Protagonismo Negro na Luta pela escolarização e a busca de novas narrativas nos séculos XX e XXl

Universidade de São Paulo.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Departamento de História.

A Escola no Mundo Contemporâneo.

Profa. Dra. Antonia Terra de Calazans Fernandes.

Sequência Didática:

Protagonismo Negro na Luta pela escolarização e a busca de novas narrativas nos séculos XX e XXl.

Componentes do grupo: Ana Carolina Apolinário, nº USP: 7619249.
Claudia da Silva Macegossa, nº USP: 8576286. Marcelo Vitale Teodoro da Silva, nº USP: 6870812.

São Paulo
Segundo Semestre / 2014
Vespertino

 

 

 

Sequência Didática: Protagonismo Negro na Luta pela escolarização e a busca de novas narrativas nos séculos XX e XXl.

 

Introdução.

O presente material tem como ambição possibilitar discussões referentes ao processo de escolarização da população negra brasileira, ao longo do século XX e XXI. Nesse sentido selecionamos documentos, que podem tangenciar aspectos desse processo histórico evidenciando os conflitos presentes no mesmo. Tais conflitos podem ser elucidados a partir do processo histórico de exclusão da população negra do ambiente escolar, mas também salientando o protagonismo das comunidades negras para obter o acesso ao espaço escolar.

Desse modo, a seguinte sequência didática estrutura-se de maneira a trabalhar o percurso histórico das reivindicações negras, para acessar os espaços escolares, bem como, construir outras lógicas de representar a população negra no mesmo, portanto, trata-se de lutas históricas que corroboram na mudança de paradigmas educacionais, tal como, a confecção da lei 10.639, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação.

Por fim, é imprescindível demarcar os agentes históricos de um longo processo que culmina na lei. Para desta forma viabilizar uma compreensão atenta as dinâmicas, processos históricos e seus sujeitos, os movimentos negros de forma geral, e a população negra de forma específica, os quais são responsáveis diretamente pelas conquistas e transformações da educação brasileira, para que desta forma os protagonistas não sejam transformados em coadjuvantes.

 

1- Canções para reflexão:

 

  Garoto de Pobre
Compositor Geraldo Filme

Garoto de pobre / só pode estudar / em escola de samba / Ou ficar pelas ruas / jogado ao léu / implorando a bondade dos homens / aguardando a justiça do céu.

Seu lápis é sua baqueta / que bate o seu tamborim / ninguém olha este coitado / Senhor qual será o seu fim? Na escola de samba da vila / é onde ele vai estudar / ensaia o ano inteiro / tem provas no carnaval.
Ele desce dos morros / ele vem das vilas / e chega a cidade / alegra os turistas / recebe os aplausos da sociedade.

Se criar novos passos / criar nova ginga / ou compor um samba / está aprovado, recebe o garoto / o diploma de bamba.
Na escola de samba / aprende a rir, / aprende a sofrer, / aprende a chorar / mas não sabe ler / doutor qual o seu destino será?

Garoto de pobre / Só pode estudar / Em escola de samba / Ou ficar pelas ruas / jogado ao léu / implorando a bondade dos homens / aguardando a justiça do céu.

Seu lápis é sua baqueta / que bate o seu tamborim / ninguém olha este coitado / Senhor qual será o seu fim? Na escola de samba da vila / é onde ele vai estudar / ensaia o ano inteiro / tem provas no carnaval.
Ele desce dos morros / ele vem das vilas / e chega a cidade / alegra os turistas / recebe os aplausos da sociedade.

Se criar novos passos / criar nova ginga / ou compor um samba / está aprovado, recebe o garoto / o diploma de bamba.

Na escola de samba / aprende a rir, / aprende a sofrer, / aprende a chorar / mas não sabe ler / doutor qual o seu destino será?

 

 

  Negro Limitado
Racionais Mc’s,
Compositor: Edi Rock /Mano Brown

[...]

Negro Limitado.

