933 a 1937.
 
Em contrapartida, o mesmo autor confirma o objetivo principal desses jornais: “procuram primeiramente agrupar os homens de cor, dar-lhes o senso da solidariedade, encaminhá-los, educá-los a lutar contra o complexo de inferioridade, superestimando os valores negros, fazendo a apologia dos grandes atletas, músicos, estrelas de cinema de cor. É, pois, um órgão de educação. Em segundo lugar, é um órgão de protesto: e isso é verdade tanto na América do Sul como na
 
10 BASTIDE, Roger; op. cit.; p. 129
 
 
América do Norte; o preconceito de cor pode tomar formas larvadas, nem por isso deixa de existir e mesmo que não exista, o negro crê senti-lo; terá, pois, que insurgir e o jornal lhe servirá para fazer ouvir seu protesto11”.
 
O Portal Imprensa Negra Paulista, da Universidade de São Paulo, disponibiliza online para download números de diversos jornais dessa imprensa, atuantes no período de 1903 a 196312. Acessamos a página e selecionamos algumas edições que contemplam as questões acima referenciadas.
 
Para realizar essas atividades, o professor terá de apresentar o jornal aos alunos, para que estes se familiarizem com o documento. Questionar a classe sobre as semelhanças e diferenças entre A Voz da Raça e os jornais que atualmente são veiculados é uma boa maneira de começar a atividade, antes de partir para a análise documental.
 
As principais diferenças que podem ser destacadas são:
 
a) Os jornais da imprensa negra não se preocupam em informar sobre notícias do Brasil e do mundo, uma vez que a imprensa tradicional branca se encarrega desse papel. Seu intuito é de publicar informações pertinentes ao povo negro, enaltecendo suas especificidades, questionando o preconceito de cor e induzindo o negro a se instruir, a fim de garantir ascensão social desses indivíduos;
 
b) O público alvo é somente um: a população negra.
As principais semelhanças:
 
a) Veiculação de propagandas;
 
b) Coluna social – todos os jornais “provinciais”, sejam eles de brancos ou de negros dão amplo espaço para a veiculação de eventos sociais, tais como casamentos e aniversários, além de registros de mexericos (fofocas sobre algum indivíduo / grupo de indivíduos).
 
Não é necessário que o professor analise em classe todas as propostas, fica a critério a escolha dos temas que julgarem mais pertinentes. E, se não for realizar todas as análises, informar, rapidamente aos alunos, quanto aos outros tipos de artigos que aparecem no jornal, a nível de conhecimento. O professor pode optar por separar os alunos em grupo, pedir para que leiam determinado artigo e discutam entre si sobre o que ele fala, qual a sua intenção, etc. e depois pedir
 
11 BASTIDE, Roger; op. cit.; p. 130.
12 Ver Portal Imprensa Negra Brasileira – Universidade de São Paulo. Disponível em http://biton.uspnet.usp.br/imprensanegra/ . Acesso: 13/12/2016.
 
 
 
para que apresentem suas discussões à classe; ou pode escolher artigos específicos e lê-los em voz alta, realizando assim, uma discussão coletiva que contemple essas mesmas questões.
Anexo I – A Voz da Raça, 1933. Ano I, nº 6
 
Artigo:
 
 “Pelo esporte – Atletismo: Um atleta que honra nossa raça” (p.3): enaltece conquista do atleta negro José Xavier de Almeida, do clube do Vasco da Gama (Rio de Janeiro), vitória brasileira no 8º Campeonato Latino Americano de Atletismo. Mostrar ao negro que ele possui capacidade de ser um bom atleta e de se tornar vitorioso pela nação.
Anexo II – A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 29.
 
