A Prática de Genocídios

Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Departamento de História

Disciplina: Ensino deHistória:Teoria e Prática

Docente: Profa. Dra. Antônia Terra Calazans Fernandes

Sequência Didática 

A Prática de Genocídios

(Trabalho realizado para Avaliação Parcial da Aprendizagem)Aluna: Alessandra Andrade das Neves

 

São PauloJulho/2021

 

Sequência Didática: A prática de Genocídios

Objetivo da Sequência:

1. Debater experiências socioculturais sobre a eliminação de pessoas por conta de suas etnias, raças ou religiões, dando destaque à conjuntura histórica brasileira do presente;

2. Apresentar algumas histórias “esquecidas” ou pouco lembradas pela História Oficial que, por sua vez, está presente em muitíssimos livros didáticos escolares;

3. Contribuir para a valorização da diversidade, dos Direitos Humanos e da alteridade;

4. Trabalhar utilizando diferentes linguagens e tornando possível a interdisciplinaridade do conhecimento histórico com outras áreas do saber.

 

Metodologia:

Trabalhar em prol do desenvolvimento da autonomia dos alunos e da liberdade de expressão. Ou seja, dar oportunidade para que os alunos sejam ativos, a partir da valorização do debate, das atividades em grupo e do papel do professor como provocador e guia, privilegiando o protagonismo discente. Além disso, a avaliar os alunos de maneira contínua, a despeito das duas últimas atividades serem feitas individualmente (Essas atividades serão um norte para que o professor saber o que cada aluno compreendeu e aprendeu ou não, tendo sempre em mente que cada aluno tem ritmos diferentes, mas que todos aprendem e avançam, considerando de onde partiram. Essas atividades também servirão para o professor fazer um exercício de metacognição e, assim, adaptar as suas aulas (reforçando “isso” ou “aquilo”; unindo alunos com mais dificuldade de aprendizagem a outros sem tais dificuldades, a fim de que os últimos ajudem os primeiros, etc.)

 

Introdução

A prática da matança de determinados grupos étnicos e culturais, em geral, nos remete imediatamente ao Holocausto. Porém, tal bárbara prática não ocorreu somente naquele momento, durante a História, na verdade, tem ocorrido desde que a América foi invadida pelos europeus que eliminaram várias etnias de povos indígenas. Na História, tivemos o exercício desprezível daquilo que fora chamado de tráfico negreiro, bem como a escravidão dos poucos sobreviventes da viagem infernal pelo Atlântico. Alocadas no Brasil, por exemplo, eram tratados como animais através de diversas formas de crueldade e, muitas dessas pessoas acabavam perdendo a vida ou, sendo diretamente assassinadas, caso seus senhores e/ou senhoras simplesmente desejassem. Também foram mortos escravos que resistiam, como os que moravam em quilombos. Apesar de estar explícito que os processos de escravidão negra e indígena foram, de fato, práticas de genocídio e, a despeito do fato que essa palavra fora criada apenas 1943, no contexto da Segunda Guerra Mundial, insistimos no reconhecimento de tais realidades como genocídios. Dito de outra maneira, mesmo cintes do anacronismo, resolvemos usá-la, pois acreditamos que tal palavra e seu conceito retratam exatamente a substância das práticas mencionadas, entre outras. Além disso, cremos que seu uso chama mais atenção do que outros verbetes que usamos nessa sequência, por exemplo “matança”. Também, temos preferência pelo termo genocídio porque ele identifica o tipo de matança, ou seja, a matança necessariamente associada à eliminação ou tentativa de eliminação de etnias, raças ou grupos religiosos específicos, em geral, por motivos político-econômicos. Outra razão: acreditamos que o Estado Nacional se recusa a reconhecer o fato de que houve genocídio, porque indenizações deveriam ser pagas a famílias negras e a grupos indígenas cujas histórias remontam a esses séculos de massacre. Porém, as elites brancas e o controle que exercem sobre a política, obviamente, não querem ser responsabilizadas, mesmo sabendo que “suas” riquezas advém da comercialização de pessoas negras e dos frutos de seu trabalho forçado. Ademais, o único caso de genocídio reconhecido no Brasil é o que diz respeito aos indígenas de etnia Yanomami no chamado “Massacre de Haximu”. Entretanto, reiteramos que muitas outras etnias foram e ainda têm sido descaradamente chacinadas. 

Atividade 1

1º Passo: Apresentar o vocábulo Genocídio aos alunos, com o intuito de detectar seus conhecimentos prévios a partir de perguntas-disparadoras como:

 

1)      Já ouviram falar sobre genocídio?

2)      O que vocês pensam que é ou foi?

3)      Sabem da existência de alguma prática de genocídio na história da humanidade?

4)      Se sim, qual? Onde ocorreu? Em que época? Por que fora realizado? Quem tinha interesse em realizar esse genocídio? Quem foi vítima?

 

2º Passo: Após o questionamento, e já ciente de seus conhecimentos prévios, isto é, sabendo o que deve enfatizar ou corrigir, o professor deve apresentar um documento que se adeque às necessidades da turma. Aqui, vamos supor que a avaliação desses conhecimentos prévios, tenha detectado que os alunos saibam que a prática de genocídio envolve a morte de pessoas, mas que desconheçam, até esse momento, que essas mortes são necessariamente vinculadas a minorias em particular. Nesse caso, o professor poderá começar pela leitura do seguinte documento (Documento 1), incentivando a participação dos alunos, quer dizer, pedindo para que algum deles se voluntarie para a tarefa. Caso ninguém se manifeste, nesse primeiro momento, o professor poderá fazer a leitura em voz alta com eles:

 

“Convenção para a prevenção e a repressão do crime de genocídio (1948)[1]

As Partes - contratantes

Considerando que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em sua Resolução n. 96 (I). de 11 de Dezembro de 1946, declarou que o genocídio é um crime contra o Direito Internacional, contrário ao espírito e aos fins das Nações Unidas e que o mundo civilizado condena;

Reconhecendo que em todos os períodos da história o genocídio causou grandes perdas à humanidade;

Convencidas de que, para libertar a humanidade de flagelo tão odioso, a cooperação internacional é necessária;

Convêm o seguinte:

Artigo I - As partes - contratantes confirmam que o genocídio, quer cometido em tempo de paz, quer em tempo de guerra, é um crime contra o Direito Internacional, o qual elas se comprometem a prevenir e a punir.

Artigo II - Na presente Convenção, entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como:

    • assassinato de membros do grupo;

    • dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo;

    • submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial;

    • medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;

    • transferência forçada de menores do grupo para outro.

(...)”

 

3º Passo - Pedir aos alunos que formem pequenos grupos e respondam as seguintes perguntas:

1)      Que tipo de documento é esse? Já o conheciam?

2)      Qual o assunto abordado?

3)      De acordo com o texto, o que é Genocídio?

4)      Quem são “As partes – contratantes”?

5)      Por que foi escrito?

6)      Por quem foi escrito?

7)      Em que contexto foi feito?

8)      Qual é a Convenção a que o texto se refere?

9)      Qual é a Instituição que realiza a Convenção?

10)  Para que essa Instituição foi criada?

4º Passo: Enquanto tentam responder as perguntas, o professor deve passar de grupo em grupo para saber a direção que estão seguindo e, eventualmente, dar destaque a alguma informação no formato de pergunta, instigando-os ainda mais.  Exemplo: vocês repararam a data no título? Quais acontecimentos estavam em voga naquele momento? (Caso não saibam ou não se lembrem, o Professor pode mencionar alguns).

5º Passo: Logo após, pedir para que cada grupo escolha um porta-voz e mencione as conclusões a que chegaram para o restante da turma.