"- Então, vocês que fazem o RAP aí, são cheios de ser professor, falar de drogas, policia e tal, e aí, mostra uma saída, mostra um caminho e tal, e aí..?” /

Cultura, educação, livros, escola. / Crocodilagem demais. / Vagabundas e drogas. / A segunda opção é o caminho mais rápido. / E fácil, a morte percorre a mesma estrada é inevitável. / Planejam nossa restrição. / Esse é o título. / Da nossa revolução, segundo versículo. / Leia, se forme, se atualize, decore. / Antes que os racistas otários fardados de cérebro atrofiado. / Os seu miolos estorem e estará tudo acabado. / Cuidado...! / O Boletim de Ocorrência com seu nome em algum livro. / Em qualquer arquivo, em qualquer distrito. / Caso encerrado, nada mais que isso. / Um negro a menos cotarão com satisfação. / Porque é a nossa destruição que eles querem. / Física e mentalmente, o mais que puderem. / Você sabe do que estou falando. / Não são um dia nem dois. / São mais de 400 anos. / Filho, é fácil qualquer um faz. / Mas cria-los, não, você não é capaz. / Ele nasce, cresce, e o que acontece? / Sem referência a seguir, cê terá que ouvir. / Um mal aluno na escola certamente ele será. / Mas um menino confuso. / No quarto escuro da ignorância. / Se o futuro é das crianças...! / Talvez um dia de você ele se orgulhara. / Você tem duas saídas. Ter consciência, ou, se afogar na sua própria indiferença. / Escolha o seu caminho. / Ser um verdadeiro preto, puro, informado. / Ou ser apenas mais um negro limitado.

[...]

 

 

  Negro Drama
Racionais Mc's

[...]
Tinha      um      pretinho,      /      Seu      caderno      era      um      fuzil,      /      Um      fuzil,      /      Negro      drama      /

Crime,futebol, música, caralho, / Eu também, vou consegui fugi disso ai, / Eu sou mais um, Forest Gump é mago, / Eu prefiro contar uma história real, / Vou contar a minha.... [...]

Problema com escola, / Eu tenho mil, / Mil fita, / Inacreditável, mas seu filho me imita, / No meio de vocês, / Ele é o mais esperto, / Ginga e fala gíria, / Gíria não dialeto. [...]

As canções acima narram às dificuldades ao ingresso e manutenção do ensino para com a comunidade negra.
Houve até mesmo a coibição da instrução primária aos negros na Província do Rio de Janeiro através da Lei n. 1, de 1837 e o Decreto nº 15, de 1839, sobre “Instrução Primária no Rio de Janeiro: “Artigo 3º São prohibidos de frequentar as Escolas Publicas:

1º Todas as pessoas que padecerem moléstias contagiosas.
2º Os escravos, e os pretos Africanos, ainda que sejão livres ou libertos”.1

O regresso conservador ocorreu de modo inconstitucional, pois o decreto ia contra a Constituição de 18242, que declarava cidadãos: “Os que no Brazil tiverem nascido, quer sejam ingenuos, ou libertos, ainda que o pai seja estrangeiro, uma vez que este não resida por serviço de
sua Nação”.

 

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1 Disponível em História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 18, p. 199-205, set. 2005.
2   Constituição  Política  do  Império  do  Brasil  (De  25  de  Março  de  1824),  Título  2º,  Art.  6,  I.  Disponível  em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao24.htm

 

 


2 - Depoimento de José Correia Leite, “E disse o velho militante”

“Mas, quando criança eu sofri muito, passei muita fome, muito frio. Era uma época em que São Paulo fazia um frio danado. E eu não tinha quem me orientasse. Muitas vezes ficava até tarde na rua. Às vezes eu dormia na casa de uma família negra que dava um agasalho para minha mãe. E mesmo quando eu morava lá com os italianos, eu encontrava um jeito de me relacionar. Eu não gostava é da comida deles. O pão italiano eu gostava, principalmente quando saía do forno. E os italianos, eles mesmos faziam os pães que duravam até 15 dias. O Pão ficava tão duro que só dava para comer molhado. Tinha momentos que eu salvava minha situação de fome com uma velha italiana chamada Mama Dominga. Essa italiana vivia de fazer pão. Para aqueles italianos que não faziam ela vendia. Eram carregados em sacos. Como ela tinha um marido muito velho, eu ia levar os pães para os fregueses dela, e assim, ganhava, uns pãezinhos em formato de boneca, ou então outros com ovo cozido no meio. Eu até punha um pouco de azeite de oliveira. E era assim que eu matava minha fome. Do contrário eu fui crescendo muito complexado... A outra dificuldade que tive na infância foi a vontade de apreender as coisas e não ter quem me ajuda-se a entrar na escola para ter um certo convívio.

