A Experiência de Angicos (1963-1964): Uma Iniciativa Pioneira no Nordeste Brasileiro

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
D.H. – Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Disciplina: A Escola no Mundo Contemporâneo
Profa. Dra. Antonia Terra Calazans Fernandes
Aluno: Raphael dos Santos Gonçalves – nº 8981538
A EXPERIÊNCIA DE ANGICOS (1963-1964)
(Uma iniciativa pioneira no Nordeste brasileiro)
Janeiro de 2015

 

 

1. Tema:


A Experiência de Angicos (1963-1964) – Uma iniciativa pioneira no Nordeste Brasileiro. A sequência didática proposta tem como objetivo fornecer aos alunos de Ensino Médio um panorama do contexto histórico brasileiro no início dos anos 60 (últimos anos do período liberal democrático e a montagem da ditadura) traçado a partir do evento da experiência de Angicos (RN), com o intuito de mostrar a força das iniciativas populares, a importância da educação e a perseguição à supostas práticas subversivas.


2. Público-alvo:


Alunos dos três anos do Ensino Médio.


3. Planejamento/Materiais:


Serão apresentados materiais da experiência de Angicos, como por exemplo, as fichas e trechos das reuniões entre os membros do grupo. Serão apresentados também materiais áudio visuais como documentários e trechos de vídeos que elucidam e problematizam o tema.


4. Sequência de Aulas:


Aula I: Contextualização


Os alunos serão inseridos no contexto político-social do início dos anos 60, mais precisamente nos anos de 1963 e 1964, que envolvem os últimos momentos do governo de João Goulart e o momento do golpe de Estado.


Com base no material didático ou nos conhecimentos do professor, iniciar-se-á um debate em sala de aula visando polarizar as ideias e práticas políticas do governo Jango e dos setores conservadores da sociedade que promoveram o golpe.


Podem ser apresentadas, se possível, através de um projetor de imagens ou da distribuição de imagens impressas, fotos do Comício da Central do Brasil (pró-João Goulart) e da Marcha da Família com Deus pela Liberdade (organizada pelos elementos conservadores), como no exemplo abaixo:

Comício da Central do Brasil.

 


Imagem disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/03/1424618-comicio-da-central-d…

Marcha da Família com Deus pela Liberdade


Imagem disponível em: http://oglobo.globo.com/brasil/50-anos-depois-conservadores-tentam-reed…



O professor poderá então organizar um quadro comparativo entre os ideais, práticas e elementos presentes em cada um dos lados da polarização, solicitando a ajuda dos alunos para completá-lo. O quadro poderá ter o seguinte resultado (variando conforme a participação dos alunos em cada contexto):


João Goulart (governo)
Militares (Golpe de Estado)
- “Democracia populista”: apoio das massas e manutenção do poder das elites
- Golpe dado pelas Forças Armadas
- Ideias nacionalistas e de esquerda
- Alinhamento aos EUA (contexto da Guerra Fria)
- Reformas sociais (agrária, urbana, fiscal, bancária)
- Teme as reformas, associando-as ao comunismo
- Comício da Central do Brasil (defende Assembleia Constituinte)
- Marcha da Família com Deus pela Liberdade (defende o Golpe)
- Apoio de Sindicatos, trabalhadores, camponeses, setores das elites, PTB e PSD, apoio do PCB em determinado contexto
- Apoio de setores da Igreja Católica, dos EUA, da UDN, setores das elites principalmente industriais, das Forças Armadas, da ESG (Escola Superior de Guerra)

 

 

Aula II: A experiência de Angicos


Dado o contexto político em que se passou o evento central (Angicos) desta sequência didática, este poderá ser apresentado e entendido de melhor forma pelos alunos. O primeiro contato poderá ser através do vídeo: “Alfabetização de Adultos I Angicos - 1ª parte” – disponível no YouTube, no link: https://www.youtube.com/watch?v=2QG1UhHClqc


O vídeo tem duração de poucos minutos e apresenta o que era basicamente a cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, sua situação enquanto residência de uma população pouco alfabetizada e a chegada do grupo responsável pelo novo projeto educador.


