CONTATO, CONQUISTA E REVOLUÇÕES NOS ANDES E AMÉRICA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Cauê Salem Távora - Nº USP: 7546096 - noturno

SEQUÊNCIA DIDÁTICA - CONTATO, CONQUISTA E REVOLUÇÕES NOS ANDES E AMÉRICA

Trabalho apresentado em cumprimento às exigências da disciplina Ensino de História: Teoria e Prática pela

Profa. Dra. Antônia Terra de Calazans Fernandes

1º semestre/2021

1. Justificativa e objetivos

Esta sequência didática tem como objetivo provocar uma reflexão nos alunos sobre quem somos: compreender que existem diversas formas de organização social, pensamento e cosmovisão, e que a nossa é uma entre várias.

Pensamos que é a partir da valorização das diferenças que aprendemos a nos reconhecer enquanto indivíduos e também a respeitar o outro. Dessa forma, trabalharemos o contato e as disputas entre duas culturas distintas com um aparato administrativo complexo, uma, originária da europa, e a outra, das américas, trabalhando com a ideia de conquista e resistência, de disputas que persistem e chegam à contemporaneidade, embora com outros tons. Além disso, ao final, tentaremos, ainda que de forma superficial, trabalhar com a ideia de uma possível ruptura com o etnocentrismo ocidental a partir da valorização de elementos de outras culturas, demonstrando que o epistemicídio das culturas nativas tende a levar a uma “monocultura humana”. Pensamos em desenvolver o tema em três aulas de 50 minutos junto ao 3º ano do ensino médio.

Além disso, compreendemos importante atentar para o processo de conquista que ocorreu nos Andes, de modo a procurar alternativas para a historiografia etnocêntrica que lhe apresenta como tendo ocorrido de forma rápida e fácil, como se a derrota indígena fosse certa devido à superioridade intelectual e moral dos europeus. Por isso também recorremos a fontes indígenas que apresentem como os nativos perceberam estes acontecimentos, para que assim, ao olhar mais de perto, entendamos a conquista como algo complexo, com vitórias e derrotas para ambos os lados, e que não se concretizou da forma como se consensualmente tem se apresentado nos últimos séculos.

Dessa forma, justificamos a escolha da Revolução liderada por Túpac Amaru II, descendente de um dos últimos Sapa Inca, que ocorreu mais de dois séculos depois da chamada conquista, para demonstrar que as lideranças indígenas não foram totalmente derrotadas no século XVI, que houve resistência à dominação espanhola, sendo essa uma das formas encontradas, ao mesmo tempo que, elementos da cultura europeia, como o cristianismo, foi aceito e apropriado pelos indígenas. Por fim, escolhemos trabalhar ao final algumas fontes do presente, que demonstram a permanência da resistência indígena, que se deu de diversas formas, na região dos Andes e na América como um todo.

 

2. Fontes

As fontes propostas para essa atividade buscam representar o sentimento de duas visões de mundo distintas. Tendo como pressuposto que na historiografia a tendência maior foi a valorização de relatos e pontos de vista do conquistador, buscamos dar ênfase para fontes oriundas do lado dos vencidos. Portanto, relacionamos aqui as seguintes: Relato de José de Acosta (1590); Relato de Titu Cusi Yupanqui Inca (1.570); Relato de Guamán Poma de Ayala, (início século XVII); Relação do atentado que cometeu Tupac Amaru (1980) Discurso de Túpac Amaru II (1980); Carta de Micaela de Bastidas a Don José Torres (1980); Carta de Micaela Bastidas a Túpac Amaru II (1980); Distribuição dos corpos, ou suas partes, dos nove principais réus da rebelião (1981); Poema: Palabras a Micaela Bastidas de Magda Porta (1965); Poema: Tupac Amaru, de Pablo Neruda (1950); Cartaz ¡Mi tierra y libertad! (1913); Manifiesto Zapatista en Náhuatl - Manu Chao 2m12s (2011); Discurso de Ailton Krenak (1987); “Evo Morales toma banho de energia antes da posse” (2006); Constitución Política del Estado (CPE) (2009).

