Trabalho comparativo entre História, Futebol e Violência

Aluno (a): Bruno Pereira Silva Cunha
Disciplina USP: Ensino de História: Teoria e Prática - 2008
Docente responsável: Professor : Maurício Cardoso
 

 

INTRODUÇÃO :

Este Plano de Aulas tem por finalidade abordar a análise do futebol, não somente como um aspecto lúdico, mas como objeto de estudo na disciplina de História a partir de materiais iconográficos, fonográficos, textuais e com o envolvimento de mídias. Este Plano tem a duração de três (03) aulas e insere-se em um planejamento de Ensino de História para alunos do Ensino Médio.

Essa atividade pode ser incluída em um planejamento que vise trabalhar com os alunos em eixos didáticos que possam abrir margem a temas transversais, como por exemplo, o futebol. O tema central se refere à História dos cidadãos, proposta esta que busca refletir temas diretamente ligados com o modo de vida de nossa sociedade contemporânea.

Os métodos utilizados nessa proposta seriam: trabalhar com documentos visuais e textuais, elaboração de painéis acerca de um determinado tema, mostrar diferentes versões sobre um assunto a partir da utilização de uma bibliografia atualizada.

Os objetivos desse planejamento seria inserir os alunos em discussões que envolvessem suas realidades, como desenvolver a leitura crítica de determinadas obras que os levem a discutir direitos, cidadania, mundo do trabalho, dominação, resistência, entre outros temas.

O tema abordado nesse Plano de Aulas se articula com o planejamento de Ensino de História através da percepção de que o futebol, tomado enquanto proposta pedagógica, pode ser encarado como um instrumento que proporcione aos alunos um assunto rico para ser tratado em sala de aula.

O futebol, tomado como manifestação cultural e reconhecido como fenômeno social, tem dimensões positivas ligadas ao espetáculo, à motivação e à alegria das pessoas. Por outro lado, traz também a violência, parte integrante dos noticiários esportivos, tanto em campo, entre os jogadores, quanto na arquibancada, entre os torcedores.

Introduzido no Brasil há mais de cem anos, a historia social do futebol possui características únicas, que perpassam desde uma série de processos e episodio que constituem no desenvolvimento industrial e urbano, envolvendo diferentes agentes históricos, como a classe operária, estudantes, negros, brancos, colocando esse esporte num patamar, em sua trajetória, de entretenimento de elite para um elemento da cultura popular brasileira.

E o que está na raiz do fascínio pelo futebol, não somente no Brasil, como ao redor do mundo, reside no elemento do acaso que permeia esse esporte. Tal elemento promove nos torcedores um misto de alegria e tristeza, apreensão e relaxamento que se projetam no torcedor durante os 90 minutos de uma partida.

Como o futebol pode ser encarado como uma metáfora da vida nos planos internos ( anseios, medos, expectativas…) e externo (sociais , econômicos e políticos) no tocante ao indivíduo inserido na sociedade, faz-se presente a idéia de que o futebol serve para canalizar e controlar as emoções que o individuo – torcedor tem em sua vida cotidiana, representada pelo trabalho , vida escolar , entre outros aspectos cotidianos.

Essas emoções, em contato com uma diversidade de torcedores, entre eles, organizados, acabam excedendo o limite do controle, provocando brigas generalizadas a partir de uma “faísca” provocada dentro ou fora de campo, como um xingamento qualquer, um gol perdido, entre outros motivos que levam desde discussões entre torcedores a verdadeiras batalhas campais.
Cabe salientar aqui que existem diversas interpretações sobre esse tema como as que evidenciam o caráter socioeconômico sobre as razões da violência, assim como outros trabalhos lidam com a tese da perda do efeito tranqüilizante do grupo; ou através da comparação antropológica entre “caça ritual” e “caça concreta”; e também com a explicação psicológica do “fenômeno do contágio”, decorrente do forte vinculo emocional entre seus membros. Esses modelos explicativos, tomados em sua radicalização, vêm de encontro com a explicação da violência nas torcidas organizadas.

Essa proposta teórica vem de encontro com o plano de aulas no tocante à justificação elaborada para sustentar determinadas afirmações e legitimar interpretações dos materiais iconográficos sugeridos nos anexos.

Esse tema pode ser incluído dentro do programa de História do Brasil (a partir do século XX), colocando assim como sugestão mais próxima à realidade dos alunos, realidade essa que pode matizada através da relação entre presente – passado – presente dos alunos.