Artigos:
 
 “Natal das crianças de côr” e “Chá” (p.1) – essa publicação nos permite identificar o papel da Frente Negra Brasileira na vida da população. Estão retratadas algumas informações sobre uma festa de final de ano organizada especialmente para as crianças e sobre um chá oferecido aos sócios da organização.
 “Um caso de $400” (p.2) – a publicação retrata um caso no qual um trabalhador negro foi preso por dar facadas em um indivíduo sírio, após um desentendimento. A Voz da Raça direciona uma crítica ao jornal Cruzeiro do Sul que noticia o fato atribuindo julgamento e culpa ao homem negro. Verificar como a Frente Negra se posiciona nessa questão.
 
Anexo III – A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 30.
 
Artigo:
 
 “Reminiscências” e “Negro Velho” (p.3) – leitura e interpretação de poemas escritos por homens e mulheres negros. A imprensa negra paulista tinha como função dar confiança ao negro. A seção literária apresenta poemas e contos autorais a fim de enaltecer a capacidade intelectual do negro, contrariando, assim, as teorias raciais que transformam o negro em um ser irracional, incapaz de pensar, de produzir texto e conhecimento.
 
Anexo IV – A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 31.
 
Artigos:
 
 “O que foi a raça negra” (p.3) - enfatiza a questão da marginalização social a qual o negro foi levado por conta do processo de imigração; critica os imigrantes que possuem preconceito de cor.
 “Negros, negros” (p.4) - afirmação de que a ascensão social e o preconceito racial só serão vencidos através da aquisição da educação por parte dos negros.
 
 
 
 
Integração do negro na sociedade paulista: prós e contras da proposta defendida pela Frente Negra Brasileira em A Voz da Raça
 
A população negra no pós abolição, além de marginalizada, continuou sendo vítima do preconceito racial. Os brancos, antigos escravistas, continuaram alimentando estereótipos que inferiorizavam ainda mais esses indivíduos. Aos negros eram vinculadas imagens negativas, tais como a do preguiçoso, ladrão, bêbado, sem organização e estrutura familiar, sem instrução e o sem lar, vivente de moradias coletivas, aonde a orgia e os maus costumes imperam.
 
A Frente Negra assume, através do jornal A Voz da Raça, o papel de integrar o negro à essa sociedade e, para isso, acreditava que essa imagem pejorativa precisava ser desconstruída.
Por conta disso, as publicações sempre enalteciam a necessidade da valorização moral do negro. Quando analisamos o jornal, percebemos diversas publicações que condenam o alcoolismo e a vagabundagem, além de condenar outras posturas que estivessem, por ventura, fora dos padrões aceitos socialmente.
 
Havia uma seção no jornal chamada “O que nós negros devemos saber”, que veicula algumas das posturas inadequadas que deveriam ser combatidas para que o negro fosse aceito e valorizado moralmente pelas demais camadas sociedade.
 
 
O que nós os pretos devemos saber
As histórias nos conta que os portugueses foram os primeiros importadores de negros da África; é verdade, mais em matéria de instrução, parece-me que o nosso <time> está mais forte.
 
Muitas pessoas tem o costume de dizer para uma outra que se esteve doente: Oh! Como o senhor está magro acabado com feição abatida...
Não devemos dizer assim devemos anima-lo com boa conversa e fazendo votos pelo seu pronto restabelecimento.
 
Irmãos negros ensinaes vossos filhos em sua casa, serem respeitadores das moças, dos velhos e dos seus amigos; nada adianta ser bem vestidos o não ter educação.
 
Pretos que trabalham como pedreiros ou serventes devem ter suas roupas, uma para o serviço e outra para regressar para sua casa; é triste ver patrícios nossos nos bondes sujos de reboque! O asseio Deus abençoou...
Quem é pobre e ganha pouco não é conveniente procurar amizade com patrício que vivem em melhor condições.
 
Pretos que fazem questão de andar com pessoa de melhor condição do que ele; é tomado como Capanga ou Creado.
 
A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 30.
 
 
É recomendável, nesse momento, que o professor leia (ou peça para que os alunos leiam em voz alta) algumas dessas publicações e discuta com a classe os possíveis motivos que levaram a frente Negra Brasileira a aderir essa postura condenadora dos hábitos da população negra13.
 