3. Sequência didática

3.1. Primeira aula

O tema a ser trabalhado na primeira aula será o do contato entre indígenas que habitavam a região dos Andes, especificamente o Tahuantinsuyo, politicamente controlado a partir de Cuzco, que ficou conhecido como Império Inca, e espanhóis durante o século XVI.

Faremos isso a partir de relatos indígenas e espanhóis, tendo como objetivos: apresentar documentos que demonstrem o choque entre essas duas culturas e os processos de luta que levaram à chamada conquista espanhola, em 1532. Utilizaremos para tanto relatos de um espanhol, José de Acosta, e dois indígenas, Titu Cusi Yupanqui Inca e Guamán Poma de Ayala.

 

Fonte 1:

Com grande confiança neste sacrifício [feito à Viracocha Pachayachachic, o criador universal], veio novo, como certas pessoas que vieram do mar desembarcaram e aprisionaram Atahualpa. E assim, por serem tão poucos os espanhóis que prenderam Atahualpa em Cajamalca, bem como porque isso aconteceu depois que os índios fizeram o sacrifício referido ao Viracocha, eles os chamaram de Viracochas, acreditando que eram pessoas enviadas por Deus, e assim foram introduzidos este nome até hoje, que chamam os espanhóis de Viracochas. E é verdade, se tivéssemos dado o exemplo de que era a razão, aqueles índios estariam certos ao dizer que eram pessoas enviadas por Deus.

E é muito a se considerar a alteza da providência divina, como ele arranjou a entrada de nosso povo no Peru, o que seria impossível se não houvesse a divisão dos dois irmãos e seu povo; e a grande estima que tinham pelos cristãos como pelo povo do céu obriga, é verdade, que, ganhando a terra dos índios, eles ganhariam muito mais as suas almas para o céu.

(ACOSTA, [1590] pp. 476-477. Tradução livre.)

 

Fonte 2:

Disseram que tinham visto aparecer em sua terra criaturas muito diferentes de nóstanto em seus costumes como nas roupas: pareciam-se com os Viracochas, o nome pelo qual nos referíamos, em tempos passados, ao Criador de todas as coisas. Viram-nos montados sobre grandes animais com patas de prata: isso por causa do brilho de suas ferraduras sob o sol. E também os chamaram de Viracochas porque viram que podiam falar uns com os outros sem dificuldade, por meio de pedaços de pano branco: isso porque liam livros e cartas (YUPANQUI, 1916, vol. II, pp. 8-9 apud WACHTEL, 1997, p. 202)

Fonte 3:

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(AYALA, 1936, pp. 30 - 299)

 

3.1.1. Primeira Atividade (25 minutos)

Propor, a partir das questões elencadas abaixo, que os alunos reflitam sobre o contato entre visões de mundo diferentes, e, por isso, cada qual tem sua interpretação própria do outro, a partir da forma como ele vê o mundo e a si mesmo, atribuindo juízos do outro com base em seus valores e na moral que permeia sua sociedade. A atividade consiste em uma leitura das fontes em grupo, com algumas perguntas que busca orientar o olhar para a questão acima posta referente ao contato:

Para as fontes escritas:

a) Você sabe dizer quais fatos são narrados nesses documentos?

b) E quem está narrando esses fatos em cada um dos documentos?

 

Para as fontes com imagens:

a) Faça uma descrição das imagens (são compostas por pessoas, animais, escritas, etc.).

b) Observando as imagens, é possível identificar os indígenas e os espanhóis? Como?

c) Descreva a relação entre os diferentes personagens. Ela muda ao longo do relato?

 

3.1.2. Segunda atividade (25 minutos)

Em seguida, cada grupo deve expor suas respostas; a partir das respostas, o professor deve propor uma conversa entre os grupos com base nas seguintes questões, que devem ser expostas oralmente durante o debate:

a) Como os indígenas viam os espanhóis, e vice-versa.

b) Pelo que você leu das fontes, a conquista foi fácil para os espanhóis? Por que?

c) Existe uma relação entre as fontes escritas e as imagens?