 

Havia uma escola de uma moça, uma escola particular mista, pagava três mil réis por mês. Um dia eu estava brincando com uma roda, de repente eu tive a ideia e disse comigo: “Eu vou entrar nessa escola.” Fui falar com a moça e ela disse que eu precisava levar meus pais. Mas eu não podia contar com minha mãe. Então conversei com ela:

 

- Eu não tenho ninguém. A senhora não pode dar um jeito? Eu limpo o quintal ou faço qualquer outro serviço. Assim a senhora me ensina a ler.

 

Eu tinha muita vontade de apreender a ler. Havia um rapaz filho de família de classe média, com quem eu brincava. Os pais deles permitiam que ele brincasse comigo porque gostavam muito de mim. Eu ia lá no porão e o menino tinha uma porção de livros de Nique Carter, Sherlok Holmes, Búfalo Bill. Eram os fascículos da época. Eu tinha uma vontade louca de ler aquilo. Apesar dele me contar as histórias, eu achava que o que valia era ler. Isso me levou aquela ideia de entrar na escola. A professora achou muita graça e:

Tá bom. Você vem aqui amanhã. Você limpa o recreio.


Esta foi à primeira escola que eu entrei. Comecei entusiasmado com o livro de ABC dado pela professora. Mas não durou muito. Ela acabou mudando para o interior e fechou a escola. Me deu os livros e disse que o único aluno que ela sentia deixar era eu. Me aconselhou para continuar mesmo sozinho. Nesse meio tempo eu arrumei um emprego, com um italiano que morava na Rua
Conselheiro Ramalho, de ajudante de lenheiro e fazendo também trabalho de colcheiro. Em São Paulo as famílias de classe média para a cima usavam fogões a lenha. E havia umas carrocinhas que vendiam lenha por metro cúbico. Eu trabalhava com o italiano para ganhar dez mil réis por mês, casa e comida3.”

 

 

3 – Artigos dos Jornais “A vóz da Raça”, Jornegro e fotografia da Escola da Frente Negra em São Paulo.


“Ainda há grupos escolares que recebem negros porque é obrigatório, porém os professores menosprezam a dignidade da criança negra, deixando-os de lado para que não aprendam, e os pais pobres e desacorçoados pelo pouco desenvolvimento dos filhos resolvem tirá-los da escola e entregar- lhes serviços pesados”.

(Olimpio Moreira da Silva, O que foi a raça negra, A vóz da Raça, 1(32) 17/02/1934, p.2).


“Pois bem se o indivíduo não esta em condições de ensinar o negro, e conveniente que deixem a sua cadeira a outro que o suporte, pois o governo paga aos mestres para ensinar as crianças e não para ensinar as crianças brancas”.

(A voz da Raça, 17, Março 1934 p.4)

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3  LEITE, José Correia. “E disse o velho militante - Depoimentos e artigos” - Organização e Texto CUTI, Luiz Silva - Secretaria Municipal de Cultura - São Paulo 1992. Página 25.

 

 


“A nossa campanha pós-instrução, iniciada a não sei quanto tempo, vem trazendo inúmeros benefícios quer na capital quer em Minas, Bahia ou Rio Grande do Sul, graças aos esforços das sociedades Beneficentes ou Clubes Instrutivos da gente de cor, que também se ressente da falta de apoio material e, muito lógico, essas aulas são ministradas em salinhas acanhadas, com bancos toscos e mesas de caixão, isso mesmo custeado por bolsa de particulares. Esses escasseam-se e faz se investir o auxílio do governo, somente fornecendo bancos e carteiras”.