O objetivo central é levantar críticas ou considerações à forma com a qual o jornal acredita que é a mais eficiente para que o negro seja aceito socialmente.
 
As Futuristas
 
Nos tempos de uma revista desta paulicéa, noticiara que as moças para tornarem-se mais chiques, precisariam usar sapatos sem meias; porém houve muitos protestos, das moças escrupulosas contra essa ridícula moda, para que esta não fosse avante, mas mesmo assim não sei porque algumas de nossas patricias aparecem nas ruas do centro com sapatos sem meias, pensando, talvez que estão acompanhando a moda.
 
Minhas irmãs de côr. Observando como somos, nessas ocasiões, alvejados pelas críticas (...), simplesmente, justas, em relação a esse pedantismo, força-me a assinar aqui os meus protestos contra essa moda indecente.
 
Sejamos imitadoras de tudo cuanto é bom e belo, mas de cousas que não afetem a nossa dignidade.
 
NOEMIA DE CAMPOS - Aprendiz de costureira
A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 29.
 
Vida de preguiçoso
 
No domingo nada faz
 
porque é feliz cristão;
 
Na segunda, porque traz 
da preguiça a profissão.
 
Na terça, porque o cançasso
o obriga a ser mandrião
 
Na quarta não dá um passo
porque teme da-lo em vão;
 
Na quinta porque padece
de uma afeição pulmonar;
 
Na sexta porque adoece
Com medo de trabalhar...
 
Sabado porque conhece
que é preciso descansar.
 
A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 29
Anúncio veiculado em A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 29
 
 
Anúncio veiculado em A Voz da Raça, 1934. Ano I, nº 29
 
 
13 Algumas das publicações que fazem referência aos códigos morais que devem ser seguidos foram extraídos dos jornais, como pode ser percebido acima. As transcrições foram feitas respeitando a gramática original do jornal. Caso queira acessar outras publicações do tipo, verificar: A Voz da Raça, 1933, ano I, nº 22. 1934, ano II, nº 35 e nº 46.
 
 
 
Possibilidades de questões para administrar o debate:
 
1) O que vocês acharam deste artigo?
2) Quais os códigos de conduta que a Frente Negra cobra dos seus leitores?
3) Vocês acham que, se o negro agisse de tal forma, o preconceito racial seria superado?
4) Vocês acham que a Frente Negra Brasileira teria outras possibilidades de ação para garantir a inserção do negro na sociedade?
5) No século XXI, essas regras de bons costumes ainda estão vigentes?
 
 
 
Vale a pena destacar que essas regras de moral e bons costumes eram dominantes na sociedade dos anos 30. O próprio Estado Novo patrocina, através da instrução, a construção do cidadão-trabalhador, aonde as escolas de alfabetização tinham como propósito o letramento, o ensinamento da moralidade, da disciplina e de boas práticas aos indivíduos14. Toda a sociedade estava pautada por estas regras e, muitas vezes, quem praticava comportamentos fora destes padrões eram presos.
 
Os negros, contudo, não foram instruídos sobre seguir estas regras. Saíram do período escravocrata com costumes condenáveis pela sociedade, práticas estas, comuns nos ambientes na senzala ou nos locais de convívio que os senhores lhes proporcionavam. A Frente Negra Brasileira, quando se propõe a integrar o negro na sociedade, tem como objetivo ensinar estas práticas.
 
Muitas vezes, a organização atribui a culpa ao próprio negro por sua condição de marginalizado e excluído do convívio com o branco: “ Os únicos culpados são os próprios negros que ainda não sabem ser disciplinados, para o seu próprio bem. Sem disciplina, o homem é como navio sem bússola: no mar ao sabor da tormenta. Não tem educação de espírito, não tem atitude de vida, nada lhe serve porque a ideia de desordem impera e assim julgando, tudo para ele é imprestável15”.
 