 

3.2. Segunda aula

Nesta aula serão apresentadas fontes relacionadas ao movimento liderado por Túpac Amaru II e Micaela Bastidas, durante o século XVIII, no Peru. A ideia é fazer com que os alunos busquem relacionar a conquista espanhola, debatida na primeira aula, a imposição de elementos desta cultura e a exploração econômica dos indígenas como motivadores da revolta. Além disso, vale ressaltar o papel desempenhado por Micaela Bastidas, deixado em segundo plano pela história, a partir de cartas enviadas por ela à diversos agentes do processo revolucionário. Para ajudar os alunos a entenderem todo o processo, selecionamos um discurso de Tupac Amaru II feito em novembro de 1980, na cidade de Tungasuca

 

Fonte 1

Relação do mais horrendo atentado que cometeu Josef Gabriel Tupac Amaru, cacique de pampamarca, ao corregedor de Tinta, jurisdição do bispado de Cusco: e outros graves delitos

No sábado, 4 de novembro de 1780, dia de nosso Soberano Monarca Sr. Dn. Carlos o terceiro (Deus salve), comeram na Casa de Dr. Dn. Carlos Rodriguez, Sacerdote da Doutrina de Yanaoca, Coronel Dn. Antonio Arriaga Corregedor da Província de Tinta, o Sacerdote da Doutrina de Pampamarca, e o Cacique deste povo Josef Gabriel Tupa Amaru. Terminado o banquete, era importante para o Corregedor retirar-se cedo para a Tinta para concluir certas diligências que deixava pendentes, e tendo o Cacique se oferecido para lhe fazer companhia, por ser seu compadre, não o permitiu [partir] de modo algum.

Josef Gabriel antecipou sua partida para se juntar aos que já haviam posto uma emboscada em uma Quebrada por onde o Corregedor deveria passar. Logo que nela, saiu ao encontro dos seus Tupac Amaru; e ainda que o Corregedor soubesse do assalto e, para se defender, pegou uma pistola, não teve tempo de disparar, porque incontinentemente lançaram uma corda em seu pescoço e o trouxeram da mula para a terra. Eles também feriram seu escrivão, que veio com ele imediatamente; e presos os demais escravos que a alguma distância os seguiam, foram todos levados para um lugar isolado e secreto da estrada, e ali os deixaram amarrados e vigiados, impondo-lhes silêncio perpétuo com a advertência de matá-los ao primeiro grito.

(VALCARCEL, 2017, vol 3, p.25. Tradução livre.)

 

Fonte 2

Discurso de Túpac Amaru II - Tungasuca - novembro de 1980

[...]

Na medida em que é acordado por meu Conselho em uma prolífica Junta em repetidas ocasiões, já secretas e já públicas, que os reis de Castela usurparam a coroa e o domínio de meus povos por quase três séculos, apresentado-se os vassalos com pressões insuportáveis, impostos, cavas, lanças, alfândegas, alcabalas, cadastros, dízimos e quintos.

Vice-reis, audiências, corregidores e outros ministros, todos iguais em tirania, vendendo em leilão a Justiça com os escrivães daquela fé a quem mais empurra, e quem mais dá, entrando nisso os empregos eclesiásticos e seculares sem temor de Deus, estropiando como feras para os nativos deste reino, tirando a vida apenas daqueles que não sabem roubar; todos dignos da mais severa objeção.

Por isso, e porque os justos clamores geralmente têm chegado ao céu: Em nome do Deus Todo-Poderoso ordenamos e mandamos que nenhuma das ditas pessoas seja paga; nem obedeça em nada aos ministros europeus intrusos e de má-fé; E só deverá todo respeito ao Sacerdócio, pagando-lhes o dinheiro, o dízimo e as primícias, como se dá a Deus; E o tributo, e o quinto ao Rei e Senhor Natural, e este com a moderação que se dará a conhecer com as demais leis que devem ser observadas e guardadas; E para o remédio mais rápido de tudo o que é expresso, vamos reiterar e publicar o juramento feito de minha Coroação Real em todas as cidades, vilas, lugares de meus domínios, dando-nos parte dos vassalos fiéis e prestativos pelo mesmo prêmio [...].

(Fonte: Descubre Lima. Disponível em:

https://www.descubrelima.pe/wp-content/uploads/2020/11/Tupac-amaru-II.p…. Acesso em: 19/07/2021. Tradução livre.)