(Raul J. do Amaral, Burrice, a Voz da Raça 2 (39) 23.06.1934, p1).


“O sentimentalismo envenenado das nossas escolas, com suas referências mais ou menos tolas ao “pretinho Benedito”, com os seus elogios de raposas ao Heroísmo de Henrique Dias, tem dado ao negro a impressão de que seus antepassados foram uns desgraçados e de que os jovens negros só por isso têm de ser uns vencidos. É preciso, porém que o negro tenha coragem de afirmar-se, pois não há motivos para temores, tudo o que existe no Brasil é obra do negro. Sem o negro não haveria o Brasil, logo, o negro tem de ser respeitado aqui dentro e quando não o quiserem respeitar ele deve reagir”.

(José Bueno Feliciano, O negro na formação do Brasil, A Vóz da Raça 1 (14) 26.096.1933, p.4).


“A arrancada gloriosa de Palmares tem sido desvirtuada por grande parte dos nossos historiadores. Acusam eles os heróis daquela epopeia gloriosa de ladrões, assassinos e outras coisas feias, esquecidos de que a história é tapeação; e já é tempo de deixar de tapeação e fazer-se coisas sérias, pois quando alguém procura uma crônica qualquer sobre os fatos da História Pátria o que deseja é instruir-se e não ser tapeado. Para que injuriar-se tanto os homens de Palmares, na mesma página do livro em que se elogia escandalosamente o ambicioso aventureiro Domingos Jorge Velho? Porque aqueles eram negros e aquele era branco?”

(José Bueno Feliciano, Em defesa de Palmares, A vóz da Raça, 1 (10) 20.05.1933, p.1).


“Pobre menino preto brincando com a turma:se imagina mocinho não cola os mocinhos são brancos como os outros se imagina tarzó se pendura no galho não cola porque eles o imaginam chita macaco chimpanzé orangotango. Não pode brincar de zumbi ou Toussaint - Louverture porque são heróis de verdade que ninguém conhece nem ele mesmo nunca ouviu falar”.

(Jornegro, v2, n.6 p.5 1979)

 


 

 


 



5- Reportagem do Caderno de Educação da Folha de São Paulo e Agência Brasil.


Bairros da elite de SP dominam vagas da USP.

30/05/2004-06h20
LAURA CAPRIGLIONE e FERNANDA MENA
da Folha de S.Paulo

Tudo começou com um erro. Aos 17 anos, Dário Ferreira Neto, saiu de Guaianases, no extremo leste de São Paulo, e foi procurar o posto do Exército em Osasco (zona oeste). Ia se alistar. Desacostumado com a geografia da região, o rapaz desceu do trem na estação errada. Quando se deu conta, estava no campus da Universidade de São Paulo. “Fiquei deslumbrado. Não tinha idéia do que era a USP", conta. "Saí de lá com uma idéia fixa: Vou estudar aqui. ”

Ferreira, que abandonara a escola aos 16 anos, antes de concluir o ensino médio, retomou os estudos. Aturou as gozações de seus próprios professores, que achavam absurdo o sonho de entrar na USP. Fez um ano de cursinho popular. Por fim, passou no vestibular do curso de letras.

Bem diferente é a trajetória de Luana Kawamura Demange, 23. Filha de professores universitários, Luana sempre soube que um dia estaria em uma faculdade pública. "Nem prestei vestibular nas particulares", conta. Entrou em arquitetura na Unicamp e na USP a instituição eleita por ela.

 

Ele é de Guaianases, um dos bairros mais pobres e violentos da zona leste. Ela é dos Jardins, o miolo da elite econômica e cultural paulistana.

 


Ele vem de uma família com renda inferior a um salário mínimo por pessoa, estudou a vida tod a em escolas públicas e só saiu de São Paulo pela primeira vez aos 19 anos. Ela tem família com renda superior a 20 salários mínimos, morou no Japão aos 13 anos e fala inglês, espanhol e francês.

