Chuvas e enchentes em São Paulo

Aluno (a): Gustavo Tadeu dos Santos
Disciplina USP: FLH0425
Docente responsável: Antonia Terra de Calazans Fernandes

 

     Esta sequência didática pretende problematizar a questão das chuvas e das enchentes em São Paulo, relacionando o agravamentos dessa situação com a opção de um modelo urbanístico que privilegia a técnica automobilística.

Finalidade

     A partir da análise de documentos audiovisuais e textuais, problematizar, juntamente com os alunos, a vida urbana numa cidade edificada em locais sujeitos a inundações, como é o caso de São Paulo.

     Espera-se, com este roteiro, que os alunos possam refletir criticamente a respeito do modelo de urbanização adotado em São Paulo, de impermeabilização do solo e de opção pelo transporte automobilístico.

Fundamentação

     Dentre os  inúmeros problemas enfrentados pela população de São Paulo, um que podemos destacar é o das inundações que costumam ocorrer nas épocas de chuvas de verão. Os índices pluviométricos de São Paulo estão entre os maiores do país e isto é uma realidade que antecede a estruturação da malha urbana moderna na cidade.

     No entanto, não se trata apenas de um problema cujas causas são “naturais”. O modelo adotado para o urbanismo paulistano foi e é fruto de opções políticas e econômicas por parte do poder.

     Esse roteiro de aulas e atividades pretende proporcionar aos alunos a oportunidade de observar a história por meio da comparação de imagens mais antigas e mais recentes que retratam um mesmo problema.

     Além disso, também pretende propor aos alunos que analisem com mais atenção os discursos da mídia, a forma como a imprensa trata os problemas da cidade e como responsabiliza o governo e/ou a população no caso do problema das enchentes.

     A comunicação social de massas, além da imprensa, compõe-se também da indústria da propagando, com propósitos fundamentalmente consumistas em nosso tempo. Neste caso, pretendemos propor uma forma de abordar indiretamente a questão das enchentes a partir dos discursos da indústria automobilística. Afinal, o opção por esse tipo de transporte foi fundamental na decisão de se abrirem as avenidas marginais como forma de aumentar a fluidez no tráfego desse tipo de veículo que se tornou dominante na cidade de São Paulo a partir de segunda metade do século 20, em detrimento do transporte por meio dos antigos bondes ou dos modernos metrôs. Este tipo de meio de transporte, inclusive, só viria a ser inaugurado em São Paulo na década de 1970, percorrendo um reduzido trecho da cidade.

     Também pretende-se atentar para o problema das perdas humanas, que são, afinal o maior problema quando esse tipo de incidente ocorre. A dinâmica de valorização do solo na cidade, relacionada com a necessidade de criação de espaço de circulação de veículos e de abertura de amplos espaços para avenidas, cria uma lógica que vai expulsando os trabalhadores mais pobres para regiões mais periféricas e muitas vezes com altos riscos de alagamentos e deslizamentos.

     A ocorrência de chuvas extremamente copiosas e sucessivas enchentes, ao longo de vários anos, vêm se constituindo uma das características herdadas de uma urbanização cada vez mais intensa.
     A cronologia das enchentes na cidade de São Paulo data desde a sua fundação. MONTEIRO (1980) assinala que os primeiros jesuítas e colonizadores portugueses edificaram suas moradias, tendo a preocupação de evitar as áreas susceptíveis às inundações. Em se tratando de um fenômeno considerado como “impacto metroclimático”, a questão das enchentes vem se agravando cada vez mais nas últimas três décadas, com repercussões das mais diversas, nos diferentes segmentos da sociedade. A partir dos anos 60, constatamos que houve um agravamento substancial desse problema em virtude da efetiva consolidação da urbanização. Por outro lado, a pressão urbana também contribuiu para que os órgãos públicos implantassem avenidas próximas aos principais rios da cidade, aproveitando os espaços ainda vazios.