 

Fonte 3

Cartas del bando rebelde VIII - Carta de Micaela Bastidas ao governador Don José Torres

“Senhor Governador, D. José Torres.- Caro senhor: Apesar de saber muito bem os passos que meu marido está dando para livrar este Reino de tantos pesos que nos impuseram, e nos hostilizaram os ladrões dos Corregidores, dirijo a você para que conduzam imediatamente todas as pessoas desta cidade, para entrar em Cusco, e arruinar pela raíz tantos ladrões prejudiciais.

Temos a nosso favor as províncias de Urubamba, Paucartambo, as oito paróquias, Quispicanchi, Paruro, Tinta, Lampa, Azángaro, Paucarcoclla, Carabaya, a cidade de Chucuito e outras com inúmeras pessoas; e estando neste estado, os ladrões devem sair ou pagar com suas vidas. De sua legalidade espero que não dê lugar a nada, senão antes acudir a um tão bom fim, que resulta em um benefício comum a este Reino.

Deus te guarde por muitos anos. Tungasuca, 15 de dezembro de 1780. De você, sua fiel serva, Sra. Micaela Bastidas "

(VALCARCEL, 2017, vol 3, p.220. Tradução livre.)

 

Fonte 4

Cartas del bando rebelde IV - carta de Micaela Bastidas a Tupac Amaru II

Chepe mío: Você tem que acabar com minhas tristezas, porque você anda muito devagar, passeando nas cidades, e mais ainda em Yauri, atrasando-se dois dias com muito descuido, pois os soldados têm razão de se entediar e ir cada um para suas cidades.

Já não tenho paciência para aguentar tudo isto, porque eu mesma sou capaz de me entregar aos inimigos para que me tirem a vida, porque vejo o pouco desejo com que vês este assunto tão sério que passa em detrimento à vida de todos, e estamos no meio dos inimigos e que nossa vida não está segura agora; e, por sua causa, estão prestes a ficar em risco a vida de todos os meus filhos, e o resto de nós.

Eu confiei que você não se demoraria nessas cidades onde você não tem que coisa alguma; mas você está ocupado andando por aí sem ter consideração que aos soldados faltam mantimentos, mesmo que lhes dêem dinheiro; e este que acabará na melhor hora; e então todos irão se retirar, deixando-nos desamparados, para que paguemos com nossas vidas; porque eles (como você deve ter percebido) seguem seus interesses e desviam nossos olhos de nossos rostos; E mais ainda agora que os soldados estão se retirando, com a voz que Vargas e Oré espalharam que os da Lampa, unidos a outras províncias e Arequipa, vão cercar você, e têm sido intimidados, tentando voltar com medo da punição que poderia cair sobre eles; e todas as pessoas que preparei para a tomada de Cuzco se perderão; e ele se unirá aos soldados de Lima, que já estão a caminho há muitos dias.

[...]

Não lamento perder a minha vida, mas a desta pobre família que precisa de toda ajuda; e assim, se os de Paruro viessem, como sugeri no meu anterior. Estou pronta para caminhar com o povo, deixando Fernando em um lugar destinado, porque os índios não conseguem se mover nesta época de tantas ameaças.

Eu lhe dei avisos suficientes para que você pudesse ir imediatamente a Cuzco, mas você deu de ombros a todos, dando-lhes tempo para se prevenirem, como fizeram, colocando canhões no morro do Piccho e em outras seções tão perigosas que você não é mais sujeito a dar-lhes Advance; e que Deus o guarde por muitos anos.- Tungasuca e 6 de dezembro de 1780.

(VALCARCEL, 2017, vol 3, pp.186-187. Tradução livre.)

 

Fonte 5

Distribuição dos corpos, ou suas partes, dos nove réus principais da rebelião, julgados em praça de Cusco, em 18 de maio de 1781:

Tinta. 

A cabeça de José Gabriel Tupac-Amaru.

Um braço à Tungasuca.

Outro de Micaela Bastidas, idem.

Outro de Antonio Bastidas, à Pampamarca.

[...]

Quispicanchi.

Um braço de Antonio Bastidas, à Urcos.

Uma perna de Hipólito Tupac Amaro, a Quiquijana.

[...]