Após ouvir todos os grupos o professor saberá se precisa ajustar ou não as respostas, mas nunca deverá desmerecer eventuais erros, lembrando que o erro é um momento de aprendizagem. Há que se considerar também que o professor é exemplo de cidadão, profissional e, acima de tudo, ser humano empático. Nesse sentido, cabe levar em conta o texto de Antoni Zabala (1996), segundo o qual o processo de ensino-aprendizagem proporciona diversos tipos de conhecimentos, além dos cognitivos, o que contraria o senso comum. Para o autor (1996), os conteúdos ensinados para os alunos são de três tipos: Conceituais (“conteúdos referentes a conceitos e princípios”), Procedimentais (“conteúdos referentes a técnicas, métodos, destrezas” – “conjunto de ações ordenadas   destinadas a consecução de um fim”, como ler um gráfico) e Atitudinais (“conteúdos referentes a valores, normas e atitudes”). (p.162; p.166-174).

 

Atividade 2:

Fazer com que os alunos estabeleçam relações entre o documento abaixo e o documento 1, através de comparações. Também reiterar o que já aprenderam, haja vista que o documento 2 é muito similar ao primeiro. Isso também servirá para provocá-los a reagir.

1º Passo: Apresentar o documento 2 (também conhecido como “Lei do Genocídio”) insistindo para que algum aluno faça a leitura, mas não apontando alguém em particular, para que não se sintam obrigados, pois como nos ensina Paulo Freire, o Professor não deve ser autoritário: “O professor Libertador (...) assume papel diretivo necessário para educar. Essa diretividade não é uma posição de comando, de ‘faça isso’ ‘ ou ‘faça aquilo” (Freire, P. 1986, p.104)

 

LEI Nº 2.889, DE 1º DE OUTUBRO DE 1956

Define e pune o crime de genocídio.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

     Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:

    a) matar membros do grupo;
    b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
    c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial;
    d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
    e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;

    Será punido: (...)

Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da Independência e 68º da República.

JUSCELINO KUBITSCHEK”

(Fonte: BRASIL. Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L2889.htm Acesso: 15 de julho de 2019., às 20h01. Publicado originalmente no DOU em 2.10.1956).

 

2º passo: Continuar com a formação dos grupos e pedir para que respondam as seguintes questões:

1)      Que tipo de documento é esse?

2)      Diz respeito à qual lugar?

3)      Há semelhanças ou diferenças entre este e o documento 1?

4)      Em caso afirmativo, quais são?

5)      Em caso negativo, explique sua resposta.

6)      Quem é o presidente da república em questão?

3º Passo: Enquanto tentam responder as perguntas, o professor deve passar de grupo em grupo para saber a direção que estão seguindo e, eventualmente, dar destaque a alguma informação no formato de pergunta, instigando-os ainda mais. 

4º Passo: Depois, pedir para que cada grupo escolha um porta-voz e mencione as conclusões a que chegaram para o restante da turma, enfatizando que o porta-voz já não deve ser o mesmo que falou antes.

5º. Passo: Gerar debate com os alunos a partir de provocações do tipo: “Grupo 2, você concorda com o Grupo 5 ou não, por quê?”, instigando-os a argumentar ou refutar argumentos dos colegas tendo em vista seus saberes e opiniões. O professor deve conduzi-los para que desconstruam seus próprios equívocos ou preconceitos, caso existam.

6º Passo: Sugerir uma pesquisa sobre o que estava acontecendo no Brasil e no mundo naquele momento.

7º Passo: A partir das pesquisas, o professor deverá colocar em evidência as contribuições dos alunos e enfatizar a historicidade que conferem aos acontecimentos, a partir da feitura de uma linha do tempo.

 

Atividade 3:

Como o “massacre dos haximu” não é muito conhecido (como o próprio documento abaixo elucida), procuramos debater com os alunos o fato, talvez desconhecido para eles, com o intuito de que percebam a existência de práticas incabíveis em termos do tipo de violência do qual estamos tratando, mas em território nacional. Também pretendemos que fazer com que os alunos se sensibilizem através desse terrível acontecimento.

1º Passo: Fazer algumas perguntas de sondagem, como:

1)      Vocês já ouviram falar dos Yanomami?

2)      Se sim, quem são?

3)      Onde vivem e desde quando?

4)      Vocês já ouviram falar da Aldeia Haximu?

5)      Se já ouviram, sabem se algum fato importante aconteceu lá?

6)      Os Yanomamis de Haximu têm algum tipo de inimigo ou se sentem ameaçados por alguém?

7)      Em caso positivo, por que se sentem ameaçados? Quem são seus inimigos?

 

2º Passo: Apresentar o documento 3 e pedir para que algum dos alunos seja voluntário e leia o texto para o restante da turma (é importante fazer com que os alunos que já tenham feito o exercício de leitura de outros documentos, não sejam voluntários outra vez, para dar chance aos mais tímidos, com o intuito de que esses também tenham chance de participar desse tipo de experiência, ou seja, se expor ao público):

 

OS HORRORES DO MASSACRE DE HAXIMU EXECUTADO POR GARIMPEIROS

A chacina ocorreu em Roraima, no ano de 1993, e ganhou atenção internacional, sendo pouco mencionada no Brasil.

INGREDI BRUNATO

PUBLICADO EM 04/10/2020, ÀS 09H00

Os Ianomâmi estão espalhados em aldeias ao longo da extensão da floresta Amazônica. A aldeia dos Haximu, especificamente, está localizada na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, no estado do Roraima.

 Fotografia de indígenas Ianomâmis. - Divulgação/ Carlo Zacquini/Acervo do Instituto Socioambiental s/d

Fotografia de indígenas Ianomâmis. - Divulgação/ Carlo Zacquini/Acervo do Instituto Socioambiental s/d

No ano de 1993, todavia, os Haximu quase sofreram um extermínio. Apenas por uma questão de sorte é que foram capazes de sobreviver ao ataque, que tinha vindo com intenções genocidas. 

O contexto do massacre de Haximu foi um conflito entre os indígenas e os trabalhadores que faziam garimpo de ouro na região. (...) e após a construção da Rodovia Perimetral Norte através da terra demarcada onde os Ianomâmi viviam, os encontros entre nativos e não nativos passaram a ser uma realidade cotidiana. 

Antes da tragédia

A princípio, os garimpeiros que vinham para trabalhar nas áreas onde ficavam os indígenas Ianomâmi buscaram manter alguma distância respeitosa dos povos indígenas, e mediaram a sua presença no local através de doações.

Eventualmente, o número de trabalhadores passou a crescer, e o equilíbrio de poder se modificou, fazendo com que o respeito diminuísse, e as tensões entre os grupos aumentassem.

Um dos acontecimentos mais específicos que precederam a chacina é o sumiço de uma rede de fazer garimpo em rios, usada como argumento para um primeiro ataque por parte dos garimpeiros. A partir desse ponto, as tensões se intensificaram.

Quatro membros da aldeia Haximu foram mortos nesse ataque inicial, e como retaliação os indígenas teriam realizado uma vingança em que mataram dois trabalhadores, e feriram mais dois. A reação dos garimpeiros, por sua vez, teria sido então de planejar o massacre. 

Fotografia de mãe da aldeia de Haximu segurando filho. Crédito: Wikimedia Commons. s/d

Fotografia de mãe da aldeia de Haximu segurando filho. Crédito: Wikimedia Commons. s/d

O genocídio

A chacina ocorreu no início de uma manhã. Naquele dia, a maioria dos indígenas da aldeia Haximu estava ausente, na verdade, por conta de uma festa em uma aldeia vizinha. Outros, também, estavam trabalhando.