Cabral, Edson e Jesus, Emanuel F.R., Eventos pluviais concentrados sobre a Grande São Paulo ocorridos em 1991: seus reflexos na vida urbana. In: Sitienbus, n. 12 Feira de Santana: UEFS, 1994.

Atividades propostas

  1. Exibir em projeção eletrônica e/ou impressão imagens de enchentes atuais e de décadas atrás. Atentar para a questão do transporte:

    1. Mudanças na paisagem: ruas e avenidas.

    2. Personagens das cenas: pessoas, mas também carros.

  2. Leitura da tabela “Ocorrências de eventos pluviais comprometidos pelas inundações em São Paulo”.

  3. Assistir ao vídeo da matéria da Band News SP: “Planejamento e educação podem evitar enchentes”

  4. Assistir aos vídeos dos comerciais de carros
  5. Ouvir á música de Adoniran Barbosa

Avaliação

     Ao final da sequencia didática, o professor pode propor aos alunos a produção colaborativa de textos por parte dos alunos, a respeito sobre as enchentes em São Paulo, seus pontos de vista e suas ideias acerca dos problemas:

  • A falta de planejamento urbano

  • Os prejuízos humanos e materiais causados pelas enchentes (perda de casas, carros e mesmo de vidas em situações de inundação)

  • A impermeabilização do solo e a ocupação densa em áreas de alagamento

  • A dependência dos automóveis como meio de transporte.

Documentos sugeridos

Fotos: enchentes e trânsito - Anos 1950/1960 e anos 1990/2000

     Essas fotos consistem em uma boa referência para análise de mudanças na paisagem da cidade de São Paulo e ao mesmo tempo perceber permanências, a partir do registro de uma cena comum àquela época e à nossa também.

     Em alguns casos podemos perceber grandes mudanças na paisagem, como é o caso da Marginal Tietê em 1963, que ainda mantinha características quase "rurais" na fotografia em questão. De qualquer forma, o que percebemos é que a cidade já era bastante urbanizada, e que os automóveis já eram bastante utilizado.

     Nas cenas de enchentes registradas tanto nas décadas de 1950/1960 quanto nas registradas recentemente, os automóveis parecem "vítimas" das enchentes tanto quanto as pessoas (e às vezes até mais).

     [gallery link="file" columns="4"] Essas fotos consistem em uma boa referência para análise de mudanças na paisagem da cidade de São Paulo e ao mesmo tempo perceber permanências, a partir do registro de uma cena comum àquela época e à nossa também. Em alguns casos podemos perceber grandes mudanças na paisagem, como é o caso da Marginal Tietê em 1963, que ainda mantinha características quase "rurais" na fotografia em questão. De qualquer forma, o que percebemos é que a cidade já era bastante urbanizada, e que os automóveis já eram bastante utilizados. Nas cenas de enchentes registradas tanto nas décadas de 1950/1960 quanto nas registradas recentemente, os automóveis parecem "vítimas" das enchentes tanto quanto as pessoas (e às vezes até mais).

Tabela: Ocorrências de eventos pluviais comprometidos pelas inundações em São Paulo

Link para o artigo contendo a tabela: http://www.uefs.br/sitientibus/pdf/12/eventos_pluviais_concentrados_sobre_a_grande_sao_paulo.pdf

     Trata-se de uma tabela que destaca algumas manchetes de jornais desde 1962 até 1991, registrando acontecimentos ligados a enchentes e temporais em São Paulo.

     É interessante destacar que o problema das enchentes causa transtornos não apenas no trânsito, mas causa mesmo perda de vidas humanas, como pode ser acompanhado por algumas das manchetes da tabela:

  • “Mortes e inundações causadas pelo forte temporal de domingo” (O Estado de São Paulo, 9/1/1962)

  • “Chuva mata, espalha detritos e pára os transportes, a luz e o gás” (Jornal da Tarde, 12/3/1966)

  • “Chuva provoca morte, inundações e colisões” (O Estado de São Paulo, 19/10/1973)

  • “Duas mortes e vários desabamentos, as chuvas estão de volta” (Jornal da Tarde, 1/12/1975)

  • “Enchentes: 5 mil pessoas socorridas” (Jornal da Tarde, 20/1/1981)

  • “Mais mortes, mais desabrigados” (O Estado de São Paulo, 28/1/1987)

Vídeo: Band News SP. Planejamento e educação podem evitar enchentes

     Nesta matéria, podemos perceber que, ainda que o narrador cite o problema da “falta de planejamento” e dos cortes de gastos municipais em limpeza e conservação, há um forte enfoque na responsabilidade da população, enfatizado pelo depoimento de uma entrevista, que considera que “o pessoal é muito porco”.