Cusco

O corpo de José Gabriel Tupac-Amaro, a Picchu.

Idem de sua mulher com sua cabeça.

(VALCARCEL, 2017, vol 4, pp. 128-129. Tradução livre.)

 

3.2.1. Primeira atividade (35 minutos)

Após ler o discurso de Tupac Amaru, as cartas e o resultado da sentença aos líderes do movimento, e também recordando elementos trabalhados na aula passada, os alunos deverão se dividir em grupos, e responder às questões:

a) Apresente alguns personagens que aparecem nas cartas e nos outros documentos.

b) O que eles faziam?

c) É possível identificar o que estava acontecendo?

d) Como você descreveria a relação entre espanhóis e indígenas?

Em seguida, os alunos deverão formar um círculo para debater as respostas, e também, após as discussões, o professor deve lançar as seguintes perguntas para serem debatidas em sala.

a) Como os autores das cartas falam dos espanhóis? Do que eles são chamados? Por que

você acha que eles falam dos espanhóis dessa forma?

b) Qual foi o papel de Micaela Bastidas durante a Revolução?

 

3.2.2. Segunda atividade (15 minutos)

O professor deve pedir para dois alunos lerem os poemas abaixo, e em seguida, fazer as seguintes questões para serem debatidas em sala:

a) Antes desta atividade, vocês já haviam ouvido falar de Micaela Bastidas? Pelo que vimos, ela parece ter sido importante para a revolução? Por que vocês acham que ouvimos falar menos dela do que de Túpac Amaru?

b) Vocês acham que a rebelião acabou após a morte dos líderes? Será que esse foi o fim das lutas indígenas?

 

Palabras a Micaela Bastidas

Junto a chama que incendiou as trilhas da América e a arrancou de sua letargia floresceu sua papoula Micaela Bastidas

Não podia caber em solidão a estatura do herói não pode lançar-se só nem sustentar seu alento nem definir o grito de rebeldia que repercutiu nos Andes e rodou pelas colinas até alcançar o âmbito continental se não tivesse sido Micaela Bastidas com sua voz com suas mãos erguidas com seu alento de fera ferida de mãe desgarrada de matriarca da mais nobre estirpe.

Mas você estava para insuflar coragem a seus índios vencidos para impor o nome do Peru para além dos Andes das planícies da Colômbia e dos chacos da Bolívia e de Tucumán.

De suas mão saíram as proclamações as bravas ordens Você se multiplicou para exemplificar e ficar em sintonia com o chamado da História que anunciava o início da liberdade do Continente Americano.

Sem você Túpac Amaru não teria dado o passo legendário de comover a América pois foi inspiração e apoio e estímulo e fogo e paixão da pátria dos mais velhos e a dor de sua raça.

Estava na idade dos sonhos visionária de novo o Peru grande unido livre os quatro suyos abaixo do sol dos Incas.

(PORTAL, 2010 pp. 289-290)

 

Tupac Amaru

Condocanqui Túpac Amaru,

sábio senhor, pai justo,

viste subir a Tungasuca

a primavera desolada

dos patamares andinos,

e com ela sal desdita,

iniquidades e tormentos.

Senhor Inca, pai cacique,

tudo em teus olhos se guardava

como num cofre calcinado

pelo amor e pela tristeza.

O índio te mostrou o ombro

nas quais as novas nordidas

brilhavam nas cicatrizes

de outros castigos apagados,

e era um ombro e outro ombro

todas as alturas sacudidas

pelas cascatas do soluço.

[...]

Túpac Amaru, sol vencido,

de tua glória desgarrada

sobe como o céu no mar

uma luz desaparecida.

As fundas aldeias de argila,

os teares sacrificados,

as úmidas casas de areias

dizem em silência: “Túpac”,

e Túpac é uma semente,

dizem em silêncio: “Túpac”

e Túpac se guarda no sulco,

dizem em silêncio: “Túpac”

e Túpac germina na terra.

(NERUDA, 2010, pp 140-142.)

 

3.2.3. Tarefa para casa

Buscar influências e inspirações que o movimento deixou para os nossos tempos e a nossa sociedade ou outras experiências contestadora no Brasil ou na América.