Para se ter uma idéia do precipício que separa os locais de origem de Ferreira e de Luana, segundo o Mapa da
Juventude (estudo da Prefeitura de São Paulo sobre o perfil dos jovens da cidade), na região que inclui Guaianases,
43% dos jovens estão fora das escolas. Na região onde estão os Jardins, 63,4% dos jovens es tão matriculados em escolas particulares.


Em comum, os dois agora têm a instituição em que estudam: a USP. Só que, enquanto a presença de Luana na universidade é a regra, a de Dário é a exceção. É isso o que mostra um estudo concluído na semana passada pe lo Núcleo de Apoio a Estudos da Graduação, o Naeg, órgão da USP.

Pelo trabalho do Naeg, mapearam-se os endereços dos ingressantes na USP entre 1995 e 2004. Já se imaginava uma concentração de estudantes oriundos dos bairros mais ricos, mas o resultado surpreendeu pelo excesso.


Apenas uma rua, a Bela Cintra, na região dos Jardins, conseguiu, no vestibular de 2004, emplacar mais moradores nos bancos uspianos do que a soma de 74 bairros periféricos da zona Sul.

 

A Bela Cintra, porém, é apenas o caso mais vistoso de um quadro de hiperconcentração da oportunidade de acesso ao ensino superior público nas mãos de uma pequena parcela da população.

 

 

 

Muito para poucos

 

Quando se mapeiam as moradias dos ingressantes da USP ao longo dos últimos dez anos, percebe -se que uma mancha de bairros em volta do centro da cidade, contendo apenas 19,5% da população total de São Paulo, açambarca
70,3% do total de vagas.

O lado "B" dessa história é evidente: aos bairros periféricos, que compreendem 80,5% da população da cidade, cabe m
29,7% das vagas da universidade.
Basta um simples exercício matemático, baseado nos dados do estudo do Naeg, para concluir que um candidato ao vestibular da USP que viva no centro da cidade e seus arredores tem até nove vezes mais chances de conseguir a sua vaga do que aqueles oriundos do entorno dessa área.

Acontece que essa desigualdade retratada no estudo não foi criada pela USP, nem existe apenas em relação à universidade.


Dados de renda e de qualidade de vida reproduzem o mesmo resultado sociodemográfico.

Aplicado a São Paulo, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), criado pela ONU (Organização das Nações Unidas) para medir o desenvolvimento local com base na expectativa de vida, no nível educacional e na renda per capita, classificou as regiões da capital de acordo com sua semelhança em relação a índices de países ou continentes.


Bairros como Pinheiros, Jardim Paulista, Moema, Itaim Bibi e Morumbi ganharam a classificação de "região européia", por reproduzirem índices de desenvolvimento de Primeiro Mundo. No outro extremo, as periferias leste e sul, especialmente, receberam o título de "regiões africanas" pela similaridade com o continente mais subdesenvolvido do mundo.

 

“O modelo de desenvolvimento da atual política urbana exclui os pobres das regiões centrais e os empurra para as periferias da cidade, reduzindo seu acesso às oportunidades", diz Raquel Rolnik, secretária Nacional de Programas Urbanos do Ministério das Cidades. “É o que eu chamo de exclusão territorial, que não é exatamente a exclusão social, mas que a acentua e obstrui o processo de ascensão social. E uma das formas de ascensão é o estudo, particularmente na universidade.”

 

Para Rolnik, os dados da pesquisa do Naeg demonstram que “a riqueza e as oportunidades circulam nas mãos de quem já as têm”. “E a exclusão territorial acentua isso porque cria guetos.”

O estudo da USP é resultado do esforço do Núcleo de Apoio a Estudos da Graduação (Naeg), coordenado pelo professor  Adilson  Simonis,  do  Instituto  de  Matemática  e  Estatística.  Resultou  da  engenhosidade  e  do  esforço obsessivo do professor de dotar a USP de estatísticas que permitam entender o lugar da universidade na cidade de São Paulo e no país.

O próximo desafio é saber o que será dos alunos que se formarem. O site do Naeg (naeg.prg.usp.br) está cadastrando ex-alunos da USP. Um dos objetivos é saber se a universidade é capaz de encurtar a distância social que separa Ferreira de Luana. Nem isso ainda dá para saber.