     Em outro momento da matéria, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, responsabiliza as empresas que recebem verbas da prefeitura para efetuar o serviço de limpeza, enquanto o ex-governado José Serra, responsabiliza a “natureza” e diz que num caso desses nós devemos “rezar” para que não aconteça novamente.

     O que se percebe, contudo, é que a matéria não coloca em questão causas mais estruturais, como por exemplo, a dependência que a cidade desenvolveu do transporte rodoviário, que acabou por levar à opção por construir vias expressas ao longo das margens dos rios, uma região historicamente conhecida por ser alagadiça.

Vídeo: Comercial antigo anos 80 - Opala, Monza, Chevette

“É no silêncio de um Chevrolet, que meu coração bate mais alto... Enquanto o mundo perde a forma eu me encontro em mim, e é aqui que eu sempre vou seguir... meu coração... bate mais alto dentro de um Chevrolet...bate mais alto dentro de um Chevrolet...”

     O trecho da letra do jingle cantado por Zé Rodrix neste comercial da década de 1980 demonstra muito bem a ideia de transformação que o espaço urbano transmite. O eu-lírico da música parece angustiado com o mundo à sua volta, mas se reconforta ao entrar dentro de seu automóvel.

     O clipe alterna cenas dos músicos com cenas do carro em ação. Num primeiro momento, ele é retratado num cenário urbano, possivelmente São Paulo. As imagens posteriores privilegiam contextos rurais ou litorâneos, mostrando pessoas felizes fora da cidade.

Vídeo: Fiat Tempra: Comercial de Lançamento, Propaganda 1992 Brasil

“Você está saindo do passado e entrando em um novo tempo...”

     Neste outro comercial, datado de 1992, o apelo do discurso é ultra-moderno, com sentido de projetar o consumidor numa experiência “futurista” e relocalizá-lo num presente ao mesmo tempo familiar e estranho. As referências a espaços urbanos se dão no início do clipe, com uma cidade moderna e pessoas transitando a pé e no final, com carros circulando em câmera acelerada. A maior parte do clipe ocorre em espaços ideais, ou seja, onde os carros andam à vontade, realizando manobras impraticáveis para a maior parte dos motoristas conduzindo em cidades reais. Intercalam-se cenas de pessoas ideais, segundo os valores infelizmente ainda dominantes em nossa sociedade, ou seja, pessoas com feições europeias, ostentando arrogância, luxo e riqueza.

Música: Aguenta a mão João

Adoniran Barbosa - Aguenta a Mão João

Não reclama Contra o temporal Que derrubou teu barracão Não reclama Guenta a mão joão Com o Cibide Aconteceu coisa pior Não reclama Pois a chuva Só levou a tua cama Não reclama Guenta a mão joão Que amanhã tu levanta Um barracão muito melhor C'o Cibide coitado Não te contei? Tinha muita coisa A mais no barracão A enchurrada levou seus Tamanco e o lampião E um par de meia que era De muita estimação O Cibide tá que tá dando Dó na gente Anda por aí Com uma mão atrás E outra na frente

     Nessa música pode-se sugerir aos alunos a postura da população em relação ao problema das enchentes e das moradias em áreas de risco. Nessa letra os amigos de João demonstram uma postura conformista com o problema, dizendo que ele não deve reclamar ou se preocupar, pois amanhã ele será capaz de levantar um "barracão muito melhor", além de que com o outro, o Cibide, a desgraça foi pior, e que, portanto, não haveria motivos para reclamar.

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