 

3.3. AULA 3

Na última aula procuraremos trabalhar com documentos dos últimos séculos relacionadas à resistência indígena na América latina. Escolhemos fontes que nos permitem observar algumas das diversas formas de luta: a luta armada, representada por Emiliano Zapata e pelos movimentos zapatista no México, o enfrentamento político, expresso no discurso de Ailton Krenak na constituinte, e o uso de ferramentas institucionais da sociedade ocidental contemporânea, demonstrado na eleição de Evo Morales como presidente da Bolívia e na constituição plurinacional promulgada em 2009.

 

Fonte 1:

img12

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-movimento-zapatista/

Fonte 2:

Manifiesto Zapatista en Náhuatl - Manu Chao 2m12s (2011)

Manu Chao-Manifiesto Zapatista

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2ZtLHLogoiM

Fonte 3:

Discurso de Ailton Krenak na Constituinte (comentário de Álvaro Tukano) 4m01s

(1987):

ÍNDIO CIDADÃO? - Grito 3 Ailton Krenak

https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q

Fonte 4:

Notícia: Evo Morales toma banho de energia antes da posse (2006)

img13

https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2006/01/060121_bolivia…

Fonte 5:

Constitución Política del Estado (CPE) (2009)

Artigo 1

Bolívia constitui um Estado Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário,

livre, independente, soberano, democrático, intercultural, descentralizado e com

autonomias. Bolívia se funda na pluralidade e no pluralismo político, econômico,

jurídico cultural e linguístico dentro do processo integrador do país;

Artigo 5

I. São idiomas oficiais do Estado o castelhano e todos os idiomas das nações e povos

indígenas originários camponeses, que são o aymara, araona, baure, bésiro, canichana,

cavineño, cayubaba, chácobo, chimán, ese ejja, guaraní, guarasu’we, guarayu,

itonama, leco, machajuyai-kallawaya, machineri, maropa, mojeño-trinitario,

mojeño-ignaciano, moré, mosetén, movima, pacawara, puquina, quechua, sirionó,

tacana, tapiete, toromona, uru-chipaya, weenhayek, yaminawa, yuki, yuracaré y

zamuco;

(BOLÍVIA, 2009. Tradução livre)

3.3.1. Atividade (50 minutos):

Após lerem e ouvirem as fontes, os alunos devem formar um círculo e o professor deve

apresentar as seguintes perguntas e orientações para leitura e debate dos documentos:

a) Descrever, individualmente, cada um dos documentos: o que se pode observar a partir

das leituras, músicas, das imagens, das falas e ações?

b) Quais as propostas de resistência presentes? Qual sua opinião sobre elas?

c) Ao longo das aulas trabalhamos os temas de conquista, exploração e resistência.

Como você acha que essas questões se articulam com os dias de hoje? Elas

permanecem, mudaram ou foram superadas? Por que?

4. Expectativas e considerações finais

Ao fim, a expectativa é conseguir trazer um debate que permita o aluno compreender

que a construção de uma história ou de uma sociedade não está dada, e que existem posições

e interpretações acerca de determinados acontecimentos. Ou seja, o lugar que diferentes

grupos ocupam dentro da sociedade contemporânea foi construído ao passar dos anos por

meio de lutas, negociações, vitórias e derrotas, e, ainda não está definido, pois, nenhuma

sociedade, inclusive a nossa, é estática. Nesse sentido, talvez o mais importante seja a busca

pelas origens dessas mudanças.

Referências bibliográficas

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AYALA, Felipe Guaman Poma de, Nueva Corónica y Buen Gobierno [1614], Tomo I. Paris,

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ÍNDIO CIDADÃO? - Grito 3 Ailton Krenak, 2014. 1 vídeo 4m01s. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=kWMHiwdbM_Q. Acesso em 10/07/2021.

MANU Chao - Manifesto Zapatista, 2011. 1 vídeo 2m12s. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=2ZtLHLogoiM. Acesso em: 19/07/2021

NAVARRO, Roberto. O que é o movimento zapatista? Revista Super Interessante, abril 2011.

Disponível em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-movimento-zapatista/.

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WACHTEL, Nathan. Os índios e a conquista espanhola (tradução Maria Clara Cescato). In

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Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 19

Referencia
Graduandos