Dessa forma, quando os garimpeiros apareceram de surpresa e fortemente armados, não havia muitos Yanomamis para matar. O total de vítimas do massacre foi pelo menos 16 nativos, compostos principalmente por idosos, mulheres e crianças. Quando eles foram embora, ainda atearam fogo à aldeia enquanto a deixavam para trás. 

Segundo os próprios integrantes da aldeia, esse número seria de 73 nativos assassinados, no entanto a informação não pôde ser verificada por conta do ritual de luto dos Ianomâmis, que inclui queimar o corpo dos mortos. 

Depois, a chacina em Roraima recebeu repercussão não só dentro do território brasileiro, mas também internacionalmente. É preciso apontar, contudo, que houve imprecisões nas descrições midiáticas do acontecido, de forma que muitos detalhes do evento se perderam. 

Os cinco garimpeiros responsáveis pelo massacre de Haximu foram a julgamento, sendo condenados a um total de 20 anos de prisão. Apesar disso, em 2011, quando estavam encarcerados há 14 anos, as penas foram consideradas extintas, resultando na soltura dos envolvidos.

Essa foi a primeira e única sentença de genocídio no sistema judiciário brasileiro.

(Fonte:  BRUNATO, Ingredi. Os horrores do massacre de Haximu executado por garimpeiros. Data de Publicação/Postagem: 04 de outubro de 2020. Disponível em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/tags/aldeia-de-haximu> Acesso: 19 de julho de 2021).

 

2º) Passo: O professor deve refazer as perguntas iniciais e debater com a turma para se certificar que tenham entendido o texto.

3º Passo: Pedir para que respondam às perguntas a seguir, ainda em pequenos grupos:

1)      Há alguma relação entre o documento 3 e o documentos 2? Se sim, diga qual ou quais? Se não, justifique sua resposta.

2)      Como eram os locais de moradia dos grupos indígenas da Amazônia? Ficavam próximos a cidades ou mais afastados e, de certa forma, isolados? Descrevam.

3)      Qual a opinião de vocês sobre a seguinte frase “O local de moradia dos indígenas favorece a impunidade.”? Concordam ou discordam, por quê?

4)      Sabendo que o caso dos Yanomami do Haximu foi foco de repercussão nacional e internacional negativa. Explique por que o Brasil julgou esse caso como genocídio e não como outro tipo de crime? Explique.

5)      Vocês acreditam que a pena para os assassinos condenados foi justa? Dê a sua opinião.

6)      Relacionem a atividade de garimpar com a temática preservação do meio-ambiente. A seguir, dê a sua opinião sobre essa atividade.

4º. Passo: O Professor deverá abrir os grupos para o debate

 

Atividade 4:

Passo 1: Apresentar o Documento 4 e solicitar aos alunos que realizem uma leitura silenciosa:

 

O MASSACRE DOS YANOMAMI DE HAXIMU, por Bruce Albert, antropólogo

Artigo escrito em 27/09/1993. Publicado na Folha de S. Paulo em 03/10/1993 – Caderno Mais! p. 6-4 e 6-5.

Para quem achou que 16 mortos reduziam a gravidade do caso; para quem temeu que "apenas" 16 mortos esvaziava a atenção sobre ele, deixo este relato à guisa de reflexão.

A armadilha garimpeira

Na origem do massacre de Haximu está uma situação crônica de conflito interétnico criada na área Yanomami pela presença predatória das atividades garimpeiras. Desde o início da grande corrida do ouro em Roraima, em agosto de 1987, vários assassinatos de índios ocorreram e outros poderão ocorrer novamente devido às mesmas causas. Portanto, antes de qualquer coisa, é preciso tornar claro o contexto social e econômico capaz de gerar tais violências. Ao instalarem-se num novo sítio dentro da área Yanomami, os garimpeiros vêm primeiro em pequenos grupos. Sendo poucos, sentem-se vulneráveis perante a população indígena. Temendo uma reação negativa dos índios, tentam comprar a sua anuência com farta distribuição de bens e comida. Por sua vez, os índios têm pouca ou nenhuma experiência com brancos e tomam essa atitude como uma demonstração de generosidade que se espera de qualquer grupo que quer estabelecer laços de alianças intercomunitárias. Enquanto se desenrola esse mal-entendido cultural, os índios ainda não sentem o impacto sanitário e ecológico das atividades de garimpo. Aos seus olhos, o trabalho dos garimpeiros parece ainda algo enigmático e irrelevante. Com ironia e condescendência, chamam-os de "comedores de terra" ao compará-los a um bando de queixadas fuçando na lama. Num segundo momento, o número de garimpeiros aumenta substancialmente e já não é preciso manter aquela generosidade inicial. Os índios passam de ameaça a estorvo com suas insistentes demandas pelos bens que se acostumaram a receber. Os garimpeiros irritam-se e tentam afastá-los dos garimpos com falsas promessas de presentes futuros e com atitudes impacientes ou agressivas. A essa altura, os índios já começam a sentir uma rápida deterioração em sua saúde e meios de subsistência. Os rios ficam poluídos, a caça foge e muita gente morre em constantes epidemias de malária, gripe, etc., desestruturando a vida econômica e social das comunidades. Desse modo, os índios passam a ver os bens e a comida que vem dos garimpeiros como uma compensação vital e inquestionável pela destruição causada. Negada tal compensação, cria-se no seu entender uma situação de hostilidade explícita. Surge assim um impasse: os índios se tornam dependentes dos garimpeiros no exato momento em que estes se dispensam de comprar a boa vontade indígena. Essa contradição está na raiz de todos os conflitos envolvendo índios e garimpeiros na área Yanomami. Com ela abre-se a possibilidade para que o menor incidente degenere em conflito aberto. Como a disparidade de forças entre garimpeiros e índios é enorme, a balança da violência pende sempre contra os Yanomami. Esse tipo de situação mostra claramente até que ponto a lógica da economia garimpeira repele a participação dos índios e até a sua simples presença. Garimpeiros que utilizam técnicas mecanizadas não têm qualquer interesse nos índios, nem sequer como mão-de-obra. Na melhor das hipóteses, são inconvenientes; na pior, são uma ameaça à sua segurança. Se com brindes e promessas não conseguem afastá-los, então a solução é intimidá-los ou exterminá-los.