Esse Plano de Aulas deve ser aplicado em três (03) aulas:

• Primeira aula: através do debate sobre “tempo livre” com os alunos, nessa primeira parte, busca-se mostrar aos alunos como o futebol pode ser tratado como fenômeno social.

• Segunda aula: aprofundar a discussão sobre o futebol através da interpretação de materiais iconográficos, textuais e fonográficos e estabelecer relações entre esses materiais.

• Terceira aula: mostrar aos alunos como a violência presente no futebol pode ser considerada como um reflexo do que se passa na sociedade e mostrar que não existe somente uma explicação para se compreender tal fenômeno.

Os objetivos que se propõe esse trabalho são:

- entender a dimensão do futebol como cultura e situá-lo em um determinado contexto histórico;

- valorizar os aspectos positivos do futebol;

- repudiar a violência que acontece entre jogadores e torcedores de futebol;

- mostrar que o futebol deve ser entendido em conjunto com as disciplinas humanas, não somente como um fator lúdico explorado pelos meios de comunicação.

PROPOSTA DE TRABALHO:

• Primeira Aula:

Objetivo: compreender aspectos sociais e culturais ligados ao futebol através de discussões entre alunos e professor e mostrar, através de vídeos, como o futebol absorve determinados sentimentos para o cotidiano.

a) Inicialmente, realizar uma discussão com os alunos, com estes dispostos em círculo na sala, na qual eles mostrem o que eles pensam a respeito do “tempo livre” através de questões como : “ O que vocês fazem no tempo livre ?”. A partir das respostas dos alunos, mostrar que o lazer é uma das principais formas de “tempo livre” (como usar a internet, ver televisão, ouvir música, etc..) , e que o futebol pode ser inserido nesse conceito de lazer. Essa atividade pode ser realizada em 10 minutos.

b) Com a inserção do futebol na concepção de lazer, o professor deve realizar a parte expositiva da aula, na qual deve colocar o futebol como um fenômeno social que envolve um universo de significações simbólicas, econômicas, políticas, religiosas, culturais e históricas.. Aproximadamente 5 minutos.

c) Logo após essa exposição, passar dois vídeos que possuem a temática do futebol: Barbosa ( 12 minutos) (ANEXO 1 ) e um trecho do filme Boleiros ( 02 minutos) (ANEXO 2). A partir desses vídeos, voltar ao debate com os alunos sobre como o futebol está inserido na vida cotidiana da sociedade, e mais precisamente, na vida dos próprios alunos através das contínuas notícias sobre esse esportes nos meios de comunicação.

d) Como atividade final dessa aula, propor aos alunos que redijam um texto pequeno, no máximo 10 linhas, sobre como o futebol influencia, de uma forma positiva ou negativa, na vida dos alunos.

• Segunda aula:

Objetivo: colocar os alunos em contato com materiais fonográficos, iconográficos e textuais para estabelecerem conexões entre o futebol e os diversos campos da sociedade como economia, política e cultura.

a) Dividir a sala em grupos de 5 ou 6 alunos. Distribuir as imagens que contenham aspectos futebolísticos para os grupos. (ANEXO 3)

b) Colocar um artigo de Armando Nogueira, Pelada de Subúrbio, no retroprojetor, para que os alunos em sua totalidade visualizem tal material. (ANEXO 4)

c) Colocar os alunos em contato com o material fonográfico, através das músicas de Jorge Ben (“Fio Maravilha”, “Zagueiro”,). (ANEXO 5)

d) Após o trabalho com esses materiais, apresentar aos alunos questões que remetam o futebol aos aspectos que moldam a sociedade como cultura, economia e política. Associar essas questões ao contexto histórico presente nas imagens com as músicas e o texto, e se possível, estimular os alunos para realizarem um exercício intelectual de associação entre presente – passado – presente através de exemplos absorvidos por eles através de notícias que tenham visto em algum meio de comunicação. Exemplo dessa atividade se constitui em escolher uma imagem (Médici cabeceando uma bola de futebol), e explorar seu contexto histórico ou escolher um par de imagens (a imagem citada anteriormente junto com a imagem da torcida Gaviões da Fiel com uma faixa da anistia) e estabelecer uma comparação entre as duas. No decorrer da atividade, o professor deve ir passando pelos grupos a fim de sugerir comparações, tirar dúvidas, mostrar caminhos que possam ser explorados pelos alunos.

e) Por fim, ainda mantidos em grupo, o professor deverá recolher as impressões obtidas pelos alunos. Esse recolhimento deverá ser feito através da forma oral, partindo de um aluno que represente cada grupo e mostre à sala o que o grupo pensou a respeito do futebol e suas relações com a sociedade. Essa atividade em grupo deverá ocupar o tempo de aula.