E é assim, com esse discurso, que a Frente Negra se propaga, mostrando ao negro que ele pode buscar sua dignidade e que ela estaria disposta a ajudá-lo. Seja com a instrução moral, seja com indicação de cabelereiros que pudessem dar um jeito no seu visual (vide anúncio de cabelereira acima referenciando alisamentos capilares para cabelos crespos). Através de A Voz da Raça, fica evidente que, para os frentenegrinos, esse seria o único caminho possível para possibilitar a integração do negro e a abolição do preconceito. O que é plausível de se entender,
 
 
 
14 Ver DUARTE, Adriano Luiz. Moralidade pública e cidadania: a educação nos anos 30 e 40. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4212.pdf . Acesso: 13/12/2016.
15 A Voz da Raça, 1933. Ano I, nº 12.
 
 
 
uma vez que, em uma cidade extremamente racista e excludente, como era São Paulo, o melhor meio para garantir a sobrevivência seria aderir aos preceitos ocidentais, brancos, dominantes, de civilização e moralidade. É muito difícil lutar radicalmente por melhores condições de vida quando nem o básico para sobreviver foi alcançado.
 
Há críticas quanto essa visão da Frente Negra. Algumas delas vão de encontro à ideia de que o jornal é escrito pela classe média negra e, esta via, nos indivíduos marginalizados, um entrave para sua ascensão pessoal e reconhecimento social. Outras críticas também vão no sentido de que, os integrantes da Frente Negra são favoráveis a Getúlio e, por conta disso, propagam essa perspectiva moralizante e disciplinadora, a fim de continuar recebendo apoio do presidente da República. Outras questões também se referem à passividade dos frentenegrinos no que diz respeito a uma postura mais radical e agressiva ao preconceito racial e exclusão ao qual estava fadada o povo negro.
 
A Frente Negra Brasileira, segundo Ferrara, participava ativamente na formação do Estado Novo. Não se diziam a favor do separatismo brasileiro nem a favor de ideais socialistas. Fundaram um partido por não mais estar disposta a defender os interesses de outras organizações partidárias e políticos que não lhes representassem enfaticamente. O partido da Frente Negra Brasileira até participa de uma eleição, porém, não elegem candidatos, uma vez que a população negra era, em sua maioria, analfabeta e não poderia votar e porque o próprio negro ainda não estava apto a votar em candidatos negros. A Frente Negra e seu partido se dilui em 1937, com a instauração da ditadura do Estado Novo, que extinguiu todas os grupos partidários.
 
Apesar das considerações e críticas, não podemos nos esquecer que a Frente Negra Brasileira e seu veículo de comunicação, o jornal A Voz da Raça, foram importantes para a ascensão social do negro e para que, de alguma forma, este fosse melhor aceito na sociedade paulista. Ferrara cita depoimento de Pedro Paulo Barbosa, um integrante da Frente Negra, que diz: “(...) muitos negros começaram a comprar terrenos na periferia: São Judas, São Mateus, Barra Funda, Freguesia do Ó, Bairro do Limão, Cantareira. E todos eram pobres, viviam de salário. Assim, nosso movimento agiu de baixo para cima. Nosso movimento formou padres, vários professores, políticos, dentistas, todos negros16”.
 
16 FERRARA, Miriam Nicolau; op. cit; p. 67.
 
 
 
 
 
Atividade 3
 
Depois de todo esse estudo sobre a Frente Negra Brasileira e A Voz da Raça, que tal colocar em prática o conhecimento adquirido na forma de um jornal?
A proposta dessa atividade é fazer os alunos refletirem sobre a importância de um movimento organizado que visa informar sobre a condições de determinado grupo social, a fim de levá-los a refletir sobre sua realidade, seus direitos e possibilidades de ações para reivindicá-los.
 