Após a apresentação do vídeo, deve-se iniciar um debate com os alunos problematizando a questão da alfabetização de adultos e durante a discussão acrescentar elementos que aprofundem o entendimento da Experiência de Angicos.

 


Sugestões de questões para o debate:


Por que os moradores de Angicos teriam interesse em aprender a ler? O que estes poderiam conseguir através da alfabetização? Que dificuldades os educadores da Experiência poderiam ter enfrentado, levando em conta que Angicos é uma cidade do interior do Rio Grande do Norte?


Durante o debate, se possível, podem ser acrescentadas informações através dos diários dos educadores e das fichas/slides de Angicos. Disponíveis em: http://dhnet.org.br/educar/40horas/index.htm

 


Como o seguinte exemplo:

 

 

 

Aula III: Conflito: A Experiência de Angicos e o Golpe Militar


O professor deverá iniciar a aula dizendo aos alunos, agora mais “aprofundados” nos temas de Angicos e do Golpe de 1964, que muitos materiais da experiência foram rasgados ou queimados nos momentos iniciais da ditadura.  Podem ser apresentadas algumas falas de personagens da experiência, como as seguintes (disponíveis em As Quarenta Horas de Angicos, de Carlos Lyra):


“Fui observar no pavilhão (...) junto ao Palácio do Governo do Estado, o “material subversivo” apreendido. Em destaque, em uma bancada no centro da exposição, este trabalho “A experiência de Angicos”, ladeado pelo O Capital, de Karl Marx e Recordação da Casa dos Mortos, de Dostoievsky”. – Carlos Lyra


“Esse negócio de que todo mundo era comunista... os nossos papéis, nossos cadernos que nós “tinha”, “queimemos” tudo. Alguém pode me explicar o que foi que aconteceu? O que foi que não deixou a gente continuar a aprender?” – Severino Araújo, 66 anos, agricultor


Os alunos devem ser questionados: a experiência de Angicos ia pelo caminho contrário aos ideais conservadores que promoveram o golpe de Estado?


Nesse momento podem ser apresentados elementos da Experiência que envolvam temas políticos, como por exemplo:


Na “quinta hora”, através das palavras geradoras “voto e povo”, os alunos de Angicos deveriam debater a “importância do voto para a emancipação política”, se “em Angicos, todos são iguais” e também se “assim também são as cidades, os estados, os países”, se “o voto é arma do povo”.


No dia 15 de fevereiro de 1964, através da palavra geradora “cozinha”, os alunos debateram se “quem planta o feijão tem feijão em casa?” e se eles tem “direito ao que plantamos”.


No jornalzinho “O Pau de Arara”, escrito com frases tiradas dos cadernos dos alunos, aparecem frases como “quero aprender a ler para (...) votar em quem merecer”, ou “o pobre só em direito a feijão na seca, com reforma agrária”.

 


Sendo assim, os alunos provavelmente aproximarão a Experiência de Angicos dos movimentos políticos do governo derrubado de João Goulart. Nesse momento então o professor deve debater:


- A quem não interessava a alfabetização dos alunos?
- Por que o novo governo, militar e conservador, considerou subversiva a experiência de Angicos?
Com o desenvolvimento da discussão, outros temas podem ser colocados.


Para o encerramento da sequência didática, sugiro a exibição do vídeo “40 horas na memória”, onde os alunos de Angicos, em 2013, 50 anos após a experiência, dão diversos depoimentos sobre o ocorrido. Disponível em: http://assecom.ufersa.edu.br/40-horas-na-memoria/

 

Bibliografia:
LYRA, Carlos. As quarenta horas de Angicos: uma experiência pioneira de educação. Cortez Editora, São Paulo, 1996
NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro. Atual Editora, São Paulo, 1998

Referencia
Graduandos