 

Reportagem do caderno de educação da Folha de São Paulo.

 

Por: Laura Capriglione e Fernanda Mena.

 

 

Estudantes negros têm maior probabilidade de insucesso na escola, dizem pesquisas.

31/03/2013 - 16h31
Educação

Por Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil


Brasília –  Duas pesquisas da Universidade de São Paulo indicam que alunos negros têm maior possibilidade de fracassar na escola do que os brancos. Para os pesquisadores o menor êxito dos negros é resultado de condições socioeconômicas. Contribuem também fatores culturais. Um deles é o preconceito desenvolvido por professo res. Pequena parte deles acredita que os alunos negros terão, naturalmente, desempenho pior do que os brancos.

 

O conjunto de fatores determina que, quando os estudantes chegam ao 6º ano do ensino fundamental, 7% dos alunos brancos tenham mais de dois anos de atraso escolar, e entre os negros, o indicador chega a 14%. Os números são apresentados no artigo Fracasso Escolar e  Desigualdade do Ensino Fundamental da pesquisadora Paula Louzano, publicado no relatório De Olho nas Metas de 2012, lançado pelo movimento Todos pela Educação.

 

O artigo é baseado no questionário socioeconômico da Prova Brasil 2011, aplicada nacionalmente e respondido por 2,3 milhões de alunos do 5º ano. Dos alunos que responderam à questão de reprovação ou abandono da escola, um terço havia passado pela situação de insucesso na escola. Desses, 43% se autodeclararam pretos, 34% pardos e 27% brancos, segundo a denominação adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

 

Paula Louzano afirma que os números gerais são alarmantes e o cenário se agrava mais para alguns grupos sociais. “A chance de isso [repetência ou abandono] acontecer não é distribuída igualmente entre grupos. Alguns têm processos mais tortuosos, o que está ligado também ao nível socioeconômico. A desigualdade que marca o Brasil se reproduz no sistema de educação”, diz a pesquisadora.

 

No Norte   e   no   Nordeste,   a   probabilidade  de   um   aluno   preto   repetir   o   ano   ou   abandonar  a   escola   é respectivamente 53%  e  52%.  Para  os  alunos  pardos,  o  índice  chega  a  47%  e  a  45%.  Nas  mesma s  regiões,  a possibilidade de fracasso entre alunos brancos é 46% na Região Norte e 44% na Região Nordeste. O Sudeste apresenta os menores índices nacionais, 36% para os alunos pretos, 27% para os pardos e 22% para os brancos.

 

A também pesquisadora Marília Carvalho faz pesquisas qualitativas. Segundo ela, é preciso esclarecer que o fracasso escolar não  é  do  aluno,  mas  sim  da  escola  que  não  foi  capaz  de  dar  ao  estudante o  nível  de  aprendizado e desempenho esperado para o período. Durante as pesquisas, ela observou que a cor autodeclarada pelo estudante está relacionada também ao seu desempenho.

 

“O processo de declaração diz respeito a autoimagem que a pessoa tem. No conjunto da sociedade, quanto mais escolarizada, com maior renda, a pessoa é clareada. O processo ocorre na escola. Quando as crianças vão bem, elas são clareadas, tanto para si mesmas quanto para professores e colegas”, diz Marília Carvalho.

 

Ela acrescenta que os próprios professores declararam que nunca tiveram a oportunidade de discutir questões raciais nem durante a formação, nem no espaço coletivo da escola. “Relações de racismo marcam a nossa sociedade. As crianças negras têm que enfrentar mais esta dificuldade na escola, têm que se afirmar a todo momento e gastam parte da energia que deveria ser voltada ao aprendizado para se defender”.

 

Edição: Beto Coura


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Disponível em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2013-03-31/estudantes-n…- probabilidade-de-insucesso-na-escola-dizem-pesquisas

 


6 – Imagens de protestos reivindicando a implantação de cotas raciais na Universidade de São Paulo.

7- Poema de Carolina Maria de Jesus.

 

Os feijões

Será que entre os feijões Existem o preconceito Será que o feijão branco.
Não gosta do feijão preto?

Será que o feijão preto é revoltado?

Com seu predominador

Preçebe que é subjugado

O feijão branco será um ditador.

 

Será que existem rivalidades?

Cada um no seu lugar

O feijão branco é da alta sociedade.

Na sua casa o feijão preto não pode entrar

Será que existem desigualdades

Nas grandes universidades

O feijão preto não pode ingressar

Será que existem as seleções Preto para cá e braço e branco pra lá E nas grandes reuniões
O feijão preto é vedado entrar? Creio que no núcleo dos feijões Não existem as segregações.

 

(Texto inédito)

Transcrição de Raffaella Andréia Fernandez4

 

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4 Possui bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais (CNPq / 2005) pela UNESP de Marília quando iniciou seus estudos sobre Carolina de Jesus e Esmeralda do Carmo Ortiz, desenvolvendo a monografia intitulada "Em todo e nenhum lugar: vozes da marginalidade". Em seguida realizou mestrado em Literatura e Vida Social (Capes/ 2006) pela UNESP de Assis com defesa da dissertação intitulada "Carolina Maria de Jesus, uma poética de resíduos". Em 2010 fez licenciatura em Letras pela UNESP de Assis. Atua principalmente nos seguintes te mas: Literatura brasileira, hibridismo cultural, marginalidade social, autobiografia, crítica genética e crítica textual. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado em Teoria e História da Literatura (2011) no IEL- UNICAMP, com estágio de doutorado no Institute de Textes et Manuscrits Modernes (ITEM/ CNRS) na École Normale Supérieure de Paris (Capes- PDSE/2013) sobre os manuscritos inéditos de Carolina Maria de Jesus. É investigadora integrada ao CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de L etras) da Faculdade      de      Letras       da      Universidade      de      Lisboa      (2014). (Texto      informado      pelo      autor),       disponível       em: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?metodo=apresent…

 

 

 


Possibilidades de Abordagem da Sequência didática:


  Racismo no processo de escolarização na História brasileira;
  Processo histórico de exclusão da população negra em espaços escolares incluindo as universidades;
  Manutenção de estereótipos racistas no ambiente escolar ao longo da história;
  Lutas dos movimentos negros e da população negra pelo acesso a escola;
 Percurso histórico das revindicações dos movimentos negros pelo acesso e transformações das narrativas sobre as histórias das populações negras africanas e afrodescendentes;
  Compreensão da implementação da lei 10.639 como decorrente das lutas travadas pelas populações negras ao longo da história;

 

 

Referência Bibliográfica.

BARBOSA,  Márcio.  “Frente  Negra  Brasileira  Depoimentos”.  Organizador  QUILOMBHOJE

1998.

 

CARVALHO, Marília. “Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e classificação racial de alunos”. Revista Brasileira de Educação. Jan /Fev /Mar /Abr  2005  Nº 28. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n28/a07n28

 


DOMINGOS, Petrônio. “Frente Negra Brasileira (1931 -1937) e a questão da educação”. Revista

Brasileira de educação, volume 13 nº 39 setembro / dezembro 2008.


GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira. “Negros e a educação no Brasil.” IN: LOPES, Eliane Marta Teixeira;  FARIA  FILHO,  Luciano  Mendes;  e  VEIGA,  Cynthia  Greive  (org.).  “500  anos  de educação no Brasil”. Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p. 325-346.

LEITE, José Correia. “E disse o velho militante - Depoimentos e artigos” - Organização e Texto

CUTI, Luiz Silva - Secretaria Municipal de Cultura - São Paulo 1992.

 

PINTO, Regina Pahim. “A educação do negro: uma revisão bibliográfica”. Caderno de Pesquisa, São Paulo (62): 3-34, agosto 1987.

 

PINTO, Regina Pahim. “O movimento Negro em São Paulo: Luta e identidade”. Editora UEPG São

Paulo 2013 - Fundação Carlos chagas.


Site do Arquivo do Estado de São Paulo: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/acervo/jornais_revistas e http://200.144.6.120/hemeroteca/hemeroteca_pdf.php?pdf=jornais/VY193303…

Referencia
Graduandos