O funcionamento de Auschwitz e a responsabilidade dos envolvidos

Universidade de São Paulo

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Departamento de História

Ensino de História: teoria e prática (prof.ª Antonia Terra)

Priscilla Sousa Martins (8575517) Noturno

TRABALHO FINAL - SEQUÊNCIA DIDÁTICA

 

 

“O funcionamento de Auschwitz e a responsabilidade dos envolvidos.”

 

Introdução

Em 2015, foi levado a julgamento Oskar Gröning, membro da SS atuante em Auschwitz como contabilista. Seu relato sobre o funcionamento do campo de concentração e sobre a sua função nele são interessantes para serem analisados em aula, enquanto testemunho e enquanto discurso.

 

Objetivos

1.  Refletir  sobre  como  funcionava,  na  prática,  o  sistema  de  extermínio empreendido pelos nazistas .

 

2. Refletir sobre o discurso usado para persuadir as pessoas a serem parte desse sistema de extermínio.

 

3. Refletir sobre as implicações de um julgamento desse tipo em 2015.


 

Plano

Para alunos do 3º ano do Ensino Médio, duração de duas aulas.

 

 

PARTE I

 

O professor deve começar expondo o caso a ser analisado:

Oskar Gröning foi um oficial da SS que trabalhou no campo de concentração de Auschwitz, como contabilista. Sua única responsabilidade era a de recolher, anotar e guardar o dinheiro e os bens dos prisioneiros que chegavam a Auschwitz, e ocasionalmente levá-los a Berlim, ou seja, um trabalho burocrático, pelo qual recebeu o apelido de “o contador de Auschwitz”.

Mas declarou que estava ciente, desde o primeiro dia, que Auschwitz era um campo de extermínio.

 

Enquanto trabalhava em Auschwitz, pediu transferência, mas só foi atendido no terceiro pedido. Em 1978 teve início uma investigação para determinar responsabilidades pelas mortes no campo, mas sete anos depois foi-se decidido que Gröning só poderia ser processado caso ficasse claro que ele tivesse sido diretamente responsável pela morte de alguém em Auschwitz. Mas em 2014 a posição foi mudada e deu-se início a um processo contra ele, como cúmplice de 300,000 mortes em Auschwitz. Em 2015, durante o julgamento, Gröning admitiu sua  “culpa moral”, mas quanto à  sua “culpabilidade criminal”, disse que ficava a cargo dos juízes.

 

 

PARTE II

O professor deve ler à turma, para discussão, falas de Gröning. Espera-se que a turma já tenha tido aulas prévias, mas teóricas, sobre a construção do discurso nazista e sobre a condução sistemática de extermínios em massa em campos de concentração, e que esse “estudo de caso” sirva como um exercício para reflexão.

 

 

Primeira fala:

“Eles nos falaram que nós tínhamos que nos comprometer imediatamente a certas obrigações que envolviam tarefas que nos seriam dadas que seriam desagradáveis, mas que tinham de ser feitas a fim de garantir a vitória final” — quando ele foi convocado a participar de uma missão “especial”, “secreta”, que seria sua ida a Auschwitz.

 

Propor a discussão. Perguntas possíveis:

 

1. O que se queria dizer com “vitória final”?

 

2. O que são/O que podem ser “tarefas desagradáveis”? Como o discurso nazista lidava com essa ideia?

 

 

Segunda fala:

Foi revelado a ele que os judeus que chegavam a Auschwitz e eram considerados incapazes para exercer trabalho escravo eram “descartados”. Ele disse: “Isso me chocou completamente. Eu havia bebido cinco copos de vodka [recepção aos recém-chegados] e continuava a pensar nisso quando acordei na manhã seguinte.”

 

 

Propor a discussão. Questões possíveis:

1. Refletir sobre o uso do termo “descartados” referindo-se a pessoas, dentro do discurso e da prática nazistas.

 

2.  Refletir  sobre  a  reação  de  Gröning  (que  não  pediu  transferência  pela primeira vez nesse momento). Por que ele ficou surpreso?