A atividade consiste na elaboração de um jornal que trate sobre as demandas do bairro aonde a escola está inserida: abordar questões como atividades culturais que são realizadas, publicar poemas, músicas e/ou crônicas autorais, produzidas por alunos, professores e moradores do bairro, como a escola interfere na realidade local, quais são as necessidades dos moradores, o que eles reivindicam, quais são suas reclamações e sugestões no que diz respeito à infraestrutura urbana, quem são os “moradores ilustres”, dentre outras possibilidades. Podem ser utilizadas fotografias e desenhos autorais ou da internet para ilustrar o jornal.
 
O professor pode optar por dividir a sala em grupos e cada um deles escolher um assunto para trabalhar. E uma regra obrigatória para a atividade é a de que, no jornal, deverá conter uma nota informando sobre o conhecimento adquirido em relação à Frente Negra Brasileira e A Voz da Raça e como o aprendizado sobre essas instituições interferiu na confecção do jornal da escola e do bairro.
 
O material elaborado poderá ser exposto para que alunos de outras classes também tomem conhecimento da atividade.
 
 
 
Considerações finais
Procuramos, ao longo desta sequência didática, trabalhar a Lei 10.639/03, numa perspectiva diferenciada e política. Entender o cotidiano do negro em São Paulo no início do século XX e conhecer uma organização como a Frente Negra Brasileira e seu jornal A Voz da Raça, é desconstruir a história de que o negro não existiu na São Paulo que se modernizava, é pensar que ele também participou desse processo e que, desde o período escravocrata, sofreu preconceito racial e foi marginalizado.
 
Acreditamos que, quanto mais for disseminada a história dos afrodescendentes, maior a possibilidade do conhecimento de sua história por partes destes e por parte da sociedade que, no século XXI, ainda alimenta preconceitos diversos às populações que também participaram ativamente na construção desta cidade e do país.
 
Queremos também quebrar paradigmas no que diz respeito à passividade do negro em diversos momentos históricos. Por isso a intenção de apresentar um pouco da sua realidade, dos seus mecanismos de sobrevivência e das instituições que propuseram sua integração social e possibilitaram, de alguma forma, alguma melhoria de vida.
 
 
 
Referências bibliográficas
 
BASTIDE, Roger. A imprensa negra do Estado de S. Paulo. Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. CXXI. Sociologia nº 2. Estudos Afro-Brasileiros. Coleção “Estudos”. Editora Perspectiva.
 
FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista (1915 – 1963). São Paulo, FFLCH/USP, 1986. Antropologia, 13.
 
BARBOSA, Marcio (org). Frente Negra Brasileira: depoimentos / entrevistas e textos. Quilomboje. São Paulo, 1998.
 
SANTOS, Pedro de Souza. A imprensa negra em São Paulo no início do século XX. Histórica – Revista Eletrônica do Arquivo do Estado, ed. nº 14, setembro / 2006. Disponível em http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao.
 
DUARTE, Adriano Luiz. Moralidade pública e cidadania: a educação nos anos 30 e 40. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4212.pdf
 
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível. In: SEVCENKO, Nicolau (org.). História da Vida Privada no Brasil. República (vol. 3). São Paulo: Cia das Letras, 1998
 
ROLNIK, Raquel. Territórios Negros nas Cidades Brasileiras (etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro). Disponível em https://raquelrolnik.files.wordpress.com/2013/04/territc3b3rios-negros…
 
SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Nem tudo era italiano – São Paulo e pobreza (1890 – 1915). São Paulo. FAPESP / Annablume, 2003.
 
GUZZO, Maria Auxiliadora Dias. A habitação popular em São Paulo entre 1890 – 1940. In: Revista do Arquivo Municipal. Ano LXXX, vol. 205. Arquivo Histórico Municipal: São Paulo, 2014. Disponível em http://www.arquiamigos.org.br/ram/ram205/RAM205.pdf
 
 
Referências iconográficas
 
Instituto Moreira Salles - http://www.ims.com.br/ims/
 
Faculdade de Saúde Pública da USP - http://www.fsp.usp.br/site/paginas/mostrar/244
Referencia
Graduandos