Assassinatos no rio Orinoco

Em meados de 1993, as relações entre os garimpeiros brasileiros do "rio Taboca" (alto Orinoco, na Venezuela) e os Yanomami de Haximu já haviam chegado a esse impasse. Eram cada vez mais freqüentes as visitas dos índios aos garimpos em busca de comida e objetos. Numa ocasião, dois donos de balsa prometeram rede, roupa e munição a um jovem líder da comunidade. Mais uma vez a promessa não foi cumprida e este foi tomar satisfações no barracão de um desses empresários. Discutiu com um empregado e acabou por afugentá-lo com um tiro de espingarda. Com o barracão vazio, o índio e seus companheiros cortaram os punhos das redes, jogaram lona e cobertores no mato e levaram rádio e panelas. Depois deste incidente, os garimpeiros decidiram matar os índios se estes voltassem a incomodá-los. Em atritos anteriores, por medida de segurança, já haviam se reapossado de uma espingarda que tinham dado aos índios. A partir do dia 15 de julho os fatos se precipitam. Um grupo de seis rapazes de Haximu chega a outro barracão na área para pedir comida, bens de troca e, quem sabe, levar de volta a espingarda, conforme recomendação de seus parentes mais velhos. Recebem apenas alguma comida e um bilhete para ser entregue em outro barracão rio acima, com a promessa de que lá eles obteriam mais coisas. No barracão seguinte, encontram uma turma de garimpeiros jogando dominó. São recebidos por uma cozinheira que lê o bilhete, joga-o no fogo e bruscamente manda-os embora com mais alguns mantimentos e roupa. O bilhete dizia: "Faça bom proveito desses otários". Com esse sinal e estimulados por ela, os garimpeiros desse barracão chegam a cogitar de matar os seis rapazes ali mesmo, mas desistem temendo que outros índios estivessem escondidos nas redondezas. Decidem então atacá-los já na trilha de volta às malocas. Depois de caminhar menos de uma hora, os rapazes Yanomami param para comer o que receberam nos barracões. Chegam então cinco ou seis garimpeiros armados que os convidam para ir caçar anta e visitar um outro barracão. Os índios estranham o convite, primeiro recusam, mas acabam aceitando diante de tanta insistência. Forma-se uma fila indiana tendo na frente um Yanomami seguido de garimpeiros e índios alternadamente. Um pouco adiante, o último Yanomami sai da fila para defecar; passa sua espingarda - a única dos rapazes - para outro Yanomami, e se embrenha no mato dizendo aos outros para seguir adiante. Mas os garimpeiros ficam parados. Bruscamente, um deles imobiliza o braço do índio que segura a arma e atira à queima-roupa em seu ventre com uma espingarda de dois canos serrados. Mais três índios são a seguir fulminados pelos outros garimpeiros. Um dos assassinos contará depois a um companheiro que um dos rapazes se agachou com as mãos no rosto e, tentando escapar da morte, suplicou: "garimpeiro amigo!". Foi sumariamente executado com um tiro no rosto. O Yanomami que estava no mato, ao escutar os tiros, joga-se no rio Orinoco ali perto e consegue fugir. O jovem de 18 anos que encabeçava a fila também tenta escapar, mas vê-se encurralado entre três garimpeiros que, dispostos em triângulo, se revezam em atirar no rapaz como se fosse tiro ao alvo. Graças à sua agilidade e ao emaranhado da mata naquele local, o rapaz consegue desviar-se dos dois primeiros tiros, mas é ferido pelo terceiro. Enquanto os garimpeiros recarregam as armas, ele escapa e se joga também no rio Orinoco. Atordoado, tenta se esconder, ficando submerso até o nariz. Dessa posição ele vê os garimpeiros enterrar três dos mortos (a quarta vítima nunca chegou a aparecer; mortalmente ferido, provavelmente caiu no rio e foi levado pela correnteza). De repente, à procura de corpos, um garimpeiro desce até o rio e o vê escondido; volta para buscar uma arma, mas o jovem consegue finalmente fugir. Enquanto isso, o outro sobrevivente chega às malocas do Haximu com a notícia dos assassinatos. Cerca de dois dias depois, volta com um grupo de homens e mulheres ao local onde ficaram os corpos de seus parentes. A meio caminho encontram o adolescente ferido que lhes relata o que viu, inclusive o local onde os cadáveres foram enterrados (essa prática, aliás, é considerada pelos Yanomami como uma profanação). Desenterram os três corpos, procuram o quarto em vão, e levam os despojos para serem cremados a cerca de uma hora e meia de caminhada, mata a dentro. Coletam os ossos carbonizados necessários para oficiar os seus ritos funerários e voltam para casa. Nos dias que se seguem, organizam a caçada ritual que precede a cerimônia de preparação das cinzas mortuárias (os ossos são pulverizados e guardados em cabaças lacradas com cera de abelha). Depois da caçada (que dura de uma semana a dez dias), são convidadas três aldeias aliadas: Homoxi, Makayu (maloca do Simão) e Toumahi. Terminada a preparação das cinzas, forma-se um grupo de guerreiros para levar a cabo a tradicional incursão de vingança contra os assassinos. Deve-se enfatizar que a tradição Yanomami exige que mortes violentas sejam vingadas com ataques guerreiros onde os alvos são os homens, de preferência os mesmos que perpetraram as mortes anteriores. Nunca se mata mulheres e crianças. A 26 de julho, depois de dois dias de caminhada, o grupo de guerreiros acampa nas imediações do garimpo. às dez horas da manhã seguinte, embaixo de chuva, chegam à cozinha de um barracão onde avistam apenas dois homens que conversavam em volta do fogo. Um dos Yanomami esgueira-se por detrás de uma árvore e atira. Acerta um dos garimpeiros com um tiro de espingarda na cabeça, matando-o na hora; o outro foge, mas é ferido nas costas e nas nádegas. Os guerreiros continuam sua vingança partindo a cabeça do morto com golpes de machado, atiram flechas no cadáver e, antes de fugir, apanham tudo que encontram no barracão, inclusive cartuchos e a espingarda do morto.

Preparando o ataque

O ataque dos índios enfurece os garimpeiros. Enterram o morto na cozinha do barracão que é então abandonado, levam o ferido para uma pista de pouso a dois dias de caminhada e começam a planejar a retaliação. Fazem duas reuniões onde decidem pôr fim ao assédio dos índios, matando todos os moradores das duas malocas que constituem a comunidade de Haximu, num total de 85 pessoas. Recrutam homens de vários barracões e juntam armas e dez caixas de cartucho. Toda essa operação foi patrocinada, se não encomendada, pelos quatro principais empresários dos garimpos daquela região. Para isso liberaram seus empregados, forneceram munição, armas e abrigaram as reuniões preparatórias para o ataque. Esses quatro empresários de garimpo, alguns deles bem conhecidos no Estado de Roraima, são: João Neto, proprietário rural; seu cunhado Chico Ceará; Eliezio, também dono de uma cantina; e Pedro Prancheta, o autor do bilhete que, como todos os demais, é dono de balsa. Quatorze garimpeiros, fortemente armados (espingardas de calibre 12 e 20, revólveres 38, terçados e facões) põem-se a caminho para executar o plano. Entre eles estão vários que participaram do assassinato dos rapazes de Haximu, além de quatro pistoleiros que haviam sido contratados para garantir a segurança dos empresários. Enquanto isso, os habitantes de Haximu deixam as malocas e acampam na mata a uma distância segura de contra-ataques. Ficam aí uns cinco dias. Como esperam o convite da comunidade de Makayu (maloca do Simão), para uma festa, eles iniciam a viagem em direção àquela maloca. No caminho pernoitam em suas duas malocas. Na manhã seguinte, a maioria continua a caminhada até uma roça velha entre Haximu e Makayu. Aí ficarão aguardando, como de praxe, o convite formal trazido por mensageiros de seus anfitriões, enquanto três jovens guerreiros voltam para atacar de novo os garimpeiros, por estarem insatisfeitos com a tentativa anterior de vingança. O irmão do morto desaparecido, líder dos três rapazes, tinha especial empenho em vingar a morte do irmão precisamente porque o corpo nunca fora encontrado, impossibilitando a realização de um funeral apropriado. Chegam a um barranco de garimpo e, protegidos pelo barulho das máquinas, esgueiram-se até um garimpeiro que estava trabalhando e atiram. O homem pressente-os e consegue proteger a cabeça; sai ferido apenas no braço que lhe serviu de escudo. Os três razapes fogem e juntam-se aos seus parentes de Haximu na roça velha. Esse ataque ocorre ao mesmo tempo em que os quatorze garimpeiros estão a caminho das malocas de Haximu, a dois dias a pé de seus barracões. Índios e garimpeiros só não se cruzam porque em expedições de guerra os Yanomami evitam as trilhas, andando pela mata fechada. Chegando a Haximu, os garimpeiros encontram as malocas vazias. Amontoam os utensílios domésticos que ficaram e despejam sobre eles uma grande quantidade de tiros de revólver e espingarda. Incendeiam as duas malocas, encontram a trilha que leva à roça velha, e prosseguem no encalço dos índios. Entrementes, no dia anterior, os habitantes de Haximu acampados na roça velha já haviam recebido o convite formal de Makayu. Por estarem em pé de guerra, querem abreviar ao máximo a sua estada naquela maloca. Resolvem que apenas os homens e algumas mulheres sem filhos seguirão para lá imediatamente em companhia dos mensageiros, deixando na roça velha todas as mulheres com crianças, além de três homens já velhos e pouco ágeis. Por duas razões essas pessoas ficam no acampamento: por seu ritmo lento de viagem e pelo fato de que mulheres e crianças têm sempre salvo conduto em incursões guerreiras. Pela lógica social Yanomami, elas estariam perfeitamente seguras, mesmo em caso de ataques inimigos. Ficam também no acampamento os três jovens guerreiros recém-chegados que descansam de sua incursão ao garimpo.

O massacre

Na manhã do dia seguinte, a maioria das mulheres no acampamento sai para coletar frutas (ingá) a várias horas a pé da roça velha. Junto com elas vão quase todas as crianças e o líder de uma das duas malocas. No acampamento permanecem cerca de dezenove pessoas, incluindo os três guerreiros que ainda se recuperam. Poucas horas depois, por volta do meio-dia, os garimpeiros chegam ao acampamento e o cercam de um lado. Crianças brincavam, mulheres cortavam lenha e os demais estavam deitados nas redes. Um garimpeiro dispara um tiro e todos os outros o seguem, abrindo fogo cerrado, ao mesmo tempo em que avançam para as vítimas. Em meio ao tiroteio, conseguem escapar os três guerreiros, um homem e uma mulher de meia idade, duas meninas de seis e sete anos e uma menina de cerca de 10 anos, graças à complexa disposição dos abrigos e ao emaranhado da vegetação típica das roças velhas. As duas meninas pequenas e um dos guerreiros saem feridos com chumbo espalhado pelo rosto, pescoço, costas e braços; a menina maior recebe um ferimento muito mais grave na cabeça do qual viria a falecer mais tarde. Do esconderijo, os fugitivos continuam a ouvir gritos abafados pelo estrondo dos tiros. Longos minutos depois, os garimpeiros interrompem o tiroteio e entram nos abrigos para terminar de matar quem ainda está vivo. A golpe de facão matam não só os feridos mas os poucos que não haviam sido atingidos; por fim, mutilam ou esquartejam todos os cadáveres crivados de balas e chumbo. Ao todo morreram doze pessoas: um homem e duas mulheres idosos, uma jovem de Homoxi que estava de visita, três meninas adolescentes, uma menina de um ano e outra de três e três meninos entre seis e oito anos; três dessas crianças eram órfãs de pais mortos pela malária. A mulher de Homoxi, de cerca de 18 anos, foi atingida por um tiro de espingarda disparado a menos de dez metros e imediatamente por outro a menos de dois. Uma mulher idosa e cega foi morta a pontapés e um bebê deita do numa rede foi embrulhado num pano e trespassado com faca. Os garimpeiros dão-se conta de que não exterminaram todos os habitantes de Haximu. Por isso, levam duas espingardas que estavam nos abrigos, disparam um foguete para dissuadir possíveis perseguidores, e correm de volta ao garimpo. Semanas mais tarde, ouvem pela Rádio Nacional a notícia do massacre. Caminham por dois ou três dias até à pista de Raimundo Nenê. Ameaçam de morte a quem os delatar, dizendo aos demais garimpeiros que se estes falassem "fariam a mesma coisa que fizeram aos índios". Retornam então para Boa Vista de onde a maioria se dispersa pelo país. As cremações Quando finalmente cessa o tiroteio, um dos três guerreiros que escapou ileso do massacre corre até onde as mulheres coletavam ingá, relata o que aconteceu, manda todos se esconderem, retorna ao acampamento, procura sua espingarda e não a encontra. Chama então as mulheres e manda três a Makayu avisar os demais. Elas caminham em disparada durante várias horas. Chegam aos prantos e em meio a grande comoção, contam a tragédia e descrevem de forma intensamente dramática como mulheres e crianças haviam sido mutiladas ou esquartejadas. Os homens de Haximu partem imediatamente para o local do massacre em marcha forçada e ainda conseguem chegar no começo da noite. Juntam-seaos feridos e demais sobreviventes num clima de choro e terror misturado aos exaltados discursos de revolta dos líderes. A escuridão impede que tratem imediatamente dos cadáveres. O forte cheiro de sangue força-os a passar a noite um pouco afastados da cena do massacre. A cerca de meia hora do local, abrem uma clareira e levantam abrigos improvisados. Ao amanhecer, começam a cremação que seus ritos funerários impõem. Nem o alto risco de serem novamente atacados pelos garimpeiros suplanta o imperativo de dar um funeral apropriado a seus parentes. Assim que começam a juntar os corpos destroçados, surge do matagal ao seu encontro a menina com o crânio aberto a bala, uivando de dores e pavor, enquanto a mãe desesperada corre para ela aos gritos. Começa a cremação dos corpos, dispostos em posição fetal nas piras crematórias individuais. Os adultos são imediatamente cremados no acampamento; os cadáveres dos mais jovens são levados para o abrigo onde haviam passado a noite e lá também cremados. Mal o fogo acabara de consumir os corpos, os sobreviventes retiram das fogueiras os ossos carbonizados ainda escaldantes e os recolhem em cestas e até em panelas. Inúmeros fragmentos de ossos e alguns dentes ainda ficam entre as cinzas, alguns com sinais de impacto de projéteis de armas de fogo. A pressa em terminar logo as cremações deve-se à convicção dos índios de que os garimpeiros voltariam para tentar matar os homens. É-lhes inconcebível que a morte daquelas mulheres e crianças fosse considerada pelos brancos como vingança apropriada. A urgência de fugir é tão grande que deixam sem cremar o cadáver esquartejado da visitante de Homoxi, que não tinha ali nenhum parente próximo. Uma cabaça contendo as cinzas de um dos rapazes assassinados no primeiro ataque havia sido quebrada pelos garimpeiros e as cinzas espalhadas pelo chão. A mãe do rapaz tenta juntá-las, mas com a pressa deixa para trás alguns embrulhos de folhas com as cinzas mortuárias que havia recuperado. As cinzas dos mortos são o bem mais precioso dos Yanomami; elas ficam sempre aos cuidados das mulheres, que as levam consigo mesmo quando viajam. A fuga Terminadas as cremações, os habitantes de Haximu coletam todos os pertences dos mortos para serem depois destruídos durante os ritos funerários. Começam então uma fuga de várias semanas pela mata fechada, num imenso desvio para despistar os garimpeiros, andando muitas vezes à noite, sem comer, carregando as três meninas feridas. Depois de uns oito dias de caminhada, param numa aldeia amiga, Tomokoxibiú. Nessa noite, morre a menina com o crânio aberto. Seus pais carregam o cadáver pela mata mais um dia antes de cremá-lo no local onde irão acampar. Sem se deter, os fugitivos cruzam mais tarde os caminhos de duas outras aldeias, Ayaobe e Warakeú. Param numa quarta aldeia, Maamabi. Já haviam cruzado o Orinoco e, rumo ao sul, aproximam-se da fronteira com o Brasil junto ao alto Toototobi, no estado do Amazonas. Chegam, finalmente, à maloca do Marcos no alto Paxotoú, afluente do Toototobi. Era o dia 24 de agosto de 1993, cerca de um mês depois da chacina. Os sobreviventes de Haximu escolheram o alto Toototobi como refúgio por várias razões: é uma área livre de garimpeiros, seus habitantes são gente amiga a quem visitavam com alguma frequência, e há também um posto de saúde ao qual já haviam recorrido várias vezes para se tratar de malária nos últimos três anos.

Ritos funerários

Quando pararam nas duas malocas amigas do lado venezuelano e depois, jána maloca do Marcos, os índios de Haximu foram pulverizando os ossos dos parentes mortos, guardando-os em cabaças lacradas e acondicionadas em cestas de trama aberta ou embrulhadas em panos. Nas grandes cerimônias funerárias intercomunitárias que irão organizar em homenagem aos mortos, as cinzas dos adultos serão enterradas junto às fogueiras domésticas de seus parentes e as das crianças serão tomadas com mingau de banana. Nessa ocasião, as cabaças, as cestas e todos os objetos que pertenciam aos mortos serão queimados ou destruídos. A destruição dos pertences dos mortos, a obliteração de seus nomes pessoais e o enterramento ou ingestão de suas cinzas nos rituais funerários Yanomami têm por objetivo garantir que o espectro possa viajar definitivamente para o mundo dos mortos nas "costas do Céu" sem a possibilidade de voltar e atormentar os vivos. Para que isso aconteça, é necessário que estes comemorem os seus mortos até que todas as cinzas acabem, durante sucessivas cerimônias mortuárias. É por isso que o povo de Haximu teve que resgatar os despojos de seus mortos, mesmo sob a forte ameaça de ataques garimpeiros. Não fazê-lo seria condenar os espectros a errar entre dois mundos, assombrando os vivos com uma interminável melancolia, pior que a própria morte. Os 69 sobreviventes de Haximu, refugiados na maloca do Marcos, tentam agora reconstruir a vida, com planos de abrir novas roças e construir novas casas. Entretanto, nos próximos meses, e durante uma boa parte do próximo ano, sua existência estará voltada à organização dos funerais de seus parentes mortos na chacina, e de vários outros que morreram recentemente por malária contraída dos garimpeiros. O seu luto durará até as cinzas terminarem, quando então voltarão à normalidade. Mesmo assim, nunca esquecerão que os brancos são capazes de esquartejar mulheres e crianças, "como espíritos comedores de gente". Os guerreiros de Haximu afirmam que desistiram de se vingar dos garimpeiros. Poderiam até fazê-lo quando ainda pensavam que esses brancos eram seres humanos com senso de honra. Agora duvidam. Os garimpeiros não são sequer dignos de ser considerados inimigos. Só esperam que os assassinos sejam "trancados" pelos outros brancos para nunca mais voltar às suas terras.

 

2º. Passo: Alertar os alunos sobre a palavra “índio”, que apesar de o autor tê-la utilizado, é pejorativa e, explicar que devemos usar o termo “indígena” para não sermos ofensivos.

3º Passo: Fazer as seguintes perguntas aos alunos:

1)      Todos compreenderam o texto?

2)      Consideram o texto fácil ou difícil?

(Essas duas primeiras perguntas são para identificar na linguagem verbal e/ou corporal sobre o que apreenderam e, dependendo do resultado, caberá ao Professor realizar uma segunda leitura, dessa vez, pausada, explicando mais minuciosamente cada trecho e palavras, quiçá, desconhecidas para eles, etc.)

3º. Passo: Fazer novas questões privilegiando o raciocínio e a subjetividade, como sempre:

1)      Gostaram mais do Documento 3 ou do Documento 4 (o último que nós vimos até então)? Por quê?

2)      Qual o tema de cada um deles?

3)      O Documento 4 consiste em que tipo de documento? (Relato).

4)      Por que o autor escreveu esse texto?

5)      O autor é um antropólogo. Vocês sabem o que é antropologia? (Se não souberem o professor deve explicar brevemente apontando para a especificidade da área).

6)      Identifique semelhanças entre o documento 3 e o texto do Documento 4.

7)      Há disparidades (explicar o que são disparidades, caso não conheçam a palavra) entre um e outro? Se sim, quais são? Se não, justifique sua resposta?

 

Atividade 5:

1º Passo: Apresentar o Documento 5:

Charge do dia 29 de abril de 2020, que retrata a fala do presidente Bolsonaro após ser questionado sobre os 5 mil brasileiros mortos por Covid-19 no Brasil.

Charge do dia 29 de abril de 2020, que retrata a fala do presidente Bolsonaro após ser questionado sobre os 5 mil brasileiros mortos por Covid-19 no Brasil.

(Fonte: EVANGELISTA, Eduardo dos Reis (mais conhecido como Duke). “E daí?”. In: Portal Dom Total. Data de Publicação/ Postagem: 29 de abril de 2020. Disponível em: <https://domtotal.com/noticia/1477731/2020/10/charge-do-duke-para-dom-total-ganha-mencao-honrosa-no-premio-vladimir-herzog/> Acesso: 21 de julho de 2020, às 20h33.)

 

2º Passo: Realizar uma leitura conjunta com os alunos, através das seguintes questões:

1)      Que tipo de imagem é essa? Uma fotografia, uma pintura, uma charge, um desenho, uma xilogravura, uma litogravura, uma gravura em metal? (Se os alunos não souberem, explicar para eles as peculiaridades de cada tipo de imagem, incluindo a charge, é claro! Nesse caso, mostrar imagens de cada tipo enunciado na questão. Além disso, esclarecer que toda imagem é uma representação, como diria René Magritte, “Ceci n’est pas une pipe”. O professor até pode exibir uma representação da representação desse clássico, entretanto, deverá usar a tradução portuguesa: “Isso não é um cachimbo”.)

2)      Quando a imagem foi feita?

3)      Quem é o autor?  (Mencionar aos alunos alguns dados biográficos do artista, mostrar uma fotografia de sua pessoa e incluir algumas características típicas de seus trabalhos, em particular.)

4)      O que vocês veem na imagem? Descrevam.

5)      Quem a figura do homem representa? Como sabem? Supondo que respondam com base na legenda. Propor outra indagação:

6)      Olhando para a figura em si como dá pra saber que representa o Presidente Bolsonaro? (A ideia é que não vejam apenas alguma semelhança na representação, mas que pela faixa presidencial saibam que se trata de um governante dessa categoria, ainda que ele esteja mais para desgovernado – aliás, não mencionar essa opinião ou outra qualquer explicitamente para os alunos – é preciso que eles cheguem às suas próprias conclusões). O propósito da questão é mostrar-lhes que muitas respostas estão dentro das próprias imagens e não apenas nas informações escritas e, deixar claro que nem sempre as imagens tem legendas ou outras informações, mas que a partir de outros documentos, caso existam, podemos descobrir seu teor em termos de significado em cada época.

7)      O que significa a representação da pilha de ossos? De quem seriam esses ossos?

8)      Explique por que a figura do Presidente está situada no topo da representação dessa pilha de ossos?

9)      Por que as mãos da representação do presidente estão pintadas de vermelho?

10)  Por que a figura do Presidente diz: “E daí?”

11)  O que é que a Covid-19 tem a ver com a imagem?

12)  Há alguma ironia ou crítica social na imagem? Se sim, quais?

13)  Algum de vocês já ouviu ou leu em algum lugar que o Presidente é genocida?

14)   Vocês diriam que a imagem retrata uma situação de genocídio? Por quê?

 

Atividade 6:

1º Passo: Exibir o Documento 6:

Gráfico 1 – Fizemos esse gráfico no dia 26 de julho de 2021, trabalhamos com dados obtidos no IBGE – PNAD, disponíveis em <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6403#notas-tabela>Acesso: 26/072021, às 17h14. 

Gráfico 1 – Fizemos esse gráfico no dia 26 de julho de 2021, trabalhamos com dados obtidos no IBGE – PNAD, disponíveis em <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/6403#notas-tabela>Acesso: 26/072021, às 17h14.

 

2º Passo: Ainda mantendo os alunos em formação de pequenos grupos, ler parte do Gráfico 1 com eles através de perguntas e considerando o conceito de minoria social (a ser explicado na oportunidade, caso eles já não saibam):

Vamos considerar, primeiramente, os dados do 4º Trimestre de 2018 (dados esses escolhidos pelo Professor aleatoriamente, só para efeito de exercício comparativo a ser realizado pelos alunos).

1)      Olhando para a parte esquerda do gráfico (4º Trimestre de 2018), vocês sabem dizer qual era o número de habitantes da população brasileira naquele momento? Como chegaram nesse número? (Lembrando que o professor vai orientar os alunos para que cheguem à resposta certa explicando como chegaram à conclusão).

2)      Qual a porcentagem de indígenas, amarelos e pessoas que não declararam a que grupo pertenciam em 2018? Como chegaram a essa conclusão? (Se os alunos não souberem o que é porcentagem, o professor deverá ensinar de forma interdisciplinar).

3)      Podemos dizer que o número de indígenas era predominante na população do Brasil daquele momento? Justifiquem sua resposta.

4)      Considere a quantidade de pessoas pretas e some-as com a das pessoas pardas. Podemos considerar o resultado inexpressivo em relação à sociedade brasileira? Expliquem.

5)      Quem é minoria os brancos ou a soma de pretos e pardos? Justifiquem sua resposta. (O duplo sentido é proposital).

 

3º Passo: Manter os grupos e, propor que analisem a parte direita do gráfico (1º. Trimestre de 2021), respondendo às mesmas perguntas anteriores e pedir para que entreguem as respostas às quais chegaram através do exercício. A ideia é valorizar os dados sobre o recorte racial da população nacional (que serão úteis mais adiante, para que voltem às questões 13 e 14 da Atividade 5) e, também ajudá-los a lerem por si sós um gráfico com essa estrutura.

 

Atividade 7:

1º. Passo: Exibir o documento 7:

ESTATÍSTICA DO CORONAVÍRUS (COVID-19)

Gráfico 2 - Total de mortes por Covid -19, de 17/04/2020 a 17/07/2021, no Brasil

Gráfico 2 - Total de mortes por Covid -19, de 17/04/2020 a 17/07/2021, no Brasil

(Fonte: Estatísticas do coronavírus (COVID-19). Data de Publicação/Postagem: 17 de julho de 2021. Disponível em: <https://www.bing.com/search?q=gráfico+morte+covid+brasil&cvid=18cb6430f2ca4f50b44cf83f6186b440&aqs=edge..69i57j0.18659j0j1&pglt=163&FORM=ANNAB1&PC=DCTS>. Acesso: 22 de julho de 2021, às 16h16).

 

2º. Passo: Com os alunos reunidos em pequenos grupos, ler o Gráfico junto com eles através de indagações como:

1)      Do que se trata o gráfico? Como sabem?

2)      A curva é decrescente ou ascendente? (Explicar os termos se não souberem, por meio de outros gráficos). Como chegaram a essa conclusão?

3)      O que pensam sobre esse gráfico? Ele trata de acaso ou de fato? Expliquem.

 

Atividade 8:

1º Passo: Exibir o Documento 8:

 

NEGROS MORREM MAIS POR COVID-19

Pretos e pardos também têm mais chance de ser infectados e correm maior risco de hospitalização

Lethicia Pechim

Homens negros são os que mais morrem pela covid-19 no país: são 250 óbitos pela doença a cada 100 mil habitantes. Entre os brancos, são 157 mortes a cada 100 mil. Os dados são do levantamento da ONG Instituto Polis, que analisou casos da cidade de São Paulo entre 01 de março e 31 de julho. Entre as mulheres, as que têm a pele preta também morreram mais: foram a 140 mortes por 100 mil habitantes, contra 85 por 100 mil entre as brancas. Outro levantamento, desta vez pelo IBGE, mostrou que mulheres, negros e pobres são os mais afetados pela doença. A cada dez pessoas que relatam mais de um sintoma da covid-19, sete são pretas ou pardas. Esse padrão se explica por desigualdades sociais e pelo preconceito.

Na avaliação do médico infectologista e professor de Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Unaí Tupinambás, a explicação para essa diferença é a desigualdade social e econômica. “Durante a pandemia, a desigualdade foi escancarada. A mortalidade da população negra é muito mais alta, não só no Brasil, mas também na Europa e nos Estados Unidos. Claro que nós temos que considerar aqueles determinantes sociais da doença, que são muito importantes para a evolução de qualquer doença. A população negra e periférica tem condições de saúde muito mais precárias”, analisa.

“Eles moram em condições precárias, trabalham em condições precárias, não podem fazer trabalho remoto e têm que sair de casa para ganhar o pão, pegam transporte público inadequado… Claro que vai impactar mais, infelizmente, nessa população negra e periférica”

Esclarece o professor Unaí Tupinambás

Além das diferenças socioeconômicas, fatores biológicos também podem ser apontados. Análise de dados realizada por cientistas do King’s College de Londres concluiu que, quando são infectadas pelo novo coronavírus, pessoas negras têm risco três vezes maior de serem internadas, em comparação a brancos. Segundo o estudo, o risco de pacientes negros permanece maior mesmo após o ajuste de condições socioeconômicas e de acesso a serviços de saúde. Para Tupinambás, a soma dos fatores sociais e biológicos pode ser fatal. “Hoje, a OMS [Organização Mundial da Saúde] não fala em pandemia da covid-19, considera uma sindemia – que é o conjunto de várias condições que favorecem a forma mais grave da doença. Nós temos a pandemia de obesidade, hipertensão arterial, diabetes melitus, tabagismo, sedentarismo… isso tudo favorece a covid-19 mais grave”, pontua.

“A prevalência dessas condições é muito maior na população negra e periférica, que não tem condições de acesso à saúde e à boa alimentação. Já tem o risco inerente da condição prévia de saúde e esses determinantes sociais impactam muito negativamente na evolução da covid-19”

Alerta Tupinambás

Para reverter a situação, é preciso buscar formas de equidade de acesso e políticas afirmativas. Ainda segundo o professor, para combater essa situação é preciso ter uma mudança no cenário cultural e social do país como ampliar ações de inclusão social e aumentar o número de cotas. “Temos muita coisa para fazer para combater esse racismo institucionalizado. Essa dívida que tem mais de 300 anos de escravidão no Brasil é quase que impagável. Se a gente não revisitar isso e ampliar as ações afirmativas, a gente vai ter ainda momentos muito complicados no enfrentamento da pandemia nessa população”, ressalta.

Desde maio, o registro de raça é obrigatório nas notificações da covid-19 no país. A medida permite mapear e pensar ações voltadas para a população negra.

 

Além da covid-19, doenças evitáveis e crônicas também afetam mais a população negra.

As chamadas doenças evitáveis têm maior incidência na população negra. É o caso das infecções sexualmente transmissíveis, tuberculose, hanseníase e até mortes maternas e de recém-nascidos. Para se ter uma ideia, estimativa do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) indica que havia cerca de 44 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no mundo em 2017, 58,1% dos casos de HIV registrados ocorreram em pessoas negras. Já no boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde sobre HIV/AIDS em novembro de 2019, quando analisados os casos de AIDS nos últimos dez anos e a distribuição dos indivíduos pelo quesito raça/ cor, houve queda de 20% na proporção de casos entre pessoas brancas. No mesmo período, a redução foi de 1% para as pessoas negras, enquanto houve aumento de 20,5% para as amarelas, 37,7% para as pardas e 100% para a população indígena. O boletim aponta, ainda, que, desde 2009, os casos de AIDS são mais prevalentes em mulheres pretas e pardas, enquanto entre homens isso ocorre desde 2012.O risco de morrer por essas doenças evitáveis também é maior entre pretos e pardos. Para continuar no exemplo do HIV/AIDS, 58,7% dos óbitos pela doença são de negros. Outro caso: segundo informações coletadas pelo DataSUS, mães que morrem por causas relacionadas à gravidez, parto e pós-parto são, em sua maioria, negras, jovens e de baixa escolaridade. Para a professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Joilda Nery, alguns fatores, além dos determinantes estruturais, podem ser causa para esses números: como os cenários políticos econômicos e sociais, acesso ao serviço de saúde, entre outros.

“O diálogo com os profissionais de saúde e poder pagar ou não por uma medicação, moradia, renda e alimentação, políticas de proteção social e aposentadoria são determinantes para estas doenças”

Aponta a professora Joilda Nery

 

No caso de doenças crônicas, como colesterol alto, hipertensão e diabetes, essas doenças também são mais comuns na população negra. Mas isso não significa que a população negra é doente, já que o adoecimento advém de uma menor qualidade de vida. O grupo é mais vulnerável às doenças porque está sob maior influência dos determinantes sociais de saúde. “É fundamental contar com atenção à saúde acessível e de qualidade, o que, infelizmente, nem sempre está disponível para a população negra em função do racismo institucional, que se expressa por meio de práticas, atitudes, normas e também formas organizativas discriminatórias e excludentes, que criam barreiras ao cuidado com a saúde e também são associados a baixos resultados terapêuticos”, avalia a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Elis Borde.

“Vários estudos nacionais e internacionais apontam que o risco elevado da diabetes tipo dois entre homens e mulheres negros está associado à experiência do racismo, que gera estresse crônico capaz de configurar ou funcionar como desencadeador de processos físio-patológicos”

Relata a professora Elis Borde

 

Racismo no sistema de saúde

A cada 5 brasileiros que possuem somente o SUS como serviço de saúde, 4 são negros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2015, das pessoas que já se sentiram discriminadas nos serviços, por médicos ou outros profissionais de saúde, 13,6% destacam o viés racial da discriminação.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a população negra apresenta os piores indicadores de saúde se comparadas aos brancos. Além disso, 37,8% da população adulta e negra brasileira considera a própria saúde entre regular e muito ruim. Entre os brancos, a taxa é de 29,7%. Os dados são do Ministério da Saúde e apontam também que a proporção de pretos e pardos que fizeram consultas médicas em um ano é menor que a média nacional.

 

(Fonte: PECHIN, Letícia. Negros morrem mais pela covid-19 - Faculdade de Medicina da UFMG. Data de Publicação: 24 de novembro de 2020. Disponível em: <https://www.medicina.ufmg.br/negros-morrem-mais-pela-covid-19/> Acesso: 22 de julho de 2021, às 17h35.)

 

1º. Passo: Fazer uma leitura minuciosa com os alunos, esclarecendo parte por parte e pedindo para que façam perguntas no caso de desconhecerem algum elemento, seja de qualquer natureza.

2º Passo: Fazer as seguintes questões:

1)      A quem a autora escreveu? Por quê?

2)      Qual era a conjuntura histórica do momento em que a autora escreveu o texto? Justifique sua resposta.

3)      Você diria que é atual ou não? Explique.

4)      Considere o seguinte trecho do documento:

“Para reverter a situação, é preciso buscar formas de equidade de acesso e políticas afirmativas. Ainda segundo o professor, para combater essa situação é preciso ter uma mudança no cenário cultural e social do país como ampliar ações de inclusão social e aumentar o número de cotas. “Temos muita coisa para fazer para combater esse racismo institucionalizado. Essa dívida que tem mais de 300 anos de escravidão no Brasil é quase que impagável. Se a gente não revisitar isso e ampliar as ações afirmativas, a gente vai ter ainda momentos muito complicados no enfrentamento da pandemia nessa população”, ressalta [Unaí Tupinambá, entrevistado pela autora]

a)      Identifiquem a “situação” sobre a qual o trecho trata e descreva-a.

b)      O que é equidade? (Caso não saibam o professor deverá explicar o que é e por que essa palavra não é sinônimo de igualdade, além de citar exemplos para os alunos do tipo “Se um homem e uma mulher precisam pagar as contas juntos, de uma forma justa e, sabendo que o homem ganha mais do que a mulher: o justo seria eles dividirem o valor meio a meio, ou o justo seria cada um pagar a mesma porcentagem dos seus respectivos salários?

c)      O que são “políticas afirmativas”? (Caso não saibam, o professor deverá elucidar a questão e citar exemplos)

d)     O que são cotas?  (Cabe ao professor esclarecer, caso não tenham compreendido durante a leitura).

e)      O que é racismo institucionalizado e o que tem a ver com a escravidão? (Perceber se os alunos identificam o que é e caso não tenham compreendido essa relação o Professor deverá esclarecê-la e citar muitos exemplos).

f)       Considerando o que foi discutido sobre Genocídios, você acredita que a escravidão foi uma forma de genocídio contra a população negra? Por que?

g)      E o racismo institucionalizado é outra forma de Genocídio? Ou tem a mesma lógica da escravidão, só que mais atualizada? (Citar exemplos como desemprego, subemprego).

h)      Você concorda ou não com a opinião de Unaí Tupinambá? Justifique sua resposta.

5)      As pessoas negras são mais atingidas pelo coronavírus e por outros tipos de doenças, como a AIDS? Por quê?

 

Atividade 9:

 

1º Passo: O professor deverá voltar aos documentos anteriores e fazer uma síntese junto com os alunos.

2º Passo: Retornar ao “2º passo” da “Atividade 5” (p. 23) e perguntar se responderiam três das perguntas sugeridas de forma diferente (Questões 7, 13 e 14).

3º Passo: Propor uma atividade individual sob o formato de redação dissertativa (caso não saibam o que significa, o Professor deverá explicar) utilizando o que aprenderam sobre genocídios e fazendo a leitura do seguinte documento (Documento 9):

 

Faixa de manifestantes aberta na Esplanada dos Ministérios: “Bolsonaro genocida”, Época, 18/03/2021

Faixa de manifestantes aberta na Esplanada dos Ministérios: “Bolsonaro genocida”, Época, 18/03/2021

(Fonte: Época. Faixa de manifestantes: ‘Bolsonaro genocida’. Data de Publicação/Postagem: 18 de março de 2021. Disponível em: <https://epoca.globo.com/guilherme-amado/manifestantes-com-faixa-bolsona…;. Acesso: 27 de julho de 2021,  às 16h58.).

 

Atividade 10:

Sugerir aos alunos uma autoavaliação contendo o que não sabiam e o que aprenderam, o que julgam como fácil ou difícil, etc.

 

Referências bibliográficas citadas:

FREIRE, Paulo & SHOR, Ira. O sonho da transformação social: como começar segunda-feira de manhã? Temos o direito de mudar a consciência dos alunos? In: Medo e Ousadia – O cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986, p. 203-220.

 

ZABALA, Antoni. Os enfoques didáticos. In: COLL, César; MARTÍN, Elena, et all (org.). O construtivismo em sala de aula. São Paulo: Ática, 1996, p. 153-196.

 


[1] A intenção aqui é tratar da Segunda Guerra, enfatizando a questão do Holocausto.

Referencia
Graduandos