 

Terceira fala:

“De repente, eu ouvi um bebê chorando. A criança estava deitava na rampa, coberta em farrapos. Uma mãe a havia deixado para trás, talvez por saber que mulheres com crianças eram imediatamente mandadas às câmaras de gás. Eu vi outro soldado da SS agarrar o bebê pelas pernas. O choro havia incomodado-o. Ele golpeou a cabeça do bebê contra o vagão de ferro até ele se calar.” Gröning reclamou a seu superior, pedindo transferência: “Isso é impossível, não posso mais trabalhar aqui. Se for necessário exterminar os judeus, que seja feito dentro de certos parâmetros.” Ele disse, no julgamento: “Foi o pior momento pelo qual eu já passei.”

 

 

Propor a discussão. Pergunta possível:

1. O que significa a sua posição “que seja feito [o extermínio] dentro de certos parâmetros”? Por que o assassinato conduzido dessa maneira não é aceitável, mas o extermínio sistemático, para Gröning, era?

 

Quarta fala:

A capacidade das câmaras de gás e do crematório eram bem limitadas. Se os trens fossem esvaziados antes do trem anterior ser processado, isso perturbaria a ordem, e o caos reinaria. Pela ordem, nós esperávamos até um trem ser inteiramente processado, inclusive tendo suas bagagens recolhidas, antes de abrir outro [trem].” [Dois médicos trabalhavam juntos para] “decidir quem era apto ao trabalho e quem não era”.

 

 

Propor a discussão. Perguntas possíveis:

1. O que ele quis dizer com “trem processado”? (Resposta: esvaziado, bens recolhidos, triagem das pessoas, envio das pessoas a trabalhos forçados ou, a maioria delas, ao extermínio.) Por que o uso dessa palavra — “processado”?

 

2. O que implica essa necessidade de “ordem”?

 

3.  Como  era  feito  esse  trabalho  ordenado  de  “processar”  o  trem?  Havia funções especializadas? (Sim, havia, exemplos: contador, caso de Gröning, e os médicos citados, dentre outras.)

 

 

Quinta fala:

Respondendo a uma pergunta do juiz sobre se sabia sobre mudanças específicas na organização de Auschwitz e sobre sua estrutura gerencial durante  o  período  em  que  esteve  lá:  “Não,  eu  sou  apenas  um  pobre, pequeno suboficial”. Em outro momento: descreveu a si próprio como um “pequeno dente da engrenagem.”

 


 

Propor discussão.

Perguntas possíveis:

 

1. Considerando o funcionamento do extermínio sistemático dos judeus, é possível  considerar  alguém  menos  culpado  ou  menos  responsável  por “apenas” fazer uma pequena parte dentro desse sistema? Por quê?

 

2.  Os  únicos  responsáveis pelas  mortes  e  pelos  crimes  do  nazismo  são aqueles diretamente envolvidos nelas? Por quê?

 

3. Por que você acha que essa lógica — do ter menos culpa por não ser diretamente responsável — livrou Gröning de seu primeiro processo, nas décadas de 1970–80, mas não o livrou em 2014–5?

 

 

Avaliação

 

Pedir que cada aluno redija, individualmente, suas reflexões sobre o caso de Gröning, em 1 folha.

 

Fontes

 

 

<http://www.dailymail.co.uk/news/article-3051477/The-bookkeeper-death- wanted-world-know-true-horror-Auschwitz-means-s-jailed-war-crimes-93.html>

 

<http://www.theguardian.com/world/2015/apr/21/bookkeeper-of-auschwitz- oskar-groning-admits-moral-guilt-as-trial-opens>

 

<http://www.theguardian.com/world/2015/apr/21/accountant-auschwitz-oskar- groning-trial-nazi-germany>

 

<http://www.theguardian.com/world/2015/apr/22/auschwitz-survivor-testifies-no- rights-but-fierce-determination-to-survive>

Referencia
Graduandos