A São Paulo dos Grafites

Victor de Medeiros Anderson

USP: 9352382

 

FLH0425  - Uma História para a Cidade de São

Paulo: Um Desafio Pedagógico

Profa Ora. Antonia Terra de Calazans Fernandes

 

 

 

A São Paulo dos Grafites

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Introdução

 

 

A cidade de São Paulo, neste trabalho, é analisada sob um recorte do final dos anos 70 até os dias atuais. Isto se dá por dois motivos: I) conforme destacado por Teresa Caldeira1, os empreendimentos imobiliários longe do centro, pensados para a elite paulistana, tornaram-se significativos no final dos anos 70, e, com estes, cresce também uma tendência de se atribuir maior segurança ao enclausuramento por muros ao longo de todas as moradias da cidade; II) estes muros serão revestidos de grafites à partir do final dos anos 702, por artistas como Alex Vallauri, até os dias atuais, por grafiteiros (em certos momentos, denominados de artistas urbanos). O objetivo deste material é trazer uma nova visão aos grafites, os quais servem como valiosíssimos suportes da evolução histórica da cidade São Paulo, por configurarem crítica ao meio urbano, bem como registro de anseios sociais   e   de   disputas   entre   público   e  privado,  conforme  demonstrado  por reportagens destacadas durante o governo do prefeito João Dória, em 2017.

 

 

 

Obs.: As imagens que não estão identificadas através de fontes (imagens feitas por terceiros), são de autoria de Victor de Medeiros Anderson, e foram retiradas no Bairro da Vila Madalena, São Paulo, entre setembro e outubro de 2019.

 

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1 CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros - Crime, segregação e cidadania em São Paulo. SP: Editora 34; EDUSP, 2000, p. 260-263.

2 “Grafite - Uma forma de arte pública”, por Valéria Peixoto de Alencar. Disponível em:

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/grafite-uma-forma-de-arte-publica.htm.

 

Proposta didática:

 

 

A proposta didática deste projeto foi pensada para duas aulas de 50 min cada, para alunos de ensino médio (1º ao 3º ano). Cada aula possui atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, bem como os principais pontos para debate entre os alunos. Sugere-se ao professor que peça aos alunos a leitura prévia (i) do capítulo 8 do texto “Cidade de muros - Crime, segregação e cidadania em São Paulo”, de Teresa Pires do Rio Caldeira (SP: Editora 34; EDUSP, 2000, p. 301-340); e (ii) do artigo “Grafite - Uma forma de arte pública”, de Valéria Peixoto de Alencar (Fonte:

https://educacao.uol.com.br/disciplinas/artes/grafite-uma-forma-de-arte-publica.htm).

 

 

Aula 1:

 

 

Na primeira parte da aula, o professor deverá perguntar aos alunos as suas opiniões acerca dos textos de leitura prévia, tendo por objetivo:

-     a verificação por parte dos alunos se os textos correspondem à realidade por eles vividas em São Paulo (ou mesmo em outra cidade, que pode também apresentar características como segregação por muros, grafites entendidos como pichação, etc.);

-     quais  pontos  positivos e negativos os alunos veem na transformação da paisagem urbana apontada pelos textos; e

-     indagar se o grafite se insere como elemento de violência ou invasão do espaço privado da população (perguntando aos alunos como eles veem os grafites em seus bairros), ou se deve ser protegido como patrimônio cultural e artístico (como algo de valor público).

 

 

Em seguida, na segunda parte da aula, o professor dividirá os alunos em grupos de 3 à 4 pessoas, os quais receberão um dos dois Tipos de grafites abaixo, para discussão entre eles. As imagens foram divididas por temas (explicados por citações) e reportagens sugeridas como forma de fomentar diferentes análises dos grafites entre os grupos:

 

 

Tipo 1:

Tema - Grafite como forma de manifestação à margem da sociedade: “a arte de rua é espontânea, reflexiva e, sobretudo, não pede permissão para existir. As paredes e os muros que cercam os grupos sociais sempre serão alvos de manifestações criativas e expressivas carregadas pelo graffiti. A essência do graffiti é rebelde. Existe para denúncia social e o despertar reflexivo.”3

 

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3 CHICO, Alana Cristina Teixeira. Graffiti: arte de rua e espaço escolar. 2017. Dissertação (Mestrado)

– Programa de Pós Graduação em Educação, Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, Cuiabá, 2017. Pág. 56.

 

 

 

Reportagem: "Daria apaga grafites em avenida e cria polêmica em SP". Jornal O Globo, 23/01/2017.4

 

Imagem Doria apaga grafites em avenida e cria polêmica em SP 

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4  https://oglobo.globo.com/brasil/doria-apaga-grafites-em-avenida-cria-polemica-em-sp-20815081

 

 

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(Neste  lê-se:  “SAIR  NÃO  PARA  VER  NOVOS  LUGARES,  MAS  SAIR  PARA ABRIR  NOVOS OLHARES…”)

 

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(Fonte: Galeria de arte A7MA. Disponível em: https://a7ma.art.br/arte/pressao-karen-fidelis/)

 

 

 

 

Tipo 2:

Tema - Quais histórias estão sendo contadas pelos grafites de São Paulo?: “A Arte do Grafite é uma manifestação artística uma linguagem popular, onde os apreciadores podem debater sobre o temas ou admirar a beleza estética, em meio a vida nos grandes centros urbanos.”5.