• Terceira aula :

Objetivo: mostrar como a violência presente no futebol pode ser pensada através de outros vieses, revelando através de um vídeo, sua face descontrolada.

a) Introduzir o tema da “violência no futebol” sob a forma expositiva aos alunos. Mostrar que ela é considerada como uma decorrência do não-controle das emoções em um ambiente propício para a potencializacão das emoções, que no caso, o futebol é considerado como um canal extremamente relevante para tal ação.

b) Questionar os alunos a respeito do tema. Perguntas simples para dar seqüência ao programa como “Algum de vocês já foram ao estádio de futebol?” ,“ Já presenciaram cenas de violência entre torcidas ?”, “O que acham que provocam essas cenas de violência?” . A partir de essas perguntas serem respondidas oralmente, encaminhar a aula para a execução do vídeo.

c) Vídeo: “Batalha do Pacaembu” (10 minutos) (ANEXO 6).

d) Após a execução do vídeo, perguntar aos alunos o que acharam sobre o vídeo, buscando sempre indicar aos alunos relações não somente com a violência, mas trabalhar em conjunto com o futebol e a própria realidade dos alunos. Como por exemplo, perguntar a eles como a violência promovida no estádio pode criar seqüelas na sociedade.

e) Como atividade final, propor a seguinte atividade individual e escrita. Sugerir aos alunos que se imaginem como integrante de uma torcida organizada e tivessem que dar uma entrevista a um jornalista; outra sugestão é a de que se situassem como um jornalista e que tivesse que elaborar um artigo contra as torcidas organizadas; e por último, que se situassem como um diretor da Federação Paulista de Futebol e tivessem que, se não resolver, propor soluções que amenizassem a violência nos campos de futebol. Essa atividade tem como intuito colocar os alunos que não tem muita habilidade em falar em publico em uma posição que lhes favoreçam uma melhor maneira expressarem suas idéias, além do professor observar o que foi absorvido pelos alunos nessas três aulas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Este trabalho buscou apresentar aos alunos o futebol enquanto objeto de estudo e como um tema pedagógico a ser explorado. A metodologia utilizada aqui foi a de usar materiais iconográficos, fonográficos e mídias na tentativa em se fazer uma aula dinâmica e voltada ao interesse que boa parte dos alunos tem sobre esse tema.

Obviamente, podem aparecer desafios não solucionados, como a falta de segurança na pesquisa teórica, deixando de colocar determinados conceitos para elucidar melhor alguma dúvida que venha a ser suscitada em sala de aula; outras formas didáticas e pedagógicas deixaram de ser colocadas nesse trabalho, como por exemplo, visitar o Museu do Futebol ou agendar entrevistas com ex-jogadores e/ou integrantes de torcidas uniformizadas.

Portanto, o que se buscou nesse plano de aulas foi o inserir o futebol como um tema pedagógico, não limitando esse tema apenas a discussões inócuas em diversos espaços, mas pretender, muito menos realizar uma análise profunda sobre o futebol, mas, dentro das limitações existentes, houve aqui um esforço para a análise e uma melhor compreensão deste tema tão rico e de interpretações diversas, sempre enfatizando a participação dos alunos para que possam contribuir em sala de aula cada vez mais com a difusão do futebol enquanto instrumento pedagógico.

BIBLIOGRAFIA:

BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes, Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo, Cortez Editora, 2004

N. BRUNI, José Carlos. “Apresentação” in: Revista USP: Dossiê futebol. Número 22, 1994.

N. ELIAS e E.DUNNING , A busca da excitação, Lisboa, Difel, 1992.

FRANCO JÚNIOR, H., A dança dos deuses. Futebol, sociedade e cultura, São Paulo, Cia das Letras, 1990.

SEVCENKO, Nicolau. “Futebol, metrópole e desatinos” in: Revista USP: Dossiê futebol. Número 22, 1994.

 

Referencia
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