 

 

Reportagem: “Após apagar grafite e pichação, Doria anuncia Museu de Arte de

 

Rua”.  Jornal  O  Estado  de São Paulo, 26/01/2017.6

 

(os editais para criação do

 

Museu de Arte de Rua - MAR, publicados em março e setembro de 2017 pela prefeitura, estão disponíveis em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/noticias/?p=22225).

 

 

 

 

 

Imagens:

 

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(Fonte:    “Grajaú:     a    explosão    criativa    do   grafite”,    por    Augusto    Lins    Soares.    Fonte: https://casavogue.globo.com/LazerCultura/Arte/noticia/2015/08/grajau-explosao-criativa-do-grafite.ht ml.)

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(Lê-se: “Centro Cultura Grajaú”. Fonte: http://cidadedesaopaulo.com/v2/dicas/criolo/?lang=br.)

 

 

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“A     lenda     do     brasil”,     por     Eduardo     Kobra.     São     Paulo,     Brasil     (2015).     Fonte:

http://www.eduardokobra.com/senna/

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grafite14

(4 grafites do projeto “Muros da Memória”, de Eduardo Kobra. Fonte:

http://www.eduardokobra.com/projetos/)

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(Fonte:

http://streetartsp.com.br/artista/desconhecido/compartilhado-por-samba-do-graffiti-em-dec-21-2016-1

636/ . No canto inferior direito lê-se: “Achei o último igarapé no fundo do meu coração e nele lavei minha alma”)

 

 

 

Aula 2:

 

 

Na primeira parte da aula, o professor intermediará o debate entre os grupos que receberam os grafites do Tipo 1 e 2, propondo as seguintes questões para articular as diferentes análises feitas pelos grupos durante a Aula 1:

-     os enclaves fortificados expostos por Teresa Caldeira são um estímulo ao grafite?;

-     se sim, o grafite sempre terá uma essência rebelde, de crítica, ou pode ser também uma forma de “arte”, como propôs o prefeito João Dória no projeto de um novo museu?; 

 

- se as ruas podem ser entendidas como a “vitrine social” da cidade, qual o
aspecto que os grafites mais destacam de São Paulo após as transformações
iniciadas no final dos anos 70?.

 

 

Após o debate, na segunda parte da aula, o professor pode expor a história do Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo7 (MAAU), bem como expor o roteiro temático criado pela prefeitura de São Paulo intitulado “Arte Urbana”, com 13 locais da cidade que oferecem uma perspectiva da metrópole através de inúmeros grafite8, como forma de demonstrar as possibilidades de coexistência “pacífica” (com ênfase na diversidade do olhar sobre a cultura e a cidade proporcionada pelo grafite como arte urbana) do grafite com a cidade.

 

O roteiro temático surgiu em abril de 2017, após as disputas acerca do grafite protagonizadas pelo então prefeito João Dória, e visam uma forma alternativa de turismo da cidade. O MAAU, por sua vez, também contou com apoio público do município, porém teve uma história de criação bem mais conturbada, conforme notícias da Folha de São Paulo9, e de site da própria prefeitura (abaixo):

 

 

Binho [Fabio Luiz Santos Ribeiro, um dos 2 curadores do MAAU] ressalta, com orgulho, que o projeto, na verdade, começou em abril [de 2011] quando ele e seu grupo foram detidos nesse mesmo local por não possuírem autorização legal para pintar as colunas do Metrô da Avenida Cruzeiro do Sul.

‘Resolvemos pintar por nossa conta e aí o bicho pegou. Na delegacia, amadurecemos   a   ideia,   rascunhamos   um   projeto   e   apresentamos   à Secretaria de Estado da Cultura, ao presidente do Metrô e à diretora da SP-Urbanismo. O Paço das Artes entrou na parceria e agora estamos oferecendo a São Paulo o Museu Aberto de Arte Urbana, inédito no Brasil e no mundo’.

 

 

Nas duas aulas, portanto, foi importante o professor apresentar o cenário de São Paulo à partir do final dos anos 70, permitindo ao aluno melhor entender porque o grafite surge em momento análogo na cidade. Os enclaves fortificados, com seus muros, tornam-se estímulos à forma de expressar toda a opressão que a população vive, principalmente os menos favorecidos: ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas, e da transformação que estas viveram. Como forma de estimular ainda mais o debate, o professor pode sugerir aos alunos que tragam fotos de grafites de seus bairros, ou de lugares pelos quais passaram, permitindo assim a comparação das diferentes realidades/olhares de cada um dos alunos sobre a importância do grafite como expressão da história de uma cidade (intuito também pretendido pela análise
das imagens na segunda parte da Aula 1).

 

 

 

7 Para maiores informações, bem como galeria de fotos, ver https://museuabertodearteurbana.wordpress.com/

8 Fonte: http://cidadedesaopaulo.com/v2/wp-content/uploads/2017/04/Arte-Urbana.pdf

9 “Grafiteiros criam Museu Aberto de Arte Urbana em São Paulo”, por Julianna Granjeia. Jornal Folha de São Paulo, 03/10/2011. Fonte:

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2011/10/984782-grafiteiros-criam-museu-aberto-de-arte-urban a-em-sao-paulo.shtml

 

 

Referencia
Graduandos
Anexo Tamanho
A São Paulo dos Grafites.pdf 